Capítulo Sete - De Volta Às Origens

Arabella escreveu à Sarah logo na segunda de manhã. Quando a bruxa entrou no apartamento uma coruja estava empoleirada na grade da varanda com um envelope no bico. Ela colocou a maleta no chão, soltou Snowflake e caminhou até ela. Apanhou a carta e a ave saiu voando. Ela sentou no sofá de pernas cruzadas e abriu o envelope.

"Querida Sarah,

Espero que você esteja melhor. Não tinha muita certeza de onde você estaria por isso mandei a carta para seu apartamento mesmo. Me senti na obrigação de te deixar à par dos últimos acontecimentos. Uma semana depois que você viajou o Harry fugiu de casa. Um dos meus gatos me avisou e eu imediatamente escrevi a Dumbledore. O Ministério foi acionado e Cornélio Fudge em pessoa foi esperar no local mais provável onde o garoto poderia aparecer - o Beco Diagonal. Imagine só que ele transformou a Guida Dursley em um balão. Dumbledore não acredita que ele tenha feito de propósito e sim por uma reação emotiva. Fiquei assustadíssima mas agora estou mais calma - os Dursley ficaram furiosos. Eu sei que você ainda acredita da inocência de Sirius mas fiquei preocupada com a possibilidade dos dois se encontrarem. Graças a Merlin o menino agora está a salvo hospedado no Caldeirão Furado.

Sirius continua a enganar o Ministério. Ele simplesmente desapareceu no ar. Há dementadores por toda parte, inclusive alguns serão colocados na entrada de Hogwarts assim que se inicie o ano letivo. Se ele aparecer por aí, Sarah, por favor, comunique.

Afetuosamente,

Arabela Figg"

Sarah dobrou o pergaminho e o jogou na mesinha em frente ao sofá. Harry estava no Caldeirão Furado. Pois bem, ela daria um jeito de ir até lá. Sirius não iria até lá. Se ela o conhecia bem, ele iria direto para Hogwarts. Não disse isso a Remo. Nem precisava. Com certeza ele conhecia Sirius tão bem quanto ela e saberia o destino dele também.

Mas Remo estava indo para lá. Dumbledore o convocara com esse intuito.

Snowflake miou enroscando-se em sua perna e ela o pegou no colo.

- Você acha que o Remo será capaz de denunciar o Sirius? - ela perguntou erguendo o gato. - Você acha que ele vai dizer que Sirius, Pedro e Tiago eram animagos clandestinos?

Snowflake ronronou.

- Também acho que não...

Sarah ficou perdida em pensamentos até que o telefone tocou. Ela tirou a varinha do bolso e deu um sorriso.

- Accio telefone! - o aparelho se ergueu e veio flutuando até ela. Sarah o tirou do gancho. - Alô? - ela atendeu.

- Sarah? - falou uma voz feminina.

- Senhora Durmst, eu ia telefonar para a senhora.

- Você está melhor, querida?

- Sim - ela mexeu a varinha e o aparelho deu uma pirueta no ar. - Pretendo voltar às aulas amanhã.

- Que bom, minha filha. Eu substitui você pelo professor Johnson. Os alunos não poderiam ficar uma semana sem aula. As provas de recuperação começam na quarta. Você acha que pode dar conta?

- Sim, Sra. Durmst. Eu dou conta.

- Eu a espero amanhã então. Poderei ir à sua casa hoje à tarde? Preciso lhe entregar alguns papéis.

- Ah, Sra. Durmst... Eu vou precisar resolver alguns assuntos pessoais hoje à tarde.

- Entendo...

- Eu posso passar na casa da senhora à noite?

- Sim, pode sim, querida, estarei te esperando.

- Até mais tarde então - Sarah falou desligando o telefone.

Ela apanhou o aparelho flutuante e o colocou na mesa, subindo depois para se arrumar. Iria ao Beco encontrar o Harry.


Sarah soltou um suspiro de alívio quando aparatou nos fundos do Caldeirão Furado e se certificou que não faltava nenhuma parte de seu corpo. Ela bateu no terceiro tijolo à esquerda do latão de lixo. Não esperava que o muro fosse abrir logo de primeira portanto deu uma gargalhada quando a passagem em arco começou a se formar.

