CAPÍTULO TREZE
A Esfera Negra
- Cansei! – desabafou Viviane, enquanto tirava o lençol de cima de si e levantava da cama – Que "observação", que nada! Já tô boazinha!
Sirius apenas riu. Viviane então olhou para ele desconfiada.
- Aliás, você é que já deveria ter se cansado de tudo isso e dado o fora da enfermaria! Não é um lema dos Marotos não respeitar regras??
- É sim, eu só continuei aqui por causa dos outros. E por você. Qual a graça de estar lá fora se estão todos aqui dentro?? – perguntou ele com um sorriso divertido, ao qual ela não correspondeu. Pelo contrário, seu semblante era de preocupação.
- Certo, mas precisamos sair.
- Lílian? – perguntou em busca de uma confirmação óbvia.
- Sim, ela não voltou depois das aulas, nem depois do jantar. Eu sei que aconteceu alguma coisa com ela.
- Eu sei, também estava pensando nisso. Vamos – disse ele enquanto pegava os dois robes, entregando um para Viviane e vestindo o outro –, precisamos ter certeza de que ela está bem no quarto, ou de que aconteceu alguma coisa.
Dando uma última olhada nos dois marotos desacordados, eles saíram da ala hospitalar rumo à Torre da Grifinória. O que eles não perceberam foi que Pedro já havia acordado, estava apenas sem saber o que fazer e, por alguma razão que até mesmo ele desconhecia, não queria se meter nisso.
Entretanto, poucos minutos depois de seus amigos deixarem o local, Pedro sentiu-se congelar por dentro, devido a uma ilustre visita que recebeu.
O salão comunal da Grifinória estava repleto de estudantes apesar da hora tardia, mas isso não dificultou a constatação de que Lílian não estava entre aqueles alunos. Com um arrepio de receio percorrendo-lhe a espinha, Viviane subiu ao seu quarto para checá-lo. Como previa, sua amiga também não estava lá.
Então foi a vez de Sirius subir ao seu quarto. Deixou a namorada aflita na sala comunal e subiu pulando a cada dois degraus. Lá, com a porta fechada, ele retirou sua varinha do bolso e pegou um pergaminho aparentemente em branco.
- Juro solenemente não fazer nada de bom!
Em um segundo, o mapa de Hogwarts estava diante de seus olhos. Não foi uma busca fácil, mas com um toque de sua varinha ele foi checando cada parte do castelo, começando por lugares óbvios como biblioteca, sala dos monitores, estufas, corujal, qualquer lugar normal que ela pudesse ter ido, passando depois aos mais improváveis, passando até mesmo pela ala da Sonserina, e parando finalmente numa certa torre.
Alguns minutos depois, estava diante de Viviane novamente.
- Olha, eu não posso te explicar como, mas eu sei onde ela está.
- Onde?? – perguntou aflita, não ligando para a outra parte.
- Numa das torres... vamos.
- Espera, pode ser perigoso, não acha que deveríamos chamar alguém?
- Quem? – perguntou Sirius – Não sabemos ao certo o que aconteceu, o que iríamos dizer? Além do que – ele deu um breve sorriso –, iriam perguntar como sabemos onde ela está e essa é uma coisa que eu não pretendo responder...
- Certo. – disse ela, um tanto quanto receosa.
- E então? Tudo o que você tem que fazer é dar essa poção ao Potter e levá-lo ao lugar que eu te disse. É fácil, e o crédito será todo seu.
Snape sorriu e estendeu seu braço ainda mais, de modo que a poção em sua mão estava a centímetros de Pedro.
- Mas por que você está me ajudando? – perguntou Pedro, olhos arregalados.
- Isso não interessa, o importante é que, de certa forma, temos o mesmo objetivo, então por que não podemos nos ajudar?
No fundo, seu verdadeiro objetivo era ganhar alguma confiança daquele maroto mais vulnerável - ele podia ser útil no futuro, mas sua finalidade imediata era frustrar os planos de Bellatrix. Ela era sua porta de entrada no mundo das Trevas, não uma entrada qualquer como um reles Comensal-boy, mas um começo já com prestígios, pois sabia que ela logo seria muito influente. Bellatrix tinha tudo para ser uma importante Comensal, exceto... o poder dele. Ou de Lílian. Por isso, era melhor que garantir sua necessidade.
