N/A: Só pra não ficar mt confuso... nessa primeira parte, os trechos em itálico serão como um "flash back". Ah, e, como minha beta tá viajando, relevem os errinhos... tá? Bjs!

CAPÍTULO OITO De Luto

A Torre da Grifinória estava em chamas. A fumaça coloria de negro o céu azul. Fora da área de alcance do fogo, entretanto, o resto da manhã parecia calma e relaxante, tomada pelo azul celeste, sem nuvens.

Num pequeno terraço que havia acima da biblioteca, os dois sonserinos apreciavam o espetáculo.

-  Perfeito. Conseguimos. – disse Snape, sorrindo.

-  Sim. Eu disse que meu plano era infalível.

-  Nunca duvidei disso, Bellatrix. Só tem uma coisa que eu ainda não entendi. Como ninguém interferiu?

Bellatrix estreitou os olhos na direção de Severo, como que avaliando se valeria a pena contar tudo de novo? Que parte ele não tinha pegado? Quando deixaria de trabalhar com amadores, para lidar com verdadeiros Comensais?? Dirigiu seu olhar de volta para a Torre da Grifinória em chamas.

-  Acompanhe meu raciocínio, Severo... Primeiro, teve a carta.

-  A que você escreveu e colocou naquela coruja que eu controlei.

-  Isso...

-  Ai! – fez Lílian, levando a mão à cabeça, onde tinha sentido algo bater. Olhando para o chão, viu que se tratava de uma pequena coruja marrom, que parecia seriamente abatida, cansada e fraca.

Notou que ela carregava uma carta. Para aliviar-lhe o peso, Lílian tirou a carta do garra da coruja e, antes mesmo que pudesse pegá-la para ajudá-la, a coruja voou desajeitadamente. Confusa, viu que a carta não estava endereçada à ninguém, então resolveu abri-la. A cada linha que lia, seus olhos se arregalavam mais. A carta dizia que haveria mais um atentado. E, por mais vago que fosse o endereço citado, Lílian conhecia aquele local descrito. O mais estranho era que aquilo não parecia ser um alerta, mas um comunicado a alguém que já esperava algo do tipo. A única explicação que passou pela cabeça da garota foi que havia gente ali no castelo que mantinha contato com Comensais.

-  Certo, aí depois disso ela foi procurar ajuda...

- Sim, Severo, mas...hum...estranho... ela não encontrou seus professores queridinhos...

-  Claro – Snape deu um sorriso perverso –, nós já tínhamos cuidado deles...

Lílian bateu na porta mais uma vez, desesperada. Batia com tanta força que já estava machucando o punho. A porta se abriu, mas apenas para deixar à mostra mais um cômodo vazio, assim como tinha acontecido na sala que havia ido antes. Tanto Jake Auro quanto Lawren Clearfut pareciam ter desaparecido.

-  O que eu não entendo é agora. – disse Snape – Ela foi falar com o diretor, por que ele não fez nada?

Bellatrix, que andava de um lado para outro no terraço, parou mirando-o e sorriu.

-  Porque eu sou muito inteligente. Eu escrevi aquela carta com sutis erros gramaticais, e até mesmo de uma forma um tanto quanto infantil, parecendo ter sido escrita por uma criança... não tinha assinatura nem era endereçada à ninguém, pareceria mais uma brincadeira infantil! Além do que, que Comensal seria idiota o bastante para avisar alguém dentro de Hogwarts sobre uma tentado?!

-  Acalme-se, srta. Evans, tenho certeza de que é apenas uma brincadeira de criança, ninguém sairá machucado... Agora, tome este chá – Madame Healery, que já estava na sala do diretor também, ofereceu uma xícara à garota – e vá para seu dormitório descansar, sim?

- E ela foi dormir, certa de que não havia nada com o que se preocupar, enquanto alguém muito importante para ela morria. – Bellatrix sorriu novamente – Até que na manhã seguinte, logo após o café da manhã...

-  Srta. Evans, por favor, acompanhe-me até a sala do Diretor... – pediu a professora McGonagall, que parecia estar com dificuldade para falar.

Lílian notou algo estranho nos olhos da professora, algo como... pena? Culpa?

-  Oh, não! – ela já havia entendido tudo – Por favor, diga que não aconteceu!!

-  Apenas me acompanhe querida, é pior do que parece.

-  Pior?? O que houve? Foi meus pais? Minha irmã?? Alguém morreu? Quem morreu??

