CAPÍTULO CINCO

Surpreendendo-se

-  Sirius?? – surpreendeu-se Lílian.

-  Sim, por quê? Esperava ver outra pessoa? – perguntou ele, com um sorriso malicioso dançando em seus lábios.

É claro que ela esperava outra pessoa, não era ele quem ela devia encontrar. Apesar de que... nossa, como se sentiu burra! Tinha encontrado Potter no corredor porque ele estava discutindo com Cherr, mas quem namorava Cherr agora??

-  Black! – Cherr logo apareceu, gritando – Eu ainda não terminei!

-  Ah, vai catar Diabretes, vai, Cherr, não enche!

Lílian assistiu Sirius ir em direção à sala comunal, sendo seguido de perto por uma Cherr ainda gritando. Sozinha no corredor, olhou para a sala ao seu lado e reconheceu-a imediatamente. Não entendeu exatamente o motivo na hora, mas entrou. Fechou a porta atrás de si, encostando-se nela. Sentiu-se idiota. O que diabos estava fazendo ali? Ela nem ao menos gostava dele, ainda podia sentir a raiva com que tinha ficado dele naquela manhã, ou no dia anterior com aquela brincadeirinha estúpida, mais uma brincadeira deles.

Saiu da porta e foi para a janela, que era a única fonte de luz do recinto, sentando-se no parapeito dela. Não tinha medo de altura, muito menos sabendo que as janelas do castelo eram enfeitiçadas para que ninguém caísse delas. A noite estava bela, sem lua, mas com um céu estrelado. Perdeu a noção da hora. Estava tão distraída que se assustou quando a porta se abriu.

-  Posso entrar? – perguntou uma voz, a qual ela reconheceu na hora.

Sem resposta, ele entrou, fechou a porta e, com um "Lumus", iluminou escassamente o local com sua varinha.

-  Está tudo bem? – perguntou ele, nem um pouco surpreso com Lílian.

Ela refletiu por um instante.

-  Como sabia que eu estava aqui, Potter?

Ele sorriu.

-  Eu tenho meus meios.

A escuridão não permitiu que a garota visse que ele guardava um pergaminho em seu bolso.

Um silêncio dominou o recinto.

-  Hum... Viviane estava procurando por você na sala comunal... – disse ele, no que lhe pareceu uma boa tentativa de quebrar o silêncio, mas logo se lembrando de como Viviane o tinha tratado mais cedo – É claro que ela não falou comigo... ela tem mais é fuzilado a gente com os olhos... mas eu a ouvi perguntando por você...

Tiago não havia se tocado de que mexera no assunto errado, lembrando à garota de quanta raiva a fizera sentir.

-  Então você resolveu sair pra me procurar? – perguntou Lílian, num tom perigosamente amigável.

-  É, não foi muito difícil achá-la – respondeu com orgulho.

-  Que bom.

Ela sorriu. Mas logo voltou a ficar séria.

-  Pois agora já pode ir embora e me deixar em paz!

-  Wow, você ainda está chateada comigo por causa da explosão na aula de Poções? Ora, Lílian, já explicamos, a gente sabia o que estava fazendo! – ele estava claramente ofendido – Não íamos fazer nada que pudesse machucar alguém!

A garota parecia imparcial. Não dissera nada, mas também não dava sinais de que aceitava suas desculpas. Apenas o encarava com um olhar profundo e indecifrável, o qual nem ela mesma poderia explicar, mas que provavelmente seria uma mistura de raiva e decepção, de quem tenta acreditar nas palavras do outro mas não consegue. Então foi a vez dele se enfurecer.

-  Certo – começou ele – Eu desisto. E dessa vez é sério! Depois de todos esses anos, eu desisto! Não sei por que eu insisti por tanto tampo, quando a resposta sempre esteve tão óbvia no seu rosto!

A porta se fechou com um baque forte, deixando a garota sozinha na janela, com um sentimento inexplicável de perda.

"Do que diabos ele estava falando??", se perguntava ela, ao mesmo tempo que se convencia de que não sabia a resposta.

***

Entrando em seu quarto algum tempo depois, Lílian se deparou com uma estranha Viviane, que fingia ler algo sentada em sua cama, e com uma enraivecida Cherr gritando com uma abobada Amy, outra setimanista. Ela não ligou muito pra discussão, sentindo apenas uma ligeira pena de Amy, em quem Cherr estava descontando sua raiva, e obteve somente respostas vagas de Viviane para tudo o que disse. E foi se perguntado por que o mundo estava de pernas pro ar naquele dia que se deitou para tentar, sem muito sucesso imediato, dormir.

