Capítulo 4
O Desenlace da Prank

Julia corria pelos corredores, esbaforida, cheia de pressa para chegar à sala de Estudo das Runas, onde encontraria Lily. Tinham ficado de se encontrar ali às 17h, mas ela atrasara-se mais do que o previsto, pois parara em frente a uma armadura para dar um jeito ao cabelo, que parecia ter vida própria.

Estava ansiosa por aquele momento desde a hora anterior, desde que Lily lhe prometera que após as aulas iriam procurar Sirius. Passara a aula toda a sonhar, a pensar em Sirius, cheia de saudades do seu sorriso, do seu perfume, do seu cabelo... Daqueles olhos azuis lindos como o céu do melhor dia de Verão...

Perdida no mundo das nuvens, Julia caminhava pelo corredor, de olhar fixo no chão, carregada com os livros da aula anterior. Estava quase a chegar à sala quando, de repente, bateu bruscamente contra o corpo de outra pessoa.

Já era a segunda vez naquele dia mas, ao contrário daquela manhã, ninguém a segurou e ela desequilibrou-se, sentindo-se cair para trás ao mesmo tempo que tentava não deixar cair os livros.

Claro que tentar segurar-se e aos livros provou ser uma tarefa impossível e Julia acabou por cair de cu no chão, com os livros em cima dela. Folhas de pergaminho espalharam-se por todo o lado, o boião de tinta partira e manchara os cadernos que transportava na mochila, a pena estava partida em duas...

Julia olhava para aquilo tudo com um sentimento de impotência e desespero crescentes. Outrora ter-se-ia levantando e disparatado com o culpado de tudo aquilo mas naquele momento sentia-se à beira de um precipício, como se aquela tivesse sido a última gota a encher um copo já a transbordar. Os olhos brilhantes com as lágrimas que se esforçava por conter, vaguearam por toda aquela destruição, como se ela representasse a sua própria vida.

De repente, uma sombra abateu-se sobre ela fazendo-a aperceber-se, pela primeira vez, da presença da pessoa com quem chocara. O perfume com que sonhara durante as últimas aulas envolveu-a como dois braços que a rodeavam para a abraçar.

Com os olhos subitamente brilhantes, Julia abriu os lábios num sorriso o ouvir a voz que a deixava completamente extasiada.

— Estás bem? Não te magoaste? — Sirius tentava disfarçar o riso ao ver as figuras que aquela miúda Welling fazia por sua causa.

Julia levantou o olhar e mergulhou por completo naqueles olhos azuis, perdendo-se neles por momentos, entrando numa espécie de transe. Todo o seu corpo manifestava satisfação, euforia e, num único movimento, atirou-se para os braços do seu Deus, para grande espanto de Sirius, que se desequilibrou e caiu para trás, com Julia por cima dele.

Alguns alunos do 3º ano viraram naquele preciso momento a esquina e, ao verem aquele espectáculo, estacaram boquiabertos. Julia Welling abraçada e deitada sobre Sirius Black? Algo estava errado e, ou eles muito se enganavam, ou aquilo tratava-se de mais uma prank.

Refeito da surpresa, Sirius tentava agora não se rir ainda mais. O plano estava a correr às mil maravilhas, ainda melhor do que ele esperava. Aquele estava a ser o melhor dia da sua vida!

— Ui, ui... A gata está assanhada hoje... — sussurrou ao ouvido de Julia, que corou e escondeu a face no pescoço dele.

Sirius riu-se e, ao mesmo tempo que lhe passava as mãos pelas costas, num movimento carinhoso, levantou as costas do chão e sentou-se, ficando com ela sentada no seu colo. Os dois permaneceram parados durante segundos, rodeados de livros, pergaminhos e tinta, não conseguindo parar de olhar um para o outro.

— Cheiras tão bem, Siri... — suspirou Julia por fim, completamente apaixonada, quase com coraçõezinhos a saltarem-lhe dos olhos.

O corredor encheu-se de gargalhadas dos alunos que tinham ficado a assistir à cena. Tentado ele próprio conter o riso e ao mesmo tempo manter um sério, Sirius virou-se para eles, enxotando-os.

— Que foi? Nunca viram? Vá, toca a seguir caminho!

Eles olharam uns para os outros, indecisos entre ficar a ver a cena e levarem com a irritação de Sirius ou sair dali para fora e perder o que seria, sem dúvida, o momento do mês. Suspirando, decidiram não tentar a sorte e acabaram por se ir embora.

Quando se encontravam finalmente a sós, Sirius levantou a cabeça de Julia ternamente e parou uns momentos ao ver aqueles olhos, tão brilhantes, na sua direcção. No olhar dela podia ver todo o "amor" que ela sentia por ele e quando ela começou a fazer-lhe festinhas na face, com um sorriso enorme nos lábios, só lhe apeteceu que o tempo parasse, que aquilo não fosse efeito de um feitiço, mas sim a pura realidade.

Deixando-se levar por estes pensamentos, inclinou-se sobre a face de Julia, que fechou os olhos lentamente. Ele próprio lhe fez uma festinha na face, sorrindo ao ouvi-la ronronar baixinho. Continuava a abraçá-la com um braço, puxando-a para bem perto de si, gostando do contacto de ambos os corpos. Inclinou-se mais um pouco sobre Julia e os seus lábios estavam prestes a tocar os dela, quando, de repente, uma sombra enorme se abateu sobre ambos.

A única coisa que sentiu a seguir foi um par de braços a puxá-lo com uma força enorme e as costas a baterem contra a parede fria e dura. Quando abriu os olhos para ver quem era o desgraçado que ousava fazer-lhe semelhante coisa, só viu um punho fechado a dirigir-se à sua cara, atingindo-o em cheio no nariz com uma força brutal.

Sirius ouviu um estalo enorme e sentiu uma dor aguda, ao mesmo tempo que levava a mão ao nariz com lágrimas nos olhos, constatando que estava partido. Quando sentiu o sangue a escorrer como jactos de água pela cara abaixo e o viu empapar-se no manto meio aberto entrou em pânico, lágrimas de fúria a caírem-lhe pela face.

— Nunca mais te aproximes dela! Ouviste bem? Se lhe tocares mais uma única vez, nem imaginas o que te acontece! Dou cabo de ti! — a voz de Severus ecoou por todo o corredor. Não perdendo tempo, ele levantou o punho novamente, ainda tremendo de toda a raiva que sentia, para esmurrar Black novamente.

Julia, que ficara no chão com um ar meio aparvalhado e sem perceber muito bem o que tinha acontecido, levantou-se num salto, atirando-se para cima de Severus, apesar das tentativas frustradas de Morgan de a segurar.

— Mas que pensas tu que estás a fazer? Deixa-o em paz! Não tens o direito de te intrometer na minha vida! — e com isto pregou uma grande chapada na cara de Severus, que se viu obrigado a largar Sirius para se proteger dela.

Julia continuava a atacar Severus, puxando-lhe os cabelos, o manto, as orelhas, tudo o que via à frente. Estava possessa, não acreditava que tinha sido interrompida no melhor momento da sua vida!!! Sentia-se tão frustrada que só lhe apetecia matá-lo!

Sirius, esse, estava caído no chão a gemer cheio de dores e a resmungar entre dentes contra o seu agressor, que ia pagar bem caro. O sangue não estancava e o manto já estava ensopado, bem como a sua mão. Olhou em volta e viu Morgan mais afastada, com a mão sobre a boca, com um ar impotente e sem saber o que fazer.

Tanto Morgan como Severus tinham vindo a correr desde a Biblioteca para avisarem Lily de que os efeitos do feitiço pioravam drasticamente à medida que o tempo ia passando. Mas, ao chegarem perto da sala, depararam-se com aquela cena e, sem que Morgan tivesse tempo de fazer fosse o que fosse, já Severus tinha atacado Black. A única coisa que pôde fazer foi ir ter com Julia, para ver como ela estava.

