Capítulo 8
Gryffindor Vs Slytherin
O mês de Novembro chegou, trazendo com ele muita chuva e um frio de rachar. As montanhas que rodeavam a escola principiavam a esbranquiçar, a neve do topo ficando cada vez mas visível, e o lago começara a congelar. O chão estava sempre coberto de geada, que ia desaparecendo à medida que as horas iam passando e o tempo aquecia, e as lareiras de todas as salas passaram a estar constantemente acessas.
Hagrid, guarda das chaves e dos campos em Hogwarts, fazia os possíveis e impossíveis para manter tudo em ordem, descongelando vassouras no campo de Quidditch e certificando-se das condições da pista e dos balneários. A época de Quidditch começara. Não se falava de outra coisa nos corredores e Salas Comuns, em qualquer lado que se estivesse ouvia-se sempre os mesmos comentários, a mesma excitação por causa do desporto rei dos feiticeiros.
O jogo mais aguardado do ano estava marcado para o segundo sábado de Novembro. Slytherin contra Gryffindor, James Potter e Sirius Black contra Severus Snape. Apesar das tréguas temporárias que se seguiram à prank ao Sirius, ambos os grupos continuavam a encarar-se como rivais, e era certo e sabido que os jogos de Quidditch eram sagrados.
Como tal, as tréguas temporárias pareciam já esquecidas, e os ataques entre as duas equipas passaram, novamente, a ser uma constante nos corredores (como acontecia sempre que o grande jogo se aproximava), onde insultos e feitiços eram trocados com a maior das naturalidades e nem os professores conseguiam por um ponto final naquilo tudo.
A semana que precedeu o jogo foi passada, tanto pelos elementos da equipa dos Slytherin como pelos da dos Gryffindor, entre treinos de última hora, aulas e pilhas de trabalhos de casa, que se amontoavam nas mesas das Salas Comuns ou da biblioteca.
James e Sirius falavam sobre Quidditch vinte e quatro horas por dia, parecendo mesmo comer e respirar Quidditch também. Levavam O Quidditch Através dos Tempos para onde quer que fossem, discutindo mil e uma estratégias e anotando tácticas nas margens, sempre alheios a tudo resto que se passava à sua volta. Aquilo estava rapidamente a ultrapassar todos os limites.
Severus, no entanto, era mais reservado. Gostava de jogar, claro, e faria o que fosse preciso para ver a sua equipa vencer, mas não era completamente fanático, e sabia separar Quidditch do resto das suas actividades. Continuou a dar explicações de poções ás raparigas e não descuidou os estudos, mas começou a treinar mais e durante mais tempo, o que fazia com que estivesse sempre completamente de rastos no final do dia.
Julia, Morgan e Lily ajudavam-no o máximo que podiam, apoiando-o a 100% e encorajando-o através de actos e palavras. Levavam-lhe as refeições à Sala Comum ou para a sala onde eles se reuniam, faziam cartazes de apoio aos Slytherin em geral e a Severus em particular e ajudavam-no com os trabalhos de casa, especialmente de Transfiguração, a única disciplina em que ele era um verdadeiro desastre.
O dia do jogo amanheceu brilhante e mais quente do que o habitual, assemelhando-se mais a um dia de Primavera do que de Outono. No Grande Salão, pairava no ar o cheiro delicioso das salsichas e bacon frito que, acompanhado com o ovo mexido e um copo de sumo de abóbora, constituía o pequeno almoço da maioria dos alunos.
Em todas as mesas se discutia o tão falado jogo de Quidditch, enquanto as estrelas tentavam acalmar o friozinho que sentiam na barriga e comer alguma coisa. A partida estava marcada para as onze horas e, como o pequeno almoço era às dez da manhã aos fins-de-semana, saíram todos rapidamente em direcção aos balneários, onde vestiram os mantos do jogo e cada equipa ouviu o discurso do seu capitão. Quando faltavam quinze minutos para o começo do jogo, pegaram nas vassouras e caminharam a passo decidido para o campo de batalha.
A equipa dos Gryffindor foi a primeira a entrar em campo. Vestidos de vermelho e dourado, todos os elementos apresentavam expressões confiantes, certos de que a vitória seria sua. Desde a entrada de James Potter na equipa, três anos antes, que nunca tinham perdido um único jogo e ninguém acreditava que aquela iria ser a primeira vez.
Sensivelmente metade da assistência usava lenços escarlates, agitando bandeiras da mesma cor com o leão de Gryffindor estampado no meio, e gritando com todas as suas forças: "FORÇA GRYFFINDOR!!!". Outros pegavam em cartazes com mensagens para os seus jogadores preferidos, abanando-os no ar enquanto cantavam músicas dedicadas aos heróis.
Lupin e Pettigrew, os dois Marauders que não estavam na equipa, pareciam ter sido encarregados do apoio aos Gryffindor, lançando foguetes (previamente preparados por Sirius e James) que explodiam no céu, por cima de vários pontos da bancada dos Gryffindor, enchendo-o de faíscas vermelhas e douradas e confétis das mesmas cores.
Distribuíam também crachás vermelhos a todos os alunos que apoiavam a sua equipa, que diziam em letras grandes e douradas: "JAMES POTTER E SIRIUS BLACK! DUO MARAVILHA!", mensagem que permanecia durante alguns segundos, dando lugar depois a "LE'ES DE GRYFFINDOR!", que voltava em seguida à mensagem original.
Atrás das balizas dos Slytherin, contudo, e propagando-se para os lugares de dezenas de Ravenclaws, a única cor visível era o verde. A serpente de Slytherin brilhava em toda a sua glória nas bandeiras e até o professor Orpheus, pouco dado a favoritismos, podia ser visto vestido de verde e prateado, de binóculos na mão e olhar esperançado.
As Welling e a Evans estavam sentadas nesse lado, esquecendo completamente a lealdade à própria equipa no caso de Julia e Lily, e apoiavam completamente o melhor amigo. Tinham-se vestido todas de verde e levantavam um cartaz luminoso onde sob um fundo verde se podia ler: "FORÇA SEV!! ACABA COM ELES, N"S ESTAMOS CONTIGO!!" Estava realmente uma grande obra de arte, Sirius foi obrigado a admitir, quando viu as letras mexerem-se e formarem uma gigantesca serpente prateada, que percorria todo o cartaz antes de se transformar novamente na mensagem.
— E aqui estão os Gryffindor! — gritou Rita Skeeter, uma Gryffindor do 5o Ano, que se tinha voluntariado para comentadora. Diziam as más línguas que queria ser jornalista e andava a tentar arranjar experiência nas mais variadas coisas. —Johnson, Wood, Black S., Potter, Bell, Longbottom e Jordan, o capitão desta equipa magnifica, que dispensa apresentações e é já reconhecida por todos como o melhor grupo que Hogwarts tem desde há muitos anos...
Uma rajada de uuuuuuuuuuus fizeram-se ouvir da bancada dos Slytherin, que só parou quando os sete jogadores da sua equipa saíram do túnel e se dirigiram para junto de Madam Hooch, e foi a vez destes serem aclamados como verdadeiros deuses. Quidditch não era apenas um jogo, era uma forma de viver que simplesmente não podia ser ignorada.
