CAPÍTULO QUATORZE:

O TROCO

"Porque até mesmo os bonzinhos têm seus momentos malvados"

Bellatrix tateou as vestes desesperadamente. Seus olhos se arregalaram intensamente quando não encontrou sua varinha. Aquela sangue-ruim bastarda estava tentando pregar uma peça nela! Mas se ela achava que alguém poderia assustar Bellatrix Black assim, estava muito enganada! Mesmo porque, uma grifinória idiota não faria mal nem a uma irritante mosca. Seria mais fácil temer um bicho papão do que ter medo de Lílian Evans, que nem poderes tinha!

-  Procurando por isto? – perguntou Lílian, com um sorriso de satisfação que a outra não pôde ver no escuro.

Black identificou, contudo, o contorno de uma vara de madeira na mão da outra e controlou-se para manter-se firme.

-  Sim. – respondeu friamente – Devolva minha varinha e não lhe farei mal, Evans.

Lílian riu.

Lumus! – murmurou, e a sala inteira iluminou-se com as chamas das tochas espelhadas pelas paredes.

Pela primeira vez na vida, Lílian viu medo nos olhos de Bellatrix. Pela primeira vez na vida, Lílian sentiu prazer em fazer mal à alguém. Pela primeira vez, os papéis tinham se invertido e a caça agora era o caçador, assim como o antigo caçador agora tornara-se a presa.

A maldita grifinória tinha preparado tudo! Lareira apagada, janelas e cortinas fechadas, quadro incomunicável. Recuperara seus poderes e agora queria vingança. Mas Bellatrix não estava disposta a ser uma vítima fácil, não, lutaria com todas as suas forças e, no final, quem estava tendo treinamento superior com direito à Maldições e Feitiços Especiais era ela e não a dona-boazinha-monitora.

-  Muito bem, Evans! – Black conseguiu dizer com sarcasmo, recuperando sua auto-confiança, enquanto se levantava lentamente, sendo imitada pela outra no movimento – Vejo que conseguiu reverter meu Feitiço.

-  Sinto desapontá-la, Black, sinto muitíssimo... Mas não se preocupe, estamos apenas começando...

-  Está vendo-o? – perguntou Sirius animado.

-  Sim e adivinha só? Estamos com sorte! – respondeu Tiago, fechando o Mapa do Maroto.

-  Claro! Eu sabia que ele viria atrás da comparsa dele! Vamos nos esconder.

Perto da sala dos monitores, Potter e Black achavam-se atrás de duas estátuas distantes e opostas, enquanto Snape avançava lentamente pelo corredor. Parecia pressentir o perigo. Parou de andar bruscamente.

-  Sirius – sussurrou Tiago para o pequeno espelho circular que tinha nas mãos –, não podemos fazer nada... não podemos chamar atenção pra cá antes do tempo!

-  É verdade... mas podemos fazer algo longe daqui, não?

-  E quem vai guardar a entrada??

-  Veja no mapa, Remus não está vindo?

-  Sim, ele já está voltando! E Pedro e Viviane já estão nos devidos lugares!

-  "timo! Então vamos!

Espelhos guardados nos respectivos bolsos, assim como o mapa, varinhas empunhadas, passos leves e eficientes. O ataque foi preciso, silencioso e rápido, o suficiente para fazer o outro desmaiar sem ter tempo para qualquer contra-ataque, ou mesmo para resmungar uma maldição.

Após a luz prateada atingi-la, Bellatrix voou para trás, até colidir com a parede, onde bateu a cabeça e, escorregando, caiu sentada no chão.

-  Ops, mas que indelicadeza a minha! Tome, Black, pegue sua varinha de volta. Eu vou ficar com esta aqui – ela pegou uma varinha que estava sobre sua mesa – que é de uma amiga minha. Assim poderemos lutar em igualdade, o que acha?

-  Eu não preciso da sua piedade. – rangeu por entre os dentes, ajeitando os cabelos negros.

-  Então tá, mas vou deixá-la aqui no chão...

Lílian virou-se de costas e foi caminhando lentamente para detrás de sua mesa. Como premeditara, sentiu uma forte rajada em sua direção, mas que não a atingiu pois, como estava preparada para aquilo, virou-se à tempo de proferir um Feitiço Escudo.

Segundos depois uma nova luz surgiu, saída da varinha de Black.

Ex Adverso! – gritou Lílian, impedindo a luz de seguir seu caminho e fazendo-a refletir em Bellatrix, que mais uma vez foi ao ar, colidindo novamente com a parede. A diferença era que agora Black tremia compulsivamente, como se estivesse tendo uma ataque epilético. A grifinória manteve sua varinha apontada para a oponente sentada no chão e gritou – Espelharmos!!

