Capítulo Oito - Reencontro Providencial
N/A: Este capítulo traz uma nova personagem, que incorpora duas pessoas muito importantes na minha vida. Duas pessoas que, aturando todos os meus momentos de mau humor, conseguem me fazer rir, e ligam do outro lado do país pra me dar colo sempre que eu preciso. Lú e Pichi, obrigada por vocês existirem!!!
Já estava noite fechada quando Sarah parou o carro na frente do portão da garagem de seu edifício. O porteiro o abriu e ela quase bateu no carro que estava saindo.
- Hei! - ela gritou colocando a cabeça para fora do vidro. - Devagar!
- Me desculpe... - uma moça de cabelos negros desceu o vidro. - Sarah?
- Eve!! - Sarah exclamou, descendo do carro. A outra fez o mesmo. - Pensei que você estava em Boston! Quando você chegou? - disse, abraçando-a.
- Ontem à noite. Minha irmã me chamou para ir ficar com ela mas eu preferi vir para meu apartamento. Demorei arrumando algumas coisas, você não sabe que bagunça está lá em cima - Sarah riu. - Voltei para cá... - Eve disse, soltando-se. - Me separei do Williams. Você tinha razão. Nós não combinávamos mesmo.
- Está vendo só? - Sarah riu. - Eu sempre tenho razão. Mas aonde ia com tanta pressa?
- Ia ao supermercado. Estou morrendo de fome e não tem sequer um biscoito velho na despensa! Pedi uma pizza no almoço mas eu não posso viver de pizza não é?
- Então jante comigo. Eu ainda não comi. Aí você pode me contar as novidades.
- Incrível, tem três anos que eu fui embora e você não mudou absolutamente nada... - disse Eve, cortando tomates para o molho do macarrão. - Até a sua cozinha continua a mesma!
- Bom... Minha vida não é do tipo que muda com constância - ela respondeu, levantando tampa da panela para ver se a água já havia fervido. - Me passa o sal por favor?
- A minha virou de cabeça para baixo... - ela estendeu um pote à amiga. - Aqui.
- Obrigado. Mas, por que essa separação repentina?
- Ah, Sarah, você sabe que eu me canso da rotina... E o meu casamento ESTAVA virando uma rotina...
- E o que você queria? Casamento é assim mesmo... Você precisa se esforçar pra não deixá-lo cair no comum. E logo vocês dois, que eram tão apaixonados...
- Paixão apenas não segura uma relação, querida... Não era o que eu queria... Eu queria viver uma coisa diferente... Algo que eu nunca esperaria, nunca sonharia... O Will era muito... previsível...
- Tipo o quê? O que você imagina? - Sarah perguntou, agora colocando o macarrão na panela.
- Não sei... Isso mesmo... Algo... Inimaginável... Eu queria viver com alguém totalmente diferente de tudo que eu já experimentei na vida... Alguém que me completasse.
Sarah riu.
- Mas... E você? Nada nesses últimos três anos? Nenhum novo homem em sua vida?? - ela perguntou, jogando os tomates picados na panela do molho.
- Não... - Sarah respondeu triste. - Mas...
- Mas... - Eve largou a faca em cima da pia e se aproximou da amiga. - Diga, mas o quê?
- Eve - Sarah respirou fundo -, você se lembra da minha história, não se lembra?
- Do seu marido, ou melhor, seu ex-marido, que foi preso e terminou o casamento de vocês antes de ser condenado... Sim, eu me lembro. Que tem isso?
- Bom... - Sarah fez uma pausa. - Ele...
- Foi solto?
- Não. Ele fugiu.
- Como? Você não me disse que era uma prisão de segurança máxima, que nem você poderia visitar?
- Disse. E é verdade. Mas ele conseguiu escapar, eu não tenho idéia como.
- E isso te deixou perturbada.
- Não... Quero dizer, isso sim... Também...
- Sarah, pare de enrolar e me fale logo o que aconteceu! - Eve a segurou pelos ombros.- Ou eu vou acabar tendo um filho colorido aqui!
- Ele me procurou.
- Ele teve coragem?- Eve exclamou, indignada. - Mas que cara de pau! E o que você fez? Você chamou a polícia, não chamou?
- Eu não podia entregá-lo, Eve!
- Ah, queridinha,eu teria ligado na hora pro 911 e feito um escândalo! Depois de tudo que você sofreu por causa daquele lá, depois de abortar e...
- Ele não sabe, Eve. - Sarah a cortou. - Ele não sabe que eu perdi um filho...
- Você não contou?