Lílian notou que Viviane continuara um tanto quanto estranha no dia seguinte, principalmente pelo fato dela ter preferido se isolar no final da mesa da Grifinória a cada refeição, ficando propositalmente longe tanto das meninas quanto dos garotos do sétimo ano.

Ao ouvir a sineta que indicava o término da última aula da tarde, as duas arrumaram seus materiais e foram em direção à enfermaria, já que Maddy sairia de lá em instantes. Porém, Lílian sentiu-se ser puxada para um sala vazia quando já estavam bem próximas da enfermaria.

-  O que foi, Vi??

-  Antes de ir, tem uma coisa que eu preciso te contar... – disse ela fechando a porta - ...sem a Maddy... e você tem que me prometer que não vai contar isso pra ninguém. Ouviu? Ninguém!

-  Claro! Não vou contar. Anda, o que houve?!

-  Ontem, quando você saiu da sala comunal, eu a segui.

Lílian ameaçou interromper, mas ela não deixou, prosseguindo com a narrativa.

-  Eu achei que você tava muito estranha, então eu te segui. Vi que você encontrou o Black e a namoradinha dele discutindo e depois entrou numa sala. Aí eu saí do meu "esconderijo" pra ir pra perto da sala, mas aí, de repente...

Viviane parou, o que preocupou a ruiva, pois não era apenas uma estratégia de suspense, como Vi faria normalmente, mas um sinal de nervosismo.

-  Anda,  conta, o que houve?? – Lílian já estava agoniada de tanta curiosidade.

-  Black e eu... nos beijamos...

-  O QUÊ?? Como assim?? E a Cherr??

-  A Cherr... – Viviane revirou os olhos – foi exatamente por causa dela... ele só estava querendo provocá-la... não ciúmes, mas raiva... então ele simplesmente me agarrou e...bem...você sabe...

Lílian começou a rir, fazendo com a amiga ficasse furiosa, mas ela não podia evitar, era mais forte do que ela.

-  Do que você está rindo??

- Mas Vi, se ele só fez isso pra... provocar... a Cherr, você não precisa ficar constrangida...

-  Eu não estou constrangida! E pare de rir!!

-  Me desculpa... – ela finalmente parou de rir – e o que você fez?

-  Quando ele me agarrou?? O agarrei também e em minutos estávamos nus no chão transando! Ora, Lílian, o que você acha que eu fiz?? Eu o empurrei e dei um tapa na cara dele!

-  E a Cherr? – estava sendo realmente difícil para ela controlar o riso, ainda  mais com as ironias de Viviane.

-  Não sei, eu virei as costas e voltei pro salão comunal. Mas você viu no quarto, ela parecia bem irritadinha...

Um brilho malicioso podia ser vislumbrado no olhar de Viviane.

-  Eles dois se merecem... – acrescentou ela.

-  Não sei não, acho que ninguém merece a Cherr... – disse Lílian, sem medir as palavras, submersa em suas lembranças.

-  Você sabe de alguma coisa que eu não sei, Lily?

-  Bom, acho que antes de viajar todos vão saber...

-  Ãh?? – fez Viviane.

Só então Lílian se deu conta do que estava falando. Olhou para o relógio disfarçando e se apressou em sair da sala.

-  Vamos logo, Vi, senão quando chegarmos na enfermaria Maddy já vai ter saído!

***

As suspeitas de Lílian se confirmaram quando ela desceu para o salão principal para coordenar a saída dos alunos que passariam as férias fora de Hogwarts. Vários alunos estavam parados ao redor do que parecia ser (e ela sabia que era) uma discussão. Lílian ultrapassou alguns alunos para ver melhor o "espetáculo".

-  Ora, não me venha com essa! Você acha que eu não sei quais são os seus planos?? – gritava Cherr – Enquanto eu fico em casa assistindo TV você sai com cada garota que ficar em Hogwarts!!

-  Uau! Como você adivinhou, querida?? Ah, já sei, é fácil né, é o que você merece!! –gritou Black em resposta.

-  Agora eu sou a culpada?? – Cherr tinha uma incrível voz de vítima.