A professora, impassível, limitou-se a colocar a mão sobre o ombro da garota e guiá-la até a sala do diretor.

-  Eu realmente sinto muito, Lílian, deveríamos ter escutado a senhorita... – começou Dumbledore – Meu comunicado ao Ministério, hoje pela manhã, foi inútil. Foi uma perda e tanto pro mundo mágico, e também para você...

-  Por Merlin!! Alguém pode me dizer o que houve??

Um pequeno bibelô de vidro se quebrou sobre a mesa de Dumbledore.

-  Mais um atentado... ocorreu esta madrugada, no centro de um parque bruxo... a família Madson  não sobreviveu...

Lílian arregalou os olhos e engoliu a seco.

-  Maddeleine? – perguntou, em um fio de voz – Maddeleine Madson?

O terno Diretor  apenas balançou a cabeça em concordância.

-  E o resultado está aí. Bem como planejamos. Ela está furiosa, sentindo-se culpada, inútil, frustrada e sentindo a perda.

-  E então logo verá o que a força mágica dela foi capaz de fazer com sua própria torre.

-  Sim, Severo... logo, logo.

***

Lílian não ligava para se as cortinas que rodeavam sua cama estavam pegando fogo, ela não via nada a sua frente, apenas sentia. Nem sabia expressar o que estava sentindo naquele momento. Como se não bastasse a tristeza de ter pedido uma grande amiga, tinha a culpa, por ter tido a possibilidade de evitar isso e não tê-lo feito. E, somando-se à tudo isso, agora tinha a repulsa por si mesma. Ela havia destruído seu quarto em Hogwarts, assim como fizera a sua casa, e dessa vez não poderia voltar no tempo e passar uma borracha por cima de tudo isso.

Sentia-se um monstro sem controle, que destruía tudo o que tocava. Talvez fosse melhor ficar longe de todos os que amava, para não correr o risco de machucá-los também. Talvez, pensou Lílian, sem nem ao menos se assustar com esse pensamento, talvez sua essência fosse mesmo má, assim como Bellatrix Black havia lhe dito.

Um estrondo foi ouvido. A porta havia sido aberta magicamente. Por causa das cortinas em chamas, ela não pôde ver ninguém, mas isso também não lhe importava. Não se mexeu.

-  Srta. Evans?! Srta. Evans! – ouviu a voz de Dumbledore chamar.

Em um segundo, todo o fogo no quarto se apagou. Ela pôde então vislumbrar o rosto piedoso do diretor, assim como o preocupado da enfermeira. Lílian apenas voltou a apoiar seu rosto molhado por lágrimas nos braços, estes, por sua vez, estavam apoiados nos joelhos.

-  Você está bem, mocinha?? – perguntou a esbaforida Madame Healery – Tem mais alguém no quarto??

Lílian não respondeu.

-  Creio que esteja tudo bem agora... – disse o diretor, dirigindo-se à enfermeira – Por favor, deixe-me conversar à sós com a Srta. Evans...

-  Claro, claro! Vou ver se há alguém na Torre precisando dos meus cuidados...

Após ela sair, Dumbledore sentou-se no que restou da cama de Lílian.

-  Perdas são sempre muito dolorosos... – começou ele, mesmo que sua ouvinte continuasse sem levantar a cabeça – Não há nada que se possa fazer ou dizer para amenizá-la... tampouco se pode substituir uma pessoa querida que perdemos... Não vou dizer que isso vai passar, porque não vai. A dor diminui, mas a saudade nunca nos deixa. A questão é, minha jovem, você pode lutar para superar essa dor, transformando-a apenas na saudade, ou pode desistir de tudo e entregar-se, fazendo com que as pessoas que te amam percam você...

Lílian finalmente levantou a cabeça.

-  Viviane... – sussurrou ela.

De repente, a garota deu um pulo da cama e metralhou o outro com perguntas.

-  Onde ela está?? Ela está bem?? Eu não a machuquei, não é mesmo?? Ela estava na Torre durante o incêndio??

-  Calma, calma, senhorita... – pediu ele, fazendo-a se sentar novamente – A srta. Whedon não foi atingida pelo incêndio, mas está na ala hospitalar com a professora McGonagall.

Ela se levantou, mais uma vez agitada.

-  Preciso vê-la, não falei com ela desde que... – ao parar de falar, novas lágrimas vieram.

