Capítulo 7 – A nova amiga

Aquela era a primeira noite que Rebeca iria passar na sua casa nova. Depois de terem ajeitado muitas coisas juntas, Rebeca deixara Winky voltar para o castelo para descansar e a moça estava sozinha, olhando as roupas novas que ganhara. Devido ao problema com o braço ainda machucado, ela teria que pedir ajuda a Winky para colocar algumas dessas roupas, pois não podia se vestir sozinha.

A noite quente de verão a levou à varanda para observar o lago. Sentou-se numa das grandes cadeiras e recebeu a brisa quente no rosto. Com sorte, na noite seguinte, ela talvez pudesse ver de longe as carruagens que traziam os alunos para mais um ano escolar. Rebeca pensou nisso com um misto de dor e saudade por anos tão inocentes que jamais voltariam à sua vida.

O Prof. Dumbledore sabia o que dizia quando falou em solidão.

Aquela seria sua vida dali para frente.

Antes que pensamentos nebulosos lhe turvassem a mente, Rebeca ouviu um barulho na noite. Uma luz fraca vinha da estradinha e aproximava-se. Alguém estava chegando. Antes sequer que ela pudesse se preocupar, ela identificou o visitante.

Era Snape.

A moça sentiu seu coração se aquecer e saudou, erguendo-se da cadeira

- Bem-vindo! Estou feliz que esteja aqui.

Ele trazia um grande volume escondido debaixo de um lençol, e saudou:

- Espero que esteja bem instalada. Trouxe um presente para você.

Com um gesto elegante, ele descobriu o grande volume e os olhos de Rebeca brilharam de alegria.

- Uma coruja!

A coruja marrom, de grandes olhos cinza e penas douradas em volta dos olhos, olhava para ela curiosamente e deu um pio. Snape disse:

- O dono da loja me garantiu que o animal é muito esperto e amigável. Também servirá como meio de comunicação com você e Hogwarts, ou até com outros locais sem levantar tantas suspeitas.

Rebeca sequer olhou para Snape, fascinada com a coruja. Ela indagou:

- E é macho ou fêmea?

- Fêmea.

- Qual é o nome dela?

- Eu preferi que você escolhesse.

- Hum... Eu sempre gostei de nomes gregos para corujas. Nesse caso, eu acho que vou dar-lhe o nome de Atalanta. Ou melhor ainda - Héstia.

Snape ergueu as sobrancelhas:

- Hum... dois mitos misteriosos da Grécia Antiga. Sabia que Héstia era originalmente um dos 12 deuses do Olimpo e mais tarde foi substituída por Dionísio?

- Eu não sabia disso. Mas sei que Héstia presidia o calor da casa, a introspecção. Vou precisar muito dessa deusa grega neste lugar. Portanto, está decidido: Héstia será seu novo nome, amiguinha – ela pegou a gaiola – Vamos entrar. Quero que veja como a casa está ficando.

Snape adentrou a sala e viu que estava uma residência muito limpa e razoavelmente confortável. Rebeca disse:

- Ainda pretendo mudar alguma coisa aqui e ali. E você, Héstia, vai para fora da gaiola. Não vai precisar de uma enquanto estiver comigo.

Ela abriu a gaiola e a coruja voou pelo teto alto da cabana, esticando bem as asas. Depois ela pousou no ombro de Rebeca e piou de maneira afeiçoada. A moça riu:

- Ah, eu já gostei de você. Tenho certeza de que vamos nos dar muito bem.

- Antes que eu me esqueça – disse Snape, tirando algo que parecia ser um palito de fósforo quebrado do bolso do paletó -, Héstia vai precisar de uma casa. Aqui parece um bom lugar.

Ele colocou o palito no chão perto da parede e agitou a varinha. Logo o palito cresceu e cresceu tanto que virou um poleiro. Héstia entendeu o recado e voou para sua nova casa.

- Oh, Severo – encantou-se Rebeca – Como você sabia que eu queria Héstia dentro de casa?

- Bom, Héstia é uma coruja-de-igreja. Está acostumada a ambientes fechados. Você não precisa se preocupar muito com a alimentação dela. Ela é exímia caçadora, e deverá encontrar caça farta nestas matas e perto do lago.

Rebeca já estava enchendo uma tigela de água, dizendo:

- Ela pode caçar se quiser, mas eu faço questão de ter alimentação para ela aqui. Espero que nós duas sejamos grandes amigas.

- Tudo indica que sim.

Ela colocou água fresca para a coruja, que aceitou a oferta de bom grado. Depois ela se virou para Snape, que estava de pé e horrorizou-se:

- Mas que péssima anfitriã que eu sou. Por favor, sente-se.

Snape sentou-se numa poltrona que decididamente não tinha coisa alguma a ver com Hagrid – nem no tamanho, nem no estilo. Ele notou que Rebeca já tinha modificado a cabana a seu gosto.

- Fez um bom trabalho aqui.

- Desculpe. Ainda não estou equipada sequer para lhe oferecer chá.

- Não se preocupe comigo. Er, eu também lhe trouxe alguns livros. Onde quer que eu os coloque?

