Arthur Weasley e Harry Potter caminhavam por uma deserta rua londrina, bem diferente da rua super movimentada onde, Harry vira há poucas horas, ficava o hospital Saint Mungus Para Doenças e Acidentes Mágicos. Sob um sol extremamente forte, agora eles se dirigiam ao Ministério da Magia.

Tudo fora explicado a Harry enquanto ainda saíam do hospital. O senhor Weasley aparataria com ele até a rua onde ficava a entrada de visitantes do Ministério (a que estavam agora), e lá chegando não demoraria muito para o interrogatório começar. Mesmo que para Harry aquilo fosse mais como um julgamento que um simples interrogatório, isso agora não importava. Ele sabia o que ia dizer e duvidava muito que eles achassem um meio de incriminá-lo por supostamente usar magia fora da escola, ainda mais tendo sido um raio o "feitiço" que ele teria feito.

O pai de Ron lhe explicara também que, como havia sido admitido Chefe das Relações Trouxas, e tudo o que aconteceu foi em um bairro trouxa, participaria deste interrogatório como um promotor, embora isso fosse mais cabível a Lucius do que a ele já que trabalharia em sua total defesa, ao contrário do outro pelo o que imaginavam. Disse que o que estava em questão era o fato de que o raio continha uma grande carga de magia negra, o que até então era desconhecido por Harry, e que como o raio caiu em sua casa, isso foi ligado hipotéticamente ao retorno de Você-Sabe-Quem e poderia ser uma grande pista de seus recentes atos. Finalizou tranqüilizando-o de que ninguém estaria lá para dizer que ele havia sido o responsável por isso e que achavam que seu relato seria de grande ajuda, estando infelizmente enganados já que ele estava dormindo na hora do acontecido.

E foi isso que tirou toda a tranqüilidade de Harry.

Talvez se contasse o que vira nos sonhos poderia ajudá-los na procura ao Lord das Trevas, ainda que não soubesse como já que era tudo tão vago e irreal. Mas fazer isso diante de um Comensal da Morte?! Era pedir para ser perseguido e eliminado como queima de arquivo! Totalmente inescrupuloso! E, como ele havia afirmado anteriormente, se Voldemort quisesse achá-lo não contaria com sua própria ajuda para isso. Não, não abriria a boca pra falar sobre isso nem que o próprio Merlin lhe pedisse!

- Olhe, Harry, aqui estamos. Eu não gosto de usar a entrada de visitantes, mas estando com você eu não poderia simplesmente escorregar lá dentro...

Harry ergueu uma sombrancelha e pensou o que raios seria "escorregar" dentro do Ministério da Magia. Olhou em volta e não viu entrada alguma, mas o senhor Weasley o conduzia á uma cabine telefônica meio vandalizada, em frente a um muro de mesma aparência. O garoto não entendeu. Será que eles seriam teletransportados para lá por meio da linha telefônica??

O homem ruivo o empurrou gentilmente para dentro da cabine e quando entrou junto, Harry ficou esmagado contra o vidro. Então viu-o, de esguelha e sem poder se mexer muito, tirar o fone do gancho e ficar olhando para o teclado numérico com uma expressão de dúvida no rosto.

- Minha nossa, faz um bom tempo que eu não uso esta cabine e nem sequer me dei ao trabalho de pegar a senha novamente...

E Harry não via a hora dele lembrar o número, tanto para mais rápido poderem sair dali quanto para ver de que forma aquilo funcionava.

- Se eu bem me lembro.... seis, dois... quatro, quatro...dois!- ele discou os números e por ora nada aconteceu, mas qual não foi o susto de Harry ao escutar uma voz feminina que parecia falar bem ao pé de seu ouvido mas de forma alta e clara.

- Bem-vindos ao Ministério da Magia. Por favor, identifiquem-se.- disse a voz automáticamente, o que fez o garoto lembrar da secretária eletrônica de sua tia Petúnia.

- Arthur Weasley, Chefe das Relações Trouxas e Harry Potter, aguardado para interrogatório da Comissão Contra as Artes das Trevas.- falou firmemente o pai de Ron.

- Obrigado. Por favor- continuou a voz feminina automática- funcionário do Ministério, certifique-se de portar seu crachá devidamente colocado e acompanhante, retire sua identificação e prenda-a em sua roupa, deixando-a visível para inspeção posterior.

