CAPÍTULO SEIS

Juntando as peças

Após se separarem do beijo, Sirius fez uma expressão pensativa.

-  Bem, acho que eu não perderia tanto assim.

E, com um sorriso superior nos lábios, subiu para o dormitório masculino, deixando uma furiosa Viviane para trás.

Entrando no quarto, ele se jogou em sua cama satisfeito. Remus estava lendo na cama ao lado.

-  Valeu, amigo.

-  De nada, Almofadinhas.

Remus sorriu de volta para o amigo.

-  O que você disse à ela? – perguntou, voltando seu olhar para o livro.

-  Minha melhor arma: a rejeição. Lembra da Sally? – Sirius riu com a lembrança – Cada vez que eu dizia que não tinha sido bom o suficiente, ela melhorava de maneira surpreendente!! As garotas gostam de descobrir do que são capazes!

Remus, entretanto, mantinha-se sério.

-  Veja bem o que você vai fazer com a Viviane, heim.

-  Ora, Aluado, não se preocupe! Eu sei lidar com as garotas!

-  Com ela é diferente. Viviane é diferente.

-  Calma, amigo, eu sei o que estou fazendo... – Sirius continuava a sorrir.

-  Se ela é só mais uma garota pra você, é melhor parar por aqui. Estou te ajudando, mas não quero que você machuque a minha amiga.

Sirius não respondeu. Não sabia o que sentia ao certo por Viviane e, para não ter que assumir que talvez ela fosse apenas mais uma garota, não disse nada. Remus, para não se aborrecer mais, ou talvez para não se arrepender do que estava fazendo, fechou o livro e saiu do quarto. Antes de sair, porém, virou-se uma última vez para o amigo.

-  Você vai ver como ela é diferente. Terá sorte se ela não te der um gelo por um bom tempo...

***

-  Você não tem NOÇÃO do que ele fez!!

Viviane estava tão chocada que estava rindo. Sentou-se na cama de Lílian, ao lado desta.

-  Fez o quê? Ele quem??

-  Black!! Quem mais??

-  Ele te agarrou de novo? – perguntou Lílian, entre risos.

-  Não. Não foi preciso... – sorriu a outra, maliciosa.

-  Então onde está o problema??

-  Ele me dispensou depois!!!

-  Pera aí, Viv, como assim??

-  Disse que não iria perder nada se não tivesse me beijado e foi embora! Embora!! Eu sempre tive razão em não querer ficar com ele, por que diabos eu fui ouvir o Remus?!

Lílian estava ficando confusa. O que o Remus tinha a ver com tudo isso? Só entendeu quando Viviane, mais calma, lhe contou detalhadamente tudo o que tinha acontecido desde que a amiga subira para o quarto.

***

Dito e feito. A semana transcorreu "gelada" para Sirius. O garoto foi solenemente ignorado pela dona de desafiadores olhos cor-de-chocolate, do mesmo tom dos cabelos cacheados. Remus estava se divertindo com isso, vendo o desespero de Sirius que, a cada dia que se passava, voltava frustrado de uma tentativa de conquistá-la. Mas o que Aluado também sentia, era que o amigo estava se envolvendo cada vez mais com Viviane.

Já quanto a Tiago, ninguém conseguia dizer se aquilo tudo era teatro, dos mais bem interpretados, ou se ele estava realmente se desligando de Lílian. Preservara uma amizade com a ruiva, aparentemente sem segundas intenções, e continuava a sair com Katherine. Lílian sentia falta de como as coisas eram antes, mas achava apenas que estava sendo muito egoísta se queria ter sempre alguém aos seus pés. Afinal, ele merecia ser correspondido.

E muito bem correspondido. Sirius era o que mais estava se divertindo com isso tudo, não perdendo uma oportunidade sequer de imitar a voz de Katherine diante dos outros: "Oi, Titi.", "Estou com saudades, Titi", "Ai, Titi...". Tiago não dizia, mas ele detestava esse apelido. Sirius sabia disso.

Então, com a proximidade do dia em que tinha sido internada antes, a ruiva se voltou para outros problemas. Lembrando-se do que lera no Profeta Diário: "Tragédia" e "Morte". Esse jornal saíra no dia seguinte de sua internação. Será que isso teria alguma coisa a ver com os animagos? Será que o lobo tinha matado alguém? Do povoado trouxa talvez...

Sentindo-se alarmada, mais precisamente desesperada, Lílian resolveu que precisava fazer alguma coisa. Precisava de ajuda. Minutos depois estava na sala da professora Clearfut. Mal tinha fechado a porta, disparou:

-  Lawren, você estava certa. Eu voltei no tempo.

-  Acalme-se querida... Venha, sente-se. Conte-me tudo.

Num resumo, Lílian contou sobre o incêndio, sobre como quase machucara sua irmã, a casa dos gritos, o lobo e, finalmente, sobre o Departamento de Uso Descontrolado de Magia.

