Capítulo Dois - Contra Todas As Chances

N/A: No fim do capítulo há uma estrofe da música "Aganist All Odds", Mariah Carrey, apenas para ilustrar.

Remo e Sarah desceram do táxi em frente a um velho prédio no meio da cidade. Ele achou melhor não aparatarem uma vez que Sarah estava nervosa.

- Não tem nada dentro deste casarão antigo, moço... - o barbudo taxista falou enquanto Remo lhe pagava. - O que vocês vão fazer aí?

- Vamos olhar... Somos engenheiros e estamos planejando uma reforma para ele.

- Ah... - o homem contou as notas. - Então tudo bem... - e arrastou o carro.

O prédio era encantado, obviamente, por isso os trouxas não o notavam. Viam apenas um imóvel em ruínas. Sarah parou na calçada e olhou a última janela do sexto andar.

- Ele está ali... - ela apontou.

Remo sacudiu a cabeça.

- Venha... - e a acompanhou para dentro.

A bruxa sentada no balcão do Saguão de Entrada abaixou os óculos até a ponta do nariz para olhar o casal. Um bonito casal, bem verdade. Tanto o homem quanto a mulher. Ela estava usando um costume escuro e um chapéu de abas largas, os cabelos loiros a cair pelos ombros. Tinha os olhos bastante inchados de quem havia chorado até poucos minutos atrás. Ele vestia um terno simples e uma capa que ia até o chão.

- Pois não? - ela perguntou. Sua voz lembrava alguém de nariz entupido.

- Eu marquei uma hora com o Sr. Milligan - Remo respondeu.

- Um momento... - a bruxa se virou e jogou um pozinho na lareira à suas costas. A cabeça de uma bruxa negra apareceu flutuando.

- Estes bruxos, Suzan - falou a bruxa de nariz entupido -, desejam falar com o Sr. Milligan.

Suzan inclinou a cabeça e mirou o casal.

- Nomes? - ela perguntou.

- Ah...

- Lupin... Remo Lupin - falou Remo.

- Um momento - Suzan falou e sumiu das chamas. Dois minutos depois ela reapareceu. - Sr. Milligan os aguarda - disse, sumindo definitivamente desta vez.

- Por ali, senhores - a bruxa recepcionista indicou uma porta onde havia um homem parado em frente.

- Boa tarde - Remo o cumprimentou.

- Boa tarde... Qual o andar? - ele perguntou.

- Terceiro, por favor - respondeu Remo.

O bruxo a porta que o bruxo abriu revelou uma espécie de vão, um pouco maior que um armário de vassoura. Tocou com a varinha no tapete do chão e fez sinal para que Remo e Sarah entrassem. Mal a porta foi fechada e o tapete pôs-se a subir vagarosamente. Passaram por duas portas fechadas e o tapete parou tremelicando na terceira. Remo abriu a porta e os dois saíram. Caminharam por um longo corredor olhando as placas, até pararem em frente a uma porta cuja plaqueta indicava "Seção de Controle da Arte das Trevas". A porta estava aberta, e Suzan, ao vê-los, não demorou a anunciá-los.

- Podem entrar - disse ela abrindo uma porta. Sarah entrou na frente, e a secretária a fechou depois que Remo passou.

- Olá Remo! - o Sr. Milligan apertou sua mão. Era um homem calvo, um pouco gordo com bigode tipo escovinha. Não parecia ser nada simpático. Apesar do frio, ele enxugava a testa suada de minuto em minuto.

- Como vai, Augusto. Está é a Sra. Black - ele retribuiu o cumprimento e indicou Sarah com a mão.

- Encantado, senhora, apesar das tristes circunstâncias que a trazem aqui. - o Sr. Milligan fez uma breve reverência e indicou duas cadeiras em frente a uma mesa de carvalho. Acomodou Sarah educadamente em uma delas, fez Remo se sentar na outra e deu a volta na mesa para acomodar-se em frente aos dois.

- Bem, Remo, você me explicou a situação por alto... A Sra. Black deseja ver seu marido, pelo que eu entendi...

- Sim - ela respondeu com firmeza.

- Olha, Augusto, eu sei que não é de praxe... Mas entenda que...

- Você chegou ao ponto, Remo. É impossível ter acesso a ele. Ele está sendo guardado por bruxos treinados em uma sala totalmente protegida contra feitiços na seção de Segurança.

- Ele está aqui? - Sarah perguntou.

- Sim, ele está neste prédio, sim... Mas não há como chegar a ele, eu já disse.

- Eu compreendo, Augusto... - Remo falou mas foi bruscamente interrompido por Sarah.