Dito isso, o senhor Weasley puxou do bolso algo que definitivamente não lembrava um crachá e prendeu-o em sua capa na altura do peito, resmungando que sempre se esquecia de fazer isso. O objeto, que agora estava à mostra na veste dele, era uma pequena esfera dourada parecida com um enfeite de árvore de Natal, onde uma foto de rosto dele aparecia, depois sumia e dava lugar ao seu nome, que depois sumia e mostrava seu cargo, isso intermitentemente. Enquanto observava o crachá Harry nem percebeu que, de onde deviam ser retiradas as moedas do orelhão, tinha saído uma bolinha idêntica a do senhor Weasley, só que só aparecia seu nome e era identificado apenas como visitante. Ele se virou como pôde para conseguir colocar a identificação na roupa, e então, antes que pudesse terminar, a voz lhes desejou uma boa tarde e o chão da cabine estremeceu. Isso dificultou um pouco as coisas, até porque Harry parou de fazer o que estava fazendo para ver o que acontecia. Como se estivessem sendo engolidos pela rua eles começaram a descer. Quando a paisagem trouxa sumiu deu lugar a uma total escuridão, e Harry pensou se aquela cabine não podia ter ao menos uma iluminaçãozinha. O pior foi, num flash de memória, lembrar da escuridão de suas visões e sentir-se como estando numa delas. Cutucou o senhor Weasley, só para ter certeza de que ele ainda estava ali.

- Algum problema, Harry?

Foi um alívio ouvir sua voz.

- Nada não, senhor Weasley.

Não demorou muito mais para que um feixe de luz crescente na base indicasse que estavam chegando. Logo, outra paisagem se formava diante dos olhos do garoto e ele, depois de piscar algumas vezes para acostumar-se à intensa claridade novamente, tinha seu primeiro contato com o Ministério da Magia.

A porta da cabine se abriu e assim que o senhor Weasley saiu, Harry teve vontade de esticar-se todo, sentindo as juntas dos ombros e cotovelos estralarem e uma repentina sensação de frescor. Ao parar para ver o lugar onde estava, Harry ficou imóvel. Estava no final de um imenso Hall luxuoso, o qual ele só tinha visto parecido pela televisão e mesmo assim, não havia nada como aquilo. O piso era de uma madeira escura cuidadosamente polida e que refletia alguma coisa dourada que Harry, olhando para o teto alto como o de um templo, logo soube o que era. Símbolos e letras douradas formavam e desmanchavam palavras e frases num espaço azul-esverdeado, funcionando como um quadro de avisos encantado.

Tanto de um lado como de outro, as paredes tinham painéis de madeira escura como o piso e vários buracos de borda dourada que pareciam chaminés, de onde, do lado esquerdo, surgiam bruxos do nada apenas com um barulhinho de vento, e do lado direito, as pessoas às vezes formavam fila para sair, esticando o braço e sendo "sugado" pela chaminé. Agora Harry podia entender o porque de "escorregar lá dentro", já que as pessoas pareciam mesmo escorregar tanto para dentro como para fora do Hall. E ao olhar para trás viu que não havia apenas uma entrada de visitantes mas sim várias, que mais pareciam com elevadores sem portas, e imaginou que houvessem cabines como aquela espalhadas por toda Londres.

- Vamos Harry?- o senhor Weasley estava parado alguns metros á frente olhando-o. O garoto apertou o passo e, já junto do homem seguiram em frente, se aproximando de uma fonte que havia no meio do Hall. No meio de seu círculo d'água se agrupavam algumas estátuas douradas, bem maiores que o tamanho natural. Com mais destaque, havia um bruxo de fino porte apontando sua varinha para o céu, ladeado por uma bela bruxa. Depois seguiam-se um centauro, um duende e um elfo-doméstico, que pareciam idolatrar os dois bruxos. Da ponta das varinhas dos dois bruxos jorravam jatos d'água coloridos e, igualmente, da ponta da flecha do centauro, da ponta do chapéu do duende e das duas orelhas do elfo. Era um lindo espetáculo, e o barulho de água corrente se adicionava ao falatório das pessoas e seus passos apressados sobre o chão de madeira, todas parecendo habituadas com aquilo.