Sim, Severo tinha feito muitos planos que incluíam Lílian, chegara até mesmo a desenvolver uma pequena obsessão em trazê-la para o seu lado, para o lado Negro, mas os planos de Bellatrix poderiam lhe ser tão prejudiciais que não valia a pena arriscar.
Seu único problema era, então, que ela jamais poderia sequer imaginar que ele estava envolvido em sua derrota. Era exatamente aí que entrava aquele deprimente maroto.
Pedro olhava fixamente para o líquido amarelo dentro do frasco, ainda na mão de Snape. Poderia ser uma armadilha. E se, por sua culpa, Tiago morresse?? Esse pensamento fez com que o garoto tremesse.
Com um suspiro de impaciência, o outro recolheu a mão estendida.
- Não está envenenado. – disse como que adivinhando os pensamentos do outro – Teste. Dê primeiro a um dos outros grifinórios desacordados e, se ele sobreviver – Snape deu um meio sorriso debochado –, dê ao Potter.
Sim, isto ele poderia fazer. Qualquer problema que ocorresse ele poderia voltar à sua cama e fingir ter acabado de acordar, a tempo apenas de ver aquele sonserino fugindo da enfermaria. Poderia até mesmo sugerir que o outro tentara matar Potter, dando o veneno a outro por engano.
Com isso em mente, Pedro pegou o frasco decidido e foi até a maca do grifinório mais próximo a Tiago. Antes, porém, virou-se para Snape.
- Quando ele acordar, se ele acordar – acrescentou rapidamente –, ele vai nos ver aqui e...
- Eu farei um feitiço de memória nele mais tarde, não se preocupe.
Seria até melhor que outro acordasse também, pensou Snape, pois Bellatrix podia desconfiar se somente Potter acordasse.
O maroto então jogou um pouco do líquido por entre os lábios entreabertos do grifinório, que logo despertou. Após um rápido feitiço proferido por Snape para que ele voltasse a dormir, Pedro se dirigiu a Tiago, fazendo o mesmo com este.
Quando os olhos castanhos se abriram, viram um teto sem foco. Passou a língua nos lábios, sentindo um gosto estranho. Mil perguntas encheram sua cabeça, quando reparou alguém ao seu lado. Colocou seus óculos e focalizou Pedro que, antes que ele pudesse fazer pergunta alguma, começou a falar feito uma metralhadora.
- Que bom que você acordou, Tiago!! Você tava dormindo por causa de uma poção, a água tava contaminada, ficou quase uma semana aqui, mas isso não importa, pegaram a Lílian. Sirius já foi atrás dela com a Viviane. Remus tá na Casa dos Gritos...lua cheia. Eu sei onde ela está, precisamos ir pra lá agora! Rápido!
Tiago queria fazer muitas perguntas, mas tudo o que fez foi pular da cama e correr seguindo Pedro.
A porta estava trancada, mas isso já era previsível. Viviane olhou suplicante para a porta, como se ela fosse se abrir com um pedido. Sirius tentava, pela quarta vez, usar o "Alohomora", mas nada acontecia. Som algum podia ser ouvido do lado de dentro.
- O que você vai fazer?? – perguntou Viviane, vendo que Sirius estava a ponto de explodir a porta.
- Tem outro jeito??
- Esperem!! – gritou um voz vinda da esquina do corredor.
- Pedro? – perguntou Sirius.
Logo em seguida, Tiago virou a esquina e apareceu no corredor atrás de Pedro.
- Como encontraram a gente? – perguntou Viviane.
- Eu...ouvi...você sabe... – tentava contar Pedro, não podendo ser mais claro por causa de Viviane – ouvi Snape alertando sua prima de que vocês tinham achado o esconderijo na torre e...
- Entendi, entendi – interrompeu Sirius –, você ouviu alguma coisa sobre como abrir essa porta também??
- Sim.
Pedro, com uma expressão de concentração, aproximou-se da porta enquanto Sirius e Viviane se afastavam desta. Ele apontou a varinha e proferiu o feitiço:
- Habeasportus!
A porta de madeira escura então se abriu para dentro, dando passagem à uma escadaria circular de pedra, por onde os quatro preocupados grifinórios subiram até uma estreita porta, idêntica à primeira. Tiago, que ia à frente, usou o feitiço proferido por Pedro e abriu a nova porta. Um aposento circular revelou-se e, apesar da escuridão, era possível ver a garota desmaiada em seu centro. A única coisa em que os três pensavam era retirá-la da torre o mais rápido possível. Pedro, porém, tinha algo a mais em mente.