-  Interessante... – começou Lawren – Um anula-tempo?

-  Isso.

-  Um utensílio muito valioso, sem dúvida... seu único problema é que você nunca mais poderá alterar seu destino...

-  Como assim??

-  Você não poderá mais nem voltar no tempo nem ir ao futuro... nem mesmo uma pessoa poderá fazer isso por você...

-  E isso é ruim? – perguntou com sinceridade, depois explicou – Porque a maioria das pessoas vivem a vida inteira tendo que encarar seus erros, sem ter a chance de voltar e fazer diferente... eu já tive o privilégio de voltar uma vez, já tá de bom tamanho pra mim!

-  Que bom que você pense assim. – Lawren sorriu gentilmente, porém era um sorriso triste. Parecia que ela sabia de alguma coisa sobre o futuro da garota. – Bem, como posso ajudá-la então?

-  Ainda não sei...

Lílian então contou sobre o jornal bruxo.

-  Você não se lembra de mais nada sobre a notícia, Lílian?

-  Não, eu não a li! Só olhei por alto...

-  Então... acho que eu sei o que podemos fazer, espere só um segundo...

Lawren se levantou e foi até um armário no fundo da sala. Abriu-o e, delicadamente, retirou dele o que parecia ser uma bacia de prata. Lílian imediatamente reconheceu o objeto: tratava-se de uma Penseira. A professora voltou a se sentar e colocou a Penseira no chão, entre as duas.

-  Agora, Lílian, eu preciso que você se concentre naquela matéria do jornal. Não se preocupe em lê-la, apenas se lembre do que seus olhos viram naquele dia.

A ruiva fechou os olhos, sendo incapaz de fazer suas pálpebras pararem de tremer, e se concentrou. Ouviu a bruxa murmurar alguma coisa e, de repente, sentiu-se incapaz de visualizar o jornal, a lembrança parecia ter desaparecido. Quando abriu os olhos, viu um fio verde saindo de sua cabeça, sendo puxado pela varinha de Lawren, e depois sendo depositado na bacia.

-  Agora, entre.

Apesar de soar absurdo, Lílian entendeu o que a outra pedia. Olhou a bacia e pôde ver uma cena inerte dentro dela. Era estranho ver a si mesma, sentada numa cadeira branca imóvel e com um jornal em suas mãos. Sem perceber, aproximou-se da cena e, um segundo depois, sentiu-se sugada pela bacia.

De repente, sentiu seus pés tocarem bruscamente o chão. Com dificuldade, evitou cair. Sentiu seu sangue congelar. Era horrível estar de volta àquele lugar. Todo o ambiente branco, acolchoado, fazia sentir-se presa.

-  O segundo é o Profeta Diário... – ouviu a voz da bruxa de cabelo azul dizer, trazendo-a de volta ao seu objetivo.

Sua atenção entretanto voltou-se para a ruiva que fazia o jornal tremer em suas mãos.

"Nossa", pensou Lílian, "Eu estava horrível". Extremamente pálida, com olhos lacrimejantes e totalmente despenteada. Sentiu pena de si mesma. Notou que seu eu do passado corria os olhos sobre o jornal, sem conseguir focalizar nada em si. Aproveitou para tentar ler. Aproximou-se da ruiva na cadeira, pensando em como era estranho poder sentir o chão acolchoado como se realmente estivesse ali novamente. Mais do que isso, pensou em como era estranho estar ao lado de si mesma. Concentrou-se em ler.

"Mais uma tragédia"

"Novo atentado assusta o mundo mágico. Dessa vez os Comensais da Morte, como se autodenominam esses bruxos que fazem questão ter reconhecida a autoria nos atentados, infestaram uma mansão bruxa com uma substância ainda desconhecida, provocando a morte de um casal, membros de uma das mais renomadas classes de Aurores.

O Ministério continua afirmando que a população não precisa se desesperar. As devidas providências já estão sendo tomadas e esse foi apenas um caso isolado. Mas, até quando esses "casos isolados" vão continuar? É melhor proteger os seus filhos, não vamos querer nos tornar mais um caso isolado..."

Por um lado, a garota se sentiu aliviada ao saber que os animais nada tinham a ver com aquilo. Por outro, sentiu um frio lhe percorrer pela espinha. O que diabos estava acontecendo no mundo mágico?

Percebeu então que seu eu do passado já tinha acabado de ler a outra matéria e agora chorava desesperadamente. Viu ainda a foto com as chamas que balançavam de um lado para o outro, enquanto o jarro de água partia das mangueiras dos bombeiros. A maca era levada para dentro de uma ambulância. Sentiu que choraria novamente se continuasse ali.

Por isso, agradeceu à Lawren quando, segundos depois, sentiu-se sentada numa almofada, de frente à professora.