Ao passarem pela fonte, onde Harry ficou bem pouco respingado com água colorida, se juntaram a uma grande quantidade de pessoas que iam em direção a um conjunto de portões dourados no fim do Hall. O senhor Weasley pôs Harry em sua frente e foi guiando-o pelos ombros, e ele viu que seguiam para o portão de funcionários. Ali o garoto viu bruxos carregando pilhas enormes de pergaminhos. Alguns bruxos pareciam do alto calão do Ministério, outros simples encarregados, como esses que equilibravam os pergaminhos nos braços e Harry não entendia como eles podiam ver o caminho através deles. As expressões eram as mais diversas. Uns se mostravam com o nariz erguido lá no teto. Uns tinham olheiras enormes e não paravam de bocejar. Outros pareciam muito aborrecidos e desses, os que viam Harry pareciam querer matá-lo só por ele estar ali, o que ele imaginou acontecer com qualquer um que cruzasse o caminho deles. Outros ainda pareciam apenas ansiosos, e Harry achou que ele e o Weasley que o guiava se encaixavam nesse grupo.

Um pouco antes da entrada do portão havia, diagonalmente à esta, uma placa que flutuava acima de um balcão e dizia "Segurança". Atrás dela um bruxo todo de preto e mal encarado olhava à multidão, inspecionando a todos que passavam. O senhor Weasley o conduziu para lá.

- Err.. boa tarde senhor, estou acompanhando um visitante.- informou o pai de seu amigo.

O guarda fitou a identificação dele, e ao olhar para onde estava a de Harry fez uma careta estranha. O garoto olhou para onde havia pendurado sua esfera dourada e espantou-se ao ver que ela não estava ali. Só daí percebeu que distraiu-se enquanto colocava a identificação na roupa, e ela devia ter caído em meio áquele Hall enorme. Ficou extremamente constrangido.

- Harry, você não colocou o crachá?- perguntou o senhor Weasley, demonstrando muito embaraço também.

- Coloquei.... mas deve ter caído...!- Harry olhava o chão em volta, vendo apenas sapatos de pessoas que passavam por ali mas nada de sua identificação. Sem sucesso, olhou de volta ao guarda, pra quem também olhava o sr. Weasley, e ele, com uma expressão irritada afirmou:

- Sem identificação o garoto não entra.

Harry e Arthur se entreolharam, e o primeiro estava tão envergonhado que decidiu sair procurando o crachá.

- Eu vou tentar achar, senhor Weasley, deve ter caído por onde passamos...

E antes que ele concordasse ou discordasse, Harry deu meia volta e saiu fazendo o caminho de volta, fitando o chão e tentando achar algo dourado que pudesse ser sua identificação. Talvez até tivesse como o senhor Weasley dar um jeito de fazê-lo entrar sem isso, mas Harry não queria dar-lhe todo esse trabalho. Andando quase curvado ao chão, ele forçava a vista até que bateu a cabeça em algo, ou melhor, em alguém que estava parado ali propositalmente. Alguém de sapatos lustrosos, elegantes vestes negras, com o braço meio esticado e segurando uma bolinha dourada que, sem dúvida, era o seu crachá! O garoto sorriu largamente e ia agradecer a quem lhe fizera este favor quando olhou em seu rosto e viu a última pessoa que gostaria de ter visto neste dia: Lucius Malfoy. Ficou estático, com a boca entreaberta sem conseguir pronunciar palavra. O olhar frio e calculista daquele homem lhe causava um arrepio elétrico na espinha, e Harry se afastou quando esbarrou de costas em outra pessoa, que pela voz sabia ser o senhor Weasley.

- Achei que já estivesse aqui, Malfoy, para participar do interrogatório do jovem Harry.

- Imprevistos, Weasley... você bem sabe que meu cargo é de extrema importância no momento em que vivemos e imprevistos agora são a coisa mais comum...- respondeu ele, e Harry ficava enojado com o fato de que, mesmo agora que ambos eram chefes de alguma coisa, aquele homem não conseguia dizer nada sem entonar uma extrema arrogância.

- Que bom pra você, não é mesmo...- disse o Weasley, fazendo pouco caso- Que bom também que achou a identificação de Harry.- ele fez menção de pegar o crachá da mão de Lucius mas ele a afastou.

- Não mereço um agradecimento...?

O senhor Weasley deu um leve apertão no ombro de Harry, e este disse um obrigado bem apagado. Lucius arqueou uma sombrancelha.

- Seja mais cuidadoso, garoto Potter.- e disse isso com um tom de ameaça mais do que um simples conselho. Isso despertou em Harry uma ira que poderia lhe fazer lançar um feitiço imperdoável no Malfoy, se portasse sua varinha.