— Entra agora em campo a equipa dos Slytherin, liderada pelo capitão e seeker Rodolphus Lestrange, e que conta com os seguintes elementos: Snape como keeper, Flint e Bagman são beaters e os três chasers, Nott, Black B. e McNair.
Mais aplausos da assistência Slytherin, que tentava apoiar ao máximo a sua equipa. O arbitro do jogo, Madam Hooch, abriu a caixa das bolas, que estava a seus pés, e libertou as bludgers e a snitch, agarrando na quaffle com as duas mãos e aproximando-se dos treinadores de cada equipa.
— Treinadores, apertem as mãos!
Jordan e Lestrange trocaram olhares de profundo rancor enquanto se aproximavam um do outro, dando um aperto de mão que mais parecia uma tentativa frustrada de partirem os dedos um do outro.
— Montem nas vassouras! — gritou Hooch, fingindo não reparar na animosidade entre os dois capitães de equipa e concentrando-se em evitar ao máximo as desavenças. Aquele jogo era o pior de toda a época e ela sabia que tudo serviria de pretexto para armarem confusão. — Três, dois, um...
O som do apito foi abafado pelos gritos de euforia da multidão, que se fez sentir logo que as catorze vassouras se elevaram no ar. Madam Hooch lançou a quaffle bem alto para o céu, de um azul lindíssimo e completamente limpo, e a partida começou. Tinha chegado a hora da verdade, apenas um sairia vencedor.
James sentiu o cabelo flutuar ao sabor do vento e o corpo relaxar completamente, como se estivesse finalmente no seu ambiente, no lugar onde pertencia. Voou imediatamente na direcção da quaffle, agarrando-a com a mão esquerda e segurando-a bem junto ao peito enquanto se dirigia a toda a velocidade para as balizas da equipa adversária.
— Gryffindor lidera. James Potter, com a quaffle, seguido de perto por Bell e Longbottom — afasta-se de uma bludger mandada por Bagman — passa para Longbottom para afastar Black B. — continuam na direcção dos postes de marcação — Bell com a quaffle — Black S. afasta as bludgers da sua equipa — estão muito próximos! — Snape em posição, preparando-se para defender — Bell passa a quaffle para Potter — Snape não tem a mínima hipótese agora — bludger na direcção de Potter — Potter em pleno voo, aproxima-se de Snape! — finta e — GRYFFINDOR MARCA!!! — DEZ-ZERO PARA OS GRYFFINDOR e ainda só vamos na primeira jogada!!
Os aplausos aos Gryffindor fizeram-se ouvir por entre os lamentos e uivos dos Slytherin que já se começavam a preparar para um desfecho menos bom. Custava-lhes muito admitir, e nunca o fariam nem sob influência de Veritaserum,mas Potter era um jogador nato e nada nem ninguém parecia ser capaz de o parar.
— Slytherin ataca. Nott com a quaffle — passa para Black B., que é imediatamente atingida por um bludger mandada por Black S. — vejam o amor familiar, tão emocionante!! — Black B. deixa cair a quaffle que é imediatamente apanhada por Lucia Bell, uma aluna do 5º Ano que no ano passado era apenas suplente — Ahhh!! Mas que é aquilo??!! — Bell choca contra McNair, que se colocou no caminho de propósito, perdendo momentaneamente o controlo da vassoura — quaffle na posse de Slytherin — Black B. aproxima-se dos postes de Gryffindor — passa para McNair, que é atingido com o bastão de beater de Black S. — McNair a sangrar do nariz ---
— Já chega!! — gritou Madam Hooch completamente furiosa, enquanto subia a grande velocidade e se colocava no meio deles. — Isto não é um campo de batalha!! Penalty para os Gryffindor por um ataque ilícito ao chaser. Penalty para Slytherin por ataque deliberado ao chaser.
— Oh!! Por favor — gritou Sirius Black para Madam Hooch, que se limitou a lançar-lhe um olhar fulminador e soprou o apito.
Bell, que iria marcar o penalty por ter sido a jogadora derrubada, voou na direcção das balizas de Slytherin, ficando frente a frente com Severus Snape, e atirou a quaffle para o poste mais longínquo, mas sem grande sorte. Severus era o melhor keeper que já alguma vez tinha pisado a escola, levando a melhor sobre todos os jogadores menos James Potter. Potter era o único que o conseguia bater, e isso irritava o keeper Slytheriano profundamente, aumentando ainda mais a rivalidade entre ambos.
O keeper de Gryffindor, Brian Wood, no entanto, não se comparava minimamente com Severus Snape e, apesar de ser um bom jogador em termos gerais, não podia ser considerado vedeta. Bellatrix Black, prima de Sirius Black e a única rapariga da equipa dos Slytherin, pegou na quaffle para marcar o penalty (McNair estava a ser tratado) e, voando na direcção de Wood, fez o empate.
— DEZ A DEZ entre SLYTHERIN E GRYFFINDOR!! Só um sairá vitorioso! — Longbottom com a quaffle — mergulha para evitar uma bludger — perseguido pelos chasers de Slytherin — passa para Potter que voa na direcção de... um momento — será aquilo a snitch?
A multidão levantou-se toda ao ouvir aquele comentário, olhando na direcção de James Potter, que aproveitava toda aquela distracção para marcar novamente. Como se costuma dizer, tudo é justo no amor e na guerra e ele não podia desperdiçar nenhuma oportunidade, especialmente porque Katherine Johnson, a seeker dos Gryffindor, era ainda muito inexperiente e não chegava aos calcanhares de Rodolphus Lestrange.
— VINTE-DEZ PARA GRYFFINDOR — Johnson e Lestrange voam lado a lado, Silver Arrow 74 contra Shooting Star 500, para junto da snitch — Johnson começa a ficar para trás — Lestrange aumenta a velocidade, estende a mão e — é atingido por uma bludger mandada por Jordan!! — A snitch desapareceu e o jogo continua — QUARENTA-VINTE para Gryffindor — Potter está imparável hoje! Vejam só como ele voa, que naturalidade, que estilo...
— Skeeter!!! Quero um comentário imparcial! — gritou-lhe a Professora McGonagall irritada.
— Professora, imparcialidade é o meu forte! — Gryffindor ataca de novo — estão cheios de genica hoje — Longbottom passa para Bell — Bell dirige-se a toda a velocidade para as balizas de Snape — Black B. e McNair surgem um de cada lado — Ai que desgraça!! — os dois jogadores de Slytherin espalmaram a jogadora de Gryffindor — Bell largou a vassoura e cai agora em direcção ao chão — Black S., Potter e Jordan voam na sua direcção — Bell a salvo na vassoura de Jordan —
O apito soou por todo o estádio, atraindo a atenção de todos. Bell pegou na sua vassoura das mãos de Johnson, que a tinha apanhado antes desta se danificar, e montou-a novamente, voando na direcção da sua equipa. Estavam todos à volta de Madam Hooch, que parecia prestes a explodir.
— ISTO ESTÀ A ULTRAPASSAR TODOS OS LIMITES!!! — rugiu a professora de Quidditch, que podia ser muito aterrorizadora quando queria. — O próximo a cometer qualquer tipo de falta é expulso da sua equipa e proibido de pegar numa vassoura até ao final do ano. POTTER!!! Dois penalties a favor dos Gryffindor.
