CAPÍTULO TRÊS

Revivendo

-  Evans! Evans! EVANS!

Lílian acordou dando um pulo em sua própria cadeira. Remus estava à sua frente, aparentemente havia sido ele quem a chamara.

Sentia seu coração bater acelerado. O que diabos estava fazendo ali? Há instantes atrás estava presa numa cela de borracha fofa, isolada magicamente, com Snape ao seu lado! Ou será que tudo não havia passado de um sonho?

-  Eu tô indo na biblioteca – disse Remus normalmente –, resolvi lhe acordar porque não tem motivo pra você ficar aqui trabalhando em pleno sábado à tarde. Ainda mais que você parece cansada... – Lílian notou que ele a examinava com os olhos – Enfim, tô indo, Lílian...

Ela observou Remus sair da sala e fechar a porta atrás de si. Olhou para seu relógio de pulso trouxa: 4:30 da tarde.

Estava mais do que confusa, estava enlouquecendo! Olhou para si mesma: de uniforme, na sala dos monitores-chefes, à tarde! Então nada tinha acontecido? Tinha apenas sido um pesadelo?? Mas então por que ser acordada por Remus e ouvi-lo dizer que ia na biblioteca lhe pareceu repetido?

Snape! Se tivessem mesmo voltado no tempo (o que ainda lhe parecia uma idéia absurda), se as coisas fossem acontecer exatamente como tinham acontecido antes, ou seja, da primeira vez em que vivenciou isso, ele iria estar perto da sala do diretor.

Lílian levantou-se bruscamente e saiu rapidamente. Na esquina que dava para o corredor onde se encontrava a gárgula da entrada à sala, estava ele.

A garota suava, ofegante. Tinha os olhos arregalados, como estivesse vendo uma fantasma.

-  Então, Evans, vejo que deu tudo certo... aproveite sua "nova vida"... e jamais conte coisa alguma pra alguém...

Ele virou em seus calcanhares, fazendo com que o seu robe se elevasse, e começou a andar.

"Espera!", Lílian teve vontade de gritar, mas nenhuma palavra saiu de sua boca. Não havia mais o que dizer. Agora, tudo o que ela tinha de fazer era prosseguir com sua vida... de novo... 

Olhou para a gárgula da entrada da sala de Dumbledore. Respirou fundo e entrou.

-  Eu estava esperando por você! – disse o diretor jovialmente.

-  Eu sei – respondeu ela, arrependendo-se logo em seguida. – Quero dizer, nós precisamos resolver o negócio das férias, né? Então eu viria logo...

Ele riu da confusão dela.

-  Exatamente, minha querida, já esperava que você viesse aqui para acertarmos as suas férias. Creio que a senhorita queira passar o Natal com sua família...

-  Na verdade, não. Eu decidi ficar em Hogwarts.

Lílian sentia suas mãos molhadas de suor enquanto mexia nervosamente os dedos. Mãos entrelaçadas, escondidas abaixo da mesa.

-  Oh, então creio que não há mais problema algum – disse o bruxo, franzindo a testa – A senhorita em certeza disso?

-  Absoluta.

-  Então, muito bem, se é a sua escolha, é o certo para você – ele reabriu seu largo sorriso.

-  Certo – disse ela ao se levantar – Muito obrigada. Tchau...

***

Ao final de um extenso corredor, ele parou de frente para a parede. Mais precisamente em frente a uma armadura de prata pregada na parede.

-  Sangue de lagartixa. – disse.

E logo a parede, juntamente com a armadura, moveu-se para a direita, dando passagem para uma escadaria, a qual ele desceu rapidamente, entrando na sala comunal da Sonserina.

Sentada junto a um grupo que conversava animadamente, lá estava ela, a garota de longos cabelos negros que havia lhe dado o anula-tempo. Ele se aproximou e parou em frente a ela. Há um tempo atrás, não teria tido coragem para fazer isso, mas agora ele tinha uma vantagem...

-  Preciso falar com você. – disse com sua voz grossa.

O grupo ficou em extremo silêncio. A garota levantou uma sobrancelha e olhou-o de cima a baixo.

-  Está falando comigo? – desprezo em sua voz.

-  Sim, é um assunto do seu interesse. – Snape tentava manter seu tom de voz seguro –É particular.

Ela estreitou os olhos, numa clara demonstração de que estava pensando sobre o assunto. Sem dizer uma palavra, ela se levantou e caminhou, sem nem se certificar de que estava sendo seguida por ele, em direção a um canto da sala onde não havia ninguém por perto.

-  Não me faça perder meu tempo. Diga logo. – ordenou ela.

-  Meu nome é Severo Snape e-

-  Eu sei quem você é. – ela tinha um sorriso perverso no rosto – Aqueles grifinórios idiotas serviram pelo menos pra te deixar famoso...

Snape sentiu todos os seus músculos enrijecerem de ódio. Ficou com tanta raiva dela que pensou na possibilidade de não contar nada a ela. Porém, isso era um castigo que ela não sentiria, pois nunca saberia o que estava perdendo e o porquê disso. Não valia a pena, tinha mais a ganhar se lhe contasse tudo.