Os cabelos negros, tão cuidadosamente tratados, estavam agora completamente desalinhados. Uma das mangas do suéter estava rasgada e a blusa branca podia ser vista por fora da saia. Enquanto Lílian encontrava-se em perfeito estado. Foi então que a ruiva olhou no relógio e, logo em seguida, puxou sua gravata vermelha e amarela para fora, afrouxando-a, rasgou a abertura superior de seu próprio suéter e despenteou seus cabelos passando uma mão por eles, assim como Tiago fazia, o que lhe provocou um sorriso divertido.

-  Você ficou louca? – perguntou a outra.

-  Logo você vai entender. – disse Lílian, jogando a varinha que segurava para longe.

As duas sem varinhas. Bellatrix não perdeu tempo. Partiu para cima da sua adversária e logo ambas estavam no chão. Conseguindo se manter por cima, Black fechou suas mãos sobre o pescoço da outra, apertando com toda a sua raiva, ira e força.

Inicialmente, Lílian não reagiu, deixando-se ser sufocada por um certo tempo, até não agüentar mais e aplicar um forte golpe lateral com a palma de suas mãos nos ouvidos de Black, provocando uma violenta tonteira nesta devido à pressão no labirinto, o que a fez afrouxar as mãos, permitindo que Lílian reagisse e se soltasse. Com um intenso empurrão, tirou a sonserina de cima de si.

Mas não conseguiu levantar-se, pois o movimento foi impedido por um puxão em seus cabelos ruivos. Conseguiu, contudo, dar um belo soco em Bellatrix quando esta foi para cima dela novamente. Um grito de dor. Sangue na mão da grifinória, sangue no nariz da sonserina. Ela realmente não queria deixar vestígios de luta em Black, mas acabou agindo por reflexo e deixando fluir toda a sua raiva pela outra.

Lílian ouviu passos no corredor. Bellatrix aproveitou o pequeno momento de distração para tentar mais uma vez estrangulá-la. Batidas na porta foram ouvidas.

-  Socorro!! – gritou a monitora imediatamente e parando de reagir.

A porta foi aberta bruscamente e duas pessoas entraram assustadas. Bellatrix levantou de um pulo, saindo de cima de Lílian, mas já era tarde demais, o professor tinha visto sua tentativa de estrangulamento. E não poderia haver pior pessoa para chegar naquela momento do que o Mestre de Poções.

-  Mas o que está havendo aqui?? – Strict perguntou num tom de voz que mais parecia um grito.

-  Não é óbvio?? – perguntou Lílian, arrastando-se velozmente para longe da sonserina, enquanto massageava sua garganta. – Ela estava tentando me matar!!

-  É mentira! – gritou Black, desespero em sua voz – Ela me atacou primeiro! Eu posso explicar!

-  Claro que não! – rebateu Lílian – E eu posso provar!

-  Certo, as duas, JÁ pra sala do diretor!! Eu as acompanharei. Pedro, recolha as varinhas e espere por mim à frente da gárgula de entrada.

Bellatrix saiu na dianteira, nariz empinado, ajeitando suas vestes. Lílian fingia tremer e que tentava se acalmar, andando logo atrás do professor, como se tivesse medo de andar perto da outra. Pedro pegou a varinha de Viviane e a guardou no bolso, carregando nas mãos apenas a de Black.

-  O que aconteceu? – perguntou um aparentemente surpreso Remus, que vinha calmamente pelo corredor.

-  Parece que a Lílian foi ataca... – disse Pedro em voz alta, seguindo os três à frente, e piscou para o amigo sem que os outros vissem, recebendo um sorriso e um sinal de positivo com os dedos em troca.

O queixo de Bellatrix despencou e seus olhos se arregalaram, logo que entrou na sala de Dumbledore e deparou-se com duas grifinórias sentadas lá, uma delas chorando. Cherr levantou-se visivelmente horrorizada quando notou a sonserina no local.

-  Ela vai me enfeitiçar de novo!! Tire ela daqui! Tire ela daqui!! – gritava histericamente.

Dumbledore assentiu com a cabeça e o professor levou Black para fora da sala.

-  Calma, minha querida, ela não fará nada contra você. Agora, continue de onde paramos. A Srta. Black lhe deu uma espécie de "Poção do Amor" e tudo o que você se lembra depois disso é de ter acordado sozinha nos jardins?

-  Sim – continuou Cherr, com a voz trêmula – e acho que o professor Auro também não se lembra de nada. Eu juro que pensei que tinha acontecido alguma coisa, mas depois que descobrimos que Black tinha armado tudo isso, eu pensei em contar pra alguém, mas ela me ameaçou!!