Os olhos de James abriram-se de espanto e uma alegria imensa invadiu-lhe o peito. Mal podia acreditar que tinha sido ele o escolhido para cobrar a falta, principalmente porque Hooch sabia que ele era um excelente jogador e isso era quase atribuir 20 pontos aos Gryffindor.
Pegou na quaffle e levou-a até ao ponto de marcação, sorrindo maleficamente para Snape enquanto se preparava. Nas bancadas, todos os adeptos suspenderam a respiração durante os poucos segundos da cobrança da falta, olhando ora para a estrela de Gryffindor ora para a salvação de Slytherin, tentando não perder nada daquele espectáculo. Potter contra Snape. Um contra um. Não haveria interferências exteriores, era tudo entre eles os dois.
— Potter com a quaffle prepara-se para marcar o penalty — Snape concentrado, mergulha, os dedos tocam de raspão na quaffle — falha — POTTER MARCA!!! — CINQUENTA-VINTE PARA OS GRYFFINDOR E AINDA FALTA MARCAR UMA PENALIDADE!!
Severus abanou a cabeça para afastar os maus pensamentos, respirando fundo e tentando-se concentrar no momento presente. Os jogos contra Gryffindor eram sempre um inferno para ele, por mais que tentasse nunca iria conseguir bater Potter. Todos os anos treinava mais que no ano anterior, dava tudo por tudo para conseguir defender os postes de Slytherin da quaffle de James Potter apenas uma vez, mas nunca conseguia. Estava condenado a falhar, iria permanecer para sempre um fraco e nunca conseguiria ultrapassar o talento natural do seu grande inimigo. Não podia deixar que isso acontecesse; faria tudo o que fosse preciso para o impedir de marcar, uma única vez que fosse.
— Potter ataca novamente — segundo penalty convertido em ataque — Snape com os olhos fixos no chaser de Gryffindor — a quaffle voa na direcção do poste esquerdo — Snape tira as mãos da vassoura e põe-se de pé — DEUSES LÁ EM CIMA!! Mas que raio está ele a fazer?? — Snape mergulha na direcção da quaffle, largou completamente a vassoura — Nunca na minha vida--- SNAPE DEFENDEU!!! — Pela primeira vez num jogo de Quidditch, James Potter nã--- SNAPE CAI A TODA A VELOCIDADE EM DIRECÇÃO AO CHÃO!!! — Snape a cinquenta metros do solo — Todos os jogadores voam na direcção do keeper de Slytherin...
Severus via o chão a aproximar-se a grande velocidade, certo que iria morrer mas não se importando minimamente. Pela primeira em toda a sua vida como jogador de Quidditch tinha conseguido vencer James Potter, feito que nunca ninguém conseguira antes dele, e sentia-se nas nuvens. Claro que isso podia dever-se ao facto de ir a cair no vazio, mas enfim... compreende-se que ele não estivesse a pensar claramente.
— Cinco metros — SNAPE VAI ESTATELAR-SE NO CHÃO! — o jogo parou completamente, nem os seekers procuram a snitch — o professor Flitwick corre para o campo — Madam Hooch próxima do keeper de Slytherin — Flitwick tira a varinha e tenta um Feitiço de Levitação no corpo de Severus Snape — Está a resultar!!!
Severus, ainda em queda livre, sentiu o corpo parar a escassos metros do chão, sendo levitado, lentamente, até ao solo. Mal o seu corpo tocou o pavimento, a multidão das bancadas levantou-se, eufórica, assobiando e aplaudindo tanto Severus Snape como o professor Flitwick.
Assim que sentiu o chão, foi como se tivesse sido atingido por um raio, recordando tudo o que se passara nos segundos anteriores. A defesa do penalty de James Potter, a queda, o sentimento que a morte estava muito próxima mas não se preocupando com isso... exausto, e sem conseguir lidar com tantas memórias em simultâneo, Severus fechou os olhos, deixando-se cair no vazio.
— Deixem passar! — gritou Madam Pomfrey para os outros jogadores, tentando afastá-los para chegar ao seu paciente. — Vá, voltem para cima. Espero que isto vos tenha servido de lição!
Um pouco relutantes (mesmo os Gryffindor, que nunca tinham visto tal acto de coragem – ou mesmo estupidez, dependendo da opinião), todos os restantes jogadores montaram nas vassouras, prontos para recomeçar o jogo.
— Slytherin é obrigado a mudar de keeper! — Gilderoy Lockart, suplente, vai jogar hoje pela primeira vez em jogos oficiais! — O jogo recomeça — Ainda CINQUENTA-VINTE para Gryffindor e James Potter tem a quaffle!
No solo, Madam Pomfrey preparava-se para transportar Severus para a enfermaria quando Morgan, Lily e Julia entraram no campo a correr, só parando junto do corpo do amigo, completamente esbaforidas.
— O que é que ele tem?
— É grave?
— Magoou-se muito?
Perguntaram as três raparigas ao mesmo tempo, enquanto tentavam recuperar o fôlego. Pomfrey ignorou-as durante alguns segundos, analisando novamente os sinais vitais do jogador de Quidditch.
— O vosso amigo teve muita sorte. Não tem quaisquer sinais de lesões internas ou externas o que, tendo em conta a altura de que caiu, é um verdadeiro milagre. Se não fosse o professor Flitwick não sei se ele teria sobrevivido.
Os olhares de todos ao redor de Snape voltaram-se para o pequenino professor que, pouco habituado a ser o centro das atenções, corou um pouco.
— Oh professor!!! — gritou Morgan, com um uma voz cheia de admiração pelo seu professor preferido. — Muito obrigada!! O que seria de nós sem si!!
Aliviada por saber que Severus estava bem e fora de qualquer tipo de perigo, Julia sorriu do entusiasmo da irmã, que não conseguia parar de agradecer ao professor de Encantamentos.
Lily, no entanto, estava furiosa.
— Estúpido!! Atirar-se assim daquela maneira, mas o que é que ele estava a pensar? E tudo por causa de um desporto idiota!! Que grande masoquista que ele me saiu!
Os olhares voltavam-se agora para Lily, que continuava a "insultar" Severus, o desporto dos feiticeiros e tudo o que lhe viesse à cabeça.
— Então Miss Evans, acalme-se por favor — disse a professora McGonagall, que entrara nesse momento dentro do campo, fazendo Lily corar de embaraço, por ter sido apanhada a dizer coisas menos próprias na frente de uma professora. — Agora já não há nada a fazer. Para a próxima avise o seu amigo que não vale a pena morrer por um jogo.
— Vá, afastem-se todos! Ele precisa de ser levado para a enfermaria, pelo sim pelo não. O espectáculo acabou, voltem a olhar para o jogo. E não quero ver mais ninguém magoado! Que vos sirva de exemplo. Nem feiticeiros conseguem voar sem vassouras.
Imobilizado, e já a flutuar a alguns metros do chão, Severus começou a ser conduzido para a enfermaria pela varinha de Pomfrey. Julia, Morgan e Lily não perderam tempo, seguindo imediatamente atrás dela e perguntando, em simultâneo: "Podemos ir com ele?".
Madam Pomfrey parou, voltando-se para trás e perscrutando-as de alto a baixo. As três raparigas permaneceram estáticas e mudas, quase contendo a respiração, enquanto aguardavam a decisão da enfermeira.
— Não creio que isso seja necessário — respondeu por fim, com voz autoritária mas suave.