-  A questão é que você fez algo por mim e – ela fez menção de interrompê-lo, mas ele continuou – e eu prometi que faria algo em troca. Contar tudo. Pois bem, aqui estou eu. Eu voltei no tempo, com um anula-tempo que você me deu.

-  Certo... – ela cruzou os braços e começou a rodeá-lo enquanto falava – digamos que eu acredite. Pra usar um objeto tão peculiar você precisaria de um bom motivo...

-  Eu estava internado no Departamento de Uso Descontrolado de Magia.

-  Sozinho?

-  Não.

-  Com quem?

-  Já está acreditando em mim? – perguntou ele.

Ela parou.

-  Não... ainda supondo. Então, você volta e, ao invés de tirar proveito disso sozinho, sem precisar acertar as contas com ninguém, você vem me contar... porque prometeu??

-  Porque você me ofereceu algo em troca. Disse que meu poder pode ser bem aproveitado, que você me ensinaria a controlá-lo... além do que, como você mesma sabe, eu não tenho muitos amigos, não tenho nada a perder tentando ficar do seu lado...

-  Certo... – ela mantinha seus olhos apertados, ainda analisando tudo – Se você conseguir me provar isso, está dentro. E cumprirei a "minha promessa". Caso contrário, você pagará por tentar me fazer de idiota.

-  Feito. – disse ele, estendendo sua mão, a qual ela apertou – Qual o seu nome? – perguntou ele, percebendo que ainda não o sabia ao certo.

-  Black. Bellatrix Black.

***

Ela estava muito confusa. Embora se sentisse cansada mentalmente, seu corpo estava bem, descansado e cheio de energia. Ao entrar na sala comunal, procurou Viviane olhando por toda a sala. Sem encontrá-la, perguntou-se por que a estava procurando, já que sabia que ela ainda não tinha chegado. Então, seguiu em direção às escadas para o dormitório feminino. Parou, porém, no meio do caminho. Havia se lembrado do que aconteceria em seguida. Aquela situação era muito estranha.

Potter e Pettigrew estavam sentados, estudando, no sofá ao seu lado.

-  Será que alguém pode me ajudar?!? – perguntou Potter, jogando o livro no chão.

Lílian instintivamente olhou para o outro lado, onde viu Cherr sorrir e começar a andar em direção ao sofá. Tinha sido aí que tudo tinha começado. Após esse "estudo" que eles havia começado a namorar.  Lembrou-se também do escândalo feito pela garota no meio do salão principal, da humilhação que tinha feito Potter sofrer, do drama no trem e de como tinha se sentido em relação a tudo isso. Resolveu intervir. Precisava fazer alguma coisa. E rápido.

-  Ajudar em quê?? – perguntou Lílian rapidamente, colocando-se entre Cherr e o sofá.

Potter franziu a testa, surpreso. Parecia analisar a respeito, parecia duvidar que Lílian realmente estivesse ali, oferecendo-se para ajudar.

-  DCAT. – respondeu finalmente.

-  Tem certeza? – perguntou Lílian, surpresa. "Não era Feitiços?"

Ela notou, aliviada, que Cherr tinha subido para o dormitório feminino.

-  Por quê? Acha essa matéria tão fácil que vai esnobar? – perguntou ele.

-  Não, é que... esquece, quer ajuda ou não?

Provavelmente, pensou ela, Potter tinha dito "Feitiços" apenas para levar Cherr para fora do salão comunal mas, no caso de Lílian, ele sabia que levaria um baita de um tapa na cara se tentasse qualquer coisa, por isso devia estar falando a verdade.

Ele se levantou e seguiu Lílian, que já se sentava numa mesa vazia. Mal tinha sentado, lembrou-se que quem deveria estar naquela mesa com ela era Viviane, que apareceria a qualquer momento procurando por ela.

Imediatamente, Vi entrou. A garota parecia procurar por alguém na sala comunal mas, vendo que Lílian estava sentada com Potter, franziu a testa, deu de ombros e seguiu para as escadas. Porém, parou ao ver alguém descendo do dormitório masculino.

-  Lupin! – exclamou Vi, sorridente – Você vai salvar a minha vida!

-  Como assim? – perguntou o garoto, rindo da cara que Vi fazia.

-  "Como assim"? Quem mais poderia me ajudar a fazer o último dever de casa pra ficar com o domingo livre?? Eu li TANTO sobre o assunto – disse Vi, numa clara chantagem emocional – mas simplesmente não consigo organizar as informações no pergaminho!

Lílian mal podia acreditar no que os seus olhos estavam vendo. Sorriu, sua amiga havia encontrado outra solução. Entretanto, uma dúvida lhe passou pela cabeça. O que Remus teria feito antes? E o que Cherr estaria fazendo agora? Percebeu que estava mudando o destino das pessoas. Não sabia ao certo nem se acreditava em destino, mas sentia-se de certa forma culpada por essas modificações.