Só que também Julia se atirou a Severus e agora estavam os três à pancada, a insultarem-se uns aos outros fortemente e ela estava assustada, sem saber como os separar, nem como sair daquela situação. Tomando uma decisão rápida, correu para os três, enquanto gritava por Lily, que se encontrava ali perto, à espera deles.

Afastou Severus de Black, pois sabia que ele se conseguia desembaraçar facilmente de Julia. Meteu-se entre eles os dois, fazendo um esforço por esquecer que quem estava a defender era Sirius Black, a última pessoa que ela ajudaria de livre vontade.

Ao ver Severus distraído a manter Julia quieta, virou-se para Black com um ar muito sério. Viu que o aspecto dele não era nada bom, apesar de continuar a resmungar contra tudo e todos.

Baixou-se ao nível dele e tirou-lhe a mão do nariz, tentando avaliar os estragos. Havia sangue por todo o lado e a mão dela ficou imediatamente ensopada naquele líquido vermelho. Ele olhou para ela, desconfiado das suas intenções e isso revoltou-a ainda mais.

O olhar de ambos cruzou-se e naquele momento toda a raiva que sentia por ele veio ao de cima. Não o iria ajudar, ele não merecia sequer que o tivesse protegido da fúria de Severus.

— Espero que isto te sirva de lição, Black... — praguejou entre dentes, numa tentativa de esconder o ódio profundo que sentia por ele.

De repente ouviram-se passos apressados no corredor e Lily surgiu, com toda a sua preocupação estampada no rosto e respiração ainda ofegante. Atrás dela vinha Potter, que parou em frente da cena, petrificado com a visão do melhor amigo coberto de sangue dos pés à cabeça. Ambos tinham tido aulas juntos e provavelmente tinham estado sozinhos à espera dos amigos.

Severus parecia finalmente ter tomado conta da situação, deixando Julia no chão, toda despenteada e esbaforida. A roupa de ambos estava num tal estado de desordem que pareciam acabados de sair de uma viagem em Pó de Floo bastante atribulada.

Severus virou-se novamente para Sirius, encontrando Morgan na sua frente. Com um gesto brusco, tentou afastá-la, mas ela permaneceu no mesmo sítio, tentando convencer-se que aquilo era o mais acertado a fazer.

— Sai-me da frente, Morgan... — sussurrou ele, numa voz que meteria medo a muita boa gente. Mas não a ela.

Morgan cruzou os braços, demonstrando nitidamente qual a sua opinião em relação àquele assunto. Não deixava transparecer o seu medo interior perante a reacção de Severus, que podia ficar ainda mais furioso e depois quem apanharia seria ela.

Lily, que ao chegar ao corredor parara especada e de olhos muito abertos, agiu rapidamente ao ver Julia levantar-se, com uma força renovada, para atacar Severus. Segurou-a com toda a sua força, mantendo-a afastada dos outros dois, que pareciam gatos de pêlo eriçado.

James pareceu cair em si e correu para Sirius, tentando aliviar os estragos. Aliviado por constatar que se tratava apenas de um nariz partido, ajudou-o a levantar-se, antes que arranjassem mais problemas. Mas Sirius parecia ter recuperado as forças ao ver o grande amigo de infância e, mal se levantou, atirou-se contra Severus, levando Morgan pelo caminho.

— Pensas que tenho medo de ti?? Hum?? Não tenho!! Anda cá, que vês o que te acontece!! — Sirius lançou um grito de guerra, sem pensar nas consequências graves que aquilo poderia trazer.

Naquele momento, Remus virou a esquina, já de varinha na mão. Tinha ouvido os gritos deles a alguns corredores de distância e viera o mais rapidamente possível. Ao ver Sirius coberto de sangue percebeu logo que alguém do outro grupo já se encarregara de ajustar contas. Mas o que mais o surpreendeu foi ver Welling, aquela dos Slytherin, a afastar Snape de Sirius, enquanto James se encarregava deste último.

— Por Merlin!! Mas que raio de circo é este?? — gritou, já a passar-se com aquilo tudo.

Ninguém lhe respondeu e, como se estivessem todos combinados, três gritos soaram, lançando um feitiço aos três causadores daquela confusão toda.

Stupefy!

Stupefy!

Stupefy!

Julia caiu no chão, feita estátua, atingida pelo feitiço de Lily. Severus, que fora apanhado desprevenido por Morgan, ficara na mesma com aquele ar feroz, de quem está pronto para atacar e, mesmo inofensivo agora, continuava a meter medo ao susto. Sirius, a varinha de James ainda apontada na sua direcção, parara de boca aberta, a gritar para Snape, e o sangue estancara finalmente.

— Exibicionistas... — sussurrou Remus, enquanto olhava para a varinha, com um ar infeliz.

Lily olhou em volta, subitamente nervosa. Tinham de se esconder o mais rápido possível, antes que fossem apanhados por alguém. Usar magia fora das aulas era proibido e o castigo devia ser horrível. Só de pensar que teria de confrontar Filch ficava maldisposta.

Fazendo um sinal a Morgan, ambas as raparigas começaram a arrastar Julia e Severus para dentro de uma sala vazia, sendo seguidas por James, que carregava um estático Sirius. Remus encarregou-se de apanhar os livros, cadernos e pergaminhos do corredor, arrumando tudo na mochila de Julia e limpando todos os vestígios da presença deles do corredor. Depois, entrou também ele na sala, onde os outros o aguardavam. Mal a porta se fechou, as perguntas choveram de todos os lados.

— Que raio se passou?

— Que aconteceu ao Sirius?

— Porque estava a Julia a atacar o Severus?

Morgan pôs um fim àquilo, com um "Silêncio!". De seguida, começou a contar o que tinha visto mal chegara ao corredor até ao momento em que Remus aparecera.

— E ainda não aconteceu o pior! Isto não foi nada comparado com o que pode acontecer se não arranjarmos maneira de Julia ficar parada durante as próximas... — Morgan olhou para o relógio, de modo a confirmar as horas. — ...6 horas e 30 minutos.

Lily andava de um lado para o outro, completamente apavorada. Este dia estava-se a tornar um pesadelo, só hoje já tinha infringido mais regras que em toda a sua vida. E olhar para a cara de Potter, tão calmo, encostado à parede, ainda a fazia sentir pior.

— E o que é que vai acontecer a seguir? — perguntou James, numa voz relaxada, apesar do tom de preocupação.

— Bem... — Morgan começou a andar pela sala, a enrolar o cabelo nos dedos, uma mania que tinha quando estava nervosa. — Eu e o Severus fomos à Biblioteca saber mais detalhadamente quais os efeitos, primários e secundários, do Feitiço de Atracção. Digamos que o que vimos não nos agradou nem um bocadinho. É um feitiço que aumenta a produção de hormonas sexuais, de tal modo que ao fim das 12 horas de duração, a vítima pode ter feito o possível e o impossível para atingir a satisfação.

Enquanto dizia isto, Morgan tentava evitar olhar para os outros, sentindo-se corar.

— O problema disto tudo é que o feitiço só é recomendado para adultos. Estão a imaginar, um adolescente já tem as hormonas sempre no auge, com este feitiço... Os efeitos vão ser piores.

— Mas... e contra-feitiço? Poção? Não havia nada para combater o feitiço? — perguntou Remus, torcendo as mãos, em estado nervoso.

— Esse é outro dos problemas. O feitiço é non-reversus, o que quer dizer que não há hipótese de pôr fim a isto tudo. Só que eu e o Severus conseguimos pensar em algo que talvez resulte. É uma forma de atenuar os efeitos. Vínhamos agora mesmo ter com a Lily para lhe pedirmos para manter Julia fora do alcance de Sirius ou mesmo fechada num quarto, quando nos deparamos com aquele espectáculo.

— Argh! Eu sabia que isto não ia dar certo... — suspirou Remus, desesperado.

— Ah! Então tu sabias! E não disseste nada! — gritou Lily, já a passar-se.