-  E então? – perguntou Lawren gentilmente.

Lílian lhe contou sobre o que tinha lido e descreveu detalhadamente a foto que acompanhava a matéria. Assim que deixou a sala, viu a professora se dirigir à sala do diretor. Iria tentar evitar esse atentado, dizendo que tinha tido uma predileção.

***

Lílian andava distraída, indo em direção à sala comunal. Já não sabia mais o que fazer. Quando estava subindo para o quinto andar, a escada resolveu se mover, mudando seu destino.

-  Ah, não... vou ter que dar a maior volta...

Ela ia entrando em um dos corredores quando ouviu umas risadas. Voltou alguns passos e esperou.

-  Tchau, Titi. – ouviu uma voz feminina melosa dizer.

-  Ninguém merece. – disse para si mesma quando viu que a garota iria para a escada – Hoje não é o meu dia...

-  Oi, Lílian!

-  Olá, Geller. – respondeu, sem nem perceber que a outra pareceu ofendida por ter sido chamada pelo segundo nome.

A bela negra descia, se afastando, e a ruiva, sem ter outra saída, entrou no corredor. Ficou confusa ao ver que Tiago trazia consigo sua Cleansweep.

-  Não consegue se separar dessa vassoura nem pra namorar?

Ele riu.

-  Nós estávamos treinando.

-  Sei, com uma vassoura só...

-  Você se surpreenderia se soubesse... – vendo que ela revirara os olhos, ele parou a frase – Salão comunal?

-  Sim, vamos, "Titi"? – implicou ela.

Potter fechou a cara e começou a andar sem responder.

-  O que foi? – perguntou ela, num tom sarcástico – Não gosta quando implicam com você?

Ele estreitou os olhos e sorriu perversamente.

-  Quem gosta é você... Adorava quando eu implicava contigo...

-  Hei, não viaja.

-  Pode falar a verdade, você fazia de tudo pra eu implicar.

-  Da onde você tirou essa idéia absurda, Potter?

-  Tá vendo, já está até me chamando pelo sobrenome... aí daqui a pouco a gente briga...

-  A gente só vai brigar se você provocar.

-  Eu nunca provoco! – ele sorria cinicamente – Se te chamar pra sair comigo te deixava nervosa, Lílian, eu não podia fazer nada...

-  Claro que não era isso! Eu só brigava com você quando você fazia alguma coisa errada, afinal, eu sou monitora!

-  Sei... até parece... eu sei que você adora brigar...

-  Claro que não!

Irritada, Lílian acabou pegando a escada que descia, por engano.

-  Que eu me lembre, o salão comunal é no sétimo andar... – provocou ele.

A garota se irritou ainda mais. Ele devia estar se gabando por tê-la deixado desorientada. Estava com raiva agora. Por isso, não voltou, continuou descendo a escada.

-  Mudei de idéia, por quê? Não posso? – respondeu.

Sua raiva só aumentou, quando viu que ele também estava descendo. Então, mais uma vez, a escada se moveu.

Querendo se livrar dele, Lílian entrou no primeiro corredor a sua frente. Infelizmente, já era tarde quando percebeu que aquele caminho não tinha saída. Terminava em uma parece que era quase toda coberta por um espelho. E foi ali que viu não só o seu reflexo, mas também de um Potter que estava se divertindo.

-  Se perdeu, Lílian?

 A garota não se virou, mas isso foi inútil, pois ele podia ver a expressão frustrada e irritada dela pelo espelho.

-  Ora, Lílian, vamos, relaxe... não vou mais implicar com você, não. Ei, sabe do que você precisa? De um pouco de ar puro... que tal dar um passeio?

Franzindo a testa, ela se virou confusa.

-  Tem algum pergaminho aí? – perguntou ele apalpando os bolsos. Lílian balançou a cabeça – Ah, já sei, espera aí!

Ele entrou numa sala ali perto e voltou com um pedaço de pergaminho e uma pena nas mãos.

-  Ah, droga, ainda preciso de tinta...

Mesmo sem entender, Lílian achou que poderia ajudá-lo.

-  Usa isso. – ela lhe ofereceu um objeto que tinha tirado do bolso.

-  Ãh? – agora quem ficou confuso foi ele.

-  Chama-se caneta. Já vem com tinta dentro. Pega, é igualzinha à pena.

Tiago, após depositar a vassoura no chão, pegou a caneta e escreveu alguma coisa que, para Lílian, mais pareceu um amontoado de letras. Ele então virou o pergaminho de frente para o espelho e ela percebeu que no reflexo as letras tinham nexo mas, antes mesmo que pudesse ler o que estava escrito, tudo o que o espelho refletia desapareceu, transformando-se num corredor escuro.

-  Vamos! – chamou ele, sorridente e pegando sua vassoura.