- Lílian? Lílian! LÍLIAN!!
Sentindo sua cabeça latejar com o grito, a ruiva abriu os olhos lentamente. Havia desmaiado de novo. Sentiu-se congelar ao se recordar do que estava acontecendo, passando rapidamente para o alívio ao perceber que Viviane estava sentada ao lado, no que parecia ser sua própria cama.
- Estamos no nosso quarto?
- Sim. – disse Viviane com um sorriso amigável – Está tudo bem agora.
- Como vocês me acharam? Como conseguiram entrar lá? Estão todos bem??
- Calma, menina, uma pergunta de cada vez!!
- Ah, anda logo, Vi, responde todas! Ai... – ao elevar um pouco seu tom de voz, sua cabeça reclamou.
- Está bem. Vou começar pela melhor notícia: Tiago acordou e está muito bem!
- Acordou? – Lílian sentou-se de um pulo, mas logo sua dor a fez voltar a se deitar.
- Sim, está lá na sala comunal com os outros... está muito preocupado com você... essa amiga dá um trabalho! – acrescentou como que falando consigo mesma.
- Viviane!
- Certo – disse sorrindo – não faço idéia de como achamos vocês, foi o Sirius, não sei o que ele fez lá no quarto dele, talvez uma magia negra básica com um boneco de vodu da Bellatrix-
- Viviane!!
- Então, não sei como, e quem abriu a porta lá foi o Pedro, ele disse que ouviu, de alguma maneira misteriosa aí, uma conversa dos dois sonserinos-ninguém-merece...
A ruiva tentou levantar, queria descer para falar com os outros, mas sentia-se como se tivesse passado um mês inteiro num acampamento no meio do nada, dormindo no chão e sem comer direito. Por isso se surpreendeu tanto quando a amiga lhe contou que passou apenas algumas horas lá.
- Mas como você foi parar lá?? – perguntou uma intrigada Viviane, que entregava um copo com água para a outra.
- Eu não sei! Quando acordei já estava lá!
- E o que ela fez contigo??
- Também não sei ainda. – Lílian bebeu um pouco, pensativa – Tinha alguma coisa estranha na torre??
- Estranha como? Não me lembro de ter visto nada demais lá... Aliás, não me lembro de ter visto nada lá, estava tudo tão escuro...
- Nenhuma uma bola de vidro no chão?
- Ãh?? Como assim, Lily?
- Uma bola! Eu acordei uma vez e vi um troço estranho ao meu lado no chão, parecia ser uma bola de vidro...
- Pensando bem, eu acho que vi o Pedro carregando alguma coisa... ele foi o último a sair de lá... por quê?
- Ainda não sei, mas tenho um mal pressentimento quanto a essa bola.
- Esquece isso por enquanto, certo, Lily? Vamos descer pra tomar o café da manhã??
- Certo. – respondeu, tentando corresponder o sorriso que a amiga lhe dava.
- Tem certeza de que você não quer ir na enfermaria? – perguntou Tiago pela terceira vez.
- Tenho!! Eu já disse, é só cansaço, daqui a pouco eu estarei novinha em folha!
- Também acho que a Madame Healery podia dar uma olhadinha em você... não custa nada! – complementou Viviane.
- Não se preocupem, eu estou bem mesmo! Minha dor de cabeça já até passou! – ela mordeu sua torrada, ignorando os olhares incrédulos dos amigos – Gente, o que ela pode ter feito comigo lá?
- Qualquer coisa. – disse Tiago.
- Muitas coisas. – disse Viviane.
- Aquela maluca? – prossegui Sirius – Sabe-se lá o que ela pode ter feito! Uma vez ela enfeitiçou meu travesseiro quando éramos crianças porque achava legal me ver com medo de dormir!
- Ah, então é por isso que você não dorme sozinho? – perguntou Tiago em tom zombeteiro – Sabe, gente, lá em casa tem um quarto de hóspedes, mas ele sempre fica no meu quarto. – mudou sua expressão para uma falsamente ressentida – E eu achando que era porque você gostava de mim...
- Acordou, sua namorada tá boa, então fica fazendo gracinhas, né? – Sirius deu um sorriso debochado, mas logo demonstrou-se triste e encabulado – Mas a verdade é que eu tenho uma paixão enrustida por você e não consigo dormir longe de você, Titi!