-  E não é?? Será que você não fez nada, não? Tipo uma... ah, deixe-me ver... a palavra "traição" te diz alguma coisa?? – perguntou um Black furioso e sarcástico ao mesmo tempo.

-  Traí, sim! – a voz dela agora entoava um choro – Mas porque você merecia! Porque você não me tratava bem, me traía, me usava e, ainda por cima, não me satisfazia!

Lílian mais uma vez pôde notar alguns rirem, outros arregalarem os olhos. Ela nem pensou em intervir, esperou que Remus o fizesse. Em segundos Sirius estava deixando o salão principal a passos pesados enquanto Cherr, teatralmente chorando, era levada à saída por um grupo de garotas.

Respirou fundo e foi para os portões da escola para administrar a saída dos alunos. Despediu-se de Maddeleine, que foi uma das últimas a sair, e sentiu-se um tanto quanto magoada ao reparar, quando a última carruagem partia, que Viviane não havia se despedido dela.

No saguão de entrada, dirigiu-se a Remus.

-  Você viu a Viviane? – perguntou.

-  Não – respondeu o garoto, logo em seguida arregalando os olhos, que estavam fixos em algum ponto atrás de Lílian – Sim...

Antes mesmo que ela pudesse se virar para ver do que se tratava, sentiu alguém abraçar-lhe, por cima dos ombros, alegremente. Teve a mesma reação de Remus ao ver quem era.

-  Viviane?? Você está maluca? As carruagens já foram embora!

-  Não, espera, ainda podemos resolver isso – começou um preocupado Remus – Vamos falar com Dumbledore que você estará na estação ainda há tempo pra pegar o trem...

-  Não, gente, calma! – disse Vi, sorrindo – Vocês não entenderam? Eu não vou!

-  Ãh? – fizeram os dois juntos.

-  É, achei que ia perder muita coisa boa se ficasse em casa... sozinha...abandonada...

-  Mas por que não avisou a gente antes? – perguntou Remus.

-  Porque minha mãe só respondeu à minha coruja agora há pouco...

Viviane levantou sua mão, mostrando-lhes o pergaminho que trazia consigo. Ela tinha um sorriso no rosto, que denunciava o quanto estava se divertindo com aquela situação.

-  Certo – disse Lílian, enquanto os três caminhavam em direção à sala comunal da Grifinória – Mas o que você quis dizer com "perder muita coisa boa"?

-  Não sei, você que me diga, você é a vidente aqui!

Ao ver o olhar confuso de Remus, Lílian balançou a cabeça negativamente, como que dizendo para ele não dar atenção ao que a outra falava.

***

Logo na refeição inicial daquele primeiro dia de férias, eles puderam notar o quanto o castelo estava deserto. As longas mesas das casas, assim como a mesa dos professores, haviam sido reduzidas à mesas de dez lugares, dos quais muitos não ficavam preenchidos.

Devido àquela lembrança do que tinha lido no Profeta Diário durante sua breve estadia no Departamento de Uso Descontrolado de Magia, Lílian havia feito a assinatura do jornal, para manter-se informada do que acontecia fora do castelo. E foi com grande surpresa que se deparou com a manchete de capa.

"Segurança reforçada na volta para casa"

"Com o término do trimestre escolar, pais de diversos lugares da Europa foram buscar seus filhos em segurança, tranqüilos, devido à presença de Aurores em estações de trens, metrôs, ônibus e qualquer outro lugar de desembarque dos alunos. Estrategicamente posicionados, a intenção do Ministério era evitar todo o tipo de eventual atentado que pudesse acontecer.

- É muito bom saber que estamos protegidos, ainda mais que nem notamos a presença deles! Não é uma coisa que assuste nossas crianças... Nós simplesmente sabemos que eles estão lá! – nos disse a mãe de um aluno inglês.

O Ministério afirma que não há com o que se preocupar, essa segurança reforçada é apenas uma medida de precaução, não significando que estamos em estado de guerra, mas apenas em alerta."

Lílian se perguntou há quanto tempo deveria estar acontecendo esse tipo de coisa, e como ela nunca tinha percebido nada de anormal. Talvez estivesse tão concentrada em seus estudos e em suas tarefas dentro do castelo, que não parara para ver o que se passava fora dele.

A matéria ainda continuava, mas a atenção da garota foi levada até a mesa dos professores, onde se encontrava Lawren Clearfut. A professora de Adivinhação sorriu, ao que ela correspondeu, apesar de confusa. Será que todo mundo tinha resolvido mudar sua destino também? Bem, ela só podia desejar que isso fosse uma coisa boa.