Os dois assistiram apreensivos Lucius sair em direção ao portão de funcionários, mas logo seguiram o mesmo caminho de volta à segurança. O guarda não os viu até que parassem em frente ao balcão, e quando os olhou fez aquela cara de tédio como se o estivessem importunando.

- Aqui está a identificação do garoto.- disse o senhor Weasley entregando ao homem a esfera dourada. Este pegou-a e checou, logo fazendo uma expressão surpresa bem melhor que as que o tinham visto fazer até agora.

- Harry Potter, huh....- ele olhou de volta a Harry, novamente sério, e lhe entregou o crachá- Prenda-o direito na sua roupa. Me mostre sua varinha por favor.

- Ele não está com a varinha.- disse o ruivo. O guarda fez uma cara de quem ia argumentar sobre isso, mas ao invés falou:

- Tudo bem então, prossigam.

Como se um século tivesse se passado até que conseguissem sair do Hall principal, eles seguiram para o portão e o atravessaram.

- Nossa, pra que fazer tanta questão de um crachá...- comentou Harry com enfado, mas o senhor Weasley logo lhe explicou.

- Isso não é um simples crachá, Harry. É um detector de intenções.- Harry o olhou intrigado enquanto caminhavam por um Hall de menor proporção- Se você estivesse com alguma má intenção, esta bolinha ficaria vermelha e começaria a apitar que nem um bisbilhoscópio.

Harry estava surpreso, mas não pôde deixar de perguntar com um tom irônico.

- Como é que Lucius Malfoy consegue andar com um desses sem fazê-lo disparar feito louco...?

- Lucius tem o cuidado de esconder muito bem suas verdadeiras intenções, filho.- respondeu o pai de Ron, mais sério do que o garoto esperava.

Ao fim deste Hall haviam mais que vinte elevadores por trás de grades douradas, por onde a multidão se separava formando filas em frente a eles, entrando e saindo uns dez de cada vez. Harry achou curioso que não era preciso ficar nem um minuto esperando-os chegar, pois eles chegavam e saíam um atrás do outro, para cima e para baixo, assim não havia demora. Isso era prático, pois a quantidade de pessoas que circulava por ali era demasiadamente grande, e o tumulto que se criaria quando um elevador chegasse seria terrível. A fila onde se instalaram foi rápidamente extinta devido ao ligeiro trânsito dos ascensores. Logo eles se apertavam num deles, e Harry que achou que só cabiam dez pessoas ali dentro se viu no meio de bem umas trinta.

O elevador subia com apenas uma vibração característica e sem muito barulho, apenas alguns pigarreios e tossidos de bruxos e bruxas. Ao pararem no primeiro andar, a mesma voz automática da cabine telefônica dizia enquanto a grade se afastava para abrir passagem.

- Sétimo andar, Departamento de Jogos e Desportos Mágicos, incluindo a Sede das Confederações Britânica e Irlandesa de Quadribol, o Clube Oficial de Pedra Pesada e o Escritório de Patentes Ridículas.

Alguns saíram e outros entraram, e Harry se lembrou de que estavam no subsolo, então a contagem de andares era decrescente conforme o elevador ascendia.

- Sexto andar. Departamento de Transporte Mágico, incluindo a Autoridade sobre a Rede de Flu, o Controle de Vassouras, o Escritório de Portais e o Centro para Testes de Aparatação.

A mesma coisa de antes, e o elevador partia para outro andar.

- Quinto andar, Departamento Internacional de Cooperação Mágica, incluindo o Corpo de Padronização de Artefatos Mágicos Internacionais, o Escritório de Direito Mágico Internacional e a Confederação Internacional da Magia, cadeiras britânicas.

Este andar Harry observou que estava particularmente cheio, e pelo pouco que pôde perceber eram bruxos importantes que circulavam por ali. Pensou em perguntar mais tarde ao senhor Weasley sobre isso.

- Quarto andar, Departamento para a Regulamentação de Criaturas Mágicas, incluindo as Divisões de Feras, Seres e Espíritos, o Escritório Ligado aos Duendes e o Bureau para a Prevenção de Pestes.

Muitos bruxos desceram ali e o elevador agora estava bem espaçoso. Harry agradecia por isso.

- Terceiro andar, Departamento de Catástrofes e Acidentes Mágicos, incluindo o Esquadrão para Reversão de Acidentes Mágicos, o Quartel de Obliviadores e o Comitê de Desculpas para Trouxas.