Mas ela permaneceu imóvel. Por mais que ele tivesse mudado o reflexo, o espelho ainda estava ali, como ele pretendia passar? Teve sua resposta quando Tiago passou sua mão para dentro do espelho, mostrando que não havia mais nada plano ou concreto impedindo a passagem. Somente quando estava sozinha no corredor, vendo o outro pelo "reflexo", foi que teve coragem de entrar. Respirou fundo e foi. Sentiu como se passasse por uma substância gelatinosa e um tanto quanto gelada.

***

Viviane parou em frente à porta. Balançava a cabeça negativamente enquanto a abria.

-  Há! Eu sabia! Vocês não tomam jeito, não...

Ela entrou na sala dos monitores e se sentou no sofá em frente à lareira, onde também estava um garoto muito quieto, que segurava fortemente uma caneca alaranjada em suas mãos.

-  Cadê a Lílian, Remus?

-  Não sei... não a vejo desde o almoço.

-  Humpf! Estou entediada. – disse ela, fazendo o outro sorrir – O que você tá fazendo aqui?

-  Nada demais, só...pensando...

-  Isso é uma poção, né? – perguntou animada.

-  Claro que não. Eu não fico fazendo poções por qualquer coisa. É só um chá.

-  Sei. – ela continuava a sorrir – Mas se estivesse, não teria problema nenhum... – desfez o sorriso quando ele começou a fitá-la – Ai, tá bom, entendi, só um chá...

***

Os dois andaram um pouco pelo sombrio corredor até ele se transformar num túnel. O caminho então começava a descer. Tiago parou e olhou para Lílian, sorrindo.

-  Tive uma idéia. – disse ele.

Lílian teve medo de perguntar "Qual?", então manteve-se calada.

-  O caminho é longo... – começou ele – então, achei que a gente podia chegar mais rápido se a gente fosse "voando". O que acha?

-  Você não tem jeito. – disse ela, rindo.

Olhou para a vassoura que ele exibia em suas mãos, analisando a situação. O que teria a perder com isso? Nada. Isso mesmo, nada.

-  Certo. – respondeu ela.

Tiago montou em sua vassoura e esperou que a garota se sentasse atrás dele. Deu impulso e logo ganhou velocidade. Era a primeira vez que Lílian voava "de carona" e teria achado muito normal, como andar em sua própria vassoura, se não fosse pelo fato de estar com Potter. Mas não ligou muito para isso. Eles eram amigos agora, ele estava praticamente namorando Katherine e não havia motivo nenhum para se sentir constrangida ao passar ao mãos pela cintura dele. Ou teria?

O percurso, apesar de longo, chegou ao fim rapidamente, afinal eles estavam literalmente voando. Terminava em uma passagem circular de aproximadamente um metro e meio. Eles desceram da vassoura e passaram pelo buraco, que dava num ambiente quadrado e pequeno.

-  Estamos no fundo de um poço. – explicou ele.

-  E como subimos? – perguntou ela preocupada.

-  Tem uma maneira. – ele riu – Mas voando é mais prático.

Em segundos eles estavam no gramado, ao lado do velho poço, descendo mais uma vez da vassoura. Lílian olhou o ambiente ao seu redor. Pareciam estar num vale.

-  Subindo, logo ali é a rua principal de Hogsmeade. Quer dar uma volta, Lílian?

Ela olhou para sua roupa e para a dele: não estavam uniformizados. Mesmo assim podiam ser reconhecidos. Mas era só uma volta. A tarde estava tão linda...

***

Viviane tentava conversar, mas esta estava se mostrando uma tarefa extremamente difícil.

-  O que está acontecendo, Remus?

Ele notou uma coisa rara no tom de voz dela: preocupação. Pensou em contar pra ela, não queria mentir, achava que mesmo se quisesse não conseguiria, mas a verdade era perigosa. Seus amigos tinham reagido bem, de maneira inesperada até, mas cada um reagia de uma maneira. Não queria arriscar.

-  Acho que vou precisar ficar internado a partir de hoje...

-  Não está se sentindo bem?

-  Não muito. Mas não se preocupe, Vi, eu já estou acostumado. – disse, no que lhe pareceu um tom mais animado, mas que não convenceu a garota.

-  Me desculpa, eu devia ter reparado que você queria ficar sozinho... olha, eu vou pra sala comunal, mas se precisar pode me-

-  Não! – ele interrompeu a garota, que parou em seu movimento de se levantar, sentando-se novamente – Por favor, fique.

***

-  Você precisava ter visto! Foi o melhor jogo do mundo!

Tiago contava animadamente (inclusive fazendo demonstrações com sua vassoura, apesar dos avisos de Lílian de que seriam vistos desse jeito) uma partida de quadribol à qual ela não pudera assistir. Isso tudo começou quando eles pararam na vitrine da loja de artigos esportivos. Era bem diferente andar por ali sem aquele bando de alunos eufóricos.