Gerou-se novamente mais confusão enquanto Remus se tentava defender do ataque verbal de Lily e esta só disparatava por tudo e por nada, quase a entrar em estado de hiper nervosismo.

— Calou tudo! Irra, mas que palhaçada! — gritou James, pondo um ponto final na discussão. — Eu digo-vos o que vamos fazer. Evans, tu levas a Welling para o dormitório e não a deixas sair de lá! E só tiras o feitiço quando a porta estiver bem trancada. Welling, tu levas o Snape para onde quer que seja, tratem de fazer algo para dar à tua irmã...

— Ermm... Uma poção Draught of the Living Death deve ser bastante eficaz se for feita por alguém muito competente... — sussurrou Morgan entre dentes.

— Eu e o Remus vamos com o Sirius à enfermaria — continuou James, ignorando Morgan. — Porra, não percebo porque estamos a discutir uma coisa destas! As maiores divergências são entre o Sirius e a Julia. Se algum deles exagerou, nós temos de nos juntar e resolver o problema da melhor maneira. Vá, vamos mas é embora. Não adianta chorar depois da snitch já ter sido apanhada.

E com isto, pegou em Sirius às costas e dirigiu-se para a porta, seguido de um Remus ainda meio abananado.

— A costa está livre, podem sair atrás de nós... — avisou James.

Morgan e Lily entreolharam-se e encolheram os ombros. Cada uma delas pegou em Severus e Julia (Morgan teve de pôr um Feitiço de Insuflamento em Severus para o conseguir carregar) e seguiram todos, cada para o seu lado, empenhados em cumprir a sua missão.


Lily estava cansada, completamente a suar e totalmente farta de toda aquela situação. Tinha chegado finalmente ao dormitório, depois de ter carregado Julia desde o corredor perto da Sala de Runas até à Torre dos Gryffindor, e estava capaz de dar o seu dedo mindinho por um bom banho quente e algumas horas de sono.

Respirou fundo e pousou Julia na cama cuidadosamente, atirando com as duas mochilas para um canto, sem a menor preocupação com os livros e outros materiais. Caiu exausta na cama, prometendo-se apenas uns minutos de descanso antes de enfrentar a fera.

Quando já estava mais calma, levantou-se e dirigiu-se para a porta, trancando-a com todos os encantamentos que conhecia e mais alguns. Em seguida, tirou a varinha de Julia do manto desta e escondeu-a dentro da sua mala, como medida de precaução.

Voltou para junto da cama de Julia, erguendo a varinha e preparando-se para acordar a amiga, sem saber muito bem qual a reacção que ela iria ter.

Ennervate!

Julia abriu os olhos repentinamente, saltando da cama e olhando em volta, imediatamente pronta a atacar.

— Severus, seu animal!! Eu mato-- — Julia calou-se subitamente, olhando em volta à procura dele. Os olhos dela percorreram todo o dormitório, até se fixarem em Lily, que a olhava receosa. — O que é que fizeste? Onde está o Sirius?

Lily piscou os olhos, um pouco espantada com a primeira preocupação da amiga. Ainda lhe custava acreditar que Julia estava sob o efeito de um feitiço perigosíssimo e que podia ter consequências muito graves e era tudo culpa de Sirius Black. Pensando bem, um nariz partido não era nada comparado com o que ele merecia. A única coisa que a consolava era saber que quando o efeito passasse e Julia voltasse ao normal Black se iria arrepender de ter nascido. Julia encarregar-se-ia disso.

Um sorriso malicioso começou a aparecer-lhe no rosto, ao pensar na reacção que a amiga iria ter de manhã. Seria um espectáculo inesquecível, podia apostar. Mas tinha que se deixar de pensamentos pouco importantes e concentrar-se na fera de Gryffindor antes que acontecesse alguma coisa.

Julia ainda continuava parada em frente da cama, olhando para ela de uma forma muito estranha. Parecia estar a tentar lembrar-se do que tinha acontecido, tentava recordar aquilo que não tinha podido saber por experiência enquanto estava sem sentidos.

— Julia... — começou Lily muito devagar. — Foste atingida com o Feitiço de Atracção por Black, e é por isso que te estás a sentir tão confusa. O Severus e a Morgan estão a fazer uma poção para te ajudar.

Julia pareceu acordar de repente e olhou para Lily com tanto ódio no olhar que ela quase estremecia. Engolindo em seco, Lily tentou continuar as explicações, mas antes que pudesse dizer alguma coisa já Julia estava quase colada a ela, prestes a atacar.

— Estás a insinuar que os meus sentimentos não são reais?!! Quem és tu para saberes aquilo que eu sinto? Quem é que vos deu autorização para se meterem na minha vida?? — Julia gritou-lhe, de olhos muito abertos e cara cada vez mais vermelha. Estava completamente possessa e Lily começava a temer a sua segurança. — Vocês têm é ciúmes porque ele gosta de mim!! Toda a escola atrás dele e ele quer estar comigo!

Mais rápida que um relâmpago, Julia correu para a porta, tentando abri-la. Quando constatou que esta estava fechada, procurou a varinha no manto, sem grande sucesso.

— Que raiva!!! Deixa-me sair!! Vais-te arrepender tanto!! — Gritava a plenos pulmões, dando murros com toda a força na porta, que parecia prestes a desmoronar-se.

Mas a raiva passou rapidamente, e ela caiu no chão completamente desamparada, as lágrimas a inundarem-lhe a face, e os gritos deram lugar a soluços.

— Deixa-me sair Lily, por favor... Preciso de estar com ele... — e continuou a soluçar, escondendo a cara nas mãos e murmurando coisas sem nexo para si própria.

Lily ficou novamente sem saber o que dizer. Como naquela manhã na entrada da enfermaria, Julia parecia estar a sofrer fisicamente por estar afastada de Black, e custava-lhe muito vê-la naquele estado de desespero e dependência.

— Vá lá Julinha, não fiques assim. O mundo não vai acabar. Tens muito tempo para o veres e estar com ele — Aproximou-se dela, fazendo-lhe festinhas no cabelo e tentando acalmá-la.

— Prometes? — Perguntou Julia com vozinha de criança, ao mesmo tempo em que olhava para cima com olhos cheios de esperança.

Lily respirou fundo mais uma vez. Santa paciência, parecia estar a fazê-lo muitas vezes naquela segunda-feira dos diabos. Tudo por causa daquele idiota-que-não-servia-para-nada!! A vontade de lhe partir alguma coisa nunca fora maior.

Tomou-lhe uma das mãos e puxou-a para cima, abraçando-a em seguida. Julia deitou a cabeça no ombro da amiga e fechou os olhos, tentando controlar todos os impulsos que lhe ordenavam para se satisfazer com Sirius Black. — Prometo. Palavra de escuteira.

Julia não conseguiu controlar o riso que se escapou ao recordar algumas expressões Muggles que tinha aprendido na aula daquele dia. As duas raparigas foram interrompidas pelo bater do relógio, que anunciava as 18h00. Faltavam apenas 60 minutos para o jantar e elas pareciam ter acabado de sair de uma luta bastante atribulada, o que por acaso até nem estava muito longe da verdade.

— Bem, temos que nos arranjar. Importas-te que eu use a casa-de-banho primeiro? — perguntou Lily enquanto tirava um conjunto de roupas lavadas do armário e um novo manto.

— Não, não, podes ir. Mas não demores muito, ok?

Lily respondeu-lhe afirmativamente e fechou-se na casa-de-banho, preparando tudo para tomar um banho rápido. Ainda estava um pouco preocupada com Julia, não sabia até que ponto podia confiar nela enquanto estava naquele estado. Teria mesmo que se despachar, porque mais vale sempre prevenir que remediar.

Quando já estava pronta, vestiu-se e enrolou o cabelo numa toalha, saindo para o quarto. Julia encontrava-se sentada em na cama, as pernas a balançarem-se na borda e um olhar enigmático estampado no rosto. Parecia estar a planear alguma e Lily tomou nota para a vigiar ainda de mais perto.

