Capítulo Cinco - Onze Anos Depois

N/A: À partir deste capítulo, desconsiderem os acontecimentos do livro 4 - Harry Potter e o Cálice de Fogo. Spoilers apenas até o Prisioneiro de Azkaban.

Os anos foram passando. A casa de Londres foi vendida. O terreno em Bournrmouth não. Nele foi construída uma casa onde ela se escondia do mundo. Sarah, sentada na varanda do apartamento de sua tia Geórgia em Surrey, agora pensava nos anos que passaram. Onze anos... Onze anos de dor... Onze anos de sofrimento... Onze anos de solidão. Ela se mostrava viva e ativa mas por dentro estava morta.

O pacote de provas corrigidas pela metade escorregou e ela o aparou ainda a tempo de salvar o relógio de se espatifar no chão. Cinco e meia. Espreguiçou-se lentamente na cadeira e lembrou-se que precisava comprar comida. A despensa estava vazia. Guardou os papéis na pasta e entrou em casa. Snowflake estava deitado num canto. Estava velho e gordo, mas era sua única companhia. Ele miou sem se levantar. Sarah pegou a bolsa, o xale e saiu.

- São 10 libras - falou a moça do caixa empacotando as compras.

Sarah pagou as compras e pegou a sacola. Começou a andar rapidamente, a cabeça baixa. Fazia alguns cálculos mentais. Um de seus alunos estava ameaçado perder de ano. "Talvez, se eu passar para ele um trabalho valendo 3 pontos..."

- Ah! Merda! - ela se bateu com alguém e a sacola lascou. - Me desculpe... - Sarah falou sem levantar os olhos. Catou algumas latas no chão.

- Não foi nada... Sarah...

As latas que havia catado caíram no chão novamente. Ela ergueu o rosto. Estava diante de uma velha que sorria para ela.

- A senhora me conhece? - perguntou intrigada.

- Sim...

- É avó de algum aluno meu?

- Não...

- Mas...

- Ah, Sarah... - a velha a abraçou. - Há tanto tempo eu procuro notícias suas...

- A senhora deve estar me confundindo com alguém... - respondeu, esquivando-se educadamente.

- Claro que você não me reconhece... Se me reconhecesse todos meus onze anos de trabalho teriam sido me vão...

- Eu realmente... - Sarah olhou nos olhos da velha e se calou. Aqueles olhos... Aquele sorriso... O queixo dela despencou. - Bela?

A mulher deu uma gargalhada.

- Onze anos jogado no lixo... - ela ajudou Sarah a juntar as compras.


- Não pode ser... - Sarah ainda não acreditava, mesmo depois de Arabella acabar toda a história.

- Acredite em mim, Sarah, estou falando sério... - a mulher agora estava jovem, com seus trinta e poucos anos, como Sarah.

- Quando Dumbledore disse que você iria ficar fora um tempo eu não pensei que seria para isso! - ela apontou uma poção que fervia no fogão.

- Depois que eles morreram, Dumbledore me procurou. Temia pela segurança de Harry. Eu me ofereci para cuidar dele, mas precisava de um disfarce. A professora McGonagall sugeriu uma poção do envelhecimento.

- Se você o protege... - Sarah se apoiou na mesa da cozinha. - Você sabe onde ele está... Não sabe?

- Claro que sei, Sarah! - Arabella respondeu. - Como você acha que eu cuidei dele estes anos todo? Por telepatia?!

Sarah ficou séria.

- Eu... Eu poderia vê-lo? -perguntou baixinho.

- Bem... Talvez mais tarde...

- Como ele está? - Sarah perguntou animada.

- O Harry?! - Arabella sorriu. - "timo... Você precisa ver como ele está crescido... Ele se parece muito com Tiago - o tom de voz agora era de emoção. - Os mesmos cabelos rebeldes... Pretos... Mas os olhos, são iguais aos de Lílian...

- Conte mais! - Sarah sentou à mesa de frente para ela.