-  Então?! – ouviu Viviane perguntar – O que vamos fazer nesse primeiro dia de férias??

-  Que tal adiantar alguns deveres de casa? – o tom sério de Lílian era convincente.

-  É uma boa – entrou Remus na conversa, no mesmo tom sério – Podemos aproveitar também que temos a biblioteca só pra gente...

-  Ah, dá um tempo!! – revoltou-se Viviane.

Os outros dois riram.

Ao ficarem em silêncio, eles podiam ouvir os planos de Sirius e Tiago, planejando uma partida de quadribol. Lílian era capaz de ler um "Quem se importa?!" no olhar entediado de Viviane, que volta e meia os revirava.

Foi com muita revolta que Viviane foi levada até o campo de quadribol, horas mais tarde. Tiago e Sirius jogavam com alguns alunos da Lufa-lufa e da Corvinal. O apanhador de um dos times era Pedro e o do outro era um segundanista lufa-lufa. Parecia que os jogadores não queriam que a partida acabasse tão cedo.

-  Tem certeza de que você não quer dar uma volta?

-  Não, Vi, eu sei que você quer ficar...

-  Ai, Lily, isso aqui tá um saco! E você só quer ficar aqui pra implicar comigo!

-  Realmente – disse Remus – isso está tedioso...

O garoto puxou sua varinha de suas vestes e apontou para um dos balaços. Em segundos, a bola começou a perseguir Tiago. Depois, apontou para o outro e logo este estava atrás de Sirius.

Certamente o jogo ficou mais veloz após esses pequenos feitiços, e mais engraçado também, devido aos malabarismos dos dois para fugirem dos balaços. E assim ficou até o sol se pôr, quando Potter se enfureceu ao quase cair da vassoura e pegou ele mesmo o pomo, finalizando a partida.

***

Predominava um clima desconfortável na sala comunal da Grifinória. Lílian evitava falar tanto com Potter quanto com Black, assim como Viviane também evitava, as duas pelo mesmo motivo, a briga no corredor de Poções e, no caso da ruiva, a discussão na sala à noite e, no caso da outra, o incomum beijo.

Além delas e dos marotos, havia apenas mais duas terceiranistas e um garoto do quarto ano, claramente enfurecido por ter ficado no castelo e que se isolava do resto. Então eles acabam todos juntos ao redor da lareira. Porém, uma pessoa faltava. Potter não havia voltado desde o fim do jogo.

As terceiranistas, sentadas em almofadas no chão, faziam testes de uma revista bruxa. O garoto, entediado, já havia subido para o seu quarto. Outro que ficou entediado foi Sirius que, quando o pergaminho que estava cortando e transfigurando seus pedaços em aviõezinhos (que depois os enfeitiçava para ficarem sobrevoando as duas meninas) acabou, ele se levantou e deixou a sala comunal, dizendo que ia dar uma volta. Pedro também saiu logo em seguida.

Viviane e Lílian jogavam uma partida de buraco (Lílian sempre levava um baralho trouxa para o castelo e, à essa altura, todos ao seu redor já sabiam jogar várias coisas, inclusive roubar, como era o caso de Vi).

-  Eu vou lá na sala da monitoria... – disse Remus se levantando do sofá.

- O quê?? – chocou-se Viviane, fazendo o garoto parar antes mesmo de dar seu terceiro passo – Ah, não, vocês estão de FÉRIAS, eu PROÍBO os dois de entrarem naquela sala!

-  Mas eu só ia pegar meu livro que eu esqueci lá...

Viviane levantou-se e foi até ele, fazendo-o se virar ir até a mesa na qual as duas estavam jogando.

-  Não, não, não, vocês vão ficar longe daquela sala por pelo menos uma semana! Hei, Lílian Evans! Eu tô te vendo, heim!!

Lílian aproveitava a distração da amiga para olhar suas cartas. Normalmente, ela não roubava, era completamente contra isso, mas no momento ela estava perdendo de lavada devido ao roubo da amiga, então, não seria injusto dar uma olhadinha.

Rindo bastante, Lílian desistiu do jogo e atirou suas cartas na mesa.

-  Você precisa aprender a roubar mais discretamente... – disse Remus, sentando-se.

-  Isso é injusto! A Viviane consegue roubar toda hora!