-  Espere só um momento.

Lílian parou apreensiva. Sabia do que ele falaria. Era óbvio. Agora todos saberiam de sua perigosa força mágica. Todos logo saberiam que ela era um monstro descontrolado.

-  Eu já desconfiava de que o incêndio tinha sido provocado pela senhorita, mas creio que a ouvi perguntar se não tinha machucado sua amiga... Srta. Evans, Lílian – o diretor resolveu ser mais pessoal –, você sabe que foi você quem causou isso, não?

Fechando os olhos, ela meneou a cabeça, em uma resposta positiva.

-  Eu já sabia que sou um perigo, tinha até pedido ajuda ao professor Auro, ele ia me ajudar a controlar minha força, mas... mas...

-  Calma, minha jovem... deixemos esse assunto para depois, vá para a enfermaria agora, veja sua amiga e tome uma Poção Calmante, sim?

A garota meneou a cabeça novamente e seguiu o diretor para fora do quarto.

Ainda estava confusa demais para pensar qualquer coisa. Foi um alívio ver Viviane.

-  Lílian!! – gritou a outra assim que ela entrou na enfermaria, e correu para abraçá-la

Por algum tempo, as duas ficaram apenas abraçadas, sendo incapazes de impedir as lágrimas de descerem. Pelo menos elas tinham uma à outra. Lílian não sabia o que seria dela se perdesse também Viviane.

-  Tome isso, querida. – Madame Healery ofereceu uma xícara à Lílian, com um ar bondoso de mãe – Vai fazê-la se sentir melhor...

-  Alguém ficou ferido na Torre?? – perguntou ela, depois de beber um pouco.

-  Não, a Torre da Grifinória estava vazia e o incêndio foi contido antes que se espalhasse.

Lílian respirou aliviada, deixando todos os presentes ali confusos. Só então ela notou que havia mais gente na sala. Além de Remus, que estava internado, seus amigos também estavam lá.

"Pronto, pensava ela, agora todos vão descobrir o monstro que eu sou..."

-  Eu perguntei ao diretor – a voz de Viviane a trouxe de volta de seus fúnebres pensamentos – se poderíamos ir ao enterro e ele me disse que seria muito perigoso, então não deixou a gente ir...

-  Meninas – chamou a enfermeira delicadamente –, eu sei que vocês estão passando por um momento muito difícil, mas ambas precisam se alimentar... por que não vão pro salão principal tentar comer alguma coisa? Rapazes, acompanhem-nas.

-  Claro. – disse Tiago.

-  Deixa com a gente. – completou Sirius.

Elas foram, mas logo que entraram no primeiro corredor, Lílian e Viviane disseram que estavam sem fome. Como não poderiam ir para o quarto, que no momento encontrava-se destruído, elas cederam aos protestos dos garotos e foram para o salão principal.

Entretanto, antes mesmo que se sentassem na mesa da Grifinória, Lílian ficou muito agitada. Rapidamente ela deu um jeito de sair de lá. Havia visto dois homens de terno branco conversando com Dumbledore na entrada do castelo. A assustada garota nunca se esqueceria daqueles homens: os Ordenadores.

Não, ela não queria voltar para lá. Não podia! Ela estava em Hogwarts, era seguro lá, não havia machucado ninguém dessa vez, usara sua força antes na Casa dos Gritos e não tinha acontecido nada, por que eles teriam aparecido agora??

Talvez porque antes a tinha usado com intenção, de uma maneira mais controlada, e agora tinha destruído seu quarto.

Não, mas não podia ser internada!! Dumbledore cuidaria disso, teria aulas com o professor de DCAT e tudo ficaria bem, ela podia se controlar, não aconteceria de novo...

Quando se deu conta, estava num corredor, sem nem saber em que andar estava, ao lado de uma porta que nunca tinha visto antes. Abrindo a porta, deparou-se com uma sala branca vazia, com o teto, as paredes e o chão acolchoados, exatamente como a sala do Departamento de Uso Descontrolado de Magia.

-  Não! – gritou, virando-se para sair daquela sala o mais rápido possível.

Porém acabou esbarrando em alguém.

-  Calma, Lílian, o que houve? – perguntou Tiago, que a estava seguindo esse tempo todo.

-  Não, eu não quero ser internada! – disse ela, descontrolada, chorando.

-  Do que você está falando??