- Ele está em Hogwarts... Passou para o terceiro ano. Dumbledore me disse que ele é um excelente aluno. Ah! E faz parte do time de Quadribol da Grifnória! Apanhador, como Tiago!

- Grifinória?! - Sarah bateu palmas excitada.

- É... - a expressão de Arabella tornou-se levemente sombria.

- O que foi?

- Ele voltou, Sarah...

- Ele? Ele quem?

- Voldemort... Esteve em Hogwarts ano passado... Tentou matar o Harry... No fim do ano letivo.

- Não é possível! - Sarah tapou a boca com as mãos.

- Graças a Merlin o garoto escapou com vida... Mais uma vez...

- Como você o vigia?

- Meus gatos... - Arabella sorriu. - Por que você acha que eu tenho tantos?

- Você sempre detestou gatos, Arabella...

- É... - ela suspirou. - Tive que aprender a gostar... Mas e você?! Me conte sobre você! Como vai Dona Geórgia?!

- Minha tia morreu há três anos, Bela... - Sarah falou entristecida. - Depois de dedicar muitos anos tentando me fazer sorrir novamente... Depois que ela se foi eu prometi voltar a viver...

- Ah, Sarah... - Arabella tomou suas mãos. - Eu sinto muito... Você enfrentou tudo isso sozinha...

- Não enfrentei sozinha... - ela sorriu com os olhos marejados. - Existe uma pessoa muito importante em minha vida, que você deixou ir embora...

- Remo... - Arabella falou abaixando a cabeça. - Vocês... Estão juntos?

- Não, Bela... - Sarah levantou o queixo da amiga. - Ele não me quis...

As duas ficaram um tempo se olhando em silêncio.

- Eu preciso ir - Sarah disse enxugando uma lágrima. - Tenho um bando de coisas pra fazer...

- Você não me disse onde você está morando... O que você está fazendo...

- Eu estou dando aula em uma escola primaria. É período de férias agora, mas peguei uma turma de recuperação... E estou morando na Rua Magnólia...

- Tão perto...

- Pois é... Moro aí há 3 anos já... E você aqui! Na Rua dos Alfaneiros! Tão perto de você...

- E do Harry... - Arabella tampou a boca com as mãos, mas já era tarde.

- O Harry mora aqui perto? - Sarah perguntou, espantada.

- Sim... Sarah... Ele está morando na casa de Petúnia e o irmão dela.

- Ah, Bela, deixe-me ir vê-lo... - Sarah pediu mais uma vez.

- Está bem... Está bem... Deixe-me tomar a poção e nós vamos.


- Será que ele não vai sair? - perguntou Sarah impaciente.

Já tinha quase quinze minutos que estavam paradas a uma pequena distância da casa de número 4.

- Eu não sei, Sarah... - disse Arabella.

Neste momento a porta lateral da casa se abriu e um garoto magricela de óculos e cabelos despenteadamente pretos apareceu no jardim com um saco de lixo na mão.

- Olha ele lá - disse Arabella.

- Ele é igualzinho a Tiago... - Sarah falou entre lágrimas. - Eu queria tanto... Abraçá-lo... Falar com ele...

- Vamos falar com Dumbledore... - disse Arabella segurando a amiga pelos ombros. - Quem sabe...


Sarah acordou particularmente cedo aquela manhã. O bom de se portar como trouxa é que precisava ter em casa alguns objetos fabricados por eles, para melhor disfarçar aos alunos que constantemente a visitavam. Dentre eles os que Sarah mais gostava eram a cafeteira elétrica e a televisão. Ligou a tv na sala e aumentou o volume para ouvir o noticiário matinal. Como dava aulas de História precisava estar sempre por dentro das novidades da Comunidade Não-Mágica. Não fora nenhum sacrifício adaptar-se a este estilo de vida. Sempre gostou de Estudo dos Trouxas.

Ela colocou o leite para ferver e ligou a cafeteira enquanto fritava alguns bacons.

"E a bolsa de Londres volta a subir, provocando um desequilíbrio na Economia Sul-americana", dizia a voz do jornalista.