Distraiu-se dessas dúvidas ao voltar-se para o livro aberto à sua frente na mesa, lembrando-se do motivo pelo qual estava ali. Notou que Potter lia concentrado. Talvez essa mudança fizesse bem a ele, pensou ela.

-  E aí? Qual é exatamente o problema? – pergunto ela, na voz mais amigável possível.

-  É sobre essa luta do século XVIII, não tô entendendo como os bruxos perderam...

-  Ah, é porque os bruxos não perderam. Eles fingiram que perderam, pros trouxas pensarem que tinham ganhado, que a raça mágica tinha sido extinta e aí, pararem de nos perturbar, voltando a viver como se nós não existíssemos.

Potter começou a rir.

-  Não acredito! Maldito Black! Me ensinou tudo errado! Eu faltei essa aula porque tava na enfermaria... devia ter pedido as anotações do Remus pra conferir...

-  Certo – Lílian também riu –, então vamos estudar como os bruxos fingiram...

O tempo passou sem que ela percebesse. Apenas quando viu Viviane subir para o quarto foi que notou que já estava tarde. Estava surpresa, nunca pensou que conseguiria ficar mais de cinco minutos ao lado de Potter sem discutir.

Foi então que se lembrou do beijo. Estivera tão entretida com Cherr e depois com o estudo que havia se esquecido completamente disso. Sentiu-se envergonhada. O que era ridículo, afinal, teoricamente, não havia tido beijo nenhum, aquilo nunca teria existido pra ele simplesmente porque eles estavam antes de quando teriam se beijado. Mas então, porque ainda podia sentir o gosto dele em seus lábios?

-  Você vai passar as férias em casa, né? – perguntou ele, enquanto guardava seu material.

-  Não, desisti. – as lembranças do desastre varreram o beijo de sua mente, fazendo uma leve sombra encobrir os olhos da garota – Vou ficar em Hogwarts mesmo...

Ao levantar o olhar, que tinha como foco a mesa enquanto falara, viu um sorriso nos lábios dele. A sombra desapareceu.

-  Mas será possível, Potter? – ela elevara o tom de voz – Não consegue ficar perto de uma garota sem paquerá-la??

-  Então eu não posso mais sorrir? Pois fique você sabendo, Evans, que eu não estava te paquerando, fique você sabendo que o meu mundo não gira ao seu redor!!

Ele se levantou e saiu em passos pesados em direção às escadas. Estava surpresa, ele dissera exatamente o que ela teria respondido. Parece que ela precisaria rever seus conceitos sobre ele.

Olhou para o relógio, já estava na hora do jantar. Lílian foi até seu quarto, onde guardou seu material e desceu, juntamente com Viviane, para ir ao salão principal.

No saguão, viu que Remus havia sido parado pela professora de Adivinhação. Rapidamente, ela disse a Vi que logo a encontraria na mesa e foi em direção aos outros dois.

-  ... isso faz sentido para você? – perguntava a professora quando Lílian chegou.

-  Não... – respondeu Remus, franzindo a testa.

-  E você, minha querida... – Lawren virou-se para ela, com um olhar sombrio – Creio que não sinto boas energias... devo adverti-la para tomar cuidado com seus poderes nas férias...

-  Não, não se preocupe, eu vou ficar aqui em Hogwarts... – respondeu, alívio em sua voz.

-  Vai?? – perguntou Remus, surpreso.

-  Mas isso não importa...  – continuou a professora – independente do lugar, seus poderes estarão fortes...

Uma sombra novamente estava presente no olhar da garota. As lembranças, por mais que agora as coisas nunca tivessem acontecido, ainda lhe pareciam recentes, verdadeiras, reais. Era uma situação realmente estranha. Para ela, o incêndio sempre terá acontecido.

-  Professora, posso falar com a senhora um instante? Em particular?

-  Claro, minha querida, vamos para a minha sala...

-  Eu já vou indo, só um segundo... – disse Lílian, virando-se em seguida para Remus, enquanto a professora começava a se distanciar – Eu já falei com o Dumbledore, não vou mais pra casa nas férias, vou ficar aqui mesmo.

-  Mas por quê? – perguntou ele.

Lílian foi salva da pergunta pelos outros garotos que se aproximavam. De certa forma, todos perceberam que Potter não a cumprimentou, como era de se esperar. Tampouco ajeitou seu cabelo.

-  Então, aí você não precisa se preocupar com a questão da monitoria... – acrescentou Lílian, finalizando o assunto.

Despediu-se e tratou de ir logo para a sala da professora Clearfut.

Do corredor ela já podia sentir o cheiro de incenso que pairava na sala. A professora encontrava-se sentada na sua grande almofada vermelha, à frente de uma bola de cristal. Lílian sentiu-se estranha. Não sabia exatamente o que estava fazendo ali, queria pedir ajuda, mas não sabia como. E, ainda por cima, a professora sabia que ela não acreditava muito em adivinhação e coisas do tipo. Mesmo assim, sentou-se na almofada mais próxima à ela.