Não pôde deixar de se emocionar ao pisar no Beco Diagonal novamente. Aquele era o seu lugar. Aquela era a sua gente. Como ela sentira falta daquilo. Como ela precisava de tudo aquilo. Andou pelas ruelas analisando as vitrines com um sorriso bobo nos lábios.

Foi só quando viu o imponente prédio branco que se erguia em uma esquina que se lembrou que não tinha dinheiro bruxo com ela. Sarah entrou no Gringotes e esperou ser atendida por um dos duendes.

- O próximo... - falou uma vozinha aguda de cima do balcão.

- Cofre 712, por favor - ela mostrou a chave ao duende. Ele a pegou e analisou-a com seus dedos longos e finos.

- Retirada de conta conjunta... Senhora Black? - ele perguntou consultado um livro.

- Sim.

- Um momento - o duende se virou para um pequeno que ia passando. - Harven, cofre 712 - e entregou a chave a ele.

O outro duende apanhou-a e convidou Sarah a acompanhá-lo.

Cerca de meia hora depois, Sarah deixou o edifício, um tanto esverdeada, ainda guardando o ouro na bolsa.

Tinha a intenção de comprar algo para Harry, mas não sabia o quê, tampouco como mandar. O que iria escrever no bilhete? "Olá, Harry, sou sua madrinha que esteve escondida durante 11 anos e agora resolveu lhe mandar um presente de aniversário atrasado". Não podia ser desta forma. Uma aglomeração na frente da Artigos de Qualidade para Quadribol chamou-lhe atenção. Lembrou-se que o afilhado adorava voar. Poderia lhe comprar alguma coisa ali. Ela olhou a vitrine. Havia uma vassoura em cima de um tablado. Sarah não entendia de vassouras mas aquela lhe pareceu um excelente espécime. Havia um pequeno cartaz ao lado dela, e Sarah, na ponta dos pés, conseguiu ler o que estava escrito.

FIREBOLT

Fabricada com tecnologia de ponta, a Firebolt possui um cabo de freio superfino e aerodinâmico, acabamento com resistência de diamante e número de registro entalhado na madeira. As cerdas da cauda, em lascas de bétula selecionadas à mão, foram afiladas até atingirem a perfeição aerodinâmica, dotando a Firebolt de equilíbrio insuperável e precisão absoluta. A Firebolt atinge 240 km/h em dez segundos e possui um freio encantado de irrefreável ação. Cotação a pedido.

Sarah soltou um assobio de admiração. Ao seu lado, um bruxo falou ao outro.

- Acaba de ser lançada... Um protótipo.

Sarah também ouviu um garotinho perguntar ao pai.

- É a vassoura mais rápida do mundo, não é, papai?

O proprietário da loja apareceu à porta e falou alta e sonoramente:

- O time internacional da Irlanda acabou de mandar um pedido para sete desses vassourões. É o time favorito para a Copa Mundial - Sarah fez algumas contas mentalmente. Se bem lembrava, o ano seguinte seria ano de Copa Mundial de Quadribol.

Recordou-se de quantas vezes havia ido assistir à Copa com seus amigos. Siris e Tiago eram apaixonados por Quadribol. Um ano antes de Sirius ser preso, ela havia ido a uma com ele. Lílian estava grávida de Harry de oito meses, por isso ela e Tiago não haviam ido.

"Sarah, me dê este parafuso a", Sirius gritou para a esposa. Ele e Remo estavam tentando armar a barraca do jeito trouxa. Arabela ao agüentava mais dar tanta risada. Ela jogou o parafuso para o marido e observou ele bater, em vão, o martelo no grande aro que prendia a lona. Até que ele bateu no próprio dedo.

Sirius xingou todos os palavrões que conhecia. Remo largou a corda que segurava, engasgando de tanto rir, e a "barraca" desmantelou como um castelo de areia.

Sarah sorriu e já ia saindo do bolo de gente quando um garoto magricela com os cabelos despenteados passou por ela, parando bem à sua frente, tentando ver melhor a vassoura. Ela reconheceu como sendo o Harry. Mordeu os lábios e ergueu a mão para tocá-lo. Conteve-se a tempo. Ele não se demorou por ali. Quando se virou para ir embora, Harry deu com Sarah a admirá-lo. Ela sorriu embaraçada e ele lhe sorriu de volta. Mas o menino logo se afastou e sumiu no meio dos transeuntes.