Como não haviam levado dinheiro algum (não se anda com muitos galeões no bolso pelos corredores de Hogwarts, não é mesmo?), acabaram voltando para o vale. Sentaram-se no gramado, encostados no poço.

-  Então esse é o seu segredo, né? – perguntou Lílian, com um sorriso malicioso. – Trás as garotas pra "dar um passeio"?

Ele apenas sorriu, sem responder.

-  Vamos, me conta, quantas garotas já trouxe até aqui? Deixe-me ver... – ela mesma parecia estar fazendo as contas – Sete anos no castelo, até descobrir essa passagem deve ter perdido uns três... aliás, deve saber de outras passagens também, né? Então o número dobra... talvez triplique...

Ele se manteve calado novamente e Lílian, surpresa, pôde ver nos olhos dele que a resposta era "Nenhuma".

Envergonhada, ela parou de falar. O silêncio então tomou conta dos dois por um tempo. Era estranho, ele parecia ter ficado tímido de repente. Talvez fosse consciência pesada, por ter levado Lílian a um lugar ao qual nunca tinha levado Katherine. Bem, isso era o que ela pensava.

***

Depois disso, conversar tinha se tornado muito mais fácil para Remus. Ele não tinha contado tudo, mas também não tinha mentido. Achou melhor ter a companhia dela ao seu lado, já que ficaria muitos dias sem vê-la. Entretanto, olhava para o relógio a cada meia hora no mínimo.

Foi com muita tristeza que ele se viu obrigado a ir embora. Seria perigoso ficar ali até mais tarde, o pôr-do-sol não tinha uma hora exata. O primeiro dia da Lua Cheia sempre lhe parecia o início de um pesadelo.

-  Eu vou falar com a Madame Healery... preciso ir...

-  Eu vou com você até a enfermaria.

Viviane já começava a se levantar quando foi impedida por Remus, dizendo que não era necessário. Na verdade, ele preferia ir sozinho.

-  Tá bom. – disse ela, contrariada – Mas vê se volta logo. Você fica internado muito tempo...

-  Também acho. – disse ele sorrindo.

A garota ficou no sofá, observando o outro sair e a porta se fechar lentamente. Quando já estava sozinha na sala, Viviane viu a caneca alaranjada no chão, nos pés do sofá. Pegou-a e notou que ainda tinha um restinho do líquido. Tomou um gole. Teve uma sensação reconfortante. Tomou outro gole. Sentiu como se uma onda de tranqüilidade descesse por sua garganta e preenchesse seu corpo.

-  Eu sabia! É uma poção. E uma Poção Calmante. Deve ser mesmo horrível essa doença...

Embora sua atitude normal fosse se levantar e ir pra outro lugar, um mais agitado, com certeza, Viviane continuou ali, sentada.

***

-  Putz! Esqueci! – soltou Tiago, quebrando o silêncio e se arrependendo depois.

Apesar do pôr-do-sol ser um belo espetáculo, em noites de lua cheia era apenas um aviso, não poderia ficar ali para contemplá-lo quando acontecesse. Ele se levantou apressado.

-  Precisamos voltar.

Lílian não perguntou nada, o garoto parecia sério e preocupado. Devia ser algo realmente importante. Montou na vassoura atrás dele e, em silêncio, voaram para dentro do poço, descendo rapidamente. Viraram para passar pelo buraco em uma velocidade tão grande que Lílian se segurou mais forte na cintura dele. Teve medo de cair, porque não confiava em seu próprio equilíbrio numa vassoura naquela velocidade, mas depois o medo passou, pois sabia que, diferente dela, Tiago era habilidoso quando se tratava de voar. Confiava nele.

***

-  Onde diabos está Pontas?!

-  Até parece que você não sabe, Almofadinhas.

Sirius andava de um lado pra o outro naquele empoeirado quarto, enquanto Pedro estava sentado, encostado à parede, esperando que os outros chegassem. Ambos ficaram imóveis e silenciosos ao ouvirem passos e vozes vindos da sala. Logo após a voz feminina cessar, Remus entrou no quarto. Estava com uma cara péssima, como se fosse desmaiar à qualquer momento. Foi direto para uma cama que ali havia e jogou-se nela.

Em instantes, outro garoto entrou, parando na porta ofegante e completamente despenteado, trazendo ainda uma vassoura consigo.

-  Até que enfim, vocês dois! – disse Sirius – Só desculpo seu atraso, Pontas, se você disser que estava com a Katherine... – completou sorrindo.

Tiago passou a mão pelos cabelos, num gesto inconsciente de nervosismo. Sentou-se à parede oposta a em que Pedro estava.

-  Então sinto muito. Estava com a Lílian. Conversando! – explicou-se logo.

-  Ãh? – fizeram os outros três.