Na hora em que a grade se abriu Harry foi surpreendido por uma esquadrilha de aviõezinhos de papel que em sua maioria chocou-se contra seu rosto, para depois ficarem pairando no teto do elevador. Aquilo ele definitivamente não entendeu.

- São memorandos interdepartamentos.- explicou-lhe o senhor Weasley, vendo a confusão estampada no rosto do garoto.- É muito mais rápido e prático do que termos de ficar indo e vindo de um departamento para outro, não é mesmo...- acrescentou.

- Segundo andar, Departamento para o Cumprimento do Direito Mágico, incluindo o Escritório do Uso Impróprio da Magia, o Quartel dos Aurores e a Administração dos Serviços Wizengamot.

- Vamos Harry.- o ruivo saiu e não só ele, como todos os outros bruxos do elevador e os memorandos saíram também. Harry viu os aviõezinhos entrando em grupos nas salas de seus destinos até que não sobrasse mais nenhum no corredor.

- Qual é o primeiro andar, senhor Weasley?- perguntou

- É a sala do Ministro. Mas ele deve estar aqui lhe aguardando, Harry.

Harry sentiu um frio na barriga ao ouvir isso. Esteve bastante distraído com o lugar novo que conhecia e nem se lembrava do propósito pelo qual estava ali. Estava chegando a hora de encarar os últimos acontecimentos e, apesar de ter todas as palavras em mente, começava a sentir que as coisas não seriam tão fáceis diante de tanta gente influente. A cada quina de corredor que dobravam sua expectativa aumentava. Só o que era impossível de se deixar de reparar em meio a tanta ansiedade, era nas fotografias e recortes do Profeta Diário que mostravam como procurado a figura de Sirius Black, seu padrinho, por todo o lugar. E todas elas piscavam e sorriam para Harry, de um jeito muito peculiar e quase traquina. Harry não conseguiu deixar de sorrir de volta, com uma saudade em seu peito. Gostaria muito de vê-lo novamente.

Aurores transitavam por eles, alguns cumprimentando o sr. Weasley, outros totalmente absortos lendo seus pergaminhos.

- Seu escritório fica aqui, sr. Weasley?

- Até pouco tempo atrás antes de ser promovido. Agora fica no andar de baixo.- respondeu enquanto viravam para outro corredor. Este se encontrava praticamente vazio, e havia uma porta dupla de madeira escura no final dele. Na metade do caminho o sr. Weasley se interrompeu e Harry fez o mesmo. Ele se virou para o garoto e pôs a mão em seu ombro.

- Bem, filho, lá dentro vai ser um pouco... desconfortável, digamos. Você vai se sentir pressionado por todos aqueles olhares inquisitivos, mas não se deixe perturbar. Não há motivo para tal.

- Oh, com certeza que não há...- disse uma voz rouca e alegre.

Harry e o senhor Weasley olharam para o lado de onde vinha a voz, e Harry inflou-se de alegria ao ver que se tratava de Albus Dumbledore, sorridente e exalando segurança.

- Professor Dumbledore!- exclamou Harry abraçando o diretor de Hogwarts. Agora se juntavam aos três também Percy Weasley, que se tornara o assistente mirim do Ministro da Magia Cornelius Fudge, após o trágico fim de seu ex-chefe Bartô Crouch.

- Olá professor Dumbledore, oi Harry, oi pai.- cumprimentou Percy, mas não olhou-os pois examinava uns pergaminhos com a expressão meio fechada.

- Olá Percy meu filho. Quanto tempo ainda temos?

- Não sei. Na verdade já poderíamos ter começado se Lucius Malfoy não estivesse tão ocupado no quinto andar.

- Oh, sim. Ele certamente está na reunião da Confederação Européia de Magia, não está?- perguntou o sr. Weasley exasperado.

- Aham- respondeu Percy simplesmente.

O ruivo mais velho girou os olhos impacientemente, e a pergunta que Harry se esqueceu de fazer a ele acabou sendo respondida por acaso.

- Isso é bom, de qualquer forma.- disse o velho mago Dumbledore- Eu queria mesmo ter uma palavrinha com Harry antes do interrogatório.

O garoto o olhou mas não recebeu o olhar de volta.

- Creio que sem problemas, professor Dumbledore.- afirmou Percy- Mas não se demore pois Fudge já está muito aborrecido com o atraso de Malfoy...