-  Vamos começar outra partida, que eu te mostro...

-  Hei! – gritou Viviane – Isso é um complô contra mim?

-  Claro que não... – respondeu Remus – E então, vamos jogar?

-  Se animou pra jogar dessa vez só porque vai me roubar, né?

-  Não, Vi, imagina...

Lílian apenas assistia à discussão.

-  Pois duvido que você consiga roubar, vou estar de olho em você!

-  Claro – Remus começou a distribuir as cartas – Vou adorar isso.

Ele sorriu, já com suas cartas em mãos. Lílian notou ele vira algumas cartas enquanto as distribuía, mas achou melhor não entregá-lo, seria divertido ver Viviane furiosa mais tarde.

-  Vocês reparam naquela garota da Corvinal, a artilheira do time em que os garotos estavam? – perguntou Remus, enquanto jogava.

Remus se referia à Katherine Geller, uma negra muito bonita do sexto ano, com olhos amendoados cor-de-mel e os cabelos presos em várias trancinhas rastafari (feitas magicamente, porque do modo trouxa leva séculos pra ficar pronto e dá muito trabalho).

-  Impossível não ter reparado – disse Lílian, revirando os olhos.

-  Não foi só a gente que reparou, né? – Viviane deu um sorriu debochado – Por quê? Ficou interessado também?

-  Eu não... mas vocês reparam que os garotos sumiram, né...

-  É verdade... – Viviane parou pensativa – Mas eles são três, e ela é uma só!

Viviane riu, fazendo Lílian arregalar os olhos só de imaginar o que se passava na cabeça da amiga.

-  Não se preocupem – riu Remus também – Só um vai ficar com ela...

-  E os outros se conformam? – perguntou a ruiva.

-  Sim, nós não brigamos por garotas...

Lílian achou que tinha um significado mais profundo escondido naquela frase.

Remus tinha conseguido o que queria. Distraíra as garotas e, algum tempo depois, baixou todas as suas cartas e apanhou o morto. Sorriu para as caras chocadas delas.

-  Não acredito! Você está roubando!! – gritou Viviane.

-  Você fez de propósito! – acusou Lílian.

-  O que eu fiz? Por acaso pensar nos meus amigos distraiu vocês??

Nenhuma das duas respondeu, apenas o encararam de maneira fuzilante, ao mesmo tempo em que continham o riso provocado pela situação.

Um dos aviõezinhos sobrevoou a mesa e bateu na cabeça de Viviane. Ela o agarrou com força, amassou e atirou para a lareira.

-  Não se preocupe – continuou Remus com seu ar zombeteiro – Eu não acho que seja o Sirius que vá ficar com ela...

-  Hei! – gritou Viviane, mais uma vez – O que você está insinuando com isso??

-  Nada, ora, foi só um comentário...

-  Humpf! – fez a garota, apertando as cartas em sua mão e olhando-o desafiadoramente – Vamos ver se você rouba agora...

Ganhar o jogo e impedir que o garoto roubasse pareciam ser mais do que um desafio para Viviane, pareciam ser um objetivo de vida.

***

-  E aí? Ouvi dizer que há muitas passagens secretas nesse castelo... E aposto que você conhece a maioria delas!

-  Não, Kat, as passagens secretas não passam de mitos. Elas não existem. Eu conheço, porém, ótimos ambientes... salas desertas, torres aconchegantes, até mesmo nos jardins há bons lugares, se você souber para onde ir...

Os Marotos tinham um acordo de não contar à ninguém sobre as passagens que conheciam, mesmo porque, se as contassem a cada garota que ficavam, as passagens deixariam de ser secretas.

Tiago aproximou-se dela, apoiando um braço na parede e fazendo-a se encostar nesta.

-  Algo mais criativo que a Torre de Astronomia, eu espero – provocou ela.

-  Muito melhor.

Ele se afastou e ofereceu a mão à garota, que a segurou e se deixou ser guiada por ele. Os dois desceram os vários andares e, o mais discretamente possível, saíram do castelo. O que eles não perceberam é que estavam sendo seguidos por duas pessoas mal-intencionadas.

Indo em sentido oposto à Floresta Proibida e distanciando-se do castelo, Tiago a levou para perto de um par de fileiras de árvores, cujos longos galhos se cruzavam, formando uma espécie de túnel. Eles entraram no túnel florestal e se sentaram sob uma das árvores. Os galhos, além de dificultarem a passagem do luar, davam-lhes privacidade.