Remus até mesmo se sentou para ver melhor o amigo. Seus olhos estavam ganhando uma tonalidade amarelada e já era possível se ver as pupilas dilatadas. Pêlos grossos e escuros começavam a aparecer em seu corpo.

-  O que que tem demais? Não posso mais conversar com uma amiga?

Sirius parou ao lado de Tiago e sentou-se também.

-  Fala a verdade pra gente, Pontas, o que você está sentindo?

O garoto respirou fundo, passando a mão pelos cabelos novamente.

-  Me sinto confuso. Eu estava falando sério quando resolvi desistir dela, ainda mais agora que eu tô me envolvendo mesmo com a Kat, não quero arriscar perder isso,  mas...

Ninguém pôde ouvir o que Tiago disse em seguida, pois sua voz foi sobreposta por um uivo que paralisou a todos. Em segundos, não havia mais nenhum ser humano naquele lugar, apenas três animais tentando conter um quarto animal enfurecido.

***

O garoto havia se distanciado com tal velocidade que ela nem soube dizer para onde ele teria ido. Lílian deu de ombros e seguiu seu caminho, agora o certo, subindo as escadas.

-  Lílian?

A ruiva deu um pulo de susto.

-  Viviane?! O que você tá fazendo por aqui?

-  Tava na sua sala. – respondeu sorrindo – Mas não se preocupe, ela continua inteira... por enquanto...

-  E o que você tava fazendo lá?

-  Ora, Lily, estava jogando Strip-pôquer com o Remus, o que mais eu poderia estar fazendo? E você?

-  Eu? Ora, Vi, o mesmo que você, jogando Strip-pôquer, só que com o Tiago.

Viviane caiu na gargalhada. Sem mais perguntas, as duas foram para a sala comunal da Grifinória.

Apenas quando já era tarde da noite foi que Lílian se lembrou que o dia seguinte seria o dia em tinha sido internada. O dia em que tinha incendiado sua casa. O dia em que vira o lobo na Casa dos Gritos. Sentiu um medo congelante tomar conta de si. Passou o resto da noite toda tentando montar o quebra-cabeça em sua mente, mas foi inútil. Ainda não sabia nada sobre os animagos. Foi uma longa noite, virando-se e revirando-se na cama. Após o café da manhã no dia seguinte, rumou direto para a biblioteca, tinha de achar alguma coisa, qualquer coisa.

Fechou o quarto livro sem sucesso. Passou as mãos nervosamente pelos cabelos e deixou a cabeça apoiada naquelas, dedos entrelaçados no fios ruivos, cotovelos na mesa. Assustou-se ao ouvir uma grossa voz se dirigir à ela.

-  Procurando por Animagos?

Lílian levantou a cabeça para encarar Snape.

-  O que você sabe sobre eles? – perguntou ao ver a expressão de desprezo do outro.

-  Sei que você não precisa ir muito longe para achar Animagos... Mas desista, já é tarde demais.

Ele virou em seus calcanhares e se distanciou. A garota abaixou a cabeça novamente. Estava ficando cada vez mais confusa. O que Snape queria dizer com aquilo?? Não viu que Snape mudou repentinamente seu trajeto ao ver Potter entrando. Por isso, nem se deu ao trabalho de levantar sua cabeça, o que fez apenas quando reconheceu a voz de Tiago.

-  Você viu o Sirius?

-  Não.

-  E a Viviane?

-  Também não. – respondeu, achando estranha a pergunta do outro.

-  É, foi o que eu pensei. – completou ele, sorridente.

Lílian não deu muita importância a isso, tinha outras coisas em mente. Pegou um quinto livro e começou a folheá-lo.

-  Estudando? – perguntou incrédulo.

-  Não, pesquisando... – a resposta foi automática – mas não está adiantando nada...

-  É, os melhores livros estão na Seção Restrita...

Imediatamente, os olhos de Lílian foram do livro para o garoto, que estava claramente arrependido do que havia falado. Mas Lílian não estava pensando em ralhar com ele ou coisa parecida, estava surpresa pelo fato desses livros nem terem passado por sua cabeça.

-  Bem, vou ter que interromper o que quer que o Sirius esteja fazendo... – disse ele olhando pela janela, parecia que logo iria escurecer – tchau, Lily.

-  Espera – chamou ela, fazendo-o se virar – Será que você poderia...hum...fazer um pouco de barulho no corredor e...

Potter sorriu.

-  Você terá uns dez minutos. – e saiu da biblioteca.

Não demorou muito para uma explosão ser ouvida no corredor, seguida de uma fumaça alaranjada que chegava a entrar pela porta. Madame Lib, a bibliotecária, saiu apressada, deixando a ruiva aparentemente sozinha no recinto.