- Como eu ira contar? Primeiro eu não queria mais vê-lo na minha frente, e mesmo que eu quisesse não teria como.
- Você não contou pra ele na hora em que vocês se encontraram?
- Não deu tempo!
- Não... - Eve formou um sorriso malicioso nos lábios - Ah... Entendi....
- Não é isso, sua doida! Nós brigamos!
- Menos mal... Você rachou a cabeça dele com um vaso?
- Eu tentei...
- Pelos menos os cinco anos de convivência comigo te ensinaram alguma coisa.
- É... Eu me lembro das suas brigas com o Will... No dia seguinte não havia móvel ou louça que não estivesse em cacos. Aliás, com o Will, com o Joe, com o Paul...
- Pois é - a expressão de Eve desanuviou. - Ah, amiga, isso deve ter sido horrível para você...
- Foi... - ela soluçou. - Muito...
- Oh, Sarah... - Eve a abraçou.
- Foi horrível! Eu não sabia se o matava... Ou se o abraçava... - Sarah caiu no choro. - Ele me beijou. Eu fiquei sufocada quando o vi caído à minha porta... Eu o coloquei dentro de casa, com uma ansiedade pra vê-lo acordado... E ele me beijou... Eu joguei o vaso nele... Ele me beijou, Eve! Meu peito parecia que ia explodir!
- Ele te beijou três vezes?
- Não! Uma só... Ele me pegou à força... Eu não revidei. Eu o forcei a me largar.
- Você deu na cara dele?
- Sim, bati... Eve! - Sarah riu.
- Não fique assim, amiga... Tem uma frase que a minha avó falava muito... "Tudo vai passar". Vai passar... Você já superou barras muito piores que essa.
- Eu sei melhor que ninguém que passa. Mas deixa marcas - respondeu, enxugando algumas lágrimas.
- Mas fique calma. Agora eu estou aqui. Foi um momento bastante propício para eu voltar, não é?
- Foi - ela riu -, foi sim. Eu até já havia me esquecido de como você me tirava do poço fazendo-me dar risadas.
- Olha! - Eve apontou para a panela. - O macarrão vai queimar!
- Realmente, Eve Blackwell, você é uma negação na cozinha... - Sarah suspendeu o garfo, deixando cair um pouco de fios agarrados. - Esse macarrão está uma papa!
- Hei! Quem fez o macarrão foi...?
- Eu! Mas quem estava na cozinha me atrapalhando foi...?
- Atrapalhando? Ok, gracinha, da próxima vez eu vou deixar você chorar no travesseiro.
- Não deixa nada! Você esqueceu de quantas vezes você fugia do Williams e vinha correndo chorar comigo? Agora é minha vez! - disse, em tom de zombaria.
- Eu sei amiga, eu estou brincando... Você sabe que eu nunca te abandonaria. Foi meu sexto sentido que me mandou de volta.
- Muito obrigada. Eu agradeço por ter três maravilhosos amigos nesta vida.
- Três? Além de mim e daquele cara que vinha aqui toda semana, e por incrível que pareça eu nunca conheci, quem mais?
- Você não a conhece. Eu a reencontrei outro dia, depois de onze anos. Ela foi minha amiga em Hog... - Sarah tossiu. - No Internato.
- Você teve vários amigos no internato, que eu sei.
- Ela estava estes anos todos aqui ao lado, na Rua dos Alfaneiros, você acredita?
- Acredito, mas vamos mudar de assunto. Estou aqui para contar as minhas novidades.
- Conte... Sou toda ouvidos...
Duas semanas antes do natal, Sarah recebeu uma coruja. Já estava saindo de casa para dar aulas, toda atrasada, uma pilha de livros na mão, quando a ave entrou pela janela da cozinha e pousou na cadeira.
Sarah estranhou. Não lhe era familiar. Nunca havia recebido uma carta com esta antes. Colocou os livros sobre a mesa e apanhou o pergaminho amarrado à ela. No mesmo instante a coruja bateu as grandes asas, indicando que esperaria a resposta.
Era um papel um tanto sujo e não continha remetente. Junto com ele havia um formulário de pedidos. Sarah abriu o primeiro devagar. Não estava assinado. E nem precisava. Era um bilhete de Sirius. Curto e grosso.
"A vassoura do Harry quebrou naquele jogo. Estou te enviando o formulário do "Reembolso Coruja" já preenchido. Você só precisa retirar o dinheiro da conta e pagar. Mande no Natal, sem bilhete, sem carta, sem nada. Faça isso pelo garoto."