— Porquê?!! Ele é nosso amigo é natural que nos preocupemos com ele! — ripostou Julia de imediato, completamente indignada. Nem sequer imaginara que a resposta da mediwitch pudesse ser não.
— Mister Snape está apenas desmaiado. Precisa de descansar, não ser perturbado e fazer mais uns exames. Agora as meninas vão continuar ver o jogo, para depois lhe contarem, e podem aparecer na enfermaria ao fim da tarde, altura em que ele terá alta se tudo correr bem.
— Mas...
— Fui clara, Miss Evans?
Lily acenou com a cabeça, olhando para o chão em seguida. Julia e Morgan respiraram fundo, ouvindo a enfermeira partir com Severus. Desoladas, as três raparigas voltaram para as bancadas, tentando prestar novamente atenção ao jogo, que deixara de ter importância agora que Severus já não estava em campo.
O resto do jogo passou-se rapidamente, com os jogadores de Slytherin a tentar conter James Potter a todo o custo e Lestrange procurando desesperadamente a snitch que parecia a única salvação para a equipa das serpentes. Gilderoy Lockart era uma verdadeira anedota em cima de uma vassoura, sempre preocupado com a sua imagem e o seu visual, ultrapassando em vaidade até Sirius Black, que era considerado o Narciso da escola.
Gryffindor, esses sabiam muito bem usar o seu trunfo, trabalhando todos não pela equipa, mas pela sua estrela, passando-lhe sempre a quaffle e não dando tempo a Lockart de respirar. Em poucos minutos estavam a ganhar por um numero exageradamente elevado de pontos, 75% dos quais tinham sido marcados por Potter.
— Festa dourada e escarlate nas bancadas! — GRYFFINDOR LIDERA, CENTO E QUARENTA–TRINTA! — Quaffle novamente para Potter — Os chasers de Slytherin tentam bloqueá-lo — beaters lançam as bludgers o mais rápido que podem — ataque de Gryffindor em posição — Lockart está novamente com aquele sorrisinho idiota —
— SKEETER!!!
— Desculpe professora, não consegui resistir... — Potter em posição — Lockart concentra-se na quaffle — Black B. voa a toda a velocidade para Potter — Potter atira... — MARCA!! — MAIS DEZ PONTOS PARA GRYFFINDOR! — Toma lá vaidoso de meia tigela!! Já vos comemos todos!!
— PELA ÚLTIMA VEZ, SKEETER!
— Sim, claro professora, got it! — Quaffle na posse dos Slytherin — Black B. passa para McNair — Interceptado por Longbottom — Potter outra vez na posse da quaffle — Bagman lança uma bludger na direcção do chaser escarlate — Potter desvia-se e passa a quaffle a Bell...
A partir desse momento, os lances repetiram-se sucessivamente, sem dar mínima hipótese aos Slytherin para ripostar. Aquele jogo estava mesmo a ser uma vergonha e a única coisa que os safou foi o salto precipitado de Lestrange sobre a snitch, que não deu sequer oportunidade a Johnson de lhe pôr os olhos em cima.
Conclusão, o resultado do jogo nem fora assim tão mau, considerando todos os pontos que tinham sofrido ao longo do tempo: 190 para os Gryffindor, 180 para os Slytherin. Apesar de tudo, Lestrange estava de parabéns naquele momento por ter salvo a equipa de uma derrota estrondosa.
O apito final soou, trazendo todos os jogadores de volta à realidade. O jogo mais importante do ano estava terminado e só no ano seguinte se voltaria a disputar outro. Os catorze jogadores desceram até ao solo, Slytherins de cabeça baixa e um pouco desolados e Gryffindors sorrindo, radiantes, para a sua claque, que batia palmas e gritava, ainda em estado de euforia, preparando-se para invadir o campo para festejar com as estrelas.
Madam Hooch arrumou as bolas na caixa, apressando-se a sair da Pista de Quidditch antes da enchente ter tempo de se aproximar. Os jogadores da equipa dos Slytherin dirigiram-se rapidamente para o balneário, procurando fugir aos festejos dourados e escarlates, enquanto que os Gryffindor iam abraçando os companheiros e amigos, sem qualquer pressa para deixarem o local da glória.
James e Sirius, mais sorridentes que nunca, andavam no meio da multidão, oferecendo partes do equipamento a fãs histéricas, que os perseguiam para onde quer que fossem. Remus e Peter rapidamente se juntaram aos amigos, trocando cumprimentos e parabéns e tentando convencê-los a irem almoçar, sem grande sorte.
O jogo tinha durado sensivelmente duas horas, contando com todas as paragens para a cobrança dos penalties e para o tratamento dos jogadores feridos. Quando finalmente os conseguiram arrastar para fora da pista já eram 13h30, mais que horas para almoçar, principalmente para eles que não tinham comido quase nada ao pequeno-almoço.
— Mas viste aquele lance Sirius? Estava tão longe que nunca pensei conseguir marcar, foi mesmo inacreditável!! — exclamou James para Sirius, enquanto pousavam as vassouras no armário.
Remus revirou os olhos para Peter, abanando a cabeça em sinal de puro desespero. Havia semanas que aqueles dois não falavam noutra coisa, as conversas que eles tinham andavam sempre à volta do mesmo tópico e ele, inocentemente, pensara que quando o jogo terminasse tudo voltaria ao normal. Normal, que para os dois Marauders significava falar de Quidditch durante 50% do seu tempo livre, mas mesmo assim seria um grande progresso.
Estava completamente farto daquele assunto, já vomitava mesmo Quidditch e a única razão que o fazia aturá-los era a grande amizade que sentia por eles. Mas até a sua paciência, que muitos diziam ser de santo, se estava a esgotar e ele sentia-se prestes a perder o controlo. Se eles pensavam que iam continuar com aquela obsessão estavam muito enganados!
— Eu sei! — foi a vez do Sirius se virar para James com os olhos a brilhar. — O jogo foi lindo e até nos livramos do Snivellus e tudo! E o Lockart!! Que grande anedota! Se é aquilo o melhor que eles conseguem fazer estão condenados ao fracasso. Tentei pôr o Lestrange fora mas não consegui. O idiota deve ter a cabeça mais dura que uma pedra, é impossível.
Peter riu-se, estupidamente, dos vários comentários insultuosos de Sirius, como fazia sempre. Remus, preparava-se para intervir, pôr um ponto final naquela situação toda, quando apareceram os restantes jogadores de Gryffindor, ainda equipados e carregando vários cestos cheios de todo o tipo de comidas. Kat aproximou-se de James, sorrindo timidamente e corando um pouco.
— A professora McGonagall deu-nos autorização para fazermos um picnic perto do lago, para aproveitarmos este dia magnífico e festejarmos a vitória. Queres vir connosco? — perguntou um pouco sem jeito. Vendo que o resto do grupo a olhava de forma curiosa, apressou-se a continuar: — E o Sirius claro. E os outros...
James sorriu ao ver o embaraço da seeker de Gryffindor, e trocando um olhar com os outros, disse em tom brincalhão:
— Minha cara donzela, tenho o maior prazer em acompanhá-la. Segui-la-ei para o inferno se isso significar mais tempo na sua presença — e fez uma grande vénia, beijando-lhe a mão em seguida.