Rapidamente a garota se dirigiu à Seção Restrita e procurou por títulos que lhe sugerissem Animagos. Folheou com velocidade um livro, mas não encontrou nada. Olhou um outro, parando em uma página que ensinava como se tornar um Animago, mas nada de lista dos Registrados. Depois de um terceiro, olhou para o relógio e resolveu desistir, voltando para sua mesa. Em segundos Madame Lib retornou ao local. Lílian arrumou suas coisas e devolveu os livros. Resolveu tentar outra coisa.

***

Snape, detrás de uma estante que usava como esconderijo, observou a ruiva sair do recinto. O que ela estaria fazendo na Seção Restrita? Deveria ser algo realmente importante, pois a monitora não se arriscaria por qualquer coisa. Talvez ela quisesse descobrir sobre os animais na Casa dos Gritos... Não, Snape achava que ela já soubesse, ou ao menos desconfiasse deles, e estivesse tentando se transformar em Animaga também.

Aquela idéia não lhe agradava nem um pouco. Potter não lhe agradava. Ele precisava separar a garota daqueles malditos "marotos". Aqueles grifinórios idiotas podiam arruinar seus planos. Queria Lílian do seu lado, faria o que fosse preciso para tê-la. E já tinha algo em mente. Mesmo que não fosse colocar isso já em prática, não podia deixar essa oportunidade passar, teria sempre um trunfo na manga para quando precisasse. Se ela não fosse por bem, iria por mal.

***

Saindo da biblioteca, Lílian foi à procura da professora McGonagall, para quem perguntou sobre a existência de Animagos pelas proximidades. A resposta, entretanto, não foi a que esperava:

-  Não sei de nenhum Bruxo Animago vivendo em Hogsmeade... Por que, querida?

-  Nada demais, só curiosidade, professora.

A garota saiu da sala e, distraída, foi andando para a sua sala comunal. Mas chegando ao quinto andar, teve a sensação de déjà vu. Ouviu duas vozes, uma feminina e outra masculina e, não querendo ser vista, escondeu-se atrás da estátua de Boris, o Pasmo. O que mais lhe chamou a atenção foi que eles falavam em voz baixa e andavam discretamente. Lílian ouviu o barulho de uma porta se fechando e pôde, enfim, sair de seu esconderijo.

Ia seguindo seu caminho quando, finalmente reconhecendo as vozes, a curiosidade venceu. O que Snape e Bellatrix estariam fazendo ali? Deu meia volta e parou em frente à porta pela qual eles entraram. Não era possível ouviu som algum. Ela então puxou sua varinha e proferiu um feitiço que sabia que não poderia usar, mas apenas um feitiço ilegal seria capaz de permitir que ouvisse a conversa sem chamar atenção no corredor.

-  Confia em mim, eu sei que eles estarão lá. – ouviu Snape dizer, sua voz transmitia um prazer perverso.

-  Certo. Estamos com sorte, sei de alguém que está em Hogsmeade e fará isso com prazer...

-  Mas precisa ser à noite... Mais do que isso, terá de ser HOJE. Essa é nossa única oportunidade, teremos até mesmo Hogwarts nas mãos depois disso...

-  Mas Severo – a voz dela demonstrava a incerteza em um tom desafiador  –, como tem tanta certeza de que é hoje à noite?

-  Porque esse foi o dia em que ela foi internada... Evans...

Lílian afastou-se da porta instantaneamente. Engoliu em seco. Sentiu-se congelar por dentro. Como ele sabia sobre o lobo? O homem loiro de preto que a havia perseguido teria sido um Comensal?? O que eles pretendiam fazer??

Antes que pudesse ser vista ou ouvida, foi para a sala de monitoria e lá se trancou.

Snape sabia. Parecia que queria que o lobo fosse descoberto. Que ligação esse animal, ou melhor, Animago, teria com o colégio?

"Sei que você não precisa ir muito longe para achar Animagos"

Vozes surgiam em sua mente.

"A lua estará forte em Dezembro... isso faz sentido para você?"

Lembrou-se imediatamente de que havia uma brilhante lua cheia naquela noite do lobo. Sem entender o motivo na hora, lembrou-se também de que Potter pareceu preocupado com o pôr-do-sol e de que não tinha visto nenhum dos quatro marotos na noite anterior. Além disso, notou também que os três desapareciam nas noites em que Remus ficava internado, mas ninguém os via na ala hospitalar.

"-  Remus, eu ouvi hoje o Black te chamar de "Aluado", tem algum sentido específico isso?"

De repente, a ficha caiu. Lílian virou-se para Tomoyo no quadro, que a olhava curiosa.

-  Tomoyo, vê pra mim se o Remus tá na enfermaria?

-  Claro. – respondeu a garota, desaparecendo em seguida.

-  Não pode ser... – dizia ela consigo mesma, andando de um lado para o outro na sala – Mas ele sempre fica doente na lua cheia... não pode ser só coincidência... mas e os outros?

Não lhe parecia uma idéia muito absurda que os outros três fossem Animagos ilegais, ainda mais depois de ver que um livro, ali mesmo naquela escola, ensinava como se transformar em um.