-  Professora, a senhora acredita em destino, não acredita?

-  Não precisa me chamar de professora, ou de senhora, já que você não é mais minha aluna. – disse ela docemente, com um sorriso – E sim, acredito, por quê?

-  Porque eu estou com medo de estar fazendo uma coisa errada... uma coisa que pode mudar o destino de muita gente...

-  Como voltar no tempo, por exemplo?

Lílian piscou, em choque. Como ela poderia saber?

-  Minha querida, o importante é que você saiba que você está exatamente aonde deveria estar, e que se destinos estão sendo alterados, é porque eles não estavam no devido curso...

Um silêncio pairou sobre o local por alguns segundos. Vendo o estado de confusão em que a garota se encontrava, Lawren continuou:

-  Vejo que você carrega uma enorme responsabilidade consigo, mas você não pode se responsabilizar por tudo o que acontece ao seu redor, pois há um momento em que as coisas começam a andar sozinhas, fora de qualquer controle, ajustando-se ao necessário. Faça a sua parte, e deixe que os outros se encarreguem da deles, afinal, eles ainda têm escolhas a fazer...

Realmente, Lílian sentia um enorme peso nos ombros, peso esse que agora começava a se dissipar. E foi assim, estando mais leve, que jantou na mesa da Grifinória, ao lado de Viviane e Maddeleine.

Por um segundo, contudo, sentiu-se novamente estranha ao olhar de relance para a mesa da Sonserina. Snape parecia normal, sentado isolado, pensativo mas despreocupado, como se apenas aguardasse algo.

-  Então, você vai explicar pra gente ou não?? – perguntou Viviane, trazendo Lílian de volta de seus pensamentos.

-  Explicar o quê? – perguntou, após beber um gole do suco.

-  Como assim o quê?? Lily, Alooow!! Você e Potter numa mesma mesa pacificamente!?!

-  Ah, isso? – lembrou-se, tentando agora achar uma explicação plausível para dar às amigas. Não sabia exatamente o porquê, mas não pretendia contar a elas sobre o anula-tempo – Ele precisava estudar, eu também... você sabe que eu ajudo a qualquer um quando se trata de estudar!

-  Ah, fala sério, a última coisa que eu faria ali era estudar... – disse Maddy, suspirando, ao que Vi e Lílian riram.

-  Ah, eu vou indo, gente, boa noite... – disse Lílian, já se levantando.

-  Como assim? Já vai dormir?? Tão cedo??

-  Já, Vi, parece que eu não durmo há dias...

Realmente, sentia-se tão cansada que, mal havia deitado na cama, desmaiara. Um sono pesado, sem sonhos, que renovou suas energias.

***

A única parte ruim de ter voltado no tempo, pensava Lílian, era o fato de voltar a ter aulas, ainda mais aulas que já teve. Tentava se lembrar do que seria a aula.

-  Bem vindos à luta de hoje, meus queridos alunos! – dizia o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Jake Auro, o professor, armava o disco no chão, no centro das carteiras.

-  O que será o de hoje? – perguntou Maddeleine para ela e Viviane.

-  Espero que não seja algo que faça a gente sair correndo! – respondeu Vi, ao que Lílian apenas sorriu, pois lembrou-se de que ela gritaria, sim.

-  E então? Prontos? – perguntou o professor, animadíssimo.

-  Sim! – responderam os grifinórios e lufa-lufas presentes.

Auro apontou sua varinha para o disco no chão e dele elevou-se uma imagem giratória em 3D. Mesmo não sendo uma surpresa para ela, Lílian achou o monstro esverdeado assustador, com corpo humano, orelhas e olhos de gato e caninos de cachorro. Alguns alunos gritaram de susto.

-  Bem, este é um Gremillin! Não, não se preocupem, meninas, ele só vive em cavernas montanhosas... – acrescentou, sorrindo – Mas, enfim, hoje vamos aprender a nos defender dele! Como vocês podem notar – disse ele, apontando a varinha para o peito do monstro – ele possui um peitoral que é um forte escudo, então um feitiço lançado aqui não surtirá muito efeito... toda a sua pele é forte como o casco de uma tartaruga! Mas, reparem bem, essas orelhas não são fofas?

Uma onda de risos preencheu a sala.

Lílian começou a se distrair. Aquela sensação de déjà vu, ver o professor falar as mesmas coisas, todos agirem iguais, saber o que iria acontecer, era tudo realmente muito estranho. Voltou sua atenção à aula ao ouvir Viviane falar.

-  Então se eu vir um monstro desse eu grito!

-  Muito bem, Srta. Whedon! Um grito estridente que faça estourar os tímpanos do Gremillin é a melhor defesa! Se vocês estiverem com a varinha, ampliem o som e gritem, gritem, e gritem muito! Depois sim, vocês podem sair correndo...

Lembrou-se então que a próxima a falar seria ela. O que aconteceria se ela não fizesse a pergunta? Esperou que o professor continuasse. Por um segundo, a sala permaneceu em silêncio, até que um aluno fez uma pergunta.