Após todos conseguirem controlar suas gargalhadas, Lílian e Viviane fingiram-se magoadas.
- Como vocês puderam nos enganar durante todo esse tempo?? – perguntou a ruiva.
- E nós pensávamos que vocês nos amavam... – prosseguiu Vi, em tom dramático.
- Mas não, era tudo pra esconder o romance de vocês...
- Então essa é a verdadeira razão pro Sirius ter saído de casa! – completou Pedro.
Uma nova onda de gargalhadas preencheu o ar.
- Hum, parece bem divertida essa parte da mesa!
- Remus! – exclamaram Lílian e Viviane.
- Já era tempo! – disse Sirius.
- Senta aí, temos muita coisa pra contar... – concluiu Tiago.
- E aí, gente? – perguntou Viviane, para quebrar o silêncio.
Estavam todos na sala da monitoria. A esfera negra de vidro sobre a mesa de Lílian, ao lado de um amontoado de pergaminhos. Lílian andava de um lado para o outro na sala, até que se cansou e sentou-se em sua cadeira, de frente para o tal objeto. Os marotos olhavam para a bola como se ela fosse dizer o que eles queriam saber. Já Viviane a olhava como se ela fosse explodir.
- É seguro mesmo ficar com ela aqui dentro?
- Você não acha que isso faz parte da armadilha daquela Black, né? Sem ofensas. – Tiago acrescentou para Sirius, voltando-se para Viviane novamente depois – Quero dizer, você não acha que ela esperava que nós tirássemos a Lily de lá e trouxéssemos a bola, para que ela fizesse alguma coisa aqui com a gente?
- Ora, por favor, isso não é uma bomba-relógio! – soltou Lílian.
- Uma o quê? – perguntou Sirius, ao que a garota fez um gesto de irrelevância com as mãos.
- É só uma bola idiota...
- Eu acho que é mais do que isso. – disse Pedro, com tal certeza que fez todos se viraram para encará-lo – Digo, por que isso estaria lá? S isso? Não tinha mais nada no quarto! E por que a Lílian estaria tão cansada? Eu acho que a bola está enfeitiçada.
- Concordo. – disseram Remus e Tiago.
- É, faz sentido. – completou Sirius.
- Acho que eu nem preciso dizer minha opinião... – disse Viviane.
- Sim, mas o que eu posso fazer?? – perguntou Lílian – Quebrar a bola??
- Não! Pode ser perigoso! – opôs-se Tiago – A gente não sabe o que ela faz nem nada!
- Acho que tudo o que podemos fazer é esperar... – disse Remus.
- Ou seja, não faremos nada por enquanto. – concluiu Lílian – Então, galera, relaxa, vamos pra nossa sala comunal.
O céu estava majestoso. Limpo, sem nuvens, estrelado e a lua minguante começava a aparecer no horizonte. O lago estava calmo, assim como a Floresta Proibida. Uma brisa suave batia-lhe o rosto, mas totalmente incapaz de lhe causar frio. Viviane, contudo, permanecia indiferente a tudo isso. Estava apenas sentada no gramado, triste, no fim de suas lágrimas.
Ele não sabia se deveria se aproximar ou se era melhor deixar que ela ficasse sozinha, já que era isso que ela parecia buscar nos jardins de Hogwarts, longe da animação noturna da sala comunal ou do quarto das meninas. Mas partia-lhe o coração vê-la daquele jeito, por isso não resistiu e sentou-se ao seu lado, sem nada dizer. Desnecessário perguntar se estava tudo bem, já que obviamente não estava e, se ela quisesse conversar, ele estava ali.
- Cansou da Amy te perguntando se você já estava bem? – Viviane, enxugando o rosto levemente molhado, mantinha seu habitual tom sarcástico – Acho que você ganhou mais do que uma admiradora, ganhou uma fã!
- Ela só não está acostumada com a minha doença... – respondeu Remus sorrindo.
- Por que veio aqui? Pensei que não gostasse da lua...
- E não gosto. Estava procurando o Sirius e acabei achando você...
Viviane instantaneamente voltou a ficar triste, não o encarando mais.
- Ele terminou comigo. – soltou ela.
- Terminou? Como assim? Ele gosta tanto de você!
- Eu sei, mas ele acha que eu gosto de outro. – ela mantinha seu olhar fixo no lago.