Rebeca olhou em volta:

- É pena eu não ter nenhuma prateleira por aqui. Acho que eu gostaria que eles ficassem perto da lareira.

Snape se ergueu, com a varinha em punho:

- Não é problema.

Ele conjurou uma prateleira suspensa na parede perto da lareira e lá colocou umas bolinhas que retirou do bolso. Ao alargar as bolinhas, cada uma delas virou um livro. Rebeca tinha pelo menos duas dúzias de opções de leitura.

Ela estava maravilhada.

- Oh, Severo, muito obrigada. Veja só isso. São muitos romances e novelas! Meus preferidos!

- Você vai ter bastante tempo em suas mãos, e disse que gostaria de se ocupar com alguma leitura, então eu achei que isso seria útil.

- Foi muito gentil.

- Vejo que sua saúde também melhorou. Fico satisfeito.

- Espero que possamos continuar com nossas conversas. Num horário mais civilizado, claro.

- Com as aulas recomeçando, não posso lhe prometer a mesma freqüência. Mas gostaria muito de continuar a conversar com a senhorita.

- Já lhe pedi que me chamasse de Rebeca.

- Está bem... Rebeca. De qualquer modo, não posso me demorar muito. Toda a movimentação para amanhã, você sabe.

Rebeca tentou não parecer muito triste:

- É claro, eu entendo.

- Mas se quiser me mandar alguma mensagem, por Héstia ou outro meio, por favor, não hesite.

- Você já fez tanto por mim. Gostaria de fazer alguma coisa por você. Talvez possamos jantar juntos um dia desses, ou algo assim.

- Está combinado. Vamos fazer um jantar.

- Até lá, terei tempo de colher algumas flores e dar uma mexida na casa. Espero me ocupar dessas coisas.

- Acho formidável. Bem, é melhor eu deixá-la descansar em sua nova casa. Boa noite, Rebeca.

Rebeca se ergueu ao mesmo tempo que ele e de repente sentiu-se tão acariciada que não resistiu ao impulso de abraçá-lo. Snape ficou retesado e francamente assustado com a demonstração da moça. Se ela percebeu algo, não demonstrou, pois continuou sorrindo.

- Muito obrigada por tudo. Você tem sido um grande amigo.

Fazendo o máximo para parecer natural, ele disse:

- Er... Procure tomar suas poções e descansar bastante. Você ainda precisa se recuperar.

- Obrigada. Boa noite, Severo.

Ele se dirigiu à coruja:

- Héstia, tome conta de sua nova dona e ela tomará conta muito bem de você. E qualquer problema pode me procurar, mesmo no meio de uma aula.

O animal piou e Rebeca levou Snape até a porta. Ele sacou a varinha e disse:

- Lumos!

A ponta da varinha acesa foi o pontinho de luz que Rebeca viu desaparecer na escuridão à medida que Severo Snape trilhava o caminho de volta ao castelo. Ela está só, mas não se sentia solitária, e sorriu para Héstia.

Sua nova vida começara.

Capítulo 8 – A visita inesperada

Depois de uma semana, Rebeca tinha se acostumado a uma nova rotina bem diferente da que tinha nas masmorras. Ela queria sair de dentro de casa, e agora poderia dar passeios para longe do castelo. Winky cuidava da casa e da roupa sem problemas, deixando-a com muito tempo livre.

Sem pressa, ela se dedicou aos livros, e procurou conhecer cada palmo de terra que a rodeava. Também gostava de banhar as pernas no lago para se refrescar do verão que já ia se despedindo. Em meio àquela paz e aquela quietude, ela se sentia segura, mesmo estando a poucos metros de mais de mil alunos curiosos e irrequietos. Até a noite em que sua tranqüilidade foi quebrada.

A noite era sem lua, e ela estava na varanda, ouvindo o doce remanso do lago ali perto. Héstia, geralmente quieta, começou a se movimentar, a bater asas. Rebeca estranhou:

- O que foi, amiguinha? Alguma coisa a perturba?

Foi então que ela ouviu um barulho na mata. Olhou para a noite escuro e nada viu. Inquietou-se. Uma sensação de peso começou a doer-lhe o peito. Pela primeira vez, Rebeca sentiu-se sozinha e desprotegida.

O barulho voltou e estava mais perto. Parecia que algo caminhava no bosque. Héstia continuava inquieta e piou alto. Rebeca estremeceu e tomou uma decisão.

- Héstia, vamos para dentro.

Ela recolheu a coruja no seu poleiro e fechou a porta da frente com o ferrolho, coisa que pela primeira vez se preocupou em fazer. Talvez ela estivesse exagerando. Talvez fosse apenas um bicho que queria beber água no lago. Rebeca estava apavorada que fossem homens rondando a cabana. Mais especificamente, homens de capuzes negros e máscaras brancas.

Héstia piou alto e Rebeca queria silenciar a coruja, dar impressão que a casa estava abandonada. Depois lembrou-se que deixara uma luz na varanda. Mas agora não podia voltar e apagar a luz.

Sua respiração quase falhou quando ela ouviu as batidas fortes e ritmadas na porta. Num impulso, ela se colocou atrás da porta, para impedir a entrada do intruso com seu próprio corpo contra a porta.