-  "Sair correndo"? – perguntou Potter, entre risos. – Pra que temos varinhas então?

-  Podemos lutar, Sr. Potter, mas é desnecessário. Correr é sempre a melhor opção.

Foi então que ela entendeu de verdade as palavras da professora de Adivinhação:

"há um momento em que as coisas começam a andar sozinhas, fora de qualquer controle, ajustando-se ao necessário."

Mais do que isso, percebeu que nem tudo era responsabilidade dela, que as coisas se ajeitavam sozinhas...

-  Por que não? – ela ouviu então Black perguntar, levantando-se todo cheio de si, com um sorriso no rosto e uma expressão de quem está gostando de aparecer.

Desta vez Lílian não revirou os olhos, apenas riu. Notou que as outras garotas estavam adorando, Maddeleine incluída, ajeitando-se em suas carteiras assim que o rapaz se levantou.

-  Bem, como eu já disse antes – começou o professor, após "desligar" o disco – é inútil um golpe, seja de varinha, seja em punho, não vai adiantar muito. Porém, exatamente por sua pele ser extremamente grossa, alguns de seus movimentos ficam lentos. Ele pode correr, e muito, mas virar-se rapidamente é difícil. Então, temos de ficar atrás dele...

Auro foi para detrás de Black.

-  ...e então vocês devem colocar seu pé na frente do pé dele e puxá-lo, fazendo com que ele caia no chão!

Foi com muito gosto que Lílian assistiu os dois caírem no chão... Pela segunda vez. Ainda mais sabendo que tudo aquilo não servia para nada. Logo Remus perguntaria sobre isso.

-  E lembrem-se, levantar-se é outro movimento lento para ele! – disse Auro, enquanto se levantava.

Black logo se levantou também, elegantemente, e ajeitou seus cabelos negros enquanto sorria para as garotas da classe.

-  Mas professor, e os feitiços de Petrificação, Imobilização, Impedimenta, nada funciona?? – perguntou Lupin.

Lílian sorriu para si mesma.

-  Oh, sim, é claro! Isso também serve...

-  Ãh?? – foi tudo o que Black conseguiu fazer para demonstrar sua indignação e revolta.

-  É, mas nem sempre temos nossas varinhas em mãos, não é mesmo? Meu trabalho é lhes ensinar a se defender em quaisquer circunstâncias! E lembrando sempre que a pele dele pode inutilizar um feitiço... Mas, se vocês querem usar varinhas, ainda há outro recurso... Ninguém imagina o que possa ser?

Auro girou no centro, olhando para seus alunos, esperando que algum deles fosse capaz de descobrir a resposta sozinho. Parou seu olhar em Lupin, em Lílian e em outros alunos, mas ninguém conseguia pensar em nada. Lílian não podia perder essa oportunidade. Não queria se aproveitar de ter voltado no tempo, apenas não queria ver novamente aquele desapontamento nos olhos do professor.

-  Desidratá-lo? – perguntou ela, como se sugerisse algo sem saber se estava certo ou errado, fazendo com que toda a classe a olhasse. – Essa pele grossa deve reter muito líquido, além de ser quente... então talvez se conjurássemos fogo... Ele não ia agüentar muito tempo perto do fogo e iria embora, certo?

-  Exatamente, Srta. Evans!! – os olhos de Auro brilhavam – Fogo! E, se por acaso vocês estiverem presos com um Gremillin – acrescentou, olhando de relance para Lupin – mantenham-se atrás do fogo que ele não chegará perto de vocês! Vocês lembram como se conjura fogo, não é mesmo?

Porém, Lílian não se sentiu orgulhosa. Tampouco conseguiu prestar atenção no resto da aula, pois ela lhe lembrava algo horrível, uma cena terrível que lhe voltou à cabeça.

Mais do que isso, com a explicação do professor sobre fogo, (bem... fogo é a combustão de ar com algum material inflamável, então é possível se "fazer" fogo mesmo sem uma varinha, é apenas necessário se concentrar energia num material como álcool, papel, etc...) havia entendido como ela tinha conseguido conjurar o fogo em seu quarto.

-  Anda vamos, a aula acabou! – chamou Viviane, já com seu material em mãos, com uma cara travessa de quem está planejando algo.

Lílian já sabia, mas mesmo assim a seguiu rapidamente até o corredor.

-  Hei, Black! – chamou Viviane. Ele estava cercado de garotas – Posso tentar aplicar aquele golpe em você??

-  Só se você cair por cima de mim...

A resposta de Viviane, simulando uma crise de vômitos, novamente provocou um ataque de risos em Lílian, ao que Black não se abalou, apenas a ignorou e voltou-se para o seu "fã-clube".

-  Duvido que você iria querer cair por cima dela...

Surpresa, Lílian olhou para ver quem falara. Cherr, encostada à parede perto deles, estivera observando tudo. Ela não estava junto ao fã-clube, mas certamente fazia parte dele.