Kat sorriu novamente, perdendo completamente a timidez, e entrelaçou o braço no que ele lhe estendeu, como nos contos de fadas e de príncipes encantados, puxando-o para perto do lago, onde estava uma toalha estendida na relva. Os outros jogadores seguiram-nos, encolhendo os ombros e rindo-se ás gargalhadas, ainda embriagados com a vitória.
Sirius entalou-se, um pouco ofendido por não ter sido ele o escolhido, mas um empurrão leve nas costas por parte de Remus fez com que ele rapidamente esquece-se o sentimento que se apoderara dele e seguisse caminho, seguindo o parzinho e arrastando os outros dois consigo.
No Grande Salão, a conversa girava toda à volta do tópico do dia, o jogo que acabara com a vitória de Gryffindor. A excitação ainda pairava no ar e não se falava de outra coisa. Todos pareciam comentar esta ou aquela defesa, um ou outro ataque e os lances de maior perigo. Os Gryffindor sorriam abertamente, quase brilhando de tanta felicidade, lançando olhares de provocação para a mesa oposta, onde os Slytherin tentavam afogar-se no prato da comida.
Até os professores se viram envolvidos no entusiasmo do jogo, fazendo elogios aos melhores jogadores para os companheiros do lado, discutindo entre si quem teria futuro como jogador profissional. McGonagall e Orpheus, Chefes de Equipa de Gryffindor e Slytherin respectivamente, estavam envolvidos numa calorosa discussão sobre o assunto e pareciam até ter esquecido que deviam dar o exemplo. Dumbledore olhava tudo isto com o seu brilhozinho habitual, satisfeito por ver que apesar de todos os problemas exteriores, Hogwarts permanecia intocável e inalterável.
Mas nem todos festejavam na mesa dos Gryffindor. Sentadas no fundo, afastadas de todos os outros que irradiavam felicidade, estavam duas raparigas, que comiam o mais rápido possível com uma expressão completamente miserável. Julia Welling e Lily Evans, eternas apoiantes de tudo o que era Slytherin e contra a sua equipa, só para provocar uns certos Marauders e apoiar Severus Snape, o seu melhor amigo.
Julia voltou-se para Lily, falando pela primeira depois do final do jogo. Estava-se a sentir perfeitamente humilhada, principalmente porque a única razão da vitória dourada e escarlate era o facto de Severus ter ido para enfermaria e Lockart (até Morgan defenderia melhor que ele e ela era um verdadeiro desastre em cima de uma vassoura, talvez por ter medo das alturas, e nunca tinha jogado Quidditch na vida) o ter substituído.
— Isto não pode ficar assim, Lily, não pode! Temos que nos vingar! Não foi nada justo! — gritou de repente para a amiga, que estava sentada na sua frente.
Os Gryffindors mais próximos olharam-na de sobrancelhas franzidas, sabendo que ela estava provavelmente a falar de vingança contra as estrelas do momento, mas não se querendo meter na confusão, com medo de atiçar mais a fera. Ninguém se metia com Welling e saía intacto, era certo e sabido. Mas também não a podiam deixar planear alguma coisa contra co-elementos da equipa, especialmente alguns tão importantes.
— Julia! Não dês tanto nas vistas! — tentou avisá-la Lily, um pouco tarde demais, falando em sussurros. — Mas não achas que estás a exagerar? Eles não fizeram exactamente batota, sabes disso. E o Sev tava a pedi-las quando decidiu lançar-se sem pára-quedas.
Julia lançou um ou dois olhares para o resto da mesa, chegando-se para a frente, com o intuito de poder falar com Lily à vontade sem ser ouvida. Precisava de se vingar da equipa de Quidditch dos Gryffindor, só conseguiria descansar depois de o fazer.
— Still, Lils. Ninguém os vai conseguir aturar durante meses, vão andar todos emproados como se fossem os maiores. Não vou conseguir aguentar. Não estou a dizer para fazermos alguma coisa em grande, ou que necessite de muitos planos. É só mesmo para me sentir melhor.
Lily lançou-lhe um olhar duvidoso, conhecendo-a bem demais para saber a seriedade com que a amiga via uma simples prank.
— Sério miga! Não vai ser nada estrondoso nem público, só um pequenino gosto do meu veneno... — Os olhos de Julia brilharam, e um plano começou a formar-se na sua mente.
— Julia, sabes que odeio conflitos. Não me vou sentir bem ---
— Lily, não tens que fazer nada, don't worry. Acabei de ter uma ideia genial!! — Julia esfregou as mãos uma na outra, com o ar de que está a planear alguma, e bebeu dois goles do Batido de Banana, antes de continuar. — Bem, já acabaste? Podíamos ir tentar ver o Sev à enfermaria. Eles devem estar provavelmente a almoçar e só depois é que devem ir para o balneário trocar de roupa... Sim, tenho que ver isso...
E continuou a falar para si própria, quase esquecendo Lily e a realidade, enquanto se levantava da mesa, mesmo sem acabar o resto da sobremesa e deixando o prato da comida quase intocável, e caminhava para junto da mesa da irmã, sendo acompanhada por Lily, que não teve outro remédio senão seguir a companheira de equipa.
— Mana, já acabaste? — perguntou uma Julia super excitada, quase não conseguindo conter o seu entusiasmo. Tinha uma prank genial planeada, infalível mesmo, que iria embaraçar todos os membros masculinos da equipa de Quidditch dos Gryffindor, e não queria perder tempo algum.
— Hum.. bem.. — respondeu Morgan entre duas garfadas. Panados com Arroz à Camponês era uma das suas comidas preferidas e estava mesmo a ver que não iria ter muito mais tempo para a saborear. — Na verdade...
Morgan continuou a comer, tentando arranjar a desculpa de estar com a boca cheia para não ter que responder à irmã. Não queria desapontar Julia, que estava radiante, nem fazê-las esperar, mas também não queria que elas fossem sem ela, porque assim ficaria sozinha.
— Oh... Nós vamos à enfermaria ver se podemos visitar o Sev. Mas se não quiseres ir, não tem mal... — disse Julia em voz baixa, quase a fazer beicinho.
Morgan olhou para o prato da comida e depois para Julia, parecendo estar a tomar uma decisão muito difícil. Respirou fundo, suspirando em seguida, dizendo:
— D'accord... Allez, on y va.
No entanto, não parecia muito decidida, continuando a comer o mais rápido que podia. Julia lançou-lhe um grande sorriso, agarrando-a pela mão e puxando-a para fora da mesa. Morgan lá se pôs de pé, a muito custo, mordendo o lábio inferior e olhando uma última vez para mesa. O olhar dela encontrou o prato com a sobremesa, Torta Gelada de Morangos, fazendo-a salivar e tentar, inconscientemente, libertar-se de Julia para chegar àquele doce de comer e chorar por mais.
Mas Julia conhecia muito bem a irmã, estando preparada para a sua tentativa de fuga. Os outros alunos começavam agora a olhar para eles, com expressões divertidas no rosto, abanando a cabeça para o vizinho do lado e comentando toda a situação. Tudo servia de pretexto para a fofoca, não havia nada a fazer. As três raparigas saíram do salão o mais rapidamente possível, dirigindo-se para o 1º Andar, onde se encontrava a enfermaria.