Os olhos dela se encheram de lágrimas. E foi assim, chorando, que ela aparatou de volta para casa, esquecendo de toda a lista mental que havia ido comprar.


Os meses foram passando. Remo escrevia pelo menos três vezes por semana à Sarah. Contava-lhe banalidades sobre Harry ou às vezes comentava alguma nota que saia no Profeta Diário a respeito do Caso Black. Ela agora havia feito uma assinatura do jornal a fim de ficar à par dos acontecimentos.

Na véspera do Dia das Bruxas, Sarah recebeu uma coruja de Arabella, convidando-a para passar o feriado com ela. Ela agradeceu o convite e confirmou a presença.

Era estranho o jeito em que os trouxas tratavam esse dia. As crianças se fantasiavam de bruxas, fantasmas, monstros, lobisomens e vampiros e ia de porta em porta pedindo doces. Ela mesma organizava todos os anos com seus alunos uma festa deste tipo. Enfeitava a sala de aula com morcegos de plástico pendurado no teto cheio de estrelas, pregava desenhos de serpentes e leões nas paredes e cortava, com a ajuda de alunos, grandes abóboras que eram decoradas com velas acesas. As mães sempre elogiavam seu trabalho, admiradas com a riqueza de detalhes. Por fim, cada aluno seu ganhava um saquinho de doces que ela encomendava com os dizeres "Feijõezinhos de Todos os Sabores".

Ela agora estava sentada na mesa de jantar da casa de Arabella, contando esses fatos à amiga.

- Eu sei - ela sorriu servindo um pedaço de torta num prato e passando para Sarah. - As crianças da rua aparecem por aqui mascaradas e falam "Gostosuras ou Travessuras" - falou infantilizando a voz.

- É assim mesmo - Sarah riu.

- Um dia eu neguei um chocolate, e um pestinha daqueles bombardeou minha vidraça com papel higiênico molhado. Ah... Eu tive vontade de transforma-lo em uma doninha!

Sarah gargalhou gostosamente.

- Já que amanha é sábado, e você não tem aula - Arabella falou enquanto tiravam a mesa -, você bem que poderia dormir aqui. Eu me sinto tão só nesta casa.

- Eu também me sinto muito sozinha - Sarah disse colocando os pratos na pia. - Eu adoraria lembrar os velhos tempos! - disse sorrindo.

- É uma pena que aqueles tempo não voltam mais... - Arabella falou melancólica. - Foram os melhores anos da minha vida.


Arabella acordou Sarah logo cedo de manhã. Ela sentou na cama e a amiga lhe estendeu um envelope.

- Carta do Dumbledore, achei que você gostaria de ler - falou, tirando um pergaminho de dentro dele.

Sarah apanhou o pergaminho e se recostou na cabeceira da cama.

"Cara Arabella,

Venho por meio desta cumprir o prometido e lhe avisar de qualquer acontecimento anormal na Escola. Ontem à noite, após o banquete do Dia das Bruxas, os alunos da Grifinória foram impossibilitados de retornar à sua casa porque a Mulher Gorda havia fugido. Acabei de interrogá-la e ela contou que foi atacada por Sirius Black. Ao que tudo indica, ela se recusou terminantemente a deixa-lo entrar na Torre e ele a despedaçou em tiras com uma faca.

Revistamos todo o castelo, e nenhum vestígio dele. Se você tiver qualquer pista, por favor, comunique-me. A segurança do Harry está me jogo.

Cordialmente,

Alvo Dumbledore"

Sarah releu a carta, o coração aos pulos.

- Sarah, você sabe como ele entrou, não sabe? - Arabella disse.

- Você também sabe - ela disse com um que de desafio na voz.

- Não precisa me olhar deste jeito. Não vou contar nada a ninguém sobre Animagia, ou passagens secretas que ligam o Castelo Hogsmeade.

- Eu...

- Você sabe o que os guardas de Azkaban disseram, Sarah? Que ele falava durante o sono. E o que ele dizia? Ele dizia "ele está em Hogwarts... Ele está em Hogwarts". Sarah, eu não tenho dúvidas de que ele foi atrás do Harry.