- E ele não acreditou quando você negou??
- Não. – ela fez uma pausa, inspirou com força e continuou – Porque eu não neguei.
Remus ficou sem palavras, estava surpreso demais para responder àquilo. Ela, entretanto, começou a falar:
- Quando ele me acusou de gostar de outro antes eu neguei sim, perguntei "De onde você tirou essa idéia absurda?"... – Viviane riu – Mas não posso negar mais, eu realmente gosto de outro garoto... – e antes que Remus pudesse perguntar qual era então o motivo das lágrimas, ela continuou – mas o meu problema é que isso não me impede de gostar do Sirius! Eu não sei o que fazer, não sei de quem eu gosto, não sei, estou muito confusa!
Remus abriu a boca, para logo em seguida fechá-la. Não sabia o que fazer. Seu coração batia tão rápido que, em meio àquele silêncio, perguntou-se se Viviane poderia ouvi-lo bater. Mas, após um curto período de silêncio, ele não pôde mais conter-se.
- E esse garoto, por acaso ele te corresponde?
- Não. – a morena agora mexia na grama a seus pés – Ele sempre me incentivou a ficar com o Sirius...
O garoto engoliu em seco.
- Como você pode ter tanta certeza? Você provavelmente não gostava dele antes de começar a sair com o Sirius...
- É verdade... eu não sei como isso aconteceu, não foi do dia pra noite, eu simplesmente comecei a reparar que meu estômago fica se revirando quando esse garoto está perto de mim, que eu sinto falta dele quando não o vejo o dia inteiro, que sinto ciúmes das outras garotas que estão perto dele...
- E...ele ao menos sabe que você sente isso por ele? – atreveu-se a perguntar, tirando coragem nem ele mesmo sabe de onde.
Ela finalmente virou-se para encará-lo.
- Acho que agora sabe.
Mas do que surpreso ou pasmo, Remus estava em estado de choque, completamente sem ação. Tentava dizer algo, mas sua língua o traíra. E seu cérebro travava uma enorme discussão com ele mesmo, sobre se o cara do qual Viviane estava falando era ele ou não. Que absurdo! Não, não podia ser ele. Se fosse, logo ele acordaria agora mesmo em sua cama.
Viviane sorriu.
- Não se preocupe, Remus, isso não vai afetar nossa amizade... e nem eu estou cobrando nada de você...
Era! Era ele sim!! Ele!! E do que RAIOS ela estava falando??? Como ela podia pensar que não era correspondida?? COMO?? Cobrando? Remus, seu idiota, o que você está esperando??????
Finalmente seu cérebro reagiu e seu corpo correspondeu à ordem dada. Saindo do estado de inércia, Remus não disse nada, simplesmente a beijou. Então foi a vez dela ficar surpresa.
- O que você fez? – perguntou Viviane.
- Eu sempre gostei de você. – disse ele como se isso fosse óbvio.
- Como assim "sempre"?
- Desde que você e a Lílian detestavam meus amigos... desde que eu e a Lílian ficamos amigos e, assim, conheci você de fato...
A garota começou a rir.
- Então ou você é muito discreto ou eu sou muito tapada.
- As duas coisas. – brincou ele – Não, eu que tentei esconder isso ao máximo.
- Merlin! – exclamou Viviane, levando uma mão à boca – O Sirius sabe disso!
- Ele não sabe, ele desconfia...
- Não, ele tem certeza! Eu...eu preciso ir...
Levantando-se rapidamente, Viviane entrou no castelo, mais confusa do que quando saíra dele. Foi direto para seu quarto, onde sabia que Lílian estaria, já que a amiga estivera tão cansada o dia inteiro. Abriu a cortina lateral da cama da ruiva e sentou-se na beirada.
- Lílian? Está dormindo?
A outra se mexeu na cama, mas não respondeu. Viviane já estava de pé, fechando a cortina, quando Lílian abriu os olhos.
- Desculpe, te acordei, né?
- Não tem problema, aconteceu alguma coisa?
- Sim, muitas coisas. – Viviane, com uma expressão aflita, voltou a sentar-se.
- Nossa, não te vejo assim faz muito tempo! – a outra sentou-se também – O que houve??
Antes de começar a contar, Viviane passou os olhos pelo quarto à procura de alguma das outras garotas. Isso elas definitivamente não podiam ouvir.