Passos foram ouvidos. Os dois então entraram na sala e fecharam a porta.

-  Que lugar é esse? – perguntou ela, com um profundo medo nos olhos.

-  É só uma sala, estamos numa sala secreta, você a ativou...

-  ÃH?? – fez Lílian.

-  É... – disse ele, pensando numa maneira de explicar o que nem ele entendia direito – Essa sala só aparece de vez em quando...e o que tem dentro dela depende de quem a aciona...

-  Mas como eu a ativei??

-  Eu não sei! Não sei como funciona... Mas, Lília, o que está havendo? Você estava fugindo??

-  Sim! Dos homens de terno branco! Os Ordenadores, ele vieram pra me buscar!

Pela cara dele, ela percebeu que não estava fazendo sentido algum, devia estar parecendo uma maluca falando de E.T.s. Ela então se sentou, praticamente se jogando no chão fofo e respirou fundo. Precisava contar tudo para ele. Precisava falar com alguém e agora já era tarde demais pra mentir pra ele, contaria tudo logo.

E assim fez. Contou tudo o que aconteceu antes, contou sobre Snape, Bellatrix e o anula-tempo­ e foi direto para a parte da Casa dos Gritos, falando também que o Lobo havia saído da casa antes.

-  Acho que eu fiquei uns dois dias internada...numa sala igual a essa...

Ela mal conseguia controlar suas mãos, que não paravam de tremer.

-  Não se preocupe, você não está internada, a sala só tomou esse aspecto pra te proteger... – disse ele, entendo que ela não estava em condições de controlar sua força mágica.

-  Eu sei...mas estou com medo, não quero voltar pra lá!

-  Não se preocupe... – disse ele, abraçando-a – tudo vai ficar bem, tenho certeza de que Dumbledore não vai deixar que eles te levem...

Passado algum tempo, Tiago se afastou dela.

-  Por que não vamos até a sala do diretor, a essa altura ele já deve ter cuidado dos... dos "Ordenados"...

Mas a garota balançou a cabeça veementemente, o abraçando novamente.

-  Por favor, não vá. – pediu ela.

-  Certo, então me deixa só fazer uma coisa...

Ela o largou. Tiago então retirou um pequeno objeto do bolso de sua calça: um espelho. À princípio Lílian teve medo de quebrá-lo, mas esperou para ver o que o outro pretendia fazer.

-  Sirius! Sirius! – chamou ele, olhando para o espelho.

A garota se assustou quando viu que o reflexo de Tiago no espelho se transformou no rosto de Sirius.

-  Cara, onde você está?? – perguntou o reflexo de Sirius.

-  Estou naquela sala estranha com a Lílian. Precisamos de um favor seu. – pediu antes que o outro fizesse qualquer pergunta – Veja se dois homens de terno branco ainda estão no castelo ou se o diretor já os mandou embora...

Sirius franziu a testa, mas não fez pergunta alguma e comprometeu-se a atender o pedido.

***

Virou-se para a mesa da Grifinória novamente e foi com alívio que notou Viviane ainda absorta em seus próprios pensamentos, olhos arregalados que fitavam o chão, expressão de incredulidade. A comida intacta no prato. Não que isso fosse bom, mas para Sirius significava que ela não o tinha visto usar o espelho.

-  Eu preciso fazer uma coisa... – começou ele, delicadamente – você vai ficar bem?

Viviane apenas meneou a cabeça, sem olhar para ele. Sirius então virou-se para Pedro.

-  Eu já volto, não saia de perto dela!

Sirius, vendo que Dumbledore e alguns professores não estavam na mesa no salão principal, resolveu dar uma volta à procura do diretor, começando pela própria sala dele. No caminho, porém, sentiu que a sorte estava do seu lado. Parou atrás de uma estátua, perto da sala dos professores, onde o diretor conversava com a professora de Transfiguração. Sorriu. Seria mais fácil do que ele tinha pensado.

-  Mas o que você disse a eles, Alvo?

-  Que a garota estava sob minha responsabilidade aqui no castelo, então eu não poderia deixar que a levassem, e que estava tudo sob controle aqui. Os Ordenadores disseram que voltariam se a ordem fosse posta em risco novamente, mas não deixaremos que isso aconteça...

-  Pobrezinha, ter tamanha força para controlar, justo num momento tão difícil como este...

-  Sim, sem sombra de dúvida este é um fardo muito grande para uma adolescente, mas tenho certeza de que Lílian se sairá bem...