"Será?", perguntou-se Lílian, raciocinando rapidamente. Mas então, se ela já tinha desistido de Potter e seu "alvo" agora era Black, ela havia apenas aproveitado uma oportunidade, naquele dia na sala comunal, ou seja, não tinha interesses mais profundos em Potter. Aliás, onde ele estaria agora?

Não se surpreendeu quando o viu andando por um outro corredor mais vazio, o mesmo corredor de antes, com uma outra garota. O que ela podia esperar? Tinha tirado Cherr de seu caminho mas ele logo acharia outra para substituí-la! Então, por que ela estava decepcionada?

-  Desisto. Isso não vale a pena... Vamos embora Lily. Lílian? LÍLIAN!

-  Oi? Ãh, o que foi?

-  Nada... – Viviane tinha um olhar desconfiado – Vamos logo pra aula de Transfiguração.

Ao final da tarde, após todas as aulas do dia, Lílian resolveu ir dar uma volta pelos jardins do castelo, sozinha. Precisava ficar sozinha por um tempo, mais do isso, precisava fazer algo diferente, em algum lugar onde não saberia o que as pessoas falariam ou como elas agiriam.

Sentou-se no gramado, em frente ao lago. A água estava tão tranqüila, sem qualquer oscilação, que nem parecia que tantos animais estranhos moravam ali dentro.

Sentia-se tão segura naquele lugar, Hogwarts, que tinha esperanças de que nada daquilo realmente acontecesse, apesar do que Lawren falou sobre seus poderes. Pelo menos sua família estaria a salvo. A salvo dela.

Quando já estava ficando muito escuro, resolveu ir para a sua sala comunal. Ao entrar, deparou-se com Viviane estudando. Logicamente, ela não estava sozinha, estava "debatendo as questões" com Remus.

-  É, agora temos que estudar sozinhos, porque a sua amiga está tirando toda a atenção do nosso amigo... – disse alguém ao seu lado, ao que ela reconheceu ser a voz de Potter.

Ele estudava com Pettigrew numa mesa ao lado de onde Lílian havia parado.

-  É... – ria Pettigrew – Toda a atenção mesmo...

-  Sério? – perguntou ela, sentando-se na mesa. – Você está querendo dizer que-?

-  Não. – interrompeu Potter, cuja voz estava tão fria que até fez o outro parar de rir – Ele não quis dizer nada.

Aquele tom de voz foi uma alfinetada em Lílian.

-  Escuta, Potter – começou ela, ainda sem saber o que dizer, nem o porquê de estar tentando dizer algo –, me desculpa por ontem, é que eu acho que eu me acostumei em sempre ter você...

-  Dando em cima de você. – completou ele, ainda com seu tom frio. – Mas não se preocupe, porque agora não vai mais ser assim.

Potter fechou seu livro e seu pergaminho e se levantou para ir embora. Pettigrew fazia o mesmo.

-  Espera... – chamou Lílian, ao que ele olhou desacreditado.

Mas a garota não sabia como continuar. Simplesmente não conseguia pensar em nada para dizer. Então desistiu e, com um enorme suspiro, encostou-se na cadeira, desviando o olhar dele.

Achou que ele fosse embora mas, para a sua surpresa, ele voltou a se sentar.

-  Olha, por que a gente não esquece tudo o que já aconteceu até hoje e recomeça de novo?

Lílian teve de controlar seu impulso de rir, pois aquilo era exatamente o que ela estava fazendo desde que acordara na sala dos monitores no dia anterior.

-  E então? – perguntou ele, com um sorriso.

-  Adorei a idéia. – disse ela – Então, a partir de agora, pode me chamar de Lílian...

-  Tiago. – disse ele, estendendo sua mão num cumprimento, ao que ela apertou.

Só então foi que ele se levantou e subiu, com Pettigrew, para o dormitório dos garotos. Lílian sentiu seu rosto corar ao perceber que pelo menos metade da sala comunal estivera prestando atenção neles.

-  Algum problema? – perguntou ela, recompondo-se em sua cadeira.

Os outros estudantes rapidamente voltaram aos seus afazeres.

Lílian subiu para o seu quarto. Não estava com vontade de estudar. Não de novo. Estava tomando banho quando ouviu alguém entrar no quarto. Ao sair do banho, deparou-se com Viviane em sua cama, folheando um livro que ela reconheceu como dela. Provavelmente o tinha deixado na mesa de cabeceira, mas não se lembrava ao certo, isso já fazia muito tempo.

Sentou-se em sua cama, ao lado de Vi.

-  O que é isso, Lily?

-  É um livro trouxa...

-  Trouxa?? – repetiu Vi, fazendo uma careta para o homem de capa cinza e chapéu cônico cinza na capa do livro... – depois dizem que eles não acreditam na gente... humpf! – disse, devolvendo o livro à mesa.