- Vamos fazer um feitiço de isolamento acústico. – sugeriu Lílian, fechando a cortina por onde a amiga tinha entrado.
Lílian então pegou a varinha de Amy, que estava sobre a cômoda entre as duas camas e sussurrou um "Lumus" e na ponta da varinha nada aconteceu. Absolutamente nada. Ela proferiu o feitiço mais uma vez, com o tom de voz mais elevado, porém foi inútil de novo.
- Lumus. – sussurrou Viviane acendendo um pequeno foco de luz ponta de sua varinha.
As duas se encararam surpresas, olhos arregalados. Os olhos de Lílian estreitaram-se em direção à varinha. De um pulo, ela puxou a cortina, pôs-se de pé e apontou a varinha para um livro próximo.
- Accio! – gritou e novamente nada aconteceu.
- Vai ver não está funcionando porque não é a sua varinha...
- Não, Vi, a minha energia excessiva está acima disso... eu posso usar magia até mesmo sem varinha!
- Então parece que descobrimos o que ela fez com você. – disse Viviane, ainda estática.
Sirius riu.
- Titia vai ficar muito orgulhosa. Aliás, a família inteira vai!
- Isso não é hora para brincadeiras, Sirius. – repreendeu Tiago.
- Foi mal, não pude evitar...
De volta à sala de monitoria, os quatro marotos e as duas garotas olhavam para a bola preta sem saber o que fazer.
- Mas por que ela fez isso? – perguntou Sirius
- Parece que ela quer roubar a minha magia pra ela. – disse a monitora.
- Isso é possível?? – Pedro verbalizou a pergunta que passou pela cabeça de todos.
- Eu não sei! – explodiu Lílian – Só sei que ela tirou meus poderes! Eu não consigo fazer mágica!
- Calma – pediu Tiago, abraçando-a –, nós vamos resolver isso...
- Você disse roubar? – perguntou Remus para ela – Pra quê?
Lílian, apesar da pilha de nervos em que se encontrava, não pôde deixar de notar que Viviane não conseguia encarar ninguém naquela sala a não ser ela, nem mesmo tinha aberto a boca desde que entraram lá. Era como se ela quisesse se esconder, fingir que não estava ali e isso era algo realmente estranho tratando-se de Viviane.
- Sim – finalmente respondeu. – Eu acho que ela quer ficar mais poderosa, unindo minha magia com a dela. Se a minha energia já era excessiva, imagine se ela somar com a dela???
O tom de pânico na voz da garota era completamente compreensível, mas pelo menos eles tinham o tal objeto com eles e sabiam que, por causa disso, tinham evitado o desastre que era o motivo do pânico.
- E ela ia usar esse troço pra pegar sua energia, guardá-la ali dentro e transferi-la depois pra ela? – continuou Tiago.
- Eu acho que sim.
- Então tudo o que precisamos descobrir é como reverter esse encantamento!
- Não é tão simples assim, Tiago, não posso simplesmente quebrar essa bola idiota que tudo vai ficar bem...
- Até que não era uma má idéia...
- Sirius! Isso é sério!! Se não conseguirmos resolver isso eu vou passar de uma bruxa poderosa pra um aborto!!
- Hei, Lily, calma. – disse Tiago passando uma mão pelo rosto branco dela – Eu sei que você vai conseguir resolver isso, porque eu confio em você, você é uma grande bruxa tendo ou não poderes especiais.
- Ai, lindo, fiquei até emocionado! – disse Sirius sarcástico – Mas vamos voltar pra bola? Ainda precisamos saber com reverter isso.
- Espere! – exclamou Lílian – Você disse reverter?
- É, algum problema? – perguntou Sirius na defensiva.
- É isso!!
Apesar de ninguém ter entendido o que ela queria dizer, Lílian não notara, pois estava muito entretida tentando se lembrar do que a professora Lawren tinha dito na aula de DCAT.
"- Claro, Srta. Evans – dissera a professora sorrindo, quando pedira para repetir a explicação –, tenho certeza de que lhe será de grande ajuda. O Ex Adverso é um Feitiço Espelho...".
Lílian não tinha dúvida. Com certeza era a isso que Lawren estava se referindo, principalmente pelo recado que ela tinha dado no final da aula...
"- Eu já ia me esquecendo... O Feitiço Espelho também pode ser usado para reverter algum feitiço que esteja agindo no momento..."
- É isso! – repetiu a garota.