- O senhor tem esposa, Sr. Milligan?

O homem apertou os olhos e juntou a ponta dos dedos.

- Aonde quer chegar, Sra. Black? - ele se inclinou um pouco para frente.

- Eu perguntei se o senhor tem esposa - Sarah se curvou na mesa e apoiou os cotovelos nela.

- Tenho - ele respondeu. - Tenho, por quê?

- O senhor a ama? - Sarah continuou a encará-lo.

- Muito, Sra. Black, mas não entendo o que...

- Então o que o senhor faria se ela desaparecesse no meio da noite e na manhã seguinte descobrisse que ela está na primeira página do Profeta Diário sendo acusada de matar friamente 13 pessoas? - ela parou para respirar.

- Eu...

- Só que é impossível ela ser a assassina porque destas 13 pessoas 1 era seu melhor amigo e as 12 restantes eram inocentes que não tinha nada a ver com a história!

- Isso é um...

- Eu perguntei o que o senhor faria! - ela elevou o tom da voz.

- Eu não faria nada porque minha esposa não seria capaz de fazer tal coisa... - ele falou no mesmo tom.

- Está vendo? O Sirius também seria incapaz de fazer isto! Que motivos...

- Sra. Black... Se seu marido for mesmo um espião de Você-Sabe-Quem, não tentaremos os encontrar motivos que o levaram a...

Sarah se levantou.

- Espião de Voldemort?! - ela gargalhou. - Não seja ridículo! Eu vivo colada naquele homem há 11 anos! Os únicos momentos em que ele ficaria sozinho o suficiente para encontrar Voldemort seria quando estivesse no banheiro!

Remo olhava Sarah atônito. O Sr. Milligan passou o lenço na testa.

- Que ele até seja inocente, Sra. Black, eu não posso leva-la até lá - seu tom era de quem encerra uma conversa.

- Muito obrigado, August - Remo se levantou e pegou o braço de Sarah.

- Não! - ela se desvencilhou do amigo e pôs as duas mesas mãos na mesa, inclinado-se para frente. - Eu só saio daqui depois de ver o meu marido, por que se o senhor - ela apontou para o homem - amasse tanto a sua mulher quanto eu - e apontou para o próprio peito - amo o homem que vocês estão chamando de assassino o senhor também só iria embora nestas circunstâncias.

August Milligan olhou para Sarah, que estava vermelha, e depois para Remo, que desmanchou um sorriso e deu de ombros. Por fim, passou o lenço pela testa e se levantou.

- Quero que saiba, Sra. Black, que a senhora merecia um prêmio... Nem meus filhos conseguiriam amolecer o coração de August Milligan deste jeito.

Sarah olhou para Remo sorrindo, mas ele se sentou.

- Você não vem? - ela perguntou.

- Acho melhor não... - Remo sacudiu a cabeça negativamente.

- Por quê? - Sarah se abaixou ao lado dele.

- Tenho minhas razões, agora vá logo antes que ele mude de idéia - ele esboçou um sorriso amarelo.

Sarah se levantou e acompanhou o Sr. Milligan para fora da sala. Voltaram pelo corredor e pararam em frente à porta onde ficava o tapete. Ele tocou com varinha a maçaneta e quando a abriu o tapete estava à espera. Sr. Milligan segurou a porta para ela passar. Sarah foi ficando nervosa à medida que subiam. Finalmente - o que para ela pareceu ser uma eternidade - o tapete parou na porta cuja placa indicava "Sexto Andar". Sarah sentiu o coração pulsar na garganta.

Andaram por mais um corredor, estreito desta vez. Param em uma porta, no fim dele, onde dois bruxos mal encarados conversavam.

- Boa tarde, Roy, Steve... - falou o Sr. Milligan.

- Boa... - eles falaram olhando Sarah atrás dele.

- Quero ver o homem.

- Sim, senhor... - um deles apontou a varinha para a porta e ela se abriu.

O Sr. Milligan entrou e Sarah o seguiu, mas foi barrada por um dos homens.

- Ela está comigo - ele falou e o homem tirou o braço da frente. Sarah deu língua para ele.

Os dois entraram em uma outra sala onde havia mais dois homens. O Sr. Milligan entregou-lhes sua varinha e instruiu Sarah a fazer o mesmo. Ela entregou, assim como sua bolsa. A bruxa se virou e viu, através de uma grande janela de vidro, Sirius sentado de cabeça baixa em uma cadeira na saleta ao lado. Ela foi até o vidro, com lágrimas nos olhos e bateu de leve.

- Ele não pode vê-la nem ouvi-la, senhora - disse um dos guardas.