O jovem Weasley foi saindo e seu pai o seguiu, entrando juntos na sala do final do corredor. Harry não gostou de saber que Fudge já estava aborrecido. Isso poderia ser um ponto a menos a seu favor, e tudo culpa daquele Malfoy desgraçado.

- Me acompanhe por gentileza, Harry...

O diretor seguiu até uma das outras salas, que estavam de portas fechadas e entrou, com o menino em seus calcanhares. Esta sala era simples e pequena, continha uma mesa comum onde atrás havia uma poltrona giratória, e na frente duas cadeiras acolchoadas, as paredes contornadas por uma estante de livros realmente grande que tomava praticamente todo o espaço do lugar. A janela mediana por trás da poltrona mostrava uma paisagem verde muito bonita e ensolarada, o que Harry estranhou muito pois até onde sabia, estavam no subsolo. Dumbledore se sentou na poltrona e fez sinal para que Harry sentasse em uma das cadeiras.

- Professor, o que é isso?- perguntou ele apontando para a janela e a paisagem. Dumbledore se virou para olhar e voltou sorrindo.

- É a paisagem mágica, como a de Hogwarts Harry. Seria muito ruim e cansativo trabalhar num lugar sem janelas e sem um mínimo traço de natureza, não acha?

Harry concordou, ao mesmo tempo em que reparava que o diretor também usava em sua capa, na altura do peito, a mesma esfera dourada de identificação, que como a dele era apenas de visitante.

- O que faz aqui, professor?

- Não me diga que não sabe?- indagou divertido olhando-o através de seus oclinhos de meia-lua- Acha mesmo que eu não estaria presente no seu interrogatório?

- O senhor acha que eles vão me acusar?- Harry respondeu, perguntando temeroso.

- Acusar?- ele riu de leve- Acusar de quê? De ter desferido um raio sobre a própria casa?

Claro que o diretor tinha razão, mas de qualquer forma Harry achava que podia esperar tudo deste interrogatório depois da cena estapafúrdia que Fudge protagonizara em Hogwarts, quando Dumbledore lhe alertara sobre o retorno de Voldemort.

- Acho que o ministro Fudge não ficará contente em vê-lo aqui no Ministério.- comentou

- Certamente que não, mas ele também sabe que eu não deixaria de vir. E não é só por você. Precisava saber como andam as coisas aqui dentro, e não houve desculpa melhor para tal...

- O senhor acha que ele ainda não crê no retorno de Voldemort, professor?

- Absolutamente. Cornelius é muito, muito cabeça dura. E covarde. Teme pelo seu cargo. Se eu pudesse, lhe diria que ele vai perdê-lo querendo ou não, mas vou me divertir vendo-o descobrir isso sozinho.

Havia um tom rancoroso na voz do diretor que Harry nunca tinha sentido antes vindo dele.

- Bem, meu jovem Harry, eu lhe chamei aqui para duas coisas.- começou ele agora recostando-se na poltrona- Primeiro para lhe garantir que você não vai ser prejudicado ou acusado de alguma coisa por ninguém, sob hipótese ou pretexto algum. O único motivo pelo qual você está aqui é porque você pode ajudá-los, e a mim também, a ter mais pistas sobre o paradeiro de Voldemort. Mas, como as notícias voam, eu já sei que você estava dormindo na hora do ocorrido e não sabe de nada que possa contribuir. E disso eles saberão lá dentro.

O garoto sacudiu a cabeça em entendimento.

- Segundo, Harry, é uma pergunta que eu tenho a lhe fazer...- ele se apoiou na mesinha, se aproximando- Tem alguma coisa que você queira ou prefira me contar aqui, enquanto a sós comigo?

Harry sentiu como se sua mente estivesse sendo invadida pelo diretor. Já não era a primeira vez que ele fazia isso. Ele não era Merlin, e entretanto era mais difícil esconder algo dele do que do próprio mestre dos magos, o garoto pensava. Mas... não, não podia arriscar-se tanto...

- Não professor...- mentiu, se sentindo muito mal por isso.

Dumbledore fez um silêncio inquisidor que para Harry pareceu um flagrante de mentira, antes de terminar.

- Muito bem Harry, agradeço a sua sinceridade. Agora- ele se levantou e Harry também o fez- vamos indo pois acho que nos esperam para começar o interrogatório...

De consciência pesada, Harry seguiu-o. E receou que se continuasse assim, ia acabar se entregando na audiência prestes a começar.