Assim que a viu, Julia correu para a casa de banho, carregando as roupas dela embrulhadas num manto e Lily franziu o sobrolho. Definitivamente, ela estava mesmo a tramar alguma.

Enquanto ela se aprontava, penteou o cabelo e tirou todos os livros da mochila, arrumando tudo impecavelmente na sua mesinha-de-cabeceira, só deixando de fora aqueles cujos trabalhos de casa ainda precisa de fazer. Toda esta história com Julia estava a fazer com que se atrasasse na matéria. (O que no caso de Lily significava que só estava duas semanas avançada em relação aos outros alunos.) Teria que compensar muito bem no dia seguinte.

Julia saiu do WC toda arranjada e com um sorrisinho muito diabólico nos lábios, como se soubesse algum segredo muito importante e quisesse provocar todos os que não sabiam.

— Vamos? — perguntou enquanto abria a porta.

Lily levantou-se e seguiu-a para fora do dormitório e até à Sala Comum, rezando para todos os Deuses e mais algum para pedir ajuda naquele momento tão difícil. Iria ser um longo jantar, até podia apostar.


Finalmente tinha chegado a hora do jantar! Julia já estava farta de ficar trancada num quarto, com a roupa impregnada do perfume de Sirius, sem o ter nos seus braços. Ia resolver aquela situação de uma vez por todas. Enquanto Lily estivera na casa-de-banho tinha magicado um plano infalível. Tinha a certeza que daria certo!

Mal entrou no Grande Salão avistou-o sentado na mesa, com Potter e Lupin. Os seus lábios abriram-se num sorriso maroto, revendo mentalmente todos os pormenores do plano, ao mesmo tempo que se dirigia para o seu lugar. Lançou um beijo a Sirius que encolheu os ombros e saltou uma gargalhada, dizendo:

— Olá para ti também, Julia...

Julia sentou-se ao lado de Lily com um sorriso no canto dos lábios, e dedicou-se por fim a comer o puré de batata e coelho estufado que tinha na sua frente.

Desta não escapas, Siri...

James fez um sinal a Lily para que ela controlasse Julia o máximo de tempo que pudesse, até eles estarem bem longe dali. Não queria chamar a atenção dos professores para aquilo. Quanto menos as pessoas desconfiassem, melhor.

Julia observou a interacção entre os dois pelo canto do olho, franzindo a testa ao ver o olhar de cumplicidade que ambos trocaram. Andavam a tramar alguma. Lembrava-se que antes de perder os sentidos tinha visto ele, Lily e Lupin aparecerem no corredor. Deviam ter conspirado contra ela enquanto ela estava fora de si, só podia ser isso. Iam tentar afasta-la de Sirius, mas teriam uma grande surpresa. Nada nem ninguém a afastariam do seu amor, do seu grande desejo.

Sentia Lily a observá-la atentamente, como se esperasse que todos os seus segredos lhe fossem revelados. Voltou-se para ela, tentando parecer o mais inocente e despreocupada possível, sorrindo-lhe um pouco.

— Lily... O Sirius está a olhar para mim, não está? — perguntou-lhe e viu-a morder o lábio inferior, provavelmente para se controlar e não lhe dar uma resposta torta.

Ela acredita-se mesmo que eu estou enfeitiçada, pensou. Estúpida... Será que ela não percebe que o Sirius é perfeito e tudo aquilo com que alguma vez sonhei?

— Hum... Sim, ele às vezes olha para ti —respondeu-lhe Lily um pouco bruscamente. —Mas...

— Lily, a sério. Nós sabemos o que estamos a fazer, não te precisas de preocupar. O amor é lindo, não achas?

E tu és muito ingénua, cara amiga. Ele é meu, não tens a mínima hipótese. Nem te atrevas a tentar separar-nos, vais-te arrepender se o fizeres.

Uma sombra diabólica passou-lhe pelos olhos e Lily engoliu em seco. Estava a começar a recear Julia e as reacções. 4h30 até à meia noite. Já faltava pouco, tinha que conseguir aguentar. Afinal, o pior já tinha passado, certo?

— Não sei, Julia. Nunca estive apaixonada. Mas se tu o dizes, quem sou eu para duvidar de ti?

Julia não lhe respondeu, limitando-se a continuar a comer e trocar olhares de vez em quando com Sirius. Ele estava completamente irresistível, ainda mais do que nos outros dias e mal podia esperar para o provar todo. Deixara de se importar com os outros ou com o que eles pensavam, a única coisa que interessava era amar e ser correspondida. Essa felicidade ninguém lhe podia tirar...


Sirius estava a passar pelo melhor momento da sua vida. Não conseguia parar de sorrir estupidamente, de lançar um ou dois olhares a Julia de vez em quando para a ver corar um pouco ou sorrir desajeitadamente, ou piscar o olho a um certo Severus Snape, sentado na mesa rival, como que o desafiando a vir proteger a sua querida amiga. Sentia-se irracionalmente feliz e nada parecia capaz de destruir o seu bom humor.

Julia não parara de olhar para ele durante todo o jantar, olhos cor de chocolate brilhantes e um pouco esgazeados seguindo todos os seus movimentos, focando-se inteiramente na sua pessoa. Ele sabia que o feitiço estava no auge, e se durante o resto do dia Welling se tinha mostrado tímida e apaixonada, agora é que as coisas iriam aquecer. A Julia sedutora e atrevida estava prestes a vir ao de cima.

Ao lado dele, James observava a interacção entre os dois com um sorriso. Era tão evidente a atracção entre ambos, as faíscas que ficavam no ar sempre que estavam junto um do outro, que sinceramente não percebia porque não admitiam de uma vez aquilo que sentiam e se deixavam de brincadeiras.

Mas Sirius, sendo o cabeça dura de sempre, recusava-se a admitir que Julia lhe tocava fundo no coração. Quanto a Julia... só Gryffindor sabia o que ia na cabeça daquela rapariga. Quando o efeito do feitiço passasse... nem queria imaginar a sua reacção. A Torre dos Gryffindor iria abaixo, tinha certeza.

Remus, porém, ficara muito irritado com Sirius ao descobrir o encantamento que este tinha usado. Dera-lhe um sermão de todo o tamanho, chamando-lhe todos os nomes possíveis e imaginários e recusava-se agora a dirigir-lhe a palavra. Tamanha irresponsabilidade por causa de uma simples prank!! Era o cumulo. Será que ele nunca iria aprender?

Sirius encolhera os ombros, dizendo que já não havia nada a fazer e que a culpa era dela, que o tirava sempre do sério. Ele não a queria magoar, longe disso, mas não podia deixar que ela levasse a melhor, simplesmente não podia. Não se conseguiria olhar mais ao espelho se isso acontecesse.

Oh céus!! Horrores do mundo!!

Que dilema profundo, Sirius Black sem se ver ao espelho! Só ao pensar nisso, em nunca mais ver o seu maravilhoso reflexo, sentira logo um aperto esquisito no coração e não resistira a tirar do manto o seu espelho de bolso para ver se ainda estava perfeito.

Tinha passado o final da tarde na enfermaria, estancando a hemorragia do nariz e só saíra de lá depois de se assegurar que não havia a menor imperfeição no seu rostinho bonito.

Como se não bastasse, o pouco tempo que lhe restara até ao jantar tinha sido passado na casa-de-banho, onde tomara banho, mudara de roupa, e despejara o resto do frasco de perfume, assegurando-se de que o seu cabelo estava impecavelmente penteado. Sendo toda esta preparação para um simples jantar no Grande Salão, não admirava a ninguém que o espelho fosse um dos seus melhores amigos.

Mas tinha valido a pena. A julgar pelos olhares femininos (e até masculinos!!) que o seguiam para onde quer que fosse, Sirius deu o seu tempo bem empregue e voltou a olhar novamente para a comida, tentando esquecer por momentos Julia e os seus olhos de chocolate.

No entanto, não o conseguiu fazer durante muito tempo.