-  E então? O que achou?

-  Fantástico!

Ele realmente havia conseguido impressionar a garota.

-  Maldito! – sussurrou Sirius para Pedro – Esse lugar é meu e ele está roubando todo o crédito!

-  Você trazia a Cherr pra cá? – perguntou Pedro, sem fazer nenhum esforço para conter o riso – Sirius Black está ficando romântico?

-  Certo, eu confesso, quem descobriu esse lugar foi o Remus, mas ele não traz ninguém aqui! Eu o estava aproveitando muito bem...

-  Eu imagino... Mas e aí? Vamos deixá-lo aproveitar também?

-  Claro que não – Sirius deu um sorriso perverso.

***

-  Os três estão demorando, não é mesmo? – perguntou Remus, que lutava contra sua vontade de rir. Distrair essas garotas era muito fácil.

O garoto recebeu dois olhares desprezíveis em sua direção. Todos concentraram-se no jogo novamente.

-  Mas... – Viviane parou pensativa – E se ela quiser ficar com um, que só tá afim dela, sendo que algum outro gosta muito dela? Esse outro não faz nada?

-  Bem, se esse for o caso, logo ela vai perceber que ele não gosta dela e pronto! – ele falava naturalmente, enquanto jogava, ou melhor, roubava – As coisas simplesmente...

-  Se ajeitam. – completou Lílian sem pensar – O destino dá um jeito.

Viviane riu. Não iria perder uma oportunidade de implicar com a amiga.

-  Mas no seu caso o destino tá meio lerdinho, né! Anos e anos se passaram e "ele" ainda não deu seu jeitinho...

-  E nem vai dar. Simplesmente porque não é pra ser – Lílian tinha um tom de voz natural e seguro, como se falasse sobre o clima – Ainda mais agora que ele desistiu.

-  "Ele", Tiago? – perguntou Viviane, com seu sorriso malicioso.

-  Ah, mas ele já desistiu outras vezes... – disse Remus.

-  Não, dessa vez é pra valer mesmo, ele estava com muita raiva...

-  Lílian Evans! O que aconteceu que a senhorita NÃO me contou??

Remus aproveitou a distração das duas e puxou um coringa de seu jogo na mesa, limpando uma de suas canastras.

-  Ah, Vi, não foi nada demais! Se eu fosse ficar contando cada discussão que tenho com Potter não iríamos mais ter tempo pra nada!

-  Então, Vi – começou Remus, sorrindo maliciosamente –, você não precisa se preocupar... a Katherine deve estar com o Tiago, o Sirius continuava livre...

Viviane pretendia responder, quando finalmente lhe caiu a ficha.

-  Você ESTÁ roubando! – gritou ela.

-  Imagina! Mas olha! – ele "comprou" uma carta e sorriu ao olhá-la – Bati!! Ganhei!

Vendo-o abaixar todas as suas cartas, Viviane se enfureceu. Levantou-se, com as mãos apoiadas na mesa.

-  Não vale! Você ROUBOU!!

-  Claro que não! Você mesma disse que não me deixaria roubar!

Lílian levantou-se discretamente e foi para o seu dormitório. À medida que subia as escadas, a voz de Viviane (ainda gritando) se abafava cada vez mais. Quando fechou a porta do quarto, apreciou o silêncio do recinto.

Por que continuava com aquela sensação de vazio? O que estava acontecendo com ela?

Jogou-se na cama e ficou lá deitada, evitando encarar o óbvio.

-  Isso foi jogo sujo!!! – Viviane agora estava de pé, com as mãos na cintura, gritando com um despreocupado Remus, que se sentara no sofá – Ué, cadê a Lily?

-  Ela subiu – respondeu ele naturalmente.

-  Ah...

Viviane jogou-se no sofá ao lado dele.

-  Vi, agora sério, por que você não dá uma chance pra ele?

-  Da onde você tirou essa idéia de que eu sou a fim do Sirius??

-  Viviane, eu não sou burro. Eu sei que você detesta o fã-clube deles e que nunca faria parte de um, e isso eu admiro muito em vocês duas, mas ficar com ele não significa que você se igualaria à elas, isso não vai mudar você...

-  Você diz isso porque ainda não entendeu uma coisa. Se o Sirius é a fim de mim, é pelo mesmo motivo que o Tiago é  a fim da Lily, é exatamente porque não fazemos parte do fã-clube deles! Eles não suportam a idéia de que existem garotas que não são a fim deles!