-  Ele não está lá, não... – Tomoyo voltara – E o Dr. Brown, do quadro da enfermaria, me disse que ele é um paciente muito estranho, porque geralmente só fica internado de dia, sumindo durante as noites...

Pronto. Era isso, a confirmação de sua suspeita. Remus era um lobisomem. Porém, uma vez dissolvido o mistério, seus problemas apenas aumentaram. Agora quem estava em risco não era um simples lobo, mas seu amigo, juntamente com os outros três garotos. Precisava fazer alguma coisa. Eles seriam descobertos. Agora entendia como o problema se estendia à escola, ter um lobisomem e Animagos ilegais como alunos acabaria com sua reputação e respeito.

O tempo estava se passando. A garota andava nervosamente pela sala, sem saber ainda o que fazer.

Como Snape sabia que os marotos eram Animagos?? Não, não podia ficar pensando nisso, precisava se concentrar em achar uma maneira de impedir que aquele homem, provavelmente um Comensal, descobrisse tudo. Mas o que ela poderia fazer contra um Comensal?? Seria arriscado demais. Então...precisava impedir o lobo de sair da Casa dos Gritos.

Lílian saiu desesperada da sala, correndo pelos corredores de Hogwarts, tentando achar algum dos marotos. Perdeu muito tempo nessa procura inútil, o que a deixou ainda mais nervosa. Todos eles já haviam ido. Só restava uma coisa a se fazer. Nada faria se ficasse em Hogwarts.

Tentando disfarçar para os olhos arregalados que a seguiam, Lílian diminuiu o passo enquanto partia para o quarto andar. Esperou ficar sozinha para entrar no corredor do espelho. E agora? Foi até a sala em que Tiago tinha entrado no dia anterior e, abrindo um armário que lá havia, encontrou um pergaminho. Em posse dele e de uma caneta que, graças a Merlin, ainda estava em seu bolso, ela parou em frente ao espelho, sem saber o que escrever.

Escreveu normalmente, depois repassou a frase para de trás-para-a-frente e a "mostrou" ao espelho.

"Por favor, preciso passar".

Nada, ainda via seu reflexo, que segurava um papel tremendo em suas mãos. Tentou novamente.

"É urgente!"

Novamente, nada aconteceu. Não podia desistir. Tentou outra frase.

"Preciso ir a Hogsmeade, é urgente, caso de vida ou morte!"

Finalmente, para seu profundo alívio, seu reflexo tremeu e deu lugar ao corredor escuro. Rapidamente a garota atravessou o portal gelatinoso e fio e foi correndo pela passagem secreta. Já estava ofegante depois de meia hora afinal, havia corrido Hogwarts inteira antes. Foi obrigada a diminuir o passo. O caminho parecia não ter fim. Desejou ter pegado uma vassoura qualquer antes de entrar. Podia estar perdendo um tempo precioso naquele trajeto.

Após o que lhe pareceu uma infinidade, chegou ao fundo do poço. Mais uma vez se perguntou: E agora? Como diabos iria subir aquilo?? Tentou subir escalando pelas paredes de pedras, mas não conseguiu. Irritou-se.

-  Caralho! Preciso subir!! Depois de passar horas nesse túnel escuro vou ficar presa no fundo de um poço?!? Por que diabos não tem uma escada por aqui??

Incrivelmente, algumas pedras salientaram-se em uma das paredes, formando uma escada, a qual Lílian subiu imediatamente, sem nem ao menos perder tempo se perguntando o que tinha acontecido.

Desanimou-se ao sair do poço. Ainda teria de subir aquele vale todo. Jogou-se no chão, exausta, recostando-se na parede externa do poço. O céu estava completamente negro. Alguns minutos se passaram até que uma estreita faixa de luz brilhante chamou a atenção da garota. A lua tentava desesperadamente aparecer e fazia com que as nuvens ao seu redor ganhassem uma tonalidade prateada.

Levantou-se de um pulo. Chegando à rua principal, dirigiu-se à Casa dos Gritos. O luar, que aumentava cada vez mais à medida em que as nuvens negras se afastavam, permitiu que ela visse logo o homem loiro de preto, escondido atrás de uma árvore, exatamente em frente ao casarão. Ela também se escondeu, há alguns metros de distância do homem.

Tomou uma decisão. Precisava entrar na casa. Com um "Crack", a garota desapareceu. Aparatou dentro da mansão abandonada e mal iluminada, em frente à janela que sabia que seria quebrada pelo lobo. O intenso barulho atrás dela a fez se virar. Algo avançava velozmente sobre ela. Lílian se convencia mentalmente de que poderia bloquear o que quer que fosse. Aquele segundo lhe pareceu extremamente longo. Temeu por sua vida. Teve vontade de gritar. Fechou os olhos.