Ela pegou a varinha de Tiago da mão dele e apontou para a esfera negra que ainda se encontrava sobre sua mesa.
- O que você vai fazer?? – perguntou ele – Sem magia?
- Ela não pode ter tirado toda a minha energia mágica em algumas horas... – disse Lílian confiante. Concentrou-se então no objeto.
"Toda a sua força mágica está na sua mente. – dissera o professor Jack certa vez – Mas a energia está em seu coração. Por isso, você precisa buscar o equilíbrio. O sentimento para impulsionar a magia e a consciência de que pode fazê-la..."
- Ex Adverso! – gritou Lílian.
Nenhuma luz, entretanto, saiu da varinha. Nada atingiu a esfera. Nenhum som foi ouvido pelos próximos segundos. Todos pensaram que não havia dado certo. Até que...
Crick. Uma pequena rachadura surgiu no topo da bola de vidro negra. A partir do furo, uma linha se fez trincando a esfera inteira, estilhaçando-a cada vez mais até que se partiu em mil pedaços de vidro negro. Novamente, nenhuma luz surgiu. Mas Lílian sorriu ao ver que os cacos escuros de vidro estavam clareando aos poucos, para segundos depois tornarem-se completamente transparentes.
- Lumus. – sussurrou uma sorridente ruiva, e na ponta da varinha de Tiago surgiu uma pequena chama de luz.
- Uau! – exclamou Viviane, pois sua própria varinha também tinha se acendido ao som da voz da outra. Os outros não empunhavam suas varinhas. – E agora? O que vamos fazer?
Lílian encarou a amiga, olhos semicerrados. Depois sorriu.
- Eu tenho um plano. Mas primeiro preciso falar com uma pessoa. Você vem comigo, Vi?
- Claro, aonde vamos?
- Ao nosso quarto. Já voltamos, rapazes...
- Eu juro! Eu não tinha idéia do que ela ia fazer!! – gritou Cherr.
Viviane riu debochadamente e Lílian revirou os olhos mais uma vez.
- Isso é sério, Cherr. Nós vamos entregá-la ao diretor e, se ela for expulsa, você pode ir junto por ter colaborado. Sabe que em tempos de guerra fidelidade é uma coisa realmente importante...
- Eu sei, Evans, eu sei! Mas eu estou dizendo a verdade! Eu fiz o que ela me pediu, confesso, mas o resto eu não sabia! Vocês sabem muito bem que eu não ia concordar em machucar vocês e os garotos... minha relação com o Sirius pode não ser muito boa, mas eu nunca faria mal a ele ou aos outros...
- Você não espera que eu acredite nisso, né? – debochou Viviane.
- Certo. Então me diga, por que eu deveria contar a verdade?
- Porque se você não fizer isso, estará em maus lençóis neste colégio. – disse Lílian com voz firme – Ou você está duvidando da minha ameaça?
- Desculpe, não tinha percebido que era uma ameaça. – ironizou Cherr.
- Olha aqui, garota – irritou-se Viviane –, você tá achando que a Bellinha vai te ajudar?? Não acha que a primeira coisa que ela vai fazer vai ser tentar colocar a culpa em outra pessoa?? Ela vai levar qualquer um que esteja envolvido junto pro buraco! Acorda!
Cherr respirou fundo.
- Está certo, eu conto a verdade. Mas com uma condição.
As outras duas se entreolharam impacientes.
No caminho de volta à sala de monitoria, Lílian tentava arrancar alguma coisa da amiga.
- Então não vai mais me contar o que aconteceu?
- Eu já disse que temos coisas mais importantes pra pensar no momento!
- Viviane. – chamou a ruiva, parando de andar e segurando a amiga pelo ombro – Você estava muito estranha na sala. Vocês terminaram, é isso?
- Sim. – murmurou a outra, encarado o chão.
- E...? – insistiu Lílian.
- Por que você acha que tem mais? Tá, tá bom! Não precisa dar esse sorrisinho de "eu te conheço há muito tempo"... eu conto! Eu beijei o Remus. Aliás, ele me beijou. Pronto, falei.
Lílian pulou eufórica e abraçou a amiga.
- Eu sabia!! Eu sabia!
- Sabia o quê? – perguntou Viviane irritada.
- Nada. – a outra voltou a andar – Afinal, temos coisas mais importantes pra nos preocupar agora, não é mesmo??