Quando estava a meio de saborear o seu Pudim Molotof, uma sombra apareceu de cima dele e alguém o abraçou por trás, murmurando sedutoramente ao ouvido dele "Adoro esse teu perfume...". Julia encheu-lhe o pescoço todo de beijos suaves, quase só um roçar de lábios junto da sua pele, e ele parou de respirar por momentos, estremecendo involuntariamente...

Na mesa dos professores, as reacções foram diversas. Dumbledore fazia os possíveis para esconder o riso, tossindo deliberadamente contra o guardanapo. Trelawney dizia vezes sem conta para a companheira do lado que tinha visto aquilo na sua bola de cristal, enquanto que a professora Sinistra tentava manter uma cara séria. Flitwick apressou-se a contar o incidente da sua aula e Orpheus olhava Sirius de forma suspeita.

Contudo, foi a reacção de McGonagall que mais chamou a atenção. Sem trocar uma palavra com o resto do professores, levantou-se rapidamente, dirigindo-se para a mesa da sua equipa com olhar severo. Pelo canto do olho, Sirius viu-a aproximar-se, tentando pensar rapidamente numa forma de sair daquela situação.

Metia-se em cada uma. E o pior de tudo era que não se conseguia mexer, mal conseguia respirar sem fazer sons horrorosos de contentamento devido às carícias que Julia agora lhe fazia junto do umbigo. A rapariga tornava-se mais atrevida a cada momento que passava e a culpa era inteiramente sua. Quase que podia sentir o sorrisinho que James lhe lançava, como que dizendo "Eu bem te avisei. O feitiço virou-se contra o feiticeiro".

Mas não teve tempo de pensar muito no assunto, porque Welling foi desprendida do corpo dele por um puxão e ele voltou-se a tempo de ver Evans arrastar a amiga até ao lugar. Suspirando de alívio, gritou qualquer coisa parecida com: "Raio da miúda!! Sempre agarrada a mim, não me deixa em paz nem um minuto" e em seguida fez o que qualquer pessoa sensata faria naquela situação: fugiu a sete pés, sem olhar para trás, só parando no retracto da Dama Gorda.


McGonagall parou em frente de Julia, seguindo Sirius com o olhar até ele abandonar o salão. Tinha a certeza de que ele aprontara mais uma das suas terríveis pranks, só precisava de saber o que tinha sido desta vez. E apostava a sua carreira como professora em Hogwarts em como Welling era a resposta para as suas perguntas.

— Welling! Importas-te de vir comigo? — perguntou no tom severo que tanto a caracterizava.

Julia estremeceu involuntariamente, não contando com a presença de McGonagall. Aquilo dava-lhe cabo do plano todo. Argh! Mas será que toda a gente tinha de se meter? Para sua surpresa viu Potter a levantar-se rapidamente, seguido de perto por Lupin, parando ambos à beira de Lily que já começara a tentar dar a volta à professora.

— Professora, a Julia hoje não se sente nada bem... Sabe o que foi, na aula de Encantamentos um feitiço não correu como o previsto e ela ficou assim meio... humm...

— Confusa! Pois, ela não sabe bem o que aconteceu, nem nós sabemos, mas os efeitos já estão a diminuir... Já a começamos a reconhecer... — interferiu logo James.

Tanto Julia como McGonagall ficaram de boca aberta, pasmadas com aquela reacção de Potter, a ajudar o seu grupo rival desde sempre. Decididamente, aquela era mais uma prank e, se Potter e Evans diziam a verdade, o feitiço que atingira Welling não tinha corrido mal só a ela.

Ia abrir a boca para dar uma das suas respostas habituais ("Evans, Potter... Algum de vocês se chama Welling?") quando Snape e Welling (a dos Slytherin) se puseram na sua frente, tapando Julia e todos os outros.

— Professora! O culpado disto tudo é... — Severus começou a dizer, quando sentiu alguém puxar-lhe o manto pela gola, cortando-lhe a respiração. — COFFFF!!! COOOFFF!!! COFFFFF!!!

— Sou eu! — exclamou logo Remus com os olhos fixos no chão. — Toda a gente sabe que eu não sou muito bom a Encantamentos.... E na aula de hoje acertei em Julia com um feitiço qualquer que a deixou baralhada... Mas ela já está bem, não estás Julia?

Todos olharam em volta à procura de Julia, que estava mesmo atrás deles. Aliás... Julia não estava atrás deles... Atingindo a realidade aos poucos, todos eles se entreolharam, com um ar de pânico. Viraram a cabeça na direcção de McGonagall, engoliram em seco e, virando costas, saíram a correr do Grande Salão. A única coisa que ouviram foi a Professora bufar de irritação, enquanto praguejava que todos iriam receber trabalhos de casa redobrados.

Quando finalmente chegaram às escadarias, e esperavam que as escadas se deslocassem até eles, Morgan, que pulava de um pé para o outro, explodiu:

— Não acredito que a deixamos fugir! Tanta preocupação para nada! Sabe Goshawk o que poderá ela estar a fazer neste momento!

— Tenho a certeza que o Sirius sabe. Ela está onde ele estiver, e se ele não se souber defender dela, então estamos feitos — resmungou James, impaciente que as escadas chegassem, sabendo que não podia ir pelas passagens secretas.

— Estás a esquecer-te que esse idiota do Black não se quer defender dela... Ele vai-se aproveitar as circunstâncias e quando eu lhe puser as mãos em cima... — rosnou Severus, já a estalar os dedos das mãos.

— Ela foi na direcção da sala comum... — sussurrou Remus, de olhos fechados.

Severus, Lily e Morgan estranharam aquele comentário, mas não reagiram, demasiado preocupados em chegar ao sétimos andar o mais depressa possível, para resolverem aquele problema e se poderem ir deitar e esquecer o dia terrível que tinha passado.


Enquanto subia as escadas em direcção ao 7º Andar, Julia ria-se baixinho ao imaginar a cara dos outros ao verem que ela desaparecera. Aproveitara a confusão do momento para fugir e ir atrás de Sirius. Afinal de contas, o plano até estava a correr melhor do que o pensado.

Quando chegou ao retracto da Dama Gorda, parou por uns segundos, tentando acalmar aquela comichão na barriga que ainda a deixava mais ansiosa por aquele momento. Tinha chegado a hora H. Respirou fundo e disse a senha à Dama Gorda, que lhe abriu a passagem para a Sala Comum.

Mal entrou, viu Sirius sentado no sofá, ao lado da lareira, a ler o seu livro preferido: "Melhores Técnicas e Tácticas para um bom Quidditch". Ele não deu por ela, ou sei deu, pensou que fosse outra pessoa e simplesmente ignorou.

È hoje Siri... Vou ser tua e tu vais ser meu...

Julia suspirou e dirigiu-se para Sirius, com passos lentos e um caminhar sensual. Parou na frente dele e o canto dos lábios levantou-se num sorriso perverso. Inclinou-se um pouco sobre ele e baixou-lhe o livro, fazendo com que ele a fitasse.

— Hey! Não vês que... — Sirius parou, subitamente tomado pelo terror. Estava sozinho com ela na Sala Comum. — Welling! Que pensas tu que estás a fazer?

Tentou levantar-se, mas ela impediu-o, atirando-o novamente para o sofá e colocando-se de forma a que ele não se conseguisse levantar mais. Diante de um Sirius boquiaberto e de olhos esbugalhados, Julia levou as mãos aos botões do manto, começando a desapertá-los um a um, em gestos lentos e provocantes. Olhava para ele com um olhar lascivo, mordendo o lábio inferior ao ver a reacção dele.

— Well-well-ing... — Sirius engoliu em seco, tentando controlar-se o máximo possível para não a puxar para si e fazer com ela tudo o que queria. — Nã- não devíamos fazer isto...