Infelizmente, a sorte não parecia mesmo estar do lado delas naquele dia. Madam Pomfrey não ficara nada satisfeita ao vê-las rondar a enfermaria, dizendo que estavam a perturbar os seus pacientes, incluindo Severus, e praticamente expulsando-as de lá, proibindo-as de voltar antes das seis da tarde.
Um pouco indignada, Julia arrastou as duas amigas para o exterior, decidida a começar mais cedo a primeira fase do seu plano. Observar atentamente o inimigo, tendo atenção aos mínimos detalhes. Morgan e Lily trocaram olhares entre si, desconhecendo completamente o que Julia andava a tramar.
Eram três da tarde. O sol brilhava alto no céu e a temperatura estava muito agradável. Encontraram os jogadores todos de Gryffindor estendidos na relva perto do lago, ainda com os uniformes vestidos, rindo e conversando animadamente.
Potter estava muito mais próximo de Kat do que o habitual, deitado quase colado a ela, brincando com uma madeixa do seu cabelo enquanto falava com ela baixinho, fazendo-a corar e irritando profundamente Lily, que detestava ver a amiga cair nas garras de mais um Marauder.
O resto da equipa estava dividida em grupos de dois ou três elementos jogando Exploding Snap em grupo ou com as cartas dos Sapos de Chocolate, contando anedotas e fofocas, tudo na maior alegria. Lupin, que estava sentado na relva e tinha as costas encostadas a uma árvore, lia um livro de Defesa e tentava ajudar Pettigrew com os trabalhos de casa. Black, no entanto, dedicava-se à arte do engate, o que sabia fazer melhor.
Vestido apenas com as calças do equipamento, tronco nu e bronzeado, o seu sorrisinho idiota chapado na cara, estava deitado de lado, com o braço esquerdo a apoiar a cabeça, e ia contando esta ou aquela façanha a Lucia Bell, que o ouvia com um olhar esgazeado e uma expressão meio apalermada no rosto.
Ao ver a cena, Julia levantou-se de trás dos arbustos onde estava escondida, virando-se para Lily e Morgan, que estavam agachadas atrás dela. Ao ver o olhar determinado da amiga, as duas raparigas trocaram olhares similares de pânico, tentando comunicar em silêncio uma com a outra.
— Mas que idiota! Quem é que ele pensa que é?
Sem lhes dar tempo para reagir ou sequer pensar no que tinha dito, Julia caminhou a passos largos para junto do local onde Black estava deitado, aproximando-se rapidamente da toalha e deitando-se entre este e Lucia sem que ele pudesse ripostar antes. Ele limitou-se a piscar os olhos várias vezes, pensando ter bebido demais e estar apenas a ver uma miragem.
— Sirius! — Julia quase se engasgava a dizer o nome, mas conseguiu tremer apenas duas vezes na palavra. — Mesmo a pessoa que eu estava à procura...
Sirius fez um barulhinho esquisito no fundo da garganta, olhando ora para Julia, que começara a fazer festas no cabelo dele, ora para Lucia, que, vermelha de raiva, parecia prestes a explodir. Mas o que é que se estava a passar? Um complô contra ele?
— Estive a pensar naquilo que disseste... — continuou Julia como se nada fosse, prendendo-lhe uma madeixa atrás da orelha e sorrindo ternamente. — E sim, Sir- ri.. aceito sair contigo.
O que aconteceu a seguir foi uma sequência de reacções tão ridículas e inesperadas que pareciam saídas de um filme. Era natural que as palavras de Julia causassem o espanto geral e a desacreditação total, mas não deviam já eles saber que Julia Welling faria qualquer coisa para embaraçar e humilhar Sirius Black?
Lucia levantou-se de um salto, correndo até ao castelo o mais rapidamente possível, com olhos a encherem-se de lágrimas. Julia estremeceu, tentando convencer-se que só a tinha poupado de dores futuras, e Sirius ficou a olhar para o vulto dela até este desaparecer, com uma expressão indecifrável no rosto. Depois olhou para Julia, franziu as sobrancelhas e abanou a cabeça, sem saber o que dizer.
Morgan e Lily apareceram entretanto, no exacto momento em que as outras pessoas presentes reagiam. Kat levantara-se de repente, olhando para a entrada do castelo e vendo Lucia a entrar, de cabeça baixa. Irritada, não se conseguiu conter, despejando algumas verdades que há muito desejava dizer.
— Julia, não sejas tão mesquinha. Se queres magoar o Sirius não precisas de atingir as outras pessoas!
Os olhares voltaram-se todos na sua direcção, espantados por verem a calma jogadora de Quidditch tão fora de si. Morgan, no entanto, correu logo em defesa da irmã, esquecendo por momentos que estava em território inimigo. Pondo o olhar duro, comentou, com a voz mais fria que conseguiu:
— E que tens tu a ver com isso? Afinal de contas, não fomos nós que começamos isto...
Aquilo pareceu a gota de água no copo de Johnson, que se aproximou de Morgan a passos largos e com olhar enfurecido, já quase fumegando de tanta raiva que sentia. Como se atrevia uma Slytherin, tratá-la daquele modo, humilhá-la na frente de toda a gente?
— Cala-te!! Não te metas onde não és chamada, cobra!
Os outros Gryffindor, principalmente Julia e Lily, ficaram a olhar para ela de boca aberta, não conseguindo acreditar no que tinham acabado de ouvir. Os olhos de Morgan brilharam e ela franziu a testa, tentando-se controlar. Mas antes de ter tempo de dizer o que quer que fosse já a irmã se metera entre as duas e tentava acalmar os ânimos.
— Vá, deixem-se disso. A culpa de tudo isto foi minha afinal, não há razões para vocês discutirem — começou, olhando ora para uma ora para outra. Depois, voltando-se para Black, continuou: — Era apenas uma brincadeira, não queria, de maneira nenhuma, magoá-la. Alright?
O ar pareceu ficar de repente mais leve, e todos respiraram de alívio ao ver as duas raparigas acalmarem. Sirius suspirou, sentando-se e procurando a parte de cima do equipamento. Os outros regressaram novamente ao que tinham estado a fazer, e as três raparigas procuraram um lugar para se sentar, encontrando-o junto dos dois Marauders menos perigosos.
— Os outros podem ter acreditado no teu ar de rapariguinha inocente mas eu conheço-te muito melhor que isso — sussurrou Sirius ao ouvido de Julia, tendo-se aproximado desta sem esta se aperceber. — Ou muito me engano ou já tens outra prank planeada, pronta a ser posta em prática. Não é verdade?
— Oh, não comeces! — respondeu-lhe Julia enquanto virava o rosto para ele. Morgan e Lily tentavam discretamente ouvir a conversa, sabendo que tratando-se daqueles dois, iria ser bem divertida. — Também não podes falar muito, é mais que natural que me conheças tão bem como a ti próprio, afinal és exactamente como eu...
— Eu?? Não sou nada! Sou muito melhor que tu! — Sirius ergueu as sobrancelhas sugestivamente, e Julia desejou conseguir arrancar-lhe o sorrisinho convencido que ele tinha na cara.
— Oh, por amor de... Não dá para ter conversas civilizadas contigo! Porque é que não vais ter com o espelho de uma vez por todas e nos livras da tua presença indesejada?
