Capítulo 12

O último dia

Quando eu cheguei a Godric's Hollow, a noite estava silenciosa, mas a atmosfera estava tensa. Ou era eu que a sentia assim. Meu coração estava disparado desde que eu tinha saído do Caldeirão Furado.

Eu vi a casa de Lílian e Tiago ao longe. Tinha escolhido aparatar a uma grande distância de lá para poder chegar sem ser notada.

Caminhei até a casa prestando atenção em tudo à minha volta. Você-sabe-quem poderia estar chegando e eu não devia ser vista. Já tinha vencido metade da distância quando ouvi um grito.

Tiago!

Não pensei mais no perigo de ser vista e corri em direção ao som. Tiago já tinha enfrentado Você-sabe-quem. E eu sabia que ele tinha perdido.

Ainda não tinha chegado à casa quando ouvi gritos no andar de cima. Uma discussão, Lílian insistindo em defender Harry.

- O Harry não, por favor, o Harry não!

Eu podia ouvir a voz dela! Eu podia ouvir as últimas palavras de Lílian!

- Por favor não, me leve, me mate no lugar dele!

Mas ele não iria atender ao pedido dela. Não, ele queria Harry! Mas ela não sabia!

- O Harry não...

Um grito de dor.

Eu parei por um instante. Era como se meu corpo fosse vencer minhas forças e eu fosse cair sem amparo no chão.

Lílian estava morta.

- AVADA...

"Não!", eu pensei. O feitiço seria lançado contra Harry. Voltei a correr.

- ... KEDAVRA! – a voz soou retumbante.

Eu cheguei à porta, mas fui empurrada de volta para o jardim da frente. Caí no chão. Era um tremor, um tremor que se espalhou pelo lugar e eu não pude ficar em pé novamente.

Um vendaval se formou em torno da casa e eu tive de fechar os olhos por causa da força do vento. Foi quando uma força ainda maior emanou da casa. Um grito vindo do interior de um corpo torturado. Uma escuridão que poderia ter arrastado todo o povoado inteiro.

Caída no chão, eu berrava por ajuda, mas minha voz era inaudível para mim mesma em meio ao barulho do vento. O chão continuava tremendo sob meu corpo, com tanta força que eu cheguei a enterrar meus dedos na terra com medo de ser atirada para o lado. Os segundos se tornaram uma eternidade e a eternidade era insuportável.

Mas o vento foi se afastando. Diminuiu até desaparecer. Eu consegui me levantar, a casa à minha frente era a testemunha do que acontecera: o telhado estava destruído em muitas partes, as janelas estavam quebradas e a porta por onde eu iria entrava tinha sido arrancada. Uma das paredes do andar de cima cedeu.

Entrei correndo pela sala, subi a escada pulando degraus. Harry, em seu berço, chorava e mais uma parede caía.

- Aqui, querido. Venha. – peguei o bebê com medo de deixá-lo cair porque todo o meu corpo tremia.

Saí da casa mais rapidamente do que entrei. Harry enrolado em uma manta, meus pés me levando o mais longe possível.

A casa inteira ruiu. Segurando Harry, eu me ajoelhei de costas para o terrível espetáculo. O bebê continuava a chorar, mas eu chorava mais.

Quando o último som da destruição acabou, eu me calei e tentei acalmar Harry. Tudo se tornou silencioso, ninguém parecia ter notado o que acontecera.

Harry, já quieto, estendeu uma de suas pequenas mãozinhas em direção ao meu rosto. Eu a segurei e a beijei, ainda molhada pelas lágrimas. Ele, então, soltou sua mão da minha e segurou o meu pêndulo, o meu amuleto.

Foi um susto quando ele brilhou, ao simples toque daquela mão delicada. Segundos depois, uma coruja passou rasante sobre nós e largou uma carta, desaparecendo em seguida.

Abri. A caligrafia era de Dumbledore:

"Severo já me avisou. Hagrid deve chegar em breve. Você sabe o que fazer.

Obrigado."

Eu achei que não tinha entendido o que a carta significava, mas, estranhamente, eu sabia o que fazer.

Levei Harry para perto dos destroços da casa e achei um lugar onde poderia deitá-lo com segurança. Hagrid viria pegá-lo logo. Eu esperava que esse logo fosse realmente rápido, e tinha certeza de que Dumbledore cuidaria para que fosse.

Ao arrumar a manta do bebê, eu, pela primeira vez na noite, vi seu rostinho totalmente descoberto. Ali estava a cicatriz.

Voltei a cobri-lo. Ouvi um barulho ao fundo, alguém estava chegando e deveria ser Hagrid.