Mentalmente, insultou-se com todos os nomes possíveis e imaginários, sabendo que tinha na sua frente a oportunidade de ter Julia e que estava a deitar fora o melhor momento da sua vida. Observou-a com toda a atenção, apesar de tentar com todas as suas forças desviar o olhar, e viu-a tirar o manto, ficando vestida com a roupa mais provocante que alguma vez vira uma rapariga usar.

— Porquê, não queres? — perguntou ela devassamente, enquanto levantava uma das pernas e pousava o pé na borda do sofá, deixando-o com uma vista incrível e quase a desmaiar por falta de ar.

Desviando o olhar das pernas de Julia e da mini-saia de veludo preta que pouco lhe tapava (o que seria muito agradável se a situação fosse diferente), subiu pelo resto do corpo dela, engolindo em seco e sentindo as mãos tremerem ao ver o decote em bico e profundíssimo da camisola vermelha que ela trazia. Para completar, tinha calçadas umas botas pretas de cano até ao joelho e o cabelo preso no cimo da cabeça, deixando o pescoço e uma parte dos ombros a descoberto.

Estava simplesmente fantástica e ele não conseguia desviar os olhos daquela visão que parecia disposta a fazer tudo para o agradar. Não tinha força suficiente para deixar de olhar para ela daquela maneira, para parar de admirar o seu corpo magnífico, sempre escondido pelo manto, e agora ali a descoberto só para ele.

Apetecia-lhe tocar-lhe, deixar as mãos correrem ao longo das suas costas e depois percorrer as pernas dela só com as pontas dos dedos, fazendo-a sentir coisas que ela nunca imaginara poder sentir.

Foi trazido à realidade pelo objecto das suas fantasias que, num acto de verdadeiro teste ao seu controlo, se atirou para o colo dele, sentando-se de pernas abertas em cima das coxas dele, tão próxima dele que ele podia sentir os seus movimentos respiratórios, e começando a beijar-lhe a cara toda e o pescoço, enquanto tentava desapertar-lhe o manto.

Alto lá!!! A rapariga está endiabrada!!

Não podia deixar aquilo continuar, cada vez lhe apetecia menos parar e sentia-se prestes a render-se aos encantos dela. Pegando em todo o auto-controlo que lhe restava, Sirius agarrou em Julia pelos ombros e atirou-a para o sofá mais próximo, levantando-se rapidamente em seguida e correndo para a entrada da Sala Comum.

Mas não conseguiu chegar muito longe. Julia parecia a estar a viver apenas de hormonas, que a controlavam e não deixavam lugar ao raciocínio lógico, e estava com níveis elevadíssimos de adrenalina. Ele devia sabê-lo, afinal tinha sido ele que a enfeitiçara.

Quando estava quase a chegar ao retracto da Dama Gorda só teve tempo de ver um vulto mover-se à velocidade de um relâmpago e sentiu-a atirar-se para cima dele, enrolando as pernas à volta da sua cintura, e teve que se segurar para não cair, cambaleando para trás até dar de costas com uma parede.

Nada disto pareceu importante para Julia, que continuava compenetrada na sua tarefa de tentar despi-lo e tocá-lo em todos os lados ao mesmo tempo. Ele estava prestes a mandar tudo para o inferno e esquecer as consequências. Afinal, ela não estava propriamente a dizer não, não era? Que culpa tinha ele por se tratar tudo de um feitiço? A culpa era toda sua, mas isso também não interessava para o caso.

Julia estava toda despenteada, os cachos de caracóis caídos disformemente ao longo da cara, e por qualquer razão isso tornava-a ainda mais deslumbrante aos olhos de Sirius. Parecia completamente selvagem, fazendo todo o tipo de sons enquanto tentava desapertar-lhe todos os botões do manto.

Ele ficou como que fascinado com ela, não conseguindo resistir mais, sabendo que estava completamente condenado e não se importando com isso. Quem poderia resistir a tal dádiva dos céus?


O retracto da Dama Gorda aparecia finalmente ao fundo do corredor, como uma luz ao fundo do túnel. Todos correram ainda mais depressa, já esgotados e ofegantes, mas superando tudo isso com o objectivo de chegarem à Sala Comum. Tinham demorado imenso tempo a subir até à torre, porque as escadas pareciam mover-se de forma particularmente lenta.

Lily avançou logo para o retrato, seguida pelos outros, sempre a correr. Nem queria imaginar o que se estaria a passar dentro da Sala Comum. Julia já estava à demasiado tempo sozinha com Black e se aquele idiota, convencido e irresponsável não se controlasse, já podia ser tarde demais. Era melhor ir ela à frente, por precaução.

— Godric's Sword! — gritou para a Dama Gorda, sem esperar que ela abrisse a passagem e arrastando o quadro rapidamente para o lado, entrando disparada pela sala adentro.

Mas não conseguiu avançar mais, ficando pressa ao chão, estática e com a boca aberta num grito silencioso. Não... Não podia ser... Aquilo não era real! Julia, a sua Julinha querida... com a roupa mais diminuta que alguma vez a vira vestir... no colo de Sirius Black, aquele monstro, também já sem manto e com a camisa aberta pelas mãos de Julia.

Como tudo aquilo se passara numa fracção de segundos, Lily não tivera tempo nem para reagir nem para assimilar o que se estava a passar. Ouviu uma voz, quase em cima de si, a gritar num tom de pânico.

— Evans, sai da frente! — James tentou chamá-la à realidade, mas já era tarde demais.

Como peças de um dominó, todos os que vinham atrás de Lily, cheios de lanço, a entrar de rompante pela sala comum, chocaram uns conta os outros e caíram todos no chão, por cima dela.

Uma carrada de insultos e palavrões encheu o ar, enquanto se esforçavam por se levantar, mas a tarefa estava a ser difícil. Ora tropeçavam nos mantos, ora em si próprios e nos outros, e voltavam a cair de pernas para o ar, com gritos selvagens.

Remus e James foram os primeiros a conseguirem pôr-se de pé e o que viram deixou-os pior que escandalizados. O pensamento que lhes passou pela cabeça foi que já tinham chegado tarde demais. Não se podia dizer que faltasse muita roupa a tirar, tanto da parte de Julia como de Sirius. E, de maneira nenhuma, se podia dizer que Sirius estava incomodado! Ai... Quando o Snape visse aquilo...

E por falar no Diabo, Severus ergueu-se finalmente, com um olhar quase a lançar fogo e a cara toda vermelha. Estava todo despenteado, o manto rasgado a nível dos joelhos e os punhos fechados de tanta fúria que sentia.

— Onde estão eles? Onde es-- — mas os seus olhos atingiram Julia e Black (que engoliu em seco, ainda com as mãos no rabo de Julia) e não conseguiu dizer mais nada.

Agarrou-se ao coração, tentando conter-se, como prometera a Morgan. Mas ao olhar para eles, despidos e naquela posição, com Black a aproveitar-se descaradamente da sua Julia... Sentia a fúria borbulhar no seu interior e, cego de raiva, avançou na direcção dos dois, grunhindo sons irreconhecíveis.

Claro que não conseguiu avançar muito; mal dera um passo, Morgan e Lily caíram em cima dele, segurando-o como podiam. Morgan estava quase para tirar a varinha do bolso e utilizar novamente o Encantamento de Atordoamento quando Sirius falou.

— Eujuroquenãotiveculpa! — disparou ele, desembaraçando-se de Julia e correndo para trás do sofá.

— Porra! Vocês interrompem sempre na melhor parte! — gritou uma Julia furiosa, que, olhando para Sirius, amaciou o olhar. — Anda Siri, não lhes ligues, vamos lá para cima...

Sirius abanou a cabeça na direcção do resto do grupo, com cara inocente, receando o que eles poderiam pensar ao ouvir aquilo. Não queria que achassem que ele era o culpado daquilo tudo, porque não era! Podia ter culpa em muita coisa, mas não era justo que o culpassem por não se conseguir controlar. Era humano! E nenhum ser humano conseguia resistir a uma miúda daquelas!

— Siri, não precisas de ter medo, eles não nos vão fazer nada... — sussurrou Julia, com um sorriso terno e voz meiga.