Viviane, sentada na cadeira ao lado, revirava os olhos constantemente. Mesmo tendo elas combinado o que falariam ou não para o diretor, a atuação de Cherr a estava irritando. E ainda por cima tinha o real motivo de Cherr ter feito aquilo tudo, que já era o suficiente para irritá-la por si só. Pelo menos ela estava incriminando Black...

-  Você tem alguma coisa a ver com essa estória, Srta. Evans? – perguntou delicadamente o diretor, encarando-a, contudo, profundamente.

-  Sim, e Black descobriu e, por isso, me atacou hoje quando a confrontei. Como o senhor pode ver por si próprio. – completou ela, abrindo os braços para demonstrar melhor o estado deplorável em que se encontrava. – E não é a primeira vez que ela me ataca! – acrescentou.

O senhor fez um gesto com a mão para que ela se calasse.

-  Srta. Sholdin, por favor, acompanhe nossa amiga aqui até a enfermaria e peça ao professor Strict que entre.

Viviane se levantou e, juntamente com Cherr, deixou a sala. Instantes depois, os outros dois entraram.

-  Antes de mais nada eu queria deixar claro que EU fui atacada! – metralhou Bellatrix assim que entrou.

-  Por favor, queiram sentar-se senhoritas... – pediu o diretor, apontando as cadeiras logo após afastá-las com um toque de sua varinha. John, por que não nos conta o que você presenciou?

O Mestre de Poções, por detrás das cadeiras em que as garotas estavam, começou a narrativa com uma voz altiva. Era evidente que ele já tinha uma posição sobre o acontecimento.

-  Claro, Alvo. Um aluno me procurou alguns minutos atrás muito agitado, dizendo ter ouvido algo estranho na sala dos monitores, o que parecia ser uma grave briga. Quando bati à porta, ouvi um pedido de socorro e, ao abri-la, vi a Srta. Black estrangulando a Srta. Evans!

Com um olhar de relance, Dumbledore notou facilmente as marcas da violência no pescoço da ruiva.

-  Foi em legítima defesa!! – Bellatrix levantou-se bruscamente – EU fui atacada primeiro!

-  Eu estava na MINHA sala calmamente quando VOCÊ me atacou! – rebateu Lílian – Além do que, não é necessário estrangular uma pessoa pra se defender dela!

O diretor levantou as mãos em um pedido de silêncio para ambas.

-  Uma de cada vez. Srta Evans?

Black revirou os olhos e jogou-se na cadeira. Era óbvio que a palavra da monitora boazinha e inteligente valeria muito mais do que a sua, mesmo que ela estivesse falando a verdade e a outra mentindo! Já esperava que a outra mentisse, mas não estava preparada para a cilada que tinham armada contra ela.

-  Em primeiro lugar, eu queria contar que não foi a primeira vez que aconteceu algo do tipo... Black tem me perseguido já há algum tempo e surtou completamente quando descobriu que eu sabia sobre o acontecido com Cherr. Ela me trancou numa torre na ala oeste e retirou minha varinha que, aliás, ainda está em posse dela! Se vasculharem o quarto dela tenho certeza de que irão encontrá-la! É uma varinha marrom-escura, 30 centímetros, penas de ganso, de coruja e de fênix. Isso prova o que eu estou dizendo. Então, sabendo que eu me encontrava completamente desprotegida, ela foi até minha sala e acatou-me, sem que eu pudesse me defender magicamente! Eu não tive outra saída senão partir pra cima dela!!

"Maldita grifinória!", pensava Bellatrix, "Por isso ela tinha largado a varinha... ela tinha OPTADO por uma luta trouxa!"

-  Entendo. Por favor, acalme-se Lílian...

"Lílian"?? Naquele momento Bellatrix teve a mais absoluta certeza de que nada do que dissesse seria realmente ouvido. Principalmente quando notou que o professor Strict não estava mais no recinto. Supunha que ele tinha saído para vasculhar seu quarto à procura da varinha daquela maldita grifinória fingida. Lembrou-se então de que Evans tinha lutado com ela com uma varinha que, dela ou não, era uma varinha. Achou melhor não negar, tentando uma saída estratégica.

-  Houve uma luta sim, numa torre, e, estritamente para minha defesa, eu peguei a varinha da Evans. Mas fui hoje na sala dela exatamente para devolvê-la!!

-  É mentira!! – interrompeu Lílian, recebendo outro gesto de impedimento do diretor.