- O que você sugere, então? - Sarah falou agora com um grave tom de desafio.

- Sugiro que você vá até lá, ou que você converse com Lupin. Tentem encontrar o Sirius e convençam-no a se entregar.

- Isso é um disparate, Arabella, eu não vou denunciá-lo.

- Então não me resta outra alternativa - ela disse se levantando.

- O que você vai fazer? - Sarah se descobriu e correu atrás da outra.

- Vou escrever a Dumbledore e dizer que você está indo visitá-lo.


A visita foi marcada para dali a duas semanas, no sábado. Ela não sabia o que diria ao diretor. Pensou qual dos segredos que sabia era o menos perigoso de se contar. Chovia muito quando Sarah desceu do trem na Estação de Hogsmeade. Hagrid a esperava com um enorme guarda-chuva preto.

- Olá, Sarah... - ele a cumprimentou cordialmente.

- Ola, Hagrid, há quanto tempo! - ela abraçou o gigante.

- Está aqui para a partida de quadribol? - ele perguntou enquanto a conduzia até uma carruagem no pátio da estação.

- Não, vim conversar com Dumbledore - ela franziu a testa. - Espere um pouco... Hoje tem jogo de Quadribol?

- Tem sim, pensei que você tinha vindo ver o Harry voar.

- O Harry joga hoje! - ela exclamou excitada. - Mas isso é maravilhoso!

- É sim, o menino voa muito bem - comentou Hagrid, ajudando-a a subir.

- Não sabia que hoje tinha jogo.

- Tem. Deve começar dentro de uma hora. Você vai poder assistir.

A carruagem sem cavalos foi se movendo, e logo eles puderam ver os contornos do imponente castelo.

Os dois chegaram à Escola. Vários alunos já se dirigiam para o estádio, as cabeças curvadas e os guarda-chuvas sendo levados pela ferocidade do vento. Mal puseram os pés no Saguão de Entrada e se bateram com Dumbledore.

- Ah, Sarah, há quanto tempo! - disse o velho bruxo abraçando-a. - Poderemos conversar depois da partida?

- Claro, Professor - Sarah disse sorrindo.

- Então vou deixar-lhe aos cuidados de Hagrid - e se virou para o outro. - Depois do jogo leve-a à minha sala.

- Sim senhor, Prof. Dumbledore.

- Vão indo na frente, preciso falar uma coisa com a professora Minerva.

O diretor se afastou e Hagrid levou Sarah até o campo, acomodando-a em uma das fileiras para professores, no alto das arquibancadas.

- Onde está o Prof. Lupin? - Sarah perguntou a Hagrid depois de algum tempo.

- Creio que ele não esteja se sentindo bem. Ontem ele não deu aulas.

Sarah lembrou-se o porquê.

- Olhe, vai começar! - Hagrid apontou quatorze pontos entrando no campo, sete vermelhos e sete amarelos.

Sarah apertou os olhos tentando localizar Harry, mas estava impossível. Um apito distante soou e todos os jogadores puseram-se a voar pelo campo. Foi quando um garoto encharcado e de óculos passou pela arquibancada que Sarah reconheceu Harry. Daí, ficou a segui-lo com os olhos enquanto ele voava pelo campo. Ele parecia não estar enxergando, e duas vezes quase foi derrubado por um balaço.

- O que está acontecendo? - ela perguntou a Hagrid quando todos os pontos vermelhos voltaram ao som de um apito pontuado por um forte relâmpago.

- Acho que o capitão pediu tempo - ele disse sem certeza.

Os jogadores juntaram-se embaixo de um guarda-chuva, aparentemente discutindo alguma coisa. Uma garota correu ao encontro deles.

- Hermione Granger, aquela - Hagrid comentou -, amiga de Harry.

Hermione ficou algum tempo junto ao grupo e se dispersou junto com eles. Não importa a contribuição que ela tenha dado, o fato é que agora Harry voava muito, muito melhor.

Um novo relâmpago iluminou o campo e o olhar de Sarah se desviou de Harry para a última fileira de cadeiras vazias do outro lado do campo. Havia um enorme cão negro imóvel na arquibancada. Sarah olhou aflita para Harry e quando retornou à visão, o cão havia desaparecido.