-  E a Torre?

-  Novinha em folha, Minerva, novinha em folha. Quando os outros alunos voltarem de férias, nem perceberam o que aconteceu.

-  Espero que o caso não se espalhe, pois isto tornaria tudo ainda mais difícil para a garota...

-  Não creio que isso seja possível, mas tentaremos...

Sirius saiu de seu esconderijo e foi andando em direção ao salão principal. No caminho, pegou seu espelho no bolso e chamou pelo amigo.

-  Os caras de terno branco seriam os "Ordenadores"? – perguntou ele.

-  Sim, são eles! – ouviu uma voz feminina ao fundo responder.

-  Eles foram embora? – perguntou Tiago.

-  Foram. Parece que o tio Dumble os expulsou... – Sirius ria, logo voltou a ficar sério, parecendo até mesmo confuso – ouvi uma conversa dele com a prof. McGonagall, ele disse que não deixaria ninguém tirar a Lílian daqui...

-  Certo. – Tiago tinha agora uma fisionomia mais aliviada – Nós vamos pra sala comunal, encontre a gente lá depois...

***

-  Onde ela está?? – perguntou Sirius para Pedro.

-  Não sei, ela sumiu de repente! Acho que ela foi pro quarto... tinha dito algo como que queria ficar sozinha e, quando eu olhei depois, ela tinha sumido!

-  Tudo bem. – disse Sirius, lutando contra sua vontade de esganar Pedro – Talvez seja melhor pra ela se ficar um pouco sozinha mesmo...

O problema era que ninguém foi capaz de encontrar Viviane depois daquilo, ela havia desaparecido do castelo, e Lílian não estava em condições de ficar andando por Hogwarts inteira, estava extremamente cansada, física e mentalmente exausta.

Então foi para o seu quarto. Ele parecia o mesmo, como se nada tivesse acontecido ali, como se não tivesse tido um incêndio ali dentro há algumas horas atrás. Era como se tivesse voltado no tempo. Aquela sensação era boa, podia fingir que realmente tinha voltado no tempo, como fizera da outra vez, e amenizar a sensação de que ela era um perigo para os outros. Lílian desabou na cama e desmaiou em um sono profundo. Nem mesmo notou a única diferença que havia ali.

***

Os outros continuaram a busca pelo castelo. Uma busca inútil e frustrante.

Remus não agüentou ficar parado naquela maca. Enquanto fosse dia, ele não precisava ser tratado como um doente inútil, precisava fazer alguma coisa.

Levantou-se, vestiu seu robe e pegou sua varinha. Enquanto andava para cada vez mais longe da ala hospitalar, pensava em para que lugar Viviane poderia ter ido. Provavelmente, ela queria ficar sozinha, o que aniquilava a Torre da Grifinória e, obviamente, o salão principal. Foi na Torre de Astronomia, nas estufas e, na biblioteca, teve uma idéia. Dirigiu-se ao pequeno terraço que ali havia e logo deparou-se com a figura de uma garota sentada no telhado, cujos cabelos cor de chocolate balançavam conforme o vento. Com os braços apoiados nos joelhos dobrados, ela amparava a cabeça nos braços.

-  Viviane. – chamou ele, no limite do terraço, o mais perto do telhado que podia ir.

Reconhecendo a voz, ela levantou a cabeça.

-  O que está fazendo aqui? – perguntou, em um fio de voz – Não devia estar na enfermaria??

-  Vi, Por favor, saia daí. Vem pro terraço pra gente conversar...

Ela não saiu, tampouco respondeu. Apenas virou o rosto para frente, encarando o horizonte, deixando que a brisa fria acariciasse sua pela e, quem sabe, levasse aquela dor que sentia para longe dali.

-  Sabe, eu estava pensando... – começou ela, no tom de voz mais calmo que conseguiu – eu nem perguntei se ela queria passar as férias aqui... decidi sozinha que eu ficaria, e nem mesmo contei pra ela...

Ela abaixou a cabeça. Os cabelos tampavam-lhe a face, porém era perceptível que lágrimas caiam.

-  Se eu ao menos tivesse feito Maddy ficar... – agora sua voz era fraca e abatida.

-  Não, Vi, não é culpa sua...

-  E eu nem cheguei a me despedir dela. – continuou, a voz ainda embargada pelo choro.