-  Só que quando ela pegou a varinha de volta, começou a me azarar do nada!! – continuou, ignorando a ruiva – No fim, estávamos as duas sem varinha e lutando como trouxas! E, como o senhor pode notar, ela quebrou meu nariz! Foi por isso que eu tentei enforcá-la, foi um reflexo! Pra impedi-la de me agredir fisicamente de novo!!

Dumbledore estreitou os olhos para Bellatrix, sem demonstrar sua incredulidade, mas visivelmente analisando a situação. Não fazia sentido algum Evans tê-la atacado sem motivo. Resolveu buscar mais detalhes para montar aquele intrigante quebra-cabeça.

-  Srta. Black, a senhorita nega que esteve perseguindo a Srta. Evans?

-  Claro! Por que eu a teria perseguido??

-  Não sei, por que, Srta. Evans?

-  Não faço idéia! Mas todos os meus amigos sabem disso! Até mesmo o quadro da minha sala sabe que ela tem me feito "visitas"!

-  Por hora, vamos deixar essa questão de lado. – sugeriu calmamente o diretor – Srta. Black, qual foi o motivo de ter retido a Srta. Evans na Torre da Ala Oeste?

-  Eu, eu, eu não a retive! Eu a encontrei lá! Eu estava apenas procurando uma torre vazia bem alta para ficar sozinha, mas acabei tendo o azar de entrar na torre onde Evans estava!

-  Claro, aí eu olhei pra você e Puff! Te azarei? – perguntou Lílian sarcasticamente, arrancando um sorriso discreto do diretor.

-  Exatamente. – disse Bellatrix em tom de desafio – Ironizar os fatos é uma boa saída, Evans, parabéns...

-  Sr. Dumbledore, pergunte à minha amiga Viviane, ela estava na enfermaria na noite de sexta, quando houve a briga na torre, eu deveria voltar pra ala hospitalar depois do jantar mas não cheguei nem mesmo ao salão principal! Pergunte à qualquer grifinório, eu não jantei sexta-feira! Pergunte à Madame Healery, ela deve ter me ouvido confirmar que eu voltaria logo!

-  Fiquem tranqüilas, as duas, que eu investigarei pessoalmente ambas as versões... não há ninguém que possa confirmar sua estória, Srta. Black?

-  Severo Snape. Ele sabe sobre a estória da torre, onde eu fui atacada sem razão e sabe que eu pretendia ir à sala dela pra devolver a varinha.

-  Certo, então, por enquanto, as duas estão dispensadas. Mas devo adverti-las de que não devem permanecer próximas uma à outra, evitem qualquer tipo de contato, até mesmo uma conversa após saírem dessa sala, pois poderá prejudicá-las. Voltem a minha sala após o jantar.

Bellatrix saiu na frente. Não agüentava ficar mais um minuto sequer perto daqueles conspiradores. Todos pareciam odiá-la e não duvidava nada que qualquer coisa seria usado contra ela! Se uma mosca morresse em Hogwarts, a culpa seria dela! Precisava agora encontrar Severo, se tivesse uma boa testemunha para a sua versão, o diretor não poderia fazer nada contra ela. Ou assim ela esperava.

-  Você aplicou nela aquele golpe que eu te falei?? – perguntou Viviane, movimentando as mãos em posição de um ataque de boxe.

-  O nariz dela ficou lindo! – comentou Sirius.

-  Você tem certeza de que não quer que eu faça um feitiço de cura no seu pescoço? – perguntou Tiago.

-  Sim, o diretor ainda não decidiu nada, é melhor que eu continue com as marcas, só pra garantir... eu...eu vou pro meu quarto...

-  Você não está arrependida, está?? – perguntou Sirius, em tom de completo absurdo.

-  Não sei... digo, eu sei que ela já me fez muitas maldades, me enfeitiçou, me azarou, tentou roubar meus poderes, mas essa vingança não está apenas me igualando à ela?

-  Você não fez isso por pura vingança. – disso Remus – E não fez sozinha.

-  É! E nós fizemos isso na intenção de afastar essa garota de você, pra que ela não te fizesse mal de novo! – Tiago.

-  Isso mesmo! – concordou Vi – Lily, entenda isso como uma espécie de "Legítima Defesa".

-  Eu sei, mas eu me senti tão...tão...como ela.

-  Nunca – disse Sirius lenta e seriamente – nunca se compare com Bellatrix Black. Ou à qualquer Black. Você não tem noção do que eles são capazes. Acredite em mim, para a nossa segurança, é melhor que ela seja expulsa de Hogwarts.

Viviane sentiu uma imensa vontade de simplesmente abraçar Sirius. Abraçá-lo e dizer que tudo estava bem agora, que ali só tinham amigos e que ele nunca mais precisaria sofrer com seus parentes. Mas ela apenas desviou o olhar para o chão e controlou-se.