- Lily! Não é pra ficar animada! Eu estou muito mal, não sei o que fazer!!
- Eu sei, você gosta dos dois...
- Caramba, pára com esse negócio de eu-sei-tudo!!
- Mas eu já sabia mesmo!
- E vai me dizer que também sabia que o Remus gosta de mim há séculos? – desafiou Vi, mãos na cintura.
- Sim, eu sabia. – respondeu sorrindo.
Viviane parou em frente à outra, fazendo uma longa reverência.
- Então perdoe-me, Athena, ó deusa da Sabedoria! Poderia vossa majestade ajudar esta humilde pessoa confusa?
- Ora, Vi, você vai descobrir de quem você gosta sozinha!
- Hum, droga. Eu esperava uma resposta do tipo "não se preocupe, você pode ficar com os dois".
E foi rindo muito que Lílian abriu a porta da sala dos monitores. Estava um tanto quanto diferente, a janela estava fechada, assim como a cortina do quadro. Os cacos de vidro haviam sido recolhidos. E um clima denso se propagava no ar.
- Tudo pronto. – disse Tiago.
- "timo, agora precisamos chamá-la. – disse Lílian, séria.
- Você acha mesmo que ela vai vir? – perguntou Pedro.
- Claro! Ela quer a bola e acha que eu estou sem magia alguma. Não terá medo de vir.
- Black! – chamou a monitora da Sonserina – Quem bom que a encontrei fácil. A monitora-chefe quer vê-la imediatamente. Diz que o assunto é urgente.
Bellatrix estreitou os olhos pensativa.
- Lestrange, Macnair, venham comigo.
E sem dizer uma palavra à monitora da casa, saiu deslizando pelo chão com seu robe esvoaçante.
Num corredor próximo à sala de monitoria, porém, teve uma surpresa. Assim que virou a esquina, um estrondo foi ouvido no corredor anterior, onde seus comparsas ainda estavam. Viu apenas fumaça ao olhar para trás.
- Céus! – gritou Remus passando por ela rapidamente em direção à fumaça – Vocês estão bem? Esses encrenqueiros...eu os estava perseguindo agora mesmo! Vamos, venham comigo pra ala hospitalar, esse gás pode ser perigoso!
- Você ficará bem sozinha? – perguntou Lestrange, indeciso.
- Sim, podem ir... – respondeu a sonserina à contragosto.
Os dois sonserinos não puderam fazer nada a não ser seguir o monitor.
- Idiotas perdedores. – sussurrou Bellatrix – Tremem como se esse aí fosse uma autoridade... Posso ir sem eles.
Empinando o nariz, voltou a andar. O que ela não notou foi os dois grifinórios comemorando em meio à fumaça que se dissipava, prontos para segui-la. Pedro estava, naquele momento, apenas esperando o sinal para que fosse a um certo lugar.
Segundos depois da sonserina abrir a porta, tudo ao seu redor ficou escuro e ela caiu no chão.
Água fria. Dor, uma intensa dor de cabeça. Bellatrix abriu os olhos, mas nada pôde distinguir na penumbra do quarto. Sentou-se imediatamente, tomando consciência do perigo iminente que corria.
Lílian, contudo, cujos olhos já estavam acostumados com a escuridão do ambiente, depositou o balde onde a água estivera no chão. Abaixou-se então, ao lado da sonserina.
- Bom dia Bellinha. E então? Como se sente ao acordar num quarto escuro? – seu tom de voz frio demonstrava o prazer na vingança – Pense pelo lado positivo, pelo menos você não está sozinha.
N/A: Pessoal, eu queria agradecer os e-mails e reviews, vcs são todos mt fofos (não acredito que eu usei essa palavras!) e o incentivo de vocês é o que me move a escrever cada vez mais!! Já estou escrevendo a outra fic ("Letra Marota", que deve estrear até, no máximo, fds que vem!) e estou rindo muito com ela... :P Ah! E não se preocupem, ela não vai me atrapalhar em nada essa aqui, CDE continua sendo minha prioridade.
N/A 2: Gabrielle, ri mt com sua review, e acho que nesse cap já deu pra perceber que o Jack Auro (prof de DCAT) não fez nada, apesar de eu também adorar incriminar as pessoas mais imprevisíveis e ser fã da Flora, não vou fazer isso aqui... Mas estou ficando boa em finais de suspense, não?? Hehehe