Eu não podia ficar ali, isso poderia gerar uma discussão. Como explicar que eu sabia o que ia acontecer com tanta antecedência? Que eu chegara ao local praticamente junto com... O ódio me permitiu dizer: Voldemort. A minha situação era suspeita e tudo de que eu menos precisava era ser presa junto com os comensais.

Arrumei a cena para que não sobrassem vestígios de minha passagem e corri para me esconder entre algumas árvores. A enorme figura de Hagrid apareceu e fiquei aliviada ao ver que ele pegou Harry com cuidado e com carinho.

Virei-me para ir embora. Caminhei para um lado qualquer e ainda cheguei a ouvir o barulho da moto voadora de Sirius. No dia seguinte, ele iria encontrar Pedro Pettigrew. E logo seria jogado em Azkaban por logos 12 anos.

Não pude evitar que as lágrimas voltassem a cair. Continuei andando para lugar nenhum.

- Diana! – um sussurro nervoso.

Virei-me, Arthur Weasley estava perto de um muro descascado e tentava se esconder sem muito sucesso.

Fiquei preocupada, não podia ser vista! Foi quando me lembrei de que, em nenhum momento da viagem ao passado, eu tinha visto os Weasley.

- É hora de você voltar. – ele disse e me estendeu um vira-tempo.

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Largo Grimmauld, número12.

Rosto molhado, respiração ofegante. Eu olhava para Arthur e ele me devolvia um olhar de piedade. Ele sabia que eu iria voltar perturbada, não havia outro jeito.

- Senhorita Lullaby. – ele começou, escolhendo as palavras com calma. – A senhorita gostaria de ficar sozinha agora?

Eu consenti com um aceno da cabeça. Arthur saiu, o quarto onde eu fiquei estava iluminado por algumas velas, preparado para me receber. Eu não podia reconhecer qual dos quartos era, mas havia uma cama muito grande e confortável. Eu me sentei.

Chorei tanto que perdi a noção das horas.

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Eu me levantei assustada. Tinha adormecido naquele quarto e já não sabia que horas eram. Saí para o corredor, a casa estava iluminada pelas primeiras luzes da manhã. Desci para a cozinha. Um cheiro muito gostoso vinha de lá, mas eu não tinha fome.

- Bom dia, querida. – Molly Weasley me recebeu com simpatia, mas com cuidado para não me obrigar a me alegrar em um momento tão triste.

- Diana! – Tonks, que estava sentada à mesa, veio até mim e me deu um abraço. – estou tão feliz que você tenha voltado bem.

Bem? Eu não estava bem. Eu estava arrasada! Mas os cuidados de Tonks me ajudaram a me recompor depois daquela noite. Ela me sentou à mesa e me serviu café e, por mais que Molly tivesse ficado apreensiva, ela não derrubou nem quebrou nada.

Mais pessoas estavam na cozinha. Arthur, Gui, Dumbledore e Snape (que tomava cuidado em se sentar do lado oposto ao de Tonks).

- Diana, acredito que você tenha muitas dúvidas sobre tudo o que aconteceu, não? – Dumbledore começou, com a sua voz sempre calma.

- Muitas. – respondi.

- Pergunte, então. – ele deu aquele pequeno sorriso que eu tinha conhecido na antiga Ordem da Fênix.

- Como eu me saí? Eu alterei alguma coisa? Algo mudou? Eu...

- Acalme-se, acalme-se. – o diretor estendeu a mão e segurou meu braço com delicadeza.

- Correu tudo bem. – Tonks me confortou.

- Não houve qualquer problema. – Arthur disse sem conseguir, no entanto, cruzar seu olhar com o meu.

- Então... Então qual foi a minha missão? Professor – eu me virei para Dumbledore –, por que eu fui?

Dumbledore baixou os olhos para um embrulho que estava sobre a mesa. Ele empurrou-o em direção a mim.

Eu peguei o que parecia ser um livro. Quando abri, vi que era um diário. E a letra era de Lílian.

- Lílian conta tudo sobre seus dias. Você aparece em muitas páginas. Mas é claro que não foi daí que soubemos de você. Afinal, nos encontramos no passado.

"A verdade é que a memória pode falhar um pouco, não quanto à importância das pessoas, mas a determinados detalhes, como o rosto, os cabelos, o modo de vestir.

"Eu estou velho, Diana, mas isso reativou a minha memória – Dumbledore estendeu a mão para o diário e, de dentro dele, tirou várias fotos. As fotos tiradas por Sirius no dia em que Harry foi levado da maternidade para casa.

- Depois, eu a vi no Ministério, no dia em que Harry Potter teve sua audiência disciplinar no início do ano passado, quando a senhorita...

- Tentava descobrir se era verdade que dementadores tinham aparecido em Little Whinging ... Eu estava lá a serviço do jornal. – eu completei. – É claro que o Ministério não só não liberou informações sobre o caso como impediu que fosse escrita uma matéria sobre a audiência. – eu terminei de falar e vi que Dumbledore sorria.