-  Não sabia que você lutava bem assim, Lily! – disse Tiago, tentando acabar com o clima pesado que se instalara na sala.

-  Defesa Pessoal Trouxa. Aprendi alguns golpes com meu pai, ele luta muito bem!

-  Ops... – fez Tiago.

-  É melhor tomar cuidado, heim, amigo! – brincou Sirius.

-  Não só com o pai dela. – acrescentou Remus.

Lílian deu um sorriso desafiador.

-  Pedro – chamou Lily, voltando a ficar séria –, eu queria te agradecer... se não fosse por você, eu provavelmente ainda estaria sem meus poderes mágicos... nem quero pensar no que aconteceria se tivéssemos deixado aquela bola negra lá na torre!

Batimentos cardíacos acelerados, um enorme sorriso no rosto. Pedro sentia-se...importante.

-  Aê, Pedrinho! – disse Sirius, fazendo um cafuné nada delicado no garoto – E foi também graças a ele que entramos facilmente na torre!

Enquanto Pedro era congratulado pelos amigos, Viviane saiu discretamente da sala e subiu para seu quarto. Ainda tinha um assunto para resolver, assunto este que tinha sido adiado por causa do episódio com a Lílian, mas que só tinha sido confirmado ao longo do processo.

-  Amy, por favor, eu queria falar à sós com a Cherr... – pediu o mais delicadamente que pôde, logo que entrou.

A garota pareceu receosa. Olhou para Cherr como que perguntando o que deveria fazer e recebeu um gesto de irrelevância desta, como que dizendo para ela sair do quarto sim.

-  O que você quer? – perguntou Cherr com desprezo após a outra se retirar – Eu já fiz o que vocês queriam.

-  Nunca mais – Viviane dizia cada palavra lentamente, enquanto apontava um dedo para o nariz da outra – se meta nos meus relacionamentos. Seja com quem for, simplesmente não se meta.

-  Não sei do que você está falando...

-  É claro que sabe!! – irritou-se Vi – Você CONFESSOU que se aliou à Bellatrix Black porque ela prometeu te ajudar a ter o que você queria e  EU SEI que o que você quer é o Sirius!!

-  Essa é a sua conclusão! Não o que eu disse!

-  Ora, Cherr, não se faça de boba, eu sei MUITO BEM que foi VOCÊ quem colocou na cabeça do Sirius que eu gosto do Remus!

-  E não gosta? – desafiou Cherr.

-  Isso não interessa!! Não cabe à você decidir com quem eu vou ficar ou não, de quem eu gosto ou não e MUITO MENOS SAIR POR AÍ FAZENDO FOFOCA!

-  Não foi fofoca. Afinal, ele tinha o direito de saber isso.

Viviane teve de se controlar para não pular no pescoço daquela arrogante garota. Respirou fundo. Punhos cerrados pela raiva.

-  E EU tinha o direito de contar!

-  Ah, então você confessa? – perguntou Cherr, sorrindo – O que foi? Ele terminou contigo e você não gostou? Não acha muito querer os dois, não??

-  ISSO NÃO É DA SUA CONTA! – gritou Viviane.

-  O que está acontecendo? – perguntou Lílian da porta do quarto.

-  Apenas uma conversa entre amigas. – respondeu Vi por entre os dentes cerrados.

-  Certo, só evitem barulho e feitiços. – pediu a monitora antes de sair do quarto, sorrindo.

-  Espera! Evans! – gritou Cherr inutilmente, entendendo a gravidade da situação afinal, a própria monitora tinha sugerido que a outra podia atacá-la! – Você não pode fazer nada contra mim! Eu ainda posso voltar à sala do diretor e desmentir tudo!

-  E quebrar a sua própria condição de não contar a total verdade para o Dumbledore?? Há! Não tente me ameaçar, querida, sua situação não é nada boa...você acabaria se delatando como cúmplice da Black e o diretor não iria gosta nada de saber que você fez tudo aquilo em sã consciência, na intenção de prejudicar o professor Auro apenas para satisfazer um capricho seu com a ajuda daquela sonserina nojenta! – Viviane respirou fundo e sentou-se ao lado dela na cama – Mas não se preocupe, eu só quero conversar... só quero te explicar uma coisa: mesmo que eu não fique com o Sirius, voc não ficará com ele. Eu cuidarei pessoalmente disso. Não que seja preciso fazer muita coisa, você está realmente mal no conceito dele...

-  Que diferença isso faz pra você?? Logo você vai estar com o Remus mesmo!! E então o Sirius estará livre pra ficar com quem ele-

-  Não! – interrompeu Viviane.