- Olhe! - Hagrid apontou desviando a atenção de Sarah. - Ele viu o pomo!

Sarah olhou para Harry, mas uma sensação de tristeza se abateu sobre ela. Um tremor de frio percorreu sua espinha e ela olhou para o chão. Cerca de cem dementadores invadiam o estádio. Ela apanhou a varinha. Será que se lembrava de como produzir um Patrono?

- O HARRY! - a voz grave de Hagrid gritou sobressaindo-se a todos os milhares de gritos do estádio. Harry estava caindo.

Ao lado de Sarah, Dumbledore apontou a varinha e o menino desacelerou até cair de leve no chão mole. Nisso, o diretor já havia corrido para o campo e apontado a varinha para os dementadores. Uma enorme Fênix prateada saiu de sua varinha e dissipou os guardas.

Sarah a essa altura já estava correndo com metade dos espectadores para junto de Harry. Dumbledore estava em pé ao lado dele. Conjurou uma padiola e pôs o garoto deitado.

- Eu disse ao Cornélio que seria uma péssima idéia colocar dementadores à porta de Hogwarts! - disse ele em altos brandos assustando alguns alunos à sua volta. - Eu os proibi de entrarem nos terrenos da escola, mas aquelas criaturas nefastas não obedecem ninguém! - ele fez a padiola flutuar à sua frente enquanto se dirigia para o castelo, seguido de inúmeros alunos, entre eles, todo o time, Hermione e um garoto ruivo à frente.

Sarah fez menção de acompanhar o cortejo, mas foi detida por Hagrid.

- Creio que não seja uma boa idéia, Sarah... - ele murmurou.

- Mas eu...

- O diretor irá falar com você mais tarde... - ele disse.

- Então... Irei dar uma volta... - ela olhou para os lados em busca de alguma pista do cão.

- Só não fique à vista. Perguntas sobre sua presença seriam... Hum... - ele disse embaraçado.

- Eu entendi, Hagrid - ela falou. - Podemos sair da chuva agora?

- Ah, claro - falou o gigante abrindo um guarda-chuva.


Remo estava deitado em sua cama quando ouviu batidas na porta.

"Severo com a poção", pensou.

- Entre - disse, recostando-se nos travesseiros.

- Sentiu minha falta? - uma cabeça loira apareceu à porta.

- Sarah?! - ele franziu o rosto. - O que você faz aqui?

- Nossa - ela entrou e fechou a porta -, pensei que ficaria feliz em me ver.

- Eu estou... Mas... Surpreso também...

- Tudo bem, não precisa ficar tão surpreso... A visita não era para você - ela disse sorrindo.

- Ah, muito obrigado então... - ele sorriu também.

- Eu vim ver Dumbledore. Você soube do jogo?

- Não... Quem ganhou?

- Corvinal. Mas...

- Mas o quê? Sarah, não gostei do seu tom, o que houve? - ele se sentou na cama.

- Dementadores invadiram o estádio. O Harry caiu da vassoura.

- Ele está bem?

- Não sei, Hagrid não me deixou vê-lo.

- Os dementadores o afetam.

- Afetam a todos.

- A ele mais que os outros. Eu vim para cá no Expresso de Hogwarts, junto com todos os alunos. Coincidentemente, fiquei na mesma cabine que Harry e seus amigos. Um dementador entrou no trem pouco antes de chegarmos à estação, e o Harry desmaiou.

- Coitado... - disse Sarah, sentando-se na beirada da cama.

- Deve ter sido por isso que ele caiu da vassoura.

- Mas por que eu eles o afetam?

- Não tenho certeza. Lembranças dolorosas de um passado sofrido, eu creio.

- Então eu devia ter desmaiado também. Tenho várias lembranças dolorosas de um passado sofrido.

- Sarah... - Remo tomou-lhe as mãos.

- Ele estava lá, hoje - ela disse com os olhos rasos d'água.

- No jogo?

- Sim, eu o vi nas arquibancadas. Em forma de cão, é claro.

- Ele tentou entrar na Torre da Grifinória.