Lílian pretendia responder, porém se deteve ao notar o olhar travesso da amiga, como quem pretende fazer uma pergunta maliciosa. Ela adoraria estar errada, mas não estava. Viviane ficou de joelhos na cama, de frente à ela. A pergunta fez dizendo as palavras rapidamente:

-  Você está dando em cima do Potter, não está?

-  Claro que não! – Lílian foi tomada de surpresa, mas a resposta foi imediata – Só porque resolvemos parar de brigar não significa que estou dando em cima dele!

Ah, como ela gostaria de poder contar toda a verdade...sobre o anula-tempo... Mas sabia que Vi faria mil perguntas, iria querer saber sobre as aulas, deveres, os professores, etc.

Não, na verdade não era nada disso, admitiu Lílian para si mesma. Essas desculpas esfarrapadas eram apenas uma tentativa de esconder que não queria admitir para ninguém o que fizera no tempo anulado. Já que tinha passado um borracha por cima de tudo aquilo, não queria que ninguém soubesse, nem mesmo Viviane. Talvez, assim, nada disso teria mesmo acontecido.

-  Sei... vai usar a desculpa do estudo de novo? – perguntou Vi – Ele estava estudando, você passou por lá e...ops!...sentou-se pra ajudar!

-  Eu só parei ali porque você estava estudando com o Remus!

-  Ah, então a culpa agora é minha? – a capacidade de Vi de fazer drama quase desconcentrou Lílian, mas ela conteve o riso. – Daqui a pouco vai dizer que eu tô dando em cima do Remus!

-  E não está?? O Tiago disse que você tira toda a concentração do Remus... – Lílian tentou imitar o tom dramático de Vi, não percebendo o erro que tinha cometido.

-  Quem disse?? – mas Viviane havia percebido.

-  O Potter.

-  Não, você não disse "Potter"...

-  É claro que eu disse!

-  Há! Você o chamou pelo nome e nem percebeu!!

Lílian franziu a testa. Inconscientemente, foi logo se desculpando.

-  Ah, eu já disse, estamos ficando AMIGOS, e amigos se chamam pelo primeiro nome né?

-  Ah-ham... sei... – Vi continuava com seu olhar malicioso.

-  Eu só... cansei de brigar... – disse Lílian – Aliás, por falar em brigas, o que houve no corredor hoje de manhã? Depois da aula de Defesa?

-  Nada demais... é só que aquela Cherr me irrita...

-  A Cherr ou o Black? – agora foi a vez de Lílian fazer um olhar malicioso.

-  Os dois! – respondeu Vi naturalmente.

-  Sei...

-  Isso mesmo, Lily, na verdade, lá no fundo, mas bem profundo mesmo, eu sou apaixonada pelo Black! E tenho que te confessar, não é só por ele não, pelo Potter também, então tô pensando em "pegar" todos eles! Alow, né!! Fala sério que eu ia me interessar por um dos marotos-arranjadores-de-problema...

-  E "esses garotos" incluem o Remus também?

-  Ãh? – foi tudo o que Vi conseguiu fazer, verdadeiramente confusa. – Por que você tá me perguntando isso?

-  Nada não, era só pra implicar contigo mesmo... – disfarçou Lílian, sorrindo.

-  Ah, que conversa mais fútil, tô até parecendo o fã-clube deles! – disse ela, levantando-se – Eu vou é tomar um banho e dormir, que é mais produtivo.

***

-  Maddy, você vai me agradecer eternamente pelo o que eu vou fazer agora... – disse Viviane com um sorriso malicioso, olhando diretamente para a mesa da Grifinória – Só depois que eu tiver sentado é que você vai, heim! Rápido! – disse, puxando Lílian pela mão.

-  O que você vai-

Lílian nem pôde terminar de fazer a pergunta e já estava sendo puxada para se sentar ao lado de Viviane. Reparou que do outro lado de Vi havia um lugar vago e que, depois desse, estava Black, que conversava com Potter, à sua frente.

-  Sinto muito – disse Viviane à Cherr, que ia se sentando ao lado de Black – está guardado para uma amiga minha... Aqui, Maddy! – acenou para a outra, que mal podia acreditar no que estava vendo.

Cherr empinou ainda mais o seu nariz e, com um olhar de desprezo, saiu sem dizer uma única palavra. Foi então que Lílian entendeu.

-  Adoro implicar com essa garota! – sussurrou Vi ao seu ouvido.

O que Lílian estranhou foi que, pelo o que se lembrava, Viviane não implicava com Cherr antes, quando era em Potter que Cherr estava interessava.

Alguns segundos depois, chegaram Pettigrew e Lupin, sentando-se ao lado de Potter, do outro lado da mesa. Lílian ouviu Remus dizer algo como "Me deixem fora disso, é melhor eu nem ficar sabendo!".

"Vamos, pense Lílian, que dia é hoje? Terça? Isso, terça. Então teremos aula de quê? Ah, Feitiços! Então, rápido, se lembre do que aconteceu nesse dia..."

Como que num estalo em sua cabeça, ela se lembrou. Sua reação foi apenas rir. Olhou para Potter e Black, que sorriam ansiosos um para o outro. Pensou se deveria intervir. Não, não iria fazer nada. O castigo seria engraçado...