— Pronto, pronto... Não teve piada, já percebi, não precisas de afiar as unhas — ficou em silêncio durante alguns segundos, parecendo perdido num mundo à parte. Depois, os olhos dele brilharam e um sorriso estranho apareceu-lhe no rosto. — Então aceitas sair comigo, hem? Eu sabia que não conseguirias resistir por muito mais tempo.
Julia levantou-se num salto, mudando totalmente de humor numa questão de milissegundos. Detestava aquele tipo de insinuações, talvez por tocarem bem mais fundo do que ela desejava que fosse verdade. As atenções ficaram novamente fixas no parzinho mais badalado de toda a escola, curiosos para saber o que se passara.
— Ah Ah, Black, que piada. No dia em que aceitar sair contigo podem-me internar em S. Mungos porque estarei completamente pirada da tola. Preferia mil vezes beijar um Dementor!!
— Ouch! — gritou Sirius de forma teatral, levando a mão ao peito e pondo uma expressão de grande sofrimento no rosto. — Não precisas ser tão bruta. Vou ficar traumatizado para o resto da vida, e a culpa é toda tua.
— Oh, coitadinho! Custa ouvir as verdades, não é? — imaginando já a reacção de Black, Julia não ficou parada à espera dele, correndo para se tentar esconder atrás de uma árvore.
— Hey! Coitadinho não, que é corno! Retira já o que disseste! — gritava Sirius a altos berros, enquanto corria atrás de Welling, que tentava conter o riso e não ser apanhada.
Os outros riam-se já ás gargalhadas, muito habituados a este tipo de situações mas não conseguindo deixar de a achar cómica. Aqueles dois pareciam mesmo um casal de namorados em brigas constantes, mas se alguém menciona-se esse facto a algum deles arriscava-se a perder algum membro do corpo, em dia de sorte. Se por acaso estivessem de mau humor só os poderes superiores saberiam o que lhes aconteceria.
Quando já tinham acalmado, Lily virou-se para Remus, que se encontrava alguns metros à sua frente, perguntando:
— Hum... Estás a precisar de todos os teus livros? A Julia arrastou-me até aqui e nem tive tempo de ir buscar os meus...
Remus sorriu, um pouco embaraçado por não estar habituado a que lhe dirigissem a palavra de forma tão gentil, e apontou com a mão para o monte de livros pousado na sua frente.
— Conheço muito bem o tipo. Podes pegar à vontade, e se a Morgan quiser... — corou de repente, talvez por se aperceber que a tinha tratado pelo primeiro nome, e voltou a enterrar a cabeça no livro, tentando fazer com que o coração deixasse de bater tão depressa.
— Ah, obrigada Remus — disseram as duas raparigas ao mesmo tempo, enquanto pegavam em "Transfiguração: Segredos que não se Aprendem nas Aulas" para Lily e "Encantamentos: O que Pode Correr Mal" para Morgan, ambos da mesma colecção e muito úteis como livros de base.
Kat entretanto acalmara, estando novamente a conversar em privado com James, e tudo regressara à normalidade anterior, agora que o furacão chamado Julia Welling já tinha desaparecido de vista. Claro que todos admitiam que as coisas ficavam sempre sossegadas demais sem a presença daqueles dois, mas uns momentos de silêncio eram sempre bem-vindos.
Como acontece sempre que nos estamos a divertir, o tempo passou rapidamente e quando deram por ela já eram quase cinco horas. Começara a passar um vento frio e um pouco desagradável e decidiram finalmente recolher aos balneários para tomarem banho e se aprontarem para o jantar. Era habitual ficarem debaixo do chuveiro durante horas, e estava-se a fazer tarde.
Morgan e Lily devolveram os livros a Remus, que se levantou e seguiu com Peter para a Sala Comum, sabendo que não valia a pena esperarem pelos outros dois porque estes demorariam uma eternidade, como sempre. As duas raparigas, por sua vez, decidiram ir procurar Julia e tentar tirar-lhe a prank da cabeça, sabendo que seria praticamente impossível mas não custaria nada tentar.
Foram-na encontrar numa posição um pouco suspeita, deitada na relva a rir-se às gargalhadas, com Black por cima dela, parecendo fazer-lhe cócegas. Ficaram imediatamente preocupadas, lembrando-se imediatamente da prank maldita que iniciara todo o desejo de Julia de vingança, ambas preparadas para lutarem pela amiga se fosse preciso.
Aproximaram-se desta, um pouco relutantes, ouvindo-a gritar, por entre risos, para este a largar, que estava muito arrependida. Ah! Morgan e Lily respiraram de alívio, agora certas que Julia continuava ela própria. Conheciam-na bem demais, tinham ouvido o sarcasmo na voz da amiga.
— Bem, parece que vou ter que te continuar a torturar...
— Nã—Não! — respondeu-lhe Julia entre soluços. Respirava ofegantemente, estando completamente vermelha e cheia de calor. Mas tinha que admitir que até se estava a divertir, demais até, tendo em conta a pessoa com quem estava.
— Retira o que disseste ou então--
— What? Vais bater-me Siri? Tsk tsk — abanou a cabeça em sinal de troça, contendo o riso ao ver a expressão que ele fizera. — Não sabes que a uma mulher não se bate nem com uma flor?
— Pois não, é logo com o---
Mas Sirius não teve tempo de continuar a responder, porque nesse preciso momento viu a sombra das duas raparigas a aproximarem-se deles, e olhou para cima, mesmo a tempo de ouvir o comentário de Lily:
— Dizem que o ódio acaba sempre em amor... e pelo que estou a ver...
Ao ouvir estas palavras, Julia levantou-se num salto, esquecendo-se que Sirius estava praticamente sentado em cima dela e fazendo com que ele caísse de cu no chão, completamente desamparado. Embaraçada por ter sido apanhada numa posição tão comprometedora, especialmente porque se sentia tão bem perto de Black e cada vez era mais difícil escondê-lo, tentou fazer um ar indignado e denegrir ao máximo toda aquela situação.
— Ora Lily nem digas isso a brincar! Estava a ser assediada!
— Mais bien sûr que tu étais! Longe de nós afirmar outra coisa... — foi a vez de Morgan comentar.
Sirius, entretanto, pôs-se de pé, mesmo a tempo de ouvir James chamá-lo para ir trocar de roupa aos balneários. Correu para lá, gritando um "Depois a gente conversa!" para Julia, que sorriu maliciosamente e encolheu os ombros, como que dizendo que estava à espera desse momento. Lily e Morgan trocaram olhares, focando os olhos em seguida na amiga, que olhava o local de onde Black desaparecera com uma expressão pensativa. Depois, reparando no olhar das duas, apressou-se a por um ponto final em toda aquela história.
— Nem sequer pensem em comentar! — Viu as duas raparigas cochicharem baixinho, trocando risinhos em seguida. — Oh, vá lá. Não sejam assim. Estávamos apenas a divertir-nos, mais nada.
— Pronto, Juls, não te chateies que não é preciso. Mas tens que admitir que é um pouco estranho ver-vos a darem-se tão bem, assim de repente, quase caído do céu — respondeu-lhe Lily enquanto se dirigiam as três para a zona dos balneários de Quidditch.
— Sim mana, lá isso é verdade. Desde a tua vingança, antes do Halloween que vocês parecem estar em cessar fogo, com a excepção do nervosismo pré-jogo que culmina sempre em insultos e pranks, e ainda não conseguimos descobrir porquê.