- Foi impressionante ver como a senhorita não tinha envelhecido. – o diretor piscou para mim – Depois disso, gastei o resto do ano para poder preparar a sua volta.

Eu parei um minuto para observar Dumbledore. Só mesmo ele poderia ter entendido o que significava eu estar no presente exatamente como ele tinha me conhecido no passado. Eu voltei a mexer nas fotos, até achar aquela que eu tinha tirado de Tonks com Harry. Abri um sorriso e a entreguei para ela.

- Uau! - ela exclamou. – Nossa, foi uma idéia fantástica, Diana.Valeu!

Eu fiquei um tempo olhando a alegria dela, até que voltei a ficar séria e perguntei para Dumbledore:

- Mas, afinal, o que eu fiz?

- Achei que isso seria muito óbvio. Você salvou Harry Potter por três vezes. – ele respondeu, um pouco surpreso.

Eu parei para pensar. A primeira vez tinha sido durante a gravidez de Lílian, quando ela tinha sido atingida pela maldição Cruciatus. A segunda, no ataque dos comensais à casa dos Potter. A terceira, quando tirei Harry da casa prestes a ruir.

Foi quando um novo pensamento me ocorreu. Como Dumbledore tinha se lembrado de mim só no futuro? Aquele dia no hospital, quando Harry nasceu...

- Mas você sabia que eu estava lá em missão! – falei para ele, repentinamente.

Dumbledore deu um leve sorriso e só respondeu.

- Ah, mas algumas vezes, tive ajuda. – e olhou para Snape.

O professor de poções se levantou e começou a caminhar pela cozinha.

- Eu desconfiei de você desde o começo. Professor... – ele disse a última palavra com muita ênfase, para me lembrar das vezes em que o chamei assim. – Me explique uma coisa, Diana, na noite em que os Potter morreram, você tentou me avisar?

- Eu? Não... – respondi assustada. O que ele queria dizer?

- Eu tive uma visão. Uma visão de você com Harry no colo e a casa destruída.

- Sim, Severo me avisou no mesmo instante e eu enviei uma coruja. – completou Dumbledore.

Eu me lembrava da coruja. Ela tinha passado quando eu estava com Harry e ele...

- Quando Harry segurou o meu pêndulo. – eu terminei meu pensamento em voz alta, tirando a corrente que segurava o pêndulo em volta do meu pescoço para fora das minhas vestes.

- É um amuleto. – Dumbledore afirmou com a voz satisfeita – Um muito poderoso. Ele alerta quando você precisa de ajuda.

- E por que o avisado fui eu? – Snape parou de andar e comprimiu os lábios.

- Imagino que você tenha tocado nele em algum instante.

Eu e Snape desviamos o olhar. Um do outro e os dois de Tonks.

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Todos os que estavam na cozinha se dispersaram. Tonks e Arthur foram para o Ministério, Gui, para Gringotes, Dumbledore e Snape, para lugares que jamais revelariam e Molly foi acordar as crianças. Pensei em subir com ela, ver Harry! Acompanhei-a para fora da cozinha, mas, ao pé da escada, resolvi parar.

Lupin estava descendo.

Molly não reparou que eu tinha ficado para trás e continuou com o que ia fazer.

Lupin sorriu. Era estranho vê-lo mais velho, mais cansado, mais grisalho. Mas aquele era o seu sorriso. Eu também sorri.

- Diana... – ele chegou perto de mim e segurou minhas mãos. Eu não respondi, apenas o abracei. Com força, com desespero, com amor.

- Remo, me perdoe.

- Não chore. – ele se soltou do abraço e segurou meu rosto. – Você não tem porque pedir perdão.

- Eu o abandonei.

- Não, não abandonou. Acabou de chegar da missão e já está aqui comigo.

Eu não conseguia segurar as lágrimas. Ele tinha me perdido por 16 anos e ainda assim era compreensivo.

- Você não me abandonou, Diana! – ele abriu um dos seus sorrisos e eu chorei ainda mais, percebi o quanto ele era maravilhoso. – Naquela época eu não entendia, mas agora eu sei que você não fugiu.

- Eu jamais fugiria de você, Remo. Eu te amo.

- Eu te amo também, da mesma forma que amava há 16 anos.

Ele me beijou e as minhas lágrimas pararam. Quando afastei meu rosto dele, eu já estava sorrindo, como nunca pensei que pudesse sorrir de novo. Lílian e Tiago, a guerra, o sofrimento, todas as memórias ruins continuavam, mas eu tinha em quem me apoiar, eu tinha alguém com quem contar. Remo.

As crianças começaram a descer. Hermione me abraçou assim que me viu e disse:

- Sentimos sua falta! Que bom que você está de volta e está bem!