Como ela já esperava, a dupla levantou-se antes do resto dos alunos, antes mesmo da maioria dos professores.

Não querendo perder o espetáculo, cuidou para que Viviane e Maddeleine não se atrasassem e, no horário normal da aula, foram em direção à sala. Ao se aproximarem do corredor, notaram que uma pequena aglomeração de estudantes se formava por ali. Aparentemente, ninguém conseguia passar pelo corredor.

Lílian apenas esperou que Viviane as puxasse para verem melhor o que estava acontecendo. O chão estava brilhando, como se tivesse acabado de ser lustrado, e havia bolhas rosas de sabão por todo ele.

O professor encontrava-se à frente da aglomeração. Parecia estar tentando desfazer o feitiço, mas a cada vez lançava um contra-feitiço, a quantidade de bolhas de sabão aumentava. Frustrado e irritado, ele tentou atravessar até a porta da sua sala, mas acabou escorregando e caindo com o traseiro no chão, deslizando pelo chão e provocando uma onda de risos.

Como a essa altura o corredor já estava cheio de bolhas de sabão, o professor ficou coberto dessas bolhas rosas.

-  Deixe-nos ajudá-lo, professor! – disse Potter.

-  Tenho certeza de que podemos desfazer o feitiço... – completou Black.

-  Vocês dois! Foram vocês!! – gritou o professor, ainda incapaz de se levantar.

-  Ora, não precisa elogiar... – começou Potter, sorrindo.

-  Mas pode ficar orgulhoso de seus melhores alunos... – continuou Black.

A cada tentativa do professor se levantar, algumas bolhas flutuavam e paravam no ar. No fim de alguns minutos, elas formavam uma palavras:

M A R A U D E R S

(Ah, gente, não fica mais melhor do que "Marotos"? Combina mais com eles, já que "marauders" significa "saqueadores", enquanto o outro me lembra "sorriso maroto"...)

-  Perdi alguma coisa? – perguntou uma voz suave, porém divertida: Dumbledore.

-  Ops, e agora? Vamos fugir? – perguntou Potter, sarcasticamente.

-  Nãããããããão... – disseram ele e Black, balançando a cabeça negativamente e sorrindo.

O professor ainda tentava se levantar e manter-se sem cair.

-  Eu...exijo...que...eles...sejam...punidos!

-  Mas é claro. – disse o diretor calmamente, enquanto desfazia o feitiço. – Oh, muito espertos... – falhara na primeira tentativa e parecia se divertir com isso, o que só deixava o professor de Feitiços com ainda mais raiva. A segunda tentativa foi um sucesso.

O professor finalmente ficou de pé.

-  Já que gostam tanto de limpeza... – ele espanava sua roupa com as mãos, tirando as bolhas de sabão de cima de delas – Vocês vão ter de limpar TODO o salão principal, SEM MAGIA e na hora do jantar, na frente de TODO MUNDO!

Os dois garotos se entreolharam, ironicamente tristes e deram de ombros.

-  Tudo bem. – responderam.

-  E vocês! – o professor virou-se para os outros alunos no corredor – Já para dentro da sala!

Enquanto os alunos se movimentavam em direção à sala, Lílian notou que uma garota mantinha-se parada, de braços cruzados, apenas sorrindo. Reconheceu-a imediatamente. Viu também que Snape estava ao lado dela. Não teve dúvidas de que Snape havia contado tudo.

-  Anda, vamos entrar! – chamou Viviane – Antes que o professor fique mais furioso!

Ops. Lílian tinha esquecido dessa parte. Entrou silenciosamente na sala, esperando que o professor não a notasse, já que ele estava passando um sermão nos dois marotos.

Porém, assim que ela se sentou, o professor dirigiu-se a ela.

-  E vocês – começou ele, falando com Remus também – que tipo de monitores vocês são que não conseguem manter a ordem no corredor?? Como amigo deles, Sr. Lupin, não seria mais do que a sua obrigação impedir que fizessem esse tipo de coisa!

Lílian achou melhor não argumentar. Da outra vez isso só o tinha deixado mais furioso. Deixaria para falar depois de Remus:

-  Sinto muito, professor. Estarei mais atento no futuro.

-  Certamente, professor. – disse ela então – E nos certificaremos de que os castigos serão devidamente cumpridos.

Assim que o professor virou-se para o quadro, sem contudo amenizar seu olhar raivoso, ela notou, com satisfação, Potter e Black olhando-a. Era visível que eles, apesar de estarem rindo, xingavam-na mentalmente. Lílian apenas sorriu para eles, com toda a superioridade que o distintivo de monitora-chefe lhe confiava, mesmo porque não pretendia realmente fazer aquilo, pois sabia que eles já tinham em mente como limpar todo o salão usando magia despercebidamente.

Tudo isso lhe distraíra ao ponto de não perceber que nem Snape nem a garota estavam presentes na aula de Feitiços.