Sarah despejou o café na xícara e a levou para a sala.

Emocionara-se ao ver Harry. "Hoje é seu aniversário", ela lembrou, "Vou ver com a Arabella se posso mandar-lhe um presente". Sorrindo, foi até a mesa de centro com a frigideira na mão colocar os bacons no prato.

"...alertamos aos nossos telespectadores de que Black está armado e é extremamente perigoso...", disse o jornalista. Sarah congelou e virou-se para a tv. O homem continuou falando. "Se alguém o avistar, deverá ligar para o número o plantão de emergência imediatamente." Na tv, apareceu uma grande foto de um homem de rosto ossudo emoldurado por um emaranhado de cabelos. A frigideira caiu da mão de Sarah com estrépito. Era ele. Sirius havia fugido. Ela recuou até o sofá e caiu lá sentada.

"O Ministério da Agricultura e da Pesca irá anunciar hoje...", a televisão continuou falando, mas Sarah já não prestava atenção. Precisava fugir. Precisava sair dali o mais depressa possível. Mas não conseguia. Estava sem controle de seus movimentos. Soltou um grito quando o telefone tocou.

Correu até o aparelho e o tirou do gancho. Não respondeu.

- Alô? - falou uma mulher.

- Quem é? - Sarah falou mecanicamente.

- Sou eu, Sarah, Arabella... Acabei de receber um exemplar do Profeta Diário... - Sarah nem se lembrou que havia dado seu número de telefone à amiga.

- Eu sei... Acabei de ver na televisão...

- Você não pode continuar aí, Sarah...

- Eu...

- Ligue para a escola, diga que não vai trabalhar hoje.

- Vou... - Sarah não estava conseguindo coordenar os pensamentos. - Vou ver...

- Eu não posso ir aí agora... Preciso ficar de olho no Harry...

- Tudo bem, Arabella... Mandarei uma carta assim que souber o que vou fazer...

- Vou aguardar. - e ela desligou o telefone.

Sarah colocou o telefone no gancho. Escreveu um bilhete rápido e o pregou no espelho. Não daria tempo avisar a Remo. Como ele viria almoçar com ela, veria o recado no espelho avisando que fora a Bournrmouth.

Ligou rapidamente para a escola e inventou uma desculpa qualquer para a diretora. Subiu as escadas correndo. Tentava a todo custo manter a calma. Arrumou algumas roupas na maleta, colocou Snowflake na gaiola. Lembrou-se da varinha. Estava escondida na gaveta da cômoda junto com as alianças. Pegou apenas a varinha e saiu. Trancou a porta da frente e deu a volta no prédio em direção aos fundos. Colocou a mala e a gaiola no chão e abriu a porta da garagem de número 12. Não ia de carro. O carro era muito lento. Seus olhos se fixaram no fundo da garagem. Andou até lá e puxou uma grande lona preta, descobrindo uma moto. Se ele queria pegar o Harry ela não facilitaria. Levaria a moto junto consigo.

Arrumou as coisas na garupa e empurrou a moto até o portão da frente. Sua rua era curva e cheia de prédios germinados. Cumprimentou o porteiro e colocou o capacete. A moto roncou, como se estivesse satisfeita em voltar a andar depois de tanto tempo parada.

Sabia que era perigoso sair voando com a moto àquela hora da manhã por isso decidiu guiá-la pela estrada até estar longe da cidade. Decidiu passar pela casa de Arabella antes de partir. Rodou distraidamente pela Rua dos Alfaneiros, os pensamentos distantes, e quase bateu em um carro que saída da garagem de número quatro. "A casa dos tios do Harry", ela pensou.

Estacionou a moto na frente do número oito e desceu. Arabella abriu a porta antes que ela tocasse a campainha.

- Você não foi ainda? -exclamou assustada, puxando Sarah para dentro.

- Eu já estou indo... - Sarah disse olhando a amiga disfarçada. - Só passei para me despedir...