- Obrigada, Hermione.

Os gêmeos me cumprimentaram e disseram:

- Que pena que você perdeu as férias, aposto que você teria sido uma ótima companhia. – disse Jorge.

- Quer dizer, se você for tão louca quanto a Tonks! – completou Fred.

Rony, parecendo envergonhado pelos irmãos, apenas sorriu para mim e disse "Bom dia". Gina me abraçou como Hermione tinha feito e disse que estava feliz por eu ter voltado. Depois, todos eles correram para a cozinha.

- Remo...

- Sim, Diana. – ele olhou intrigado para a minha expressão confusa.

- O que os gêmeos quiseram dizer com eu ter perdido as férias? E Hermione, com ter sentido minha falta? Eu sempre pensei que, quando usamos vira-tempos, nós voltamos para o mesmo momento em que partimos.

- Não no seu caso. Dumbledore fez um feitiço muito complicado para que o vira-tempo pudesse te levar tantos anos de volta. Além disso, você ficou por muito tempo no passado. Isso gerou uma pequena falha no seu presente. Você voltou um mês depois da sua partida.

- Um mês! – eu exclamei assustada. – Isso significa que as aulas em Hogwarts já irão começar.

- Sim, depois de amanhã as crianças irão pegar o Expresso.

Eu me virei bruscamente em direção às escada.

- Remo, eu tenho que falar com Harry!

Comecei a subir, mas Lupin me segurou.

- Acredito que Harry não queira sair do quarto hoje, nem ver ninguém. Nós estamos respeitando esse momento. Não faz muito tempo que ele perdeu seu padrinho, ficou na horrorosa casa de seus tios logo em seguida sem ter ninguém para confortá-lo. Espere que ele venha, não vamos incomodá-lo.

Relutante, voltei para a cozinha. O dia mal tinha começado e muitas coisas fervilhavam em minha cabeça. Se eu tinha ficado um mês longe da minha vida, eu tinha ainda mais uma coisa a fazer: eu precisava ir até a redação d'O Profeta Diário.

Achei que mais uma xícara de café me faria bem antes de começar o dia de vez.

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N/A: (Uma N/A longa, mas importante)

Foi difícil. Foi difícil reconstruir o dia da morte de Lílian e Tiago Potter. Eu não podia deixar que nada mudasse a versão oficial, a da JK. Minha personagem não podia interferir. Ela não podia salvar o Harry porque o Harry se salvou de acordo com a profecia. Ela não podia estar presente porque o Hagrid disse no terceiro livro que encontrou com o Sirius naquela noite e não mencionou mais ninguém.

Eu tenho um arquivo enorme com informações sobre esse dia e os livros 1 e 3 três na minha mesa para consulta. Aliás, as falas de Lílian foram tiradas de O Prisioneiro de Azkaban.

É tema de discussão como Harry conseguiu sobreviver à destruição da casa onde estava. Eu dei a minha solução, é possível que a JK dê outra. Ou seja, esse capítulo foi escrito de acordo com tudo que sei da morte dos Potter até A Ordem da Fênix. É como um prazo de validade.

Bem, resumindo: tentei ser o mais fiel possível aos livros. O que vocês acharam, consegui?

Lily Dragon: Sim, sim. Esses últimos capítulos são sobre o presente. E aí, achou que eu dei uma "chance ao pobre do Remozinho"?

Alessa Parece que sua torcida adiantou...

Sandrinha: Obrigada pelo elogio, espero que goste dos próximos capítulos.

Isabelle Potter, Babbi (xará) e Nycole: Obrigada por acompanharem a fic! E, Isabelle... Olhe lá, olhe lá... ranhoso, seboso... Ai ai ai, que eu ainda ficou nervosa ;)

Marcelinha Madden: Eu também gosto muito do Lupin para escrever tanto sofrimento para ele. Ufa, ainda bem que está melhorando.

Xianya Bem, como a Diana vai encarar o Snape e o Lupin no presente? O primeiro, com vergonha (principalmente por causa da Tonks), o segundo... Ai ai...

Quanto à reação do Harry, vamos ter que esperá-lo sair do seu quarto para saber.

Aninha Black: maldade? Oh, não! Eu resolverei todas as dúvidas e curiosidades!

AnaNina: Menina, há quanto tempo não falava com você! Obrigada pelos elogios e... Bem, eu sei que todo mundo reclama que os capítulos são curtos, mas é o jeito que eu gosto de escrever. Acredite, se eu me forçasse a fazê-los maiores, acabaria estragando...

Muito obrigada a todas pelos elogios, pela leitura e pelas reviews.

Provavelmente, o próximo capítulo será o último, já tenho quase tudo esquematizado.

Grandes beijos!