-  Olha – agora quem estava irritava e impaciente era Cherr –, se você não ficar com o Remus, a Amy vai então, por que não simplesmente esquece o Sirius e segue em frente?

-  Por que voc não esquece o Sirius e segue em frente? – perguntou Viviane em tom desafiador.

Não recebendo resposta alguma. Viviane então levantou-se e saiu do quarto.

-  O aluno que foi comigo à sala dos monitores, o Pettigrew, achou somente uma varinha lá, que é a da Srta. Black, enquanto eu, em uma minuciosa busca pelo quarto da senhorita, achei não apenas a varinha da Srta. Evans, como também este frasco que, segundo minha precisa análise, é uma Poção Hibernante. – relatou o Mestre de Poções.

-  Sim, era o que eu temia. – disse Dumbledore suavemente, apesar do peso de suas palavras.

-  E então, o que o senhor vai fazer, Alvo?

-  Tudo o que estiver ao meu alcance para trazer essa menina para o nosso lado.

-  Você acha que...

-  Sim, eu acho. Estamos em guerra e nossos alunos são a próxima geração a lutar... cabe à nós não deixar que eles se percam no caminho das Trevas...

-  Certo, tem todo o meu apoio, mas fique sabendo que irei vigiá-la pessoalmente sempre que possível.

-  Não serei doido de tentar impedi-lo, John! – disse Dumbledore sorrindo – Agora, se me der licença, vou chamas as duas meninas...

-  Claro. – disse o professor Strict, em seguida se virou e deixou a sala.

Cerca de vinte minutos mais tarde, o diretor olhava seriamente para a grifinória e a sonserina a sua frente.

-  Minha investigação confirmou o relato da Srta. Evans. Portanto, senhorita Black, você cumprirá detenção com o professor Strict e sinto muito em informá-la que qualquer coisa que a senhorita faça de agora em diante poderá levá-la à expulsão de Hogwarts. Até mesmo uma denúncia da Srta. Evans ou um de seus amigos envolvidos nesta situação. Assim sendo, aconselho-a a manter sempre uma distância mínima deles e que deixa a Srta. Evans em paz.

Bellatrix bufou raivosamente e ameaçou levantar-se, mas foi impedida por um gesto do diretor.

-  Só mais uma coisa: indícios foram achados em seu quarto de que a senhorita está envolvida no caso de enfeitiçamento da água do vestiário, que resultou no coma de três grifinórios durante os treinos de quadribol, a senhorita tem algo a dizer sobre isso?

-  Eu não fiz isso. – respondeu ela com extrema convicção, que até convenceria se não se tratasse de Bellatrix Black – Eu nem gosto de quadribol! Os outros times é que devem ter envenenado a água! Nem tudo que acontece em Hogwarts é culpa minha!

-  Claro que não, desculpe-me senhorita. – disse calmamente Dumbledore – Muito bem, agora pode se retirar. Srta. Evans, gostaria que ficasse mais alguns minutos.

Lílian, que já se levantava, voltou a se sentar. Assim que a sonserina deixou o recinto, o diretor amansou o olhar.

-  Eu queria lhe perguntar se você mantém a sua escolha de profissão, que fez no seu quinto ano, Lílian?

-  Não. Desde a morte de Maddeleine eu decidi que participaria dessa guerra e agora, mais do que nunca, tenho certeza de que me tornarei uma Auror.

No fim daquele mesmo dia, Snape foi encontrado pendurado de ponta-cabeça num dos aros do campo de Quadribol. Foi imediatamente à sala do diretor para delatar os delinqüentes que lhe fizeram aquilo, mas foi recebido com um inquérito por Dumbledore, sobre algumas atitudes de Bellatrix e, como não sabia dos últimos acontecimentos, não soube o que responder e suas respostas vagas o fizeram esquecer o propósito que o levou até ali. Estava preocupado com assuntos maiores do que os insuportáveis marotos e suas brincadeiras infantis. Recebeu uma advertência parecida com a de Bellatrix, bem mais suava, porém, mas exigiu reciprocidade, ou seja, que os marotos e cia também mantivessem distância dele e o deixassem em paz, o que o diretor concordou prontamente, achando ser muito justo.

Pelo menos parecia que o plano de Bellatrix, de se tornar incrivelmente forte, havia sido frustrado. E lhe parecia também que a sorte estava sorrindo para ele, pois em seu caminho saindo da sala do diretor, encontrou, num corredor vazio, ninguém menos que o maroto mais vulnerável, que parou diante dele sem saber o que fazer ou dizer.