- Obrigada pela consideração - Arabella sorriu e a abraçou. - Mas não convém você se demorar...

- Arabella... - e Sarah caiu no choro.

- Você está tremendo... - Arabella a abraçou mais forte.

- Eu estou com medo...

- Entendo...

- Eu não quero vê-lo novamente... Não pelo perigo que ele supostamente representa, porque eu ainda não acredito que ele tenha entregado Tiago e Lílian ou matado Pedro. Eu estou com medo porque eu levei esses anos todos tentando apagar o meu sentimento por ele. Só que eu não apaguei o suficiente... Se eu o encontrar... Eu não sei o que...

- Sarah, por Merlin... - Arabella soltou a amiga. - Você quer ficar aqui?

- Não... Você tem muita coisa para fazer... - ela limpou o rosto com as mãos. - Não se preocupe, eu ficarei bem...

- Mas... Ele não te encontraria...

- Bela, eu estou morando na casa que era da minha tia... Ele sabe onde fica... Ele não é idiota, sabe que eu não ficaria em Londres e viria me refugiar aqui. Ele vai aparecer em Surrey.

Arabella acompanhou Sarah até a porta e as duas viram um carro entrar na garagem do número 4. O mesmo carro que quase atropelara Sarah. De dentro dele saíram um homem e uma mulher atarracados.

- O homem é Válter Dursley, tio de Harry... - falou Arabella.

- Aquela não é Petúnia... É?

- Não, não... É a irmã dele, Guida Dursley.

- Ah... - Sarah desviou os olhos quando eles entraram em casa. - Já vou, então...

- Certo... Qualquer coisa, me escreva, por favor...

- Pode deixar - Sarah sorriu e colocou o capacete.

Arabella ficou observando a moto sumir na esquina e entrou para alimentar os gatos. Eles tinham muito que fazer à partir de agora...


Sirius esperou escurecer para caminhar pelas ruas da cidade. Acabara de chegar de Londres, escondido num vagão de trem. A casa em que ele vivera com Sarah agora era um supermercado. Lembrou-se então de que D. Geórgia vivia em Surrey e pensou que ela poderia estar vivendo lá com a tia. Precisava agir rapidamente. Veria a esposa e depois que lhe explicasse tudo ela o ajudaria a ir até Hogwarts. Não. Não iria envolver Sarah no plano. Iria sozinho até lá e mataria Pedro. Já havia se passado uma semana desde a sua fuga e ele acompanhava o esforço que Ministério da Magia estava fazendo para apanhá-lo.

Olhou a placa presa no poste e leu "Rua Magnólia". Esquadrinhou os prédios do lugar e encontrou o que procurava. Pulou o muro baixo do edifício e entrou pela área de serviço. Cautelosamente subiu as escadas até o segundo andar. A porta do apartamento de Sarah possuía uma portinhola para que Snowflake entrasse e saísse de casa livremente. Como estava magro, para ele foi fácil entrar por ali.

Já a salvo na sala, ele se transformou em humano.

- Sarah? -chamou baixinho. A casa estava toda escura. Era evidente que ela não estava em casa. Mesmo assim, chamou mais uma vez.

Novamente, nenhuma resposta. Depois que seus olhos se acostumaram à escuridão ele caminhou pelo apartamento. Foi até a cozinha e abriu o armário. Tirou de lá um pacote de biscoitos e pôs-se a comer ferozmente. Andou até um dos quartos - o quarto de Sarah. Ele se jogou de joelhos diante da cama e passou lentamente a mão pela colcha. Seus olhos se encheram de lágrimas e ele repousou a cabeça no travesseiro, sentindo o cheiro dela.

Permaneceu alguns minutos nesta posição, até que voltou para a sala, a fim de ir embora. Seus olhos subitamente pararam em um papelzinho pregado no espelho sobre a estante. Ele caminhou até o móvel, tirou o bilhete e o levou até a janela para ler através da claridade da rua. Reconheceu a letra de Sarah, embora não estivesse tão firme quanto há onze anos atrás.