-  Mas você mandou uma carta logo depois! – Remus tentava fazê-la se sentir melhor – E vocês se corresponderam várias outras vezes também!

-  Eu sei. Mas não é a mesma coisa...

Viviane, num movimento rápido que à princípio assustou Remus, saiu do telhado e o abraçou. Ele passou as mãos pela cintura dela, retribuindo o abraço, sem saber o que fazer.

-  Obrigada, Remus... – as lágrimas não cessavam e ela o abraçava mais forte – Obrigada por seu meu amigo, obrigada por você existir, eu não sei o que eu faria sem vocês...

-  Hei, calma, o que foi isso??

-  Eu percebi que temos que dizer às pessoas o que sentimos porque essa pode ser nossa última oportunidade...

Ele riu, mas ela não viu, pois ainda estavam abraçados.

-  Nessa caso, vá falar com o Sirius antes que mude de idéia.

Finalmente, ela se afastou. Dando um passo para trás, encarou o garoto a sua frente. Estava surpresa, pois Sirius nem havia passado por sua cabeça. Havia pensado em sua família, em Lílian e...em Remus.

O garoto entretanto entendeu a reação dela de uma outra maneira.

-  Desculpe. – pediu ele – Eu sei que não é um momento muito adequado pra isso, só quis te animar um pouco... Vamos entrar? Estão todos preocupados com você.

-  Não, pode ir e dizer que está tudo bem comigo, eu quero ficar sozinha...

-  Eu entendo... mas é que... – ele pareceu receoso, mas acabou falando – acho que alguém pode estar precisando de você...

-  Lily... –Viviane disse quase que num sussurro.

Sentiu-se tão egoísta. É claro que a amiga estava precisando dela, agora tudo o que tinha era uma a outra, Lílian era tão amiga de Maddeleine quanto ela.

Remus lhe estendeu a mão, convidando-a para entrar. Ela aceitou e, juntos, seguiram para a sala comunal da Grifinória. Ele sabia muito bem o que era se sentir, como Sirius mesmo dissera uma vez, "um-perigo-para-a-humanindade" e, de alguma forma, ele sabia que Lílian estava passando por algo assim. Ligando os dois fatos, da ruiva ter contido o lobo e do incêndio no quarto dela, não era difícil perceber que ela escondia um segredo. Talvez algo não tão assustador como ser um lobisomem, mas tão perturbador quanto.

Apenas quando passaram pelo retrato da Mulher Gorda foi que ambos perceberam que haviam feito todo o caminho de mão dadas. Eles logo soltaram as mãos, mais isso não passou desapercebido pelos que estavam presentes lá: Tiago, Pedro e Sirius.

-  Enfim alguém achou você! – disse Tiago.

-  Você está bem?? – perguntou Sirius, aproximando-se dela.

-  Sim... onde está Lily? Ela está bem?

-  Acho que sim. Está no quarto. – respondeu Tiago.

-  Remus – Sirius dirigiu-se sério ao amigo –, não está muito tarde?

Por alguns segundos, o olhar dos dois se encontraram. Nenhuma palavra foi dita. Remus havia entendido o recado. Mais do que isso, havia entendido Sirius. Sorriu.

-  Não se preocupe, amigo. – disse, antes de sair da sala comunal.

Tiago e Pedro o seguiram. O acompanharam até a enfermaria e depois foram para a Floresta Proibida, em direção ao Salgueiro Lutador.

-  E vou subir. – disse Viviane

Vacilante sobre seus movimentos, ela parou e virou-se novamente para o moreno. Lembrou-se do que tinha falado para Remus mas, naquele momento, só o que lhe vinha à cabeça era que Maddeleine sempre quis estar no lugar que Viviane ocupava agora: ter um maroto gostando dela.

Suspirou longamente. Não disse nada. Deu meia volta e subiu as escadas. Abriu a porta do quarto e sentiu aquela dor dentro dela voltar. Olhando ao seu redor, notou apenas quatro camas. Parece que Dumbledore havia tentado poupar-lhes a dor de ver as coisas da amiga, a cama para a qual ela nunca iria voltar. Mas aquilo causou à Viviane a sensação de que Maddy nunca tinha estado lá. Era como se ela não existisse.

Ouviu um choro. Foi quando notou Lílian sentada no chão, encostada no outro lado da cama dela, perto da parede oposta à porta. Sentou-se ao lado dela e a abraçou.

Ao menos elas tinham uma a outra.