- Ah...

- Eu vou lá primeiro - disse Milligan. - Chamo-lhe em seguida.

Ele entrou pela porta e Sarah viu Sirius levantar o rosto para ele. O homem disse alguma coisa que Sarah não entendeu e apontou para fora. Sirius franziu as sobrancelhas e olhou para a porta. O Sr. Milligan saiu e chamou Sarah.

Ela respirou profundamente e andou trêmula até ele. Sirius permaneceu olhando para a porta que o Sr. Milligan deixara aberta. Entrou de cabeça baixa, o chapéu a lhe esconder o semblante. O prisioneiro se levantou lentamente. A mulher ergueu o rosto lavado em lágrimas.

Sirius não acreditou no que viu. Correu até ela e a abraçou com força. O chapéu caiu no chão deixando os cabelos dela espalharem soltos pelo rosto do marido. Procuram sofregamente um pela boca do outro e apesar de terem algumas horas sem se ver se beijaram como se estivessem separados há anos. Sarah sentiu gosto de sangue.

O Sr. Milligan olhava bondosamente a cena pela janela, e ao virar de costas viu os três homens sorrindo e olhando também. Ele tangeu os três para fora da sala e se sentou de costas para a janela.

Sarah beijou o marido mais uma vez antes de olhá-lo. Ele estava pálido, abatido e com um corte na altura da boca. Sarah passou a mão pelo rosto dele e ele chorou. Sem dizer nada, ela o abraçou mais uma vez.

- Eu não fiz aquilo... - ele disse, escondendo o rosto nos cabelos dela.

- Eu sei que não - ela disse, chorando também.

- Ninguém acredita em mim... - ele soluçou.

- Eu acredito, meu amor, eu sempre estarei do seu lado...

- Eu... Eu não sei o que fazer... - ele se encostou à parede com as mãos na cabeça. - Sarah... Eu não entreguei Tiago... Eu nunca faria isso com ele! Eu tinha aquele cara como se fosse meu irmão! E.... Lílian! Meu Deus! Sarah... - ele puxou a mulher contra si e a abraçou mais uma vez. - Sarah... Eu te amo tanto... Eu... Eu sinto muito...

- Eu também te amo muito, Sirius... Nós vamos enfrentar isto juntos... - ela o beijou com mais intensidade que das outras vezes, como se quisesse lhe passar o resto de forças que ela ainda tinha.

- Foi... Foi o Pedro Sarah... Eu...

- Shii... - ela colocou a mão sobre os lábios dele e ele a beijou de leve. - Esqueça isso agora, por favor... Eu não tenho muito tempo aqui... - ela disse chorando.

- Meu amor... - Sirius limpou os próprios olhos na manga do casaco e segurou o rosto dela entre as mãos.

Os olhos azuis dela estavam inchados e marejados. Ele passou o polegar de leve nas maçãs de seu rosto e depois beijou as pálpebras fechadas.

- Sarah... - ele engoliu seco. Se fosse realmente cumprido o seu destino essa seria a última vez que estariam se vendo. - Eu... Talvez... Ah, droga - Ele deu um soco na parede às suas costas. - Sarah, provavelmente eu serei mandado direto para Azkaban sem direito a julgamento.

Toda a sensação de desmaio voltou à Sarah. Sirius a abraçou pelos ombros quando sentiu as pernas dela dobrarem.

- Sarah... Sarah.. Eu sei que é difícil, mas você precisa ser forte...

- Não, por favor... - ela o envolveu com os braços. - Eu vivi tanto tempo com você... Eu não vou suportar...

- Claro que você vai! - ele tentava animá-la em vão. - Eu sei que você não é tão frágil quanto parece... Você vai ficar bem sem mim... Você precisa ficar! - ele a sacudiu de leve vendo que ela teria um novo desfalecimento.

- Sirius... O que você está querendo dizer... - ela o encarou com os olhos rasos d'água.

- Eu estou querendo dizer que eu a amo muito e te amarei para sempre... Mas se eu for para Azkaban, ou pior, se eu pegar pena perpétua, que é o que me disseram que vai acontecer, eu acho melhor...

Sarah não ouviu o resto da frase. Afastou-se dele com o horror estampado no rosto. Tudo ficou silencioso à sua volta. Ela via Sirius mexer os lábios e gesticular, mas nenhum som se fazia ouvir. Teria ela ficado surda? Não... Ela ouvia os pássaros cantando... Viu árvores... Ouviu alguém lhe fazer uma pergunta:

"Você aceita este homem como seu esposo, Sarah McDillan?"

"Aceito..."