-  E então, Pettigrew, parece que tudo deu certo, não?

-  Sim. – limitou-se a responder Pedro.

-  E você teve o seu devido reconhecimento? – Snape tentava apelar para o orgulho grifinório do maroto.

-  Aham... – fez Pedro, não entendendo aquela conversa.

-  Que bom. Eu sei que isso não é muito comum entre vocês... mas aposto que você gostou da sensação de ser importante, de fazer a diferença, não te fez se sentir poderoso?

Pedro não respondeu, mas o brilho em seus olhos lhe delatavam. Snape sabia que estava tocando no ponto fraco dele.

-  Eu sei que isso é bom. – continuou o sonserino – E sei como você pode ter isso sempre. Sei como te tornar importante, poderoso...

O maroto estreitou os olhos, em um misto de confusão e curiosidade. Sabia que aquele sonserino não era nem um pouco confiável, mas não podia evitar desejar continuar ouvindo o que ele tinha a dizer.

-  Você pode ser grande. – os olhos arregalados de Snape pareciam querer comê-lo vivo – Você quer ser grande??

Pedro engoliu seco. É claro que queria ser grande! Um bruxo muito poderoso, importante e reconhecido! Queria mais do que tudo sair da sombra de seus amigos. Queria ser bom por si próprio, e essa vontade se refletiu em seus brilhantes olhos, sendo percebida facilmente por Snape.

-  Meu Lorde pode lhe dar isso. – disse Severo.

O outro, instintivamente, deu um passo para trás.

-  Calma, eu não estou te pedindo para mudar de lado, você continuará sendo um grifinório, um maroto, continuará com seus amigos, o que mudará é voc, e não as coisas ao seu redor. Nos ajudando, você será importante. Nós precisamos de alguém como você!

-  Você quer que eu enfeitice pessoas, faça maldades e lute como um comensal na guerra, não é?? – gritou Pedro, tentando controlar seu ímpeto de aceitar o que quer que fosse que Snape tinha para lhe oferecer, pois aquilo lhe parecia uma proposta incrivelmente tentadora.

-  Claro que não! – respondeu Snape rapidamente – Eu quero que você continue fazendo exatamente o que faz, só que nos contando tudo o que acontece entre vocês...

-  Um traidor?? Um delator???

-  Um espião. – corrigiu Snape.

Com esse pequeno obstáculo colocado entre Bellatrix Black e Lílian Evans, o resto do ano letivo passou muito mais tranqüilo para a ruiva. Dedicando-se aos estudos e aos amigos, ela finalmente conseguiu relaxar e viver normalmente, ou o mais normal que se poderia viver em meio àquela guerra que acontecia no Mundo Mágico. Lílian nunca chegou a dizer efetivamente aos seus amigos que se tornaria Auror, tampouco eles se falaram de suas respectivas escolhas profissionais, mas parecia que havia um acordo silencioso de que todos lutariam na guerra. Eles não conversavam muito sobre isso, havia coisas melhores dentro de Hogwarts para se preocupar, ainda era tempo de se divertir e deixar os problemas para fora do castelo.

Todos, contudo, estudaram arduamente para obterem as maiores notas nos exames escolares e nos NIEMs (e conseguiram! Nada mais natural, já que eles formavam o grupo mais inteligente do castelo...). As provas práticas foram as mais fácies, principalmente para Lílian, que tanto as praticara ao longo do ano. O professor Jack Auro fora inocentado das acusações indevidas de Cherr e, como predissera a professora Lawren Whedon, voltara à dar as aulas de DCAT e de Controle Mágico para a ruiva, que já nem precisava mais tanto assim dessas aulas e, conforme os NIEMs foram se aproximando, diminuiu a freqüência delas. Agora tudo parecia dar certo na vida de Lílian.

Viviane, porém, ainda tinha um problema. Aliás, uma escolha. Uma escolha que estava sendo muito difícil de fazer e que, por ter se irritado não agüentando mais isso, certo dia tinha marcado de se encontrar tanto com Remus como com Sirius nos jardins de Hogwarts.

-  O que você está fazendo aqui?? – perguntara Sirius.

-  O mesmo que você, suponho. – respondera Remus, rindo da situação – Viviane lhe chamou aqui, não foi?? Ela me chamou também... olha, ali vem ela...

-  Olá, rapazes. – dissera ela, sorridente – O motivo de eu ter chamado vocês aqui - sim, os dois - foi que eu tenho algo pra falar pra vocês e queria que os dois ouvissem, pra ter certeza de que não estaria mentindo pra nenhum dos dois.

-  "timo! – ironizou Sirius.