Sarah amassou o bilhete e o rasgou. "É claro que vou fazer pelo garoto ou você pensou que eu faria por você?", ela pensou enquanto despedaçava o pergaminho.
Depois de reduzir o bilhete a milímetros desdobrou o formulário e leu com atenção. Pedia a entrega de uma vassoura modelo Firebolt no endereço da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts datado para o dia 25 de Dezembro.
Ela não pôde deixar de arregalar os olhos ao ver o preço. Teria que trocar três salários seus de professora para poder comprar uma vassoura daquelas. A sorte é que desde que optara pelo modo de vida trouxa seu salário a permitia viver sem precisar mexer no dinheiro em Gringotes. Com o passar dos anos, o dinheiro foi esquecido e rendeu. Não podia negar que tinham uma conta razoável no banco, por isso aquela quantia não iria lhe fazer falta.
Assinou o formulário autorizando a retirada do dinheiro e enviou pela coruja. Ficou muito tempo olhando o ponto no céu em que a ave havia desaparecido até se lembrar que estava atrasada.
Aquele Natal seria particularmente especial para Sarah. Convidou Arabella para passá-lo em sua casa e avisou tanto a ela quanto a Eve que seriam apresentadas uma à outra.
Abriu a segunda caixa de bolas coloridas para colocar na árvore e tirou de lá uma estrela. Era uma linda estrela dourada que havia comprado em Hogsmeade ainda do sétimo ano.
"Olha só, Sarah", Sirius parou em frente a uma loja de artigos importados "Que estrela linda".
"É sim", ela parou ao lado dele.
"Vamos comprá-la", falou, puxando-a pela mão para dentro da loja.
"Para que nós vamos comprar isso agora?"
"Para a nossa árvore de Natal, ué! Toda árvore de Natal precisa ter uma estrela".
Aquela estrela havia sido uma das poucas coisas que Sarah não havia dado fim. Seria um desperdício. A estrela só era colocada no dia de Natal, Sirius o fazia sempre antes da ceia.
- Alô? Você está aí? - Sarah piscou e viu Eve parada, balançando a mão na frente de seu rosto.
- Ah, oi. - ela sorriu - Eu estava...
- Pensando...
- É.
- Bom, a porta estava entreaberta por isso entrei. Vim trazer o manjar para colocar na sua geladeira, a minha pifou.
- Fique à vontade - ela colocou a estrela de novo dentro da caixa. - Eu ainda tenho que comprar algumas coisas para o jantar.
- Eu vou com você - e mirou a árvore de cima à baixo. - Sua árvore está linda, Sarah.
- Obrigada - a outra sorriu.
- Mas falta a estrela.
- Esta aqui - Sarah apontou a caixa sobre o sofá. - Só colocarei mais tarde.
- Que bom que você veio! - Sarah acabara de abrir a porta e estava abraçando Arabella. - E que bom que você veio sem disfarce - sussurrou e piscou para a amiga.
- É... Ia ficar um tanto esquisito eu ter sido sua colega no "Internato" e ser quase 30 anos mais velha. Mas você não sabe o trabalho que me deu vir até aqui... Hum... Jovem... - as duas riram.
- Aqui está o peru - Arabella estendeu-lhe uma bandeja coberta. - E aqui os presentes.
- Certo - Sarah tirou alguns pacotes da sacola e colocou debaixo da árvore, tomando depois a bandeja.
- Onde está a sua amiga? - Arabella perguntou enquanto ia até a cozinha.
- Foi ao apartamento dela se arrumar. Ela estava aqui até agora há pouco, me ajudando.
- Ah...
- Daqui a pouco ela chega.
- Sarah? - Eve chamou, entrando no apartamento. - Você está ai?
- Aqui na cozinha - ela falou em resposta e Eve apareceu à porta. - Eve, esta é a Arabella - Sarah indicou a amiga com a mão.
- Muito prazer - Arabella cumprimentou Eve com um abraço. - Desde que você voltou dos Estados Unidos Sarah não fala em outra coisa.
- Desde que eu voltei de Boston Sarah não me fala em outra coisa também.
- Bem, eu queria convidar as duas para a ceia mas antes vamos até a sala que eu tenho que manter uma tradição...
Arabella e Eve se entreolharam e seguiram Sarah. Ela pegou uma caixa no chão e tirou de lá uma estrela.
Já passava da meia noite quando Arabella se levantou, ainda rindo.
- Você já vai? - Sarah perguntou.
- Sim... Eu...
- Ah, está cedo - falou Eve.
- É, Bella, fique um pouco mais.