— APANHEM-NA!!! — berrou James, lançando-se, juntamente com Remus, sobre Julia.

— Huh? AHHH!!! NÃOOO!! Siri, ajuda-me!! — gritou ela, correndo para os braços do seu salvador.

Mas o que Sirius menos queria naquele momento era o contacto com Julia e, virando costas, desatou a correr pela Sala Comum, virando sofás, armaduras, tapetes, mesas, tudo de pernas para o ar, de forma a impedir Julia de chegar até ele.

— Siri! Espera que eu passe antes de bloqueares o caminho! — dizia uma Julia desesperada, correndo nos seus saltos altos.

Sirius estava a ver a coisa toda mal parada, sem conseguir afastar Julia suficientemente e receando cada vez mais a ira da serpente venenosa que ansiava por envenená-lo. Só ao pensar nisso, o seu nariz queixou-se logo, tremendo um pouco ao recordar a dor que sentira naquela tarde.

E escolhera uma boa hora para o fazer, porque Snape, completamente fora de si de tanta raiva que sentia, conseguiu soltar-se de Welling e Evans, e avançava já na sua direcção, de mangas arregaçadas, punhos cerrados e um olhar completamente desvairado, andando em sentido contrário ao seu e prestes a apanhá-lo.

Sirius podia ser Gryffindor, mas sabia a diferença entre coragem e estupidez. Como tal, esqueceu todas as noções de cobardia e fugiu a sete pés, para o único local que lhe pareceu seguro, os dormitórios.

Mas Severus não deixaria que isso o parasse. Mudou imediatamente de direcção, com um único objectivo em mente: matar Sirius Black. Estava quase a chegar às escadas quando Julia lhe saltou para cima e ambos rolaram pelo o chão. Antes de ter tempo para se levantar novamente, já ela estava outra vez em cima dele, completamente esbaforida e prestes a pegar fogo.

— Seu estúpido! Olha que eu ainda não me esqueci do que se passou de tarde! Nem te atrevas a tocar-lhe!! — rugiu-lhe ferozmente enquanto apertava os punhos, pronta para lhe mostrar que ninguém se metia com o que era dela.

Severus não teve tempo de responder. Viu-se rodeado pelo resto do grupo, que se tinha aproximado rapidamente para tentar apanhar Julia.

— Severus! A Julia é a nossa prioridade! Não a deixes escapar!! — gritou-lhe uma Morgan de respiração ofegante, enquanto preparava a varinha.

Julia, percebendo que estava encurralada, saltou de cima de Severus com tamanha agilidade e rapidez, que os dois Marauders se esbarraram um no outro ao tentarem agarrá-la e só tiveram tempo de a ver deitar-lhes a língua de fora, antes de caírem em cima de Severus, que os olhava com um ar furioso.

Rindo-se que nem uma perdida, seguiu Sirius em direcção aos dormitórios, chamando-o baixinho. Aqueles idiotas não os conseguiriam separar; eles estavam destinados a ficar juntos! E, com este pensamento na cabeça, correu os dormitórios todos, à procura do seu beater encantado.

No andar de baixo reinava a maior desordem. James e Remus apressavam-se a levantar antes que Snape os decidisse culpar pelo sucedido e Lily barafustava contra eles os três, também ela a entrar em paranóia.

— Cambada de incompetentes! Inúteis! Com ela na mão e deixaram-na fugir!!

— Hey, hey! Até parece que fizeste melhor! Limitaste-te a olhar em vez de ajudar! — James gritou para Lily, tentando defender a sua falta de competência.

— Mas porque raio estão todos a discutir? Ela está sozinha com ele!! Atrás dela, mexam-se!!! — explodiu Morgan já a perder a paciência. — Os dois sozinhos nos dormitórios! Isto é uma desgraça!

James e Remus pareceram acordar de repente, abrindo muito os olhos e correndo os dois ao mesmo tempo para as escadas. Severus levantou-se, respirou bem fundo, acalmando-se o mais que podia, e depois sussurrou para Morgan e Lily:

— Ok... Ok... Prioridade é Julia... Depois trato do Black — disse a última palavra quase cuspindo-a para o ar e depois virou-lhes costas, seguindo os outros rapazes.

Ambas as raparigas encolheram os ombros e suspiraram de cansaço. Aquele dia estava a ser impossível, só desejavam que aquilo acabasse de uma vez por todas, mas pelos vistos isso era pedir demais. No andar de cima só se ouviam passos a correr, portas a bater, móveis a arrastar, gritos abafados e Potter a gritar "Remus, tu vais pela direita, Snape, tu vais pela esquerda, eu vou pela frente!". Olhando uma para a outra, desataram-se a rir, com o absurdo da situação.

Por muito que se tentassem controlar, estavam a perder o controlo e, passados uns minutos, já se agarravam à barriga, cheias de dores musculares. Três homens atrás de uma mulher, decididamente... E sem a conseguirem apanhar, que ainda era melhor.

Aos poucos foram parando de rir, mas, quando Sirius apareceu ao fundo das escadas, todo despenteado, já sem a camisa e com um olhar desesperado, elas partiram-se a rir, novamente.

Sirius olhou em volta, procurando um lugar para se esconder, quando as viu. Um brilhozinho cintilou nos seus olhos e ele correu para elas, o mais depressa que pode, tendo em conta a desarrumação da Sala Comum. Escondeu-se atrás delas, tapando-se com os mantos e implorou-lhes que o protegessem.

Morgan e Lily pararam de rir e olharam uma para a outra, com um sorriso diabólico. A vontade de se vingarem de Black era grande demais para perderem uma oportunidade como aquela. Seria a sua pequena vingança para com o idiota. Uma vingança em nada comparável com o que Julia lhe faria num futuro muito próximo... muito próximo.

Viraram-se para trás, para um esbugalhado Sirius, e por pouco não desatavam a rir. Cada uma delas pegou num dos braços de Black e seguraram-no com força, enquanto ele se tentava soltar, pontapeando tudo à sua frente.

— Larguem-me! Que pensam vocês que estão a fazer?

Morgan sorriu e, respirando fundo, chamou a presa:

— Oh Juuuuuuuuu-lia!!

Julia apareceu no fundo das escadas, completamente irreconhecível. O cabelo estava todo ensarilhado e caía-lhe agora até ao meio das costas; a roupa estava toda suja, cheia de pó preto do chão e algumas manchas suspeitas. A saía estava rasgada num lado, fazendo uma racha que mostrava a coxa esquerda dela quase completamente e faltava-lhe um tacão numa das botas, fazendo com que cambaleasse em vez de andar.

Black abriu e fechou a boca estupidamente ao ver o aspecto de Julia, semi-nua e tentando caminhar para ele de forma sexy, o que se provava quase impossível devido à diferença da altura entre os dois pés e a saia que, sendo justa demais, trava muitos dos seus movimentos.

Morgan e Lily entreolharam-se novamente, formando já um plano de acção para apanhar Julia de uma vez e acabar com aquela palhaçada toda. Tudo parecia já fora do controlo e as 22h aproximavam-se. De acordo com o livro, as duas últimas horas do feitiço fariam Julia perder de vez a cabeça e nada a impediria de ter o objecto desejado, mesmo que para isso tivesse que matar.

— Oh Sirius... Nunca pensei! — disse-lhe Lily de uma forma provocante, enquanto olhava para Julia para ver a sua reacção. Depois, passando uma mão pelo braço dele, subindo até aos ombros, continuou: — Por baixo de todas aquelas roupas, até nem és nada mau... Nada mau mesmo. Todo o treino de Quidditch recompensou-te. Morgan, olha-me só para estes músculos!!

— Hey! O que é que pensam que estão a fazer?!!! Suas cabras!! — gritou Julia completamente enraivecida. — Ele é meu!!! Eu mato-vos!!