Remus apenas respirou fundo. Ambos já sabiam que o que estava por vim não era nada bom. Pelo menos para um deles.

-  Remus, eu não posso ficar com você. – dissera ela, já se virando logo em seguida para um sorridente Sirius – E Sirius, eu também não posso ficar com você.

-  Ãh?? – fizeram os dois, boquiabertos.

-  É exatamente isso, eu não vou ficar com nenhum dos dois! Sintam-se livres para saírem com qualquer garota que quiserem. Eu gostaria de continuar sendo amiga de vocês e espero não ter interferido na amizade dos dois.

Dando um rápido beijo na bochecha de cada um deles, Viviane sorrira e dera meia volta para voltar ao castelo.

E assim ela resolvera seu problema. Sirius, revoltado, havia voltado a ser um dos solteiros mais cobiçados de Hogwarts e retomara sua, digamos, galinhagem. Remus, de certa forma, havia gostado de não ter sido escolhido, pois sabia que não tinha condições de fazer uma garota feliz, afinal, ter um namorado tão perigoso como um lobisobem não era algo que Viviane merecia. Por isso, insistira bom um tempo para que ela ficasse com Sirius e, tomando essa posição como algo que apenas um garoto apaixonado faria, Viviane acabou por pedir que ele ficasse com ela no Baile de Formatura.

Naquela bela noite estrelada, muitos alunos reclamaram silenciosamente por não ter havido lua no céu, pois estavam na fase da lua nova, mas foi exatamente esse fato que fez desta noite maravilhosa para um casal de grifinórios em sua última noite no castelo.

Muita música, comida e bebida, alunos e familiares festejando. Muita animação e alegria. Assim se encerrou mais um ano letivo em Hogwarts. Assim se encerraram os estudos para aqueles jovens. Mas não se encerrou, contudo, a amizade que havia entre eles.

Sirius tinha a maior parte da sua família presente, porém a real família com quem se divertia e festejava era a família Potter e o único Black a se formar naquele castelo parecia ser Bellatrix. Não que ele se importasse com isso, pelo contrário, agradecia aos céus por não fazer parte daquele ninho de serpentes! A única coisa que lamentava naquela noite, não deixou transparecer.

Bellatrix, por sua vez, sentia-se finalmente livre. Além de livrar-se das penosas detenções semanais com o professor Strict, que incluíram organização e limpeza de frascos e tubos de ensaio à maneira trouxa (detalhe: recipientes estes que continham, muitas vezes, material ácido e/ou inflamável), aulas particulares à primeiro-anistas e segundo-anistas, madrugadas gastas com preparação de aulas de Poções, servir de ajudante durante estas (o que gerava certa humilhação, pois precisava ficar seguindo todos os passos do professor como um reles serviçal), etc; ao fim daquele dia não haveria mais ameaça, coação ou qualquer impedimento que atrapalhasse quaisquer que fossem seus planos. Mas ela não tinha mais em mente os poderes de Lílian, mas sim algo grandioso que conquistaria apenas depois de formada. Um posto que lhe proporcionaria, oficialmente, uma atividade que já praticava em Hogwarts, mas que agora praticaria em escala mundial. Uma guerra inteira a esperava e, ao seu fim, um reinado de sombras.

Snape compartilhava dessa ansiedade, com a vantagem de levar consigo algo que, no futuro - podia sentir isso! - seria de grande valia. Algo que nem mesmo Bellatrix estava hábil à prever e que, por isso mesmo, não dera importância.

A maioria dos jovens presentes no salão principal, contudo, não pensavam na guerra. Estavam felizes demais para deixar algo tão duro e nocivo abalar aquela noite. Com uma certa ruiva, não podia ser diferente.

Lílian não podia estar mais feliz. Claro que sua irmã não havia comparecido à festa, mas ter seus amigos, seu namorado e seus pais já foi alegria o suficiente para ela. Tudo parecia tão...perfeito! Aquele, que parecia ser o dia mais feliz de sua vida, seria apenas o terceiro mais feliz. Muitos problemas, lutas e sofrimento ainda estavam por vir, mas para que contar as coisas ruins se podemos contar as boas?

Portanto, aquela noite foi realmente especial.

N/A: Não!! A fic ainda não acabou!! Vcs ainda não se livraram de mim!! Muahuahuahua! Ainda tem uma fase "Pós-Hogwarts" que vai ser curta, mais ainda tem!! Mais uma vez, obrigada pelo carinho e apoio de todos vocês!

Ah, só um detalhe, o golpe que a Lílian aplica em Bellatrix para evitar seu enforcamento existe! Eu não inventei não! É um dos 14 golpes de defesa contra estrangulamento no Krav Maga. :P