- Eu sei. Por isso vim aqui. Eu nunca acreditei que Sirius pudesse ser partidário de Voldemort, até que plantaram em mim a semente da dúvida... Eu soube que ele falava durante o sono "Ele está em Hogwarts"... Vim contar ao Dumbledore.

- Sobre... tudo?

- Sim. Animagia...

- Sarah, você não pode...

- Eu sei - ela rompeu no choro -, por que você acha que estou desse jeito?

- Ah, não Sarah... Não chore, sim... - Remo a abraçou.

- Kaham, Kaham - alguém pigarreou alto às suas costas.

Remo levantou o rosto e Sarah virou o seu.

- Desculpe, Remo, não sabia que estava com visita.

- Sem problema, Severo.

- Vim lhe trazer a poção. É a última dose - Snape lhe estendeu um cálice.

- Obrigado.

- Vou deixar aqui em cima, com licença - ele lançou uma ultima olhada em Sarah. Abriu a boca para falar alguma coisa a fechou novamente. Girou nos calcanhares e saiu.

- Acha que ele me reconheceu? - ela perguntou.

- Não seria difícil. Você não mudou muita coisa ao longo desses anos.

- Tomara... - ela disse.

Os dois ficaram se olhando, até que ouviram batidas na porta.

- Pode entrar - disse Remo desviando os olhos de Sarah para a porta.

- Boa Tarde, professor... - a enorme cabeça de Hagrid apareceu à porta.

- Olá, Hagrid - ele cumprimentou.

- O senhor está melhor?

- Estou sim, obrigado.

- Desculpem... Eu vim buscar a menina Sarah... Professor Dumbledore deseja falar com ela agora... - ele disse sem jeito.

- Vou em um minuto, Hagrid - Sarah falou se levantando.

- Estou esperando aqui fora, com licença - ele disse fechando a porta.

Remo deu uma gargalhada.

- O que foi? - ela perguntou intrigada.

- Pequena... Não disse que você era uma criança grande?

- Há... Há... Há... - ela fez em tom de deboche. - Já vi que você está ótimo já, deixe-me ir falar com o diretor - e fez uma pausa olhando para o cálice antes de perguntar. - Ele está tentando te envenenar?

- Não, Sarah. Aquilo é uma Poção Mata-Cão. Para que eu fique lúcido durante o meu período perigoso... Ou você achou que eu estava atuando novamente na Casa dos Gritos?

- Eu sei lá... Estou há tanto tempo sem contato com o mundo mágico que perdi totalmente as últimas inovações... Mas, que bom que você hoje já pode contar com recursos assim... Eu ficava de coração partido toda lua cheia.

- É... Mas acho bom a senhorita ir logo - Remo percebeu que ela estava tentando ganhar tempo.

- Já vou...

- Sarah... - ele chamou quando ela estava saindo. Ela se virou depois de abrir a porta. - Apesar de tudo o que eu penso... Cuidado com o que você vai falar...

- Pode deixar... - ela sorriu tristemente e saiu fechando a porta atrás de si.


Mal Sarah e Hagrid viraram a esquina do corredor que levava à sala do diretor e viram o próprio saindo apressado de lá.

- Sarah... - ele disse quando chegou perto. - Mil desculpas, meu bem, mas eu não poderei conversar com você agora. Preciso ir ao Ministério conversar com Fudge... Esses dementadores...

- Tudo bem diretor... Eu... Ãh... Espero...

- Não... Posso demorar. Você se importaria de marcar esta visita para outro dia?

- Não! Claro que não - ela se apressou em dizer.

- Otimo. Então...

- Como está o Harry, professor? - Hagrid perguntou o que Sarah ansiava em saber.

- Está bem. Creio que acordará em instantes. Não foi nada mais que um susto - ele inspirou fundo. - O menino vai ficar arrasado...

- Porque perdeu? - Sarah completou.

- Não. Por causa da vassoura dele. Foi esmigalhada pelo Salgueiro Lutador.

- Ah, coitadinho... - Sarah suspirou.

- Bem, agora, deixe-me ir andando... - ele apertou a mão de Sarah e se virou para Hagrid. - Você a deixa na estação?

- Claro, professor.

- Então, com licença. Até logo, Sarah.