"Remo,

Não poderei ficar mais aqui. Desculpe não estar em casa para recebê-lo. Sirius fugiu de Askaban e pode vir me procurar. Não quero encontrá-lo. Estou indo para Bournrmouth. Encontre-me lá.

Carinhosamente,

Sarah"

Sirius amassou o papel com violência. Sentiu uma onda de ciúmes o invadir. Então eles estavam juntos. Pegou um vaso para jogar contra a parede, mas uma movimentação na rua lhe chamou atenção. Alguém vinha arrastando o que parecia um malão pela calçada. Foi se aproximando e Sirius deduziu ser um garoto. O estranho parou debaixo de um lampião da rua e se largou no baixo muro do edifício de Sarah. Sirius apertou os olhos com uma expressão de incredulidade no rosto.

"Tiago?", murmurou. Um estalo ocorreu em sua mente e falou entusiasmado "Harry!!". Largou o vaso na mesa e, transfigurando-se novamente em cão, saiu correndo pela portinhola da sala.

Desceu as escadas a galope e caiu derrapando no corredor do térreo. Saiu pelos fundos e, rastejando, espremeu-se no vão entre a grade e a garagem, para observar o garoto. Uma sensação de leveza e felicidade invadiram o espírito de Sirius. Harry estava bem. Estava crescido. Parecia-se infinitamente com Tiago naquela idade.

Harry abriu o malão e pôs-se a procurar alguma coisa dentro dele. Parou de súbito e olhou ao redor. Sirius se encolheu, mas estava escuro e ele não poderia enxergá-lo. O garoto curvou-se novamente sobre a mala, mas se ergueu quase que instantaneamente, desta vez, com a varinha em punho, olhando diretamente na direção de Sirius.

Ele ouviu o menino sussurrar "Lumus". A claridade atingiu Sirius e ele não teve como se esconder. Harry recuou para trás e tropeçou por cima do malão, caindo na sarjeta. O outro se ergueu para auxiliá-lo mas um estampido e uma luz forte o fez recuar ganindo para dentro do edifício. Por cima do muro, ele viu o teto de um grande ônibus roxo.

Sirius deu a volta no canteiro da entrada para ver o que estava acontecendo. No pára-brisas do ônibus leu "O Nôitibus Andante". Um jovenzinho vestido de roxo desceu do ônibus e Sirius o ouviu dizer:

- Bem vindo ao Nôitibus Andante, o transporte de emergência para bruxos e bruxas perdidos. Basta esticar a mão da varinha, subir a bordo e podemos levá-lo aonde quiser. Meu nome é Stanislau Ahumpike, Lalau, seu condutor esta noi...

"Maravilha", pensou Sirius, "No meu tempo não havia nada disso".

- O que você está fazendo aí? - perguntou Lalau para Harry.

- Caí - respondeu Harry.

- E por que você caiu? - disse o condutor.

- Não foi de propósito - respondeu Harry secamente. Sirius sorriu. Harry se virou para o vão onde ele estivera escondido, certamente procurando por ele.

- O que você está olhando? - perguntou Lalau.

- Havia uma coisa grade e escura - respondeu Harry apontando a abertura. - Parecia um cachorro... Mas enorme...

"Um animago, Harry", pensou Sirius, "Seu padrinho".

- O que é isso aí na sua testa? - perguntou Lalau.

- Nada - o menino respondeu achatando parte da franja despenteada.

- Qual o seu nome? - perguntou o condutor.

- Neville Longbottom - respondeu Harry.

Sirius, se estivesse na forma humana, teria soltado uma grande gargalhada. "Ele tem mesmo muito de Tiago".

- Então - continuou o garoto - este ônibus, você disse que vai a qualquer lugar?

- Isso aí - respondeu Lalau -, qualquer lugar que você queira, dede que seja em terra. É imprestável debaixo d'água. Aqui, você fez sinal para a gente parar, não fez? Esticou a mão da varinha, não esticou?[

- Claro - disse Harry depressa. - Escuta aqui, quanto custaria para me levar até Londres?