"E você, Sirius Black, aceita esta mulher como sua esposa?"

"Sim, eu aceito."

"Então, pelo poder a mim conferido, eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva."

Sirius foi até ela, mas não a beijou. Sacudiu-a.

- Sarah!! - ele falou.

O som dos pássaros desapareceu. As árvores desapareceram. Sarah voltou para a fria sala do Ministério.

- Eu estava no nosso casamento... - ela sorriu.

- Sarah, você ouviu o que eu disse? - o tom dele era de preocupação.

- Ouvi... Você disse "sim" ao juiz de paz... - ela sorriu mais ainda.

- Por Merlin, Sarah! - ela estava reagindo pior do que ele imaginava. - Está sendo duro para mim também, poxa! Mas eu não quero que você sacrifique sua vida... Sua beleza... Sua juventude por causa de um marido preso!

- Você não vai ser preso, meu querido... - ela alisou o rosto dele. - Nós vamos para a nossa lua de mel, lembra?

Sirius soltou a mulher e ela sentou na cadeira brincando com o chapéu.

- Você veio sozinha? - ele perguntou.

- Não... - ela respondeu. - O Remo me trouxe...

- Otimo... O Remo vai cuidar de você...

- Não, Sirius... - ela levantou-se e foi até ele. - Você é quem vai tomar conta de mim... Eu tomarei conta de você...

Sirius estava com o coração sangrando. Sarah estava em choque. Ela não entendia que ele queria acabar o casamento. Parecia que havia algum bloqueio.

- Tome - ele tirou a do dedo aliança.

- Pra que isso? - ela perguntou quando ele a segurou pelo pulso e colocou o anel na palma de sua mão.

- Estou terminando nosso casamento - ele disse ríspido. Precisava fazer com que ela voltasse a si. Mesmo que fosse da maneira mais dolorosa.

- Você o quê? - ela franziu o rosto.

- Estou te libertando de mim para sempre...

- EU NÃO POSSO ME LIBERTAR DE VOCÊ!! - ela mostrou a mão esquerda. - A MINHA ALIANÇA NÃO SAI ASSIM TÃO FÁCIL!

Ele pegou a mão que ela havia estendido e colocou o dedo anelar em sua boca. Quando puxou a mão, o dedo estava puro. Sirius tirou o anel da boca e colocou na mesma palma que ela segurava o dele.

- Saiu... - ele se virou para a parede e apoiou a cabeça na janela.

- NÃO SO ESTA DROGA DE ALIANÇA! - ela jogou os dois anéis no chão. - VOCÊ ESTÁ AQUI! - ela bateu no peito - ESTÁ POR TODA A MINHA PELE! - Sarah esfregou os braços - ESTÁ DENTRO DO MEU CORPO... ESTÁ NA MINHA CBEÇA....

- Então trate de me tirar daí... Porque dentro de mim você não ficará por muito tempo... - ele disse ainda virado para a janela para que ela não o visse chorar.

Andou até a porta, ainda de costas para ela e bateu com força. O Sr. Milligan abriu.

- Ela já está de saída - e apontou para Sarah, que havia se abaixado para pegar os dois anéis.

- Já ia apressá-los mesmo... Se alguém aparecer, perco meu emprego... - ele não precisou olhar muito para a cara dos dois para deduzir o que havia acontecido.

Sarah colocou o chapéu e saiu sem olhar para Sirius. O Sr. Milligan fechou a porta depois que ela passou e a acompanhou até o corredor.

How can I just let you walk away

(Como posso simplesmente deixar você ir embora)

Just let you leave without a trace

(Simplesmente deixar você partir sem um vestígio)

When I stand here taking every breath with you

(Enquanto permaneço aqui segurando cada suspiro com você?)

You're the only one who really knew me at all

(Você é a única que realmente me conheceu...)

How can you just walk away from me

(Como você pode simplesmente afastar-se de mim)

When all I can do is watch you leave

(Quando tudo que posso fazer é observar você partir?)

'Cause we've shared the laughter and the pain

(Pois nós dividimos o riso e a dor)

And even shared the tears

(E até mesmo dividimos as lágrimas)

You're the only one who really knew me at all

(Você é a única que realmente me conheceu...)

Depois que a porta se fechou, Sirius soltou um urro dento de sua cela e atiçou a cadeira na parede, fazendo-a se partir em três.

- Mas não está nem longe de como estou por dentro... - ele murmurou olhando os pedaços.

Sarah entrou na sala do Sr. Milligan, e Remo se levantou.

- Como foi? - ele perguntou educadamente.

Sarah abriu a mão e mostrou as duas alianças.