-  Mesmo assim, o que você tem a perder se ficar com ele?

-  Meu posto de "intocável"? – perguntou ela com um sorriso divertido no rosto.

Remus riu.

-  Sério, por que você não dá uma chance pra ele?

-  Quem disse que ele quer mesmo uma chance?

-  Eu digo. Pode crer. Ele quer.

Só então Viviane entendeu.

-  Ele te contou, não foi?

-  O quê? – perguntou Remus, fingindo não entender.

-  Que ele me agarrou!! Pra deixar a Cherr com raiva.

-  Contou. E a Cherr realmente ficou com raiva, né?

Ambos riram. Remus continuou:

-  Mas você sabe que não foi só isso, né? Eu duvido que ele teria feito isso se quem passasse por lá naquela hora fosse a Parkinson!

-  É – riu Viviane – Nesse ponto você tem razão. E... ele falou mais alguma coisa?

-  Disse que foi muito bom, apesar do tapa que você deu nele.

-  Ah! Ele mereceu! – Viviane não pôde evitar o riso – Ele me usou!

Na verdade Sirius havia falado mais do que isso, mas essa parte Remus não podia contar, pois dizia respeito a ele. O motivo dele ter contado ao amigo fora mais do que um simples desabafo, fora um pedido de consentimento. Mesmo Remus tendo fingido que não entendera o porquê, Sirius queria esclarecer as coisas com o amigo antes de tentar qualquer coisa com Viviane.

-  Hei! Por que você não perturba a Lílian com esses assuntos também?

-  Ah, Vi, porque com ela é mais complicado.

Remus sabia que Lílian teria primeiro que descobrir seus verdadeiros sentimentos e aceitá-los. Diferente de Viviane, que sabia muito bem que era a fim do Sirius, apenas não queria deixar seu orgulho de lado e igualar-se às outras meninas que ela tanto desprezava.

-  E então? – perguntou Remus – Vai dar uma chance pra ele?

-  Ele não me merece – Viviane fazia uma cara de metida – Ah, na boa, eu não vou ficar com um garoto metido, arrogante e imaturo.

-  Mesmo? – sorriu Remus.

Ele notou que o buraco do retrato estava aberto e que quem entrava por ele era ninguém menos que o próprio Sirius.

-  Bem, vou indo pro meu quarto. – e saiu antes mesmo que Vi pudesse responder.

A garota levou um susto quando alguém se jogou no sofá ao lado dela.

-  E aí, gatinha?

Viviane revirou os olhos. Iria matar Remus! Ele tinha feito isso de propósito!

-  O que foi, Black? O castelo está tão vazio de garotas que você não teve outra opção senão vir aqui?

-  Ora, não seja tão arisca... você foi minha primeira opção!

-  Sei... e aquela garota, a Geller?

-  A Kat? – perguntou ele, na intenção de provocar a outra – Só fui perturbar o Tiago, mas desisti, ele merece ficar em paz de vez em quando...

-  Você não quis atrapalhar mais uma tentativa dele de esquecer a Lílian, né?

-  Isso – respondeu ele, ficando sério – Acho que ele já devia ter desistido há muito tempo. Ficar correndo atrás de uma garota que te despreza não é nada digno. Ele merece alguém que possa correspondê-lo.

Viviane ficou séria de repente. O que Sirius estava falando acabava totalmente com a teoria dela, de que Potter só "corria atrás" da Lílian por ela não dar bola.

Despertou de seus pensamentos ao notar que Sirius havia chegado mais perto dela no sofá. Não acreditou que ele fosse mesmo fazer aquilo.

-  Então – começou ele –, se você continuar se fazendo de difícil eu vou acabar desistindo...

Ela riu.

-  Se você desistir é você quem vai sair perdendo.

Sirius também riu. Como podia ter encontrado alguém tão arrogante quando ele? Nunca nenhuma garota mostrara ter o orgulho que ele tinha. Era bom ter alguém que não se desmanchava ao lado dele.

-  Bom, nesse caso... – ele abriu seu sorriso mais galanteador – não vou arriscar.

Num movimento rápido, aproximou-se da garota, pondo sua mão na cintura dela e a beijando. Dessa vez ela não o repeliu, então, vendo que estava sendo correspondido, aproveitou.