- Esta bem, mas eu preciso ir para casa - disse, frisando bem estas últimas palavras enquanto olhava para Sarah.
- Então sente. Você quer um pouco mais de vinho? - Eve ofereceu, enchendo uma taça.
- Eu já tomei demais... - Arabella disse, rindo.
- De que nós estávamos falando mesmo? - Eve entregou a taça a Arabella.
- Estávamos falando mal do Williams... - disse Sarah, apertando uma das têmporas.
- Pois é... Vocês imaginam que nem pra me dar um filho o desgraçado prestava?
- Isso você não me contou - falou Sarah.
- Não? Pois ele era estéril, meu bem... Eu fiz mil exames pensando que era comigo e depois eu descobri que o problema era todo dele.
A frase de Eve foi cortada por batidas na porta da frente. As três prenderam a respiração e Sarah se levantou para abrir.
- Sarah - Arabella a segurou pela mão. - Pode ser algum ladrão!
- Ladrões não batem à porta, Bella... - disse, soltando-se e indo até lá. - Fiquem aqui. Eu já volto. Deve ser o porteiro.
Sarah andou devagar até a porta. Por um momento pensou que fosse Sirius. Não. Ele não seria maluco a esse ponto. Ou seria? E foi com o coração aos pulos que destrancou a chave e girou a maçaneta. Não pôde deixar de soltar um grito quando viu quem era.
- Feliz Natal - disse Remo, abrindo os braços.
- Ah, Remo! - ela se pendurou nele. - Que saudades!
- Por isso vim fazer uma surpresa - ele retribuiu o abraço. - Não sabia ao certo se você estaria aqui ou não, mas me aventurei do mesmo jeito. Você está passando a noite de Natal sozinha?
- Não - ela se soltou. - Tenho duas amigas aqui. Uma delas trouxa, ainda bem que você não aparatou - ela sussurrou em seu ouvido.
- Uma delas? - ele falou baixinho. - Quer dizer que você está com um bruxo aqui? Não é o...
- Não. É uma mulher. Não sei se você irá gostar de vê-la...
- Sarah? - Eve apareceu na sala e parou ao ver Remo.
- Ah, bem... - Sarah olhou para Eve e depois para Remo. Não pôde deixar de notar como Remo ficara atônito. Não era para menos. Eve era uma mulher muito bonita, cabelos pretos escorridos e olhos pretos, sem contar seu corpo esbelto elegantemente vestido àquela noite. - Eve, este é o meu amigo que veio aqui durante anos e vocês nunca tiveram a oportunidade de se encontrarem.
- Muito Remo, meu nome é prazer... Digo, muito prazer, Remo Lupin - ele corrigiu, desconcertado.
- O prazer é todo meu - Eve sorriu -, Eve Blackwell.
- Não sei se você se recorda, Remo. Eu já falei dela para você.
- Ah sim, eu me lembro - ele disse sem tirar os olhos dela. - Foi você quem havia se mudado para os Estados Unidos?
- Sim, fui eu mesma.
- Ninguém me chama, não? - Arabella disse, chegando à sala. Parou de sorrir quando seu olhar cruzou com o de Remo. Sarah lançou um olhar significativo a Eve e esta ergueu as sobrancelhas. - Olá, Remo - disse secamente.
- Como vai, Arabella... Não esperava encontrá-la aqui.
- Nem eu - ela retrucou. Depois olhou para Sarah e sorriu. - Bom, Sarah, foi uma noite excelente, mas eu realmente preciso ir.
- Bella... - Sarah segurou o braço da amiga. - Por favor...
- Você sabe que eu já estava de saída, Sarah, não se preocupe - e se virou para Eve. - Foi um prazer enorme conhecê-la, Eve, você é uma pessoa encantadora.
- Obrigada, Arabella. Apareça mais vezes.
- Se assim me convidarem... - ela sorriu e olhou para Sarah.
- Você sabe que não precisa de convite - Sarah a repreendeu.
- Eu sei. Eu ah... Ligo no meio da semana.
- Vou esperar sua ligação - disse Sarah.
- Foi... Hum... Interessante, revê-lo, Remo - Arabella disse cinicamente.
- Pena não poder dizer o mesmo - ele falou, encarando-a. Eve colocou a mão na frente da boca para não soltar uma gargalhada e Sarah desviou o olhar para o chão.
- Adeus, meninas - ela falou, ignorando o comentário, e saiu, fechando a porta atrás de si.
- Meu Deus - Eve falou. - O que deu nela?
- Depois eu te explico... - Sarah falou entre os dentes.