Sirius prestava atenção na conversa com extrema curiosidade.

- Onze sicles, mas por quatorze você ganha chocolate quente e por quinze um saco de água quente e uma escova de dentes da cor que você quiser.

Sirius viu Harry remexer no malão e tirar de lá um saquinho, pondo algumas moedas na mão do condutor. Ele e Lalau ergueram o malão, com a gaiola de Edwiges equilibrada em cima, e subiram no ônibus. A porta se fechou e Sirius saiu para a calçada no momento em que o ônibus desapareceu no escuro da noite.

"Bem", ele pensou, "O Harry está a salvo... Agora, vamos encontrar Sarah". E pôs-se a correr pela rua deserta.


Remo foi até a janela apanhar uma coruja. Havia nela uma carta com o brasão de Hogwarts. Era de Dumbledore.

"Caro Remo,

Desculpe se isto lhe parece repentino, mas tenho uma proposta a lhe fazer. Como você deve estar ciente, Sirius Black fugiu de Azkaban. Temo pela segurança de Harry em Hogwarts este ano. O menino fugiu ontem à noite da casa dos tios mas por sorte foi recolhido pelo Nôitibus Andante. Acabou chegando ao Caldeirão Furado e Cornélio Fudge, o Ministro da Magia, o encontrou. Ele agora está sob a vigilância de Tom, o dono do bar, e de algumas pessoas por mim escolhidas. O fato é que se Sirius fugiu de Azkaban poderá muito bem entrar na escola. Dementadores virão guardar o castelo, mas queria tomar minhas próprias providências. Este é o motivo desta carta. Estou lhe convidando para vir dar aulas de Defesa Contra Arte das Trevas. O cargo está vago. Deveria ser preenchido por August Milligan (creio que você o conheça), mas ele foi escalado para o Esquadrão de Buscas Especiais, para apanhar Black. Seria um imenso prazer que você aceitasse. Espero sua resposta.

Alvo Dumbledore - Diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

PS: Caso aceite, adianto-lhe logo que deverá embarcar no dia 1o de Setembro, junto com os alunos, no Expresso de Hogwarts. Nas circunstâncias, é aconselhável que você vigie o menino de perto."

Remo dobrou o pergaminho, rabiscou uma resposta e enviou pela mesma coruja. Após ficar alguns minutos refletindo, começou a separar livros para levar.


Chovia. Sarah estava em pé diante da janela da sala. O grande vidro debruçava-se sobre o precipício. Ela observava as ondas reboarem lá em baixo, misturando-se com o barulho dos eventuais trovões que cortavam o céu. Soprou o chá quente e levou a xícara aos lábios. Não soube quanto tempo ficou ali a olhar a natureza revoltada. As gotas de chuva que batiam no vidro gritavam os pensamentos que ela queria calar. Um turbilhão de sensações girava em sua mente. Sirius havia fugido. Numa outra época ela teria corrido o país atrás dele. Ao invés disso corria dele. Sabia que a casa em Bournrmouth não era um bom esconderijo, mas foi o melhor que pôde pensar. Talvez no fundo ela quisesse ser encontrada.

Não. Não podia ser encontrada. Ele fugira e seria apenas uma questão de tempo até ele ser encontrado novamente.

Tempo. Os dias corriam com o tempo e ele ainda não havia ido procurá-la. Sarah engoliu seco. Talvez ele tivesse cumprido a promessa. Esquecera.

Foi melhor assim. Se ela o reencontrasse teria que sofrer tudo de novo quando ele fosse recapturado. Não queria passar mais onze anos cicatrizando feridas profundas.

Batidas. Sarah olhou para a porta. Seria o vento?

Novamente, desta vez mais forte. Não era o vento. Alguém batia à porta. Andou até lá. Levou a mão à maçaneta e a abriu devagar. A visão do homem caído na soleira a fez deixar cair a xícara que se espatifou aos seus pés.