Ao ouvir as palavras de Morgan, Julia parou no meio do caminho, voltando o olhar para a irmã e a melhor amiga. Sim, de facto as coisas tinham mudado entre ela e Black, mas ela não sabia muito bem a razão dessa mudança. Não que ela fosse deixar de pregar partidas a Black, muito pelo contrário, mas aquela troca constante de insultos e humilhações tinha começado a desaparecer lentamente, e agora ambos já eram capazes de estar no mesmo local e até ter conversas civilizadas sem recorrer à violência.
— Oh, não sei. Sinceramente, acho que foi uma coisa que aconteceu gradualmente. Também não podemos passar o resto da vida a insultar-nos mutuamente, não acham?
Lily olhou-a cepticamente, não conseguindo acreditar que as rivalidades entre os dois pudessem ter acabado tão repentinamente. Se lhe perguntassem a sua opinião diria que Julia estava finalmente a render-se aos encantos do galã de Gryffindor, mas nunca teria coragem de o fazer na frente dela, pois valorizava demais a sua vida e ainda estava na flor da idade. Seria uma grande perda para o mundo se lhe acontecesse alguma coisa.
— Então acabaram-se as pranks?
— O quê?? Claro que NÃO!! Estás doida? — Julia olhou para Lily como se ela tivesse acabado de dizer que o sol era azul, recomeçando a andar em seguida. — Foi exactamente o nosso amor pelas pranks que nos aproximou. Às vezes duas mentes pensam melhor que uma e tenho que admitir que no que diz respeito a pranks ele sabe o que faz. Mas isso não me impede de me divertir, e de me vingar... O que me lembra que temos trabalho para fazer.
— Oh! Não me digas que ainda não desististe disso? — perguntou-lhe Morgan exasperada. Pensara que Julia se tinha esquecido daquela ideia absurda de vingança sobre a vitória dos Gryffindor mas, conhecendo a irmã como conhecia, devia ter adivinhado que ela nunca se iria esquecer de uma coisa daquelas.
— Achas mesmo? Até parece que não me conhecem... — Julia olhou-as espantada, quando reparou que nenhuma delas tinha comentado no local para onde iam. — Não me digam que ainda não se tinham apercebido que vamos na direcção dos balneários dos Gryffindor...
— O QUÊ?? — gritaram ambas ao mesmo tempo, trocaram olhares que podiam ser traduzidos por: "Socorro!! Tirem-nos daqui!".
Tinham chegado à entrada dos balneários, e lá dentro podia-se ouvir um conjunto de vozes masculinas em várias conversas paralelas, algumas mesmo a cantar, a água dos chuveiros a correr, roupas a serem removidas e ruídos de passos que se movimentavam no interior. O vapor de água quente saía pela janela aberta, dando a impressão que o interior se encontrava em chamas, ou que tinham chegado a uma discoteca.
— Não sejam medricas meninas! É só uma coisinha indefesa mas muito divertida. Vocês nem precisam de fazer nada, apenas vigiar se vem alguém. Eu trato de tudo. — retorquiu-lhes Julia, que toda despachada, colocava já o ouvido contra a porta para tentar ouvir o que se passava lá dentro.
Quando estava certa que todos os rapazes se encontravam no chuveiro, voltou-se para trás, piscando o olho a Morgan e Lily, e pousou a varinha sobre a fechadura, sussurrando "Alohomora". A porta abriu-se lentamente, sem o mínimo de ruído, e as duas raparigas observaram Julia entrar, fechando a porta atrás de si.
Os segundos seguintes pareceram intermináveis. Não tinham a mínima ideia sobre o que ela andara a planear, e por isso não podiam imaginar quanto tempo esta demoraria. Quando finalmente a porta se abriu novamente, respiraram de alívio ao vê-la sair, mas beliscaram-se de espanto quando repararam que ela estava completamente carregada de roupas e sapato masculinos, que se apressou a esconder com feitiço que tornava objectos invisíveis, tendo uma certa dificuldade em andar.
— Julia, tu estás doida??!!! — gritou-lhe Lily em pânico, pensando em todas as regras que já tinha quebrado por causa da melhor amiga e já imaginando a reacção de McGonagall ao descobrir o sucedido.
— Hey, relaxa... Tenho tudo sob controlo, Lils. Vamos mas é embora antes que eles se apercebam.
Julia não esperou que elas se decidissem, seguindo logo caminho em direcção ao castelo. Morgan olhou para a porta, e em seguida para Julia, encolhendo os ombros e puxando Lily com ela, sabendo que não havia maneira de a impedir de fazer o que quer que fosse, principalmente pranks, e seguiu atrás da irmã, que caminhava com um ar radiante.
James fechou a água do chuveiro, pegando em duas toalhas do cabide e começando a enxaguar-se. Quando já estava relativamente seco, enrolou uma na cinta e com a outra começou a tratar do cabelo, enquanto continuava a discussão com os companheiros de equipa.
— Mas digo-vos, o Snape ganhou alguns pontos na minha consideração. Fiquei completamente embasbacado.
— Oh James, sinceramente pensei que fosses ficar chateado por terem conseguido defender um dos teus lances... — admitiu Frank Longbottom, que terminava o seu duche.
— Sim, a principio um bocado — James admitiu, mas os olhos dele diziam o contrário. — Mas tendo em conta que ele quase morreu por causa disso, acho uma grande injustiça pensar só em mim. Ele não é assim tão mau...
— Tas a gozar? — perguntou-lhe logo Sirius, que não aguentava três minutos sem insultar o seu Slytherin favorito. — Agora ninguém o vai conseguir aturar, Snivellus idiota.
— Sirius... Se a Welling te ouve...
— Hey! Eu quero lá saber se ela ouve. O que é que me interessa o que ela pensa?
James abanou a cabeça, olhando de lado para o melhor amigo, que penteava o cabelo na frente do espelho com grande cuidado. Sempre que passava algum tempo agradável com Julia, Sirius achava que o tinha que compensar com alguns insultos e comentários mesquinhos, na tentativa de esconder que Welling, rebelde e insubmissa, indiferente a todo o seu charme, lhe dava completamente a volta à cabeça.
Após pousar a toalha do cabelo no cesto da roupa suja, saiu da zona dos chuveiros, entrando na divisão principal, para se vestir e arranjar. No entanto, uma surpresa desagradável esperava-o, e James parou, estático, no meio do balneário, de olhos esbugalhados e com uma enorme expressão de choque no rosto.
— Sirius!!! Sirius!!! — James parecera ter perdido toda a capacidade de formar frases coerentes, gritando o nome do amigo como se fosse a sua tábua de salvação no meio de todo aquele drama.
Os outros rapazes foram imediatamente atraídos pela voz de James, correndo para ver o que se passara. Expressões similares de espanto apoderaram-se das suas faces, e o pânico instaurou-se num ápice. A razão era muito simples. Todas as suas roupas tinham desaparecido e, na parede contrária à porta estava uma grande mensagem escrita a verde, onde se liam as palavras "Nada como um balde de água fria para refrescar os ânimos após uma vitória. With Love, Whitie!".
Durante segundos, ninguém falou. Depois, começaram todos a falar ao mesmo tempo, mas a voz de Sirius prevaleceu sobre todas as outras, ecoando por todo o balneário:
— WELLING!! EU DESFAÇO-TE!!!