As duas raparigas não sabiam se haviam de ficar contentes pelo seu plano ter resultado em cheio e Julia estar completamente louca de ciúmes ou completamente fora de si porque ela lhes tinha chamado cabras! Nunca pensariam ouvir uma palavra tão reles, tão muggle da boca de alguém tão sofisticado como Julia, principalmente para lhes insultar, as suas melhores amigas! Quando aquilo tudo passasse Julia iria ouvir das boas, que ninguém tivesse dúvidas disso.

Viram Julia correr os poucos metros que lhe faltavam para chegar até Black, afastando-se mesmo a tempo de a ver "voar" para cima dele, atirando-o ao chão e cobrindo-o de beijos, como se tentasse provar a sua teoria. Mas antes que elas pudessem interferir, já os outros rapazes corriam pelas escadas abaixo, também eles todos sujos e com alguns cortes superficiais na cara e braços.

— Ali!! — gritou James para os outros dois, apontando para o parzinho. — Aproveitem agora que ela está distraída! E por amor de Roderick Plumpton, não a deixem escapar outra vez!!

Ao verem o ar determinado dos três rapazes, Lily e Morgan saltaram para o lado, ficando próximas o suficiente para poderem observar bem a cena, mas estando longe do perigo eminente.

Eles pareceram ter todos a mesma ideia, num dos raros momentos em que não houve qualquer tipo de discussão devido ao interesse que todos tinham em realizar um objectivo comum, e, sem pensar duas vezes, atiraram-se todos para cima de Julia e de Sirius, que deitados no chão, não se tinham apercebido do que se estava a passar.

A cena que se seguiu ultrapassou de longe tudo o que se tinha passado durante o dia. O plano dos rapazes não se provou tão eficiente como eles julgavam e acabaram todos num grande monte de massa humana, pés, pernas, braços, cabeças para cada lado, sendo impossível de saber o que pertencia ao corpo de quem.

E no meio daquilo tudo, apenas frases sem nexo se ouviam, levando Morgan e Lily à loucura de tanto rir. Conseguiam perceber pelas vozes quem dizia o quê e isso só servia para aumentar ainda mais a piada do momento. Não conseguiam a imaginar a confusão que para ali ia...

— Julia Welling! Mas onde pensas tu que estás a pôr a mão?! — gritou Sirius, numa voz aflita. — AAAAAAHHHHHHHHH!! Não faças--- — mas engasgou-se a meio enquanto tentava controlar-se para tirar a mão de Julia do sítio onde não deveria estar.

Severus, ao ouvir aquilo, esticou-se todo para tentar chegar a Black e fazê-lo desejar nunca ter nascido, mas pelo caminho apertou algo a alguém e a resposta não se fez tardar.

— HEYYYYY!!! Snape!!! Mas que confiança é esta???? — gritou Remus, dando um salto ao sentir a mão de Snape no seu rabo.

James controlou-se para não se partir a rir, mas isto não durou muito tempo, pois logo a seguir foi ele a vítima. Um grande apertão fê-lo enrijecer o rabo, ao mesmo tempo que se tentava virar para trás para identificar o culpado.

— REMUS!!!! Nunca pensei que fosses -----....!!!! UHHHHHH!!!! — Julia tinha acabado de tocar numa parte sensível do seu corpo e a sua reacção foi imediata.

Ao ouvir aquilo, Severus lançou-se de imediato contra o resto do grupo, tentando prender Julia, mas atacando Sirius com uma joelhada mesmo no centro da sua virilidade.

Um grito estridente encheu a sala comum, enquanto James e Remus lutavam para se virar e ver quem tinha guinchado daquela maneira. Seguiu-se um silêncio apenas pontuado por pequenos gemidos e lamúrias e a voz de Julia a sussurrar baixinho:

— Ohhh, deixa eu dar beijinho que passa...

James saltou logo em defesa do amigo, tentando virar-se para Snape, e arrastando Remus consigo. Este último acabou por cair em cima de Julia, reparando em como Morgan e Lily se riam que nem doidas. Normalmente gostaria de as ouvir rir, se não fosse uma situação séria. E não é que aquela Welling até tinha um riso engraçado?

Arghhh!!! Remus Lupin! Concentra-te!

— Podias ter comprometido a capacidade dele de procriar! É a descendência dele que está em causa! — dizia James enquanto se tentava levantar, ou melhor, sair do meio daquela marosca.

De repente, e já a começar farto daquela treta toda, Severus gritou e bem alto um "CHEGA!!!" e todos pareceram cair em si. O olhar dele, de James e de Remus dirigiu-se devagar para Julia e, sem sequer combinarem, agarraram-na ao mesmo tempo, mantendo-o a presa enquanto Severus lhe dava a poção.

Julia esbracejava e pontapeava tudo e todos, numa tentativa vã de se escapar. Chorava, implorando ajuda a Sirius, que se mantinha imóvel no chão, com uma certa ponta de tristeza no olhar. Custava-lhe ter de abandonar Julia assim, à mercê daqueles brutos, mas não podia fazer nada...

Ai... Se ele pudesse terminar o que tinha começado...

Severus verteu a poção sobre os lábios de Julia, com todo o cuidado, ninguém imaginando o que lhe custava ter de fazer aquilo. Com os olhos tentava encontrar a sua Julinha, mas não a via... Aquela era uma estranha no corpo da sua amiga. E uma prova disso foi o insulto que ela lhe dirigiu após a poção ter penetrado nos seus lábios.

— Odeio-te Severus Snape!!! Nunca mais te quero ver na vida!! Não significas mais nada para mim! — e com isto, os seus olhos foram perdendo a vida até se apagarem por completo.

Todos os rapazes se atiraram para o chão, cansados e aliviados por aquilo já ter acabado. Olhavam para o corpo inerte de Julia com uma sensação de constrangimento enorme, como se tivessem acabado de a matar. Mas não, ela estava apenas adormecida. E assim permaneceria até à manhã seguinte.

Morgan e Lily pareceram dar-se conta do silêncio que se tinha instalado e foram diminuindo as gargalhadas aos poucos, incomodadas com os olhares dos rapazes. Respiraram fundo e caminharam em direcção a Julia, carregando-a até ao dormitório das raparigas. Bem, ao menos tinham contribuído para alguma coisa.

Despiram-na daquela roupa horrorosa e utilizaram feitiços de limpeza, de modo a que ela ficasse com o seu aspecto normal. De seguida, vestiram-lhe o pijama e saíram do dormitório, deixando-a a dormir tranquilamente.

Quando desceram, encontraram novamente uma discussão acesa. Desta vez, Severus tentava matar Sirius, que era protegido por James e Remus. Tanto Morgan como Lily se atiraram para os sofás, exaustas e a observar aquele espectáculo todo.

— Black, eu tinha-te avisado uma vez! Agora vais pagá-las! — berrava Severus ao mesmo tempo que se tentava livrar de Potter e Lupin.

A coisa já estava a tornar-se feia quando Morgan se levantou, decidida e, agarrando Severus pelo manto, o arrastou até ao retrato da Dama Gorda.

— Vá, vamos embora. Até amanhã, meninos — disse ela, a bocejar.

— Larga-me! Morgan, deixa-me em paz! Eu quero dar cabo dele! — resmungou Severus, enquanto ia sendo arrastado pelo corredor fora, a sua voz a ficar cada vez mais ténue.

Com um sorrisinho perverso, Lily levantou-se e dirigiu-se aos dormitórios dos rapazes, olhando-os com um brilho estranho nos olhos.

— Bem rapazes... como a culpa desta confusão toda foi vossa... tratem de arrumar isto tudo, sim? — disse Lily olhando para o estado da sala comum, já com os pés nas escadas dos dormitórios das raparigas. — Ah!! E não se esqueçam dos dormitórios todos e de tudo o que destruíram lá em cima. Gryffindor não tem culpa de ter membros como vocês.

E com isto, virou costas aos três rapazes, que a olhavam embasbacados e sem poderem acreditar na sua sorte. Decididamente, Sirius iria ter muito que sofrer no dia seguinte... Ai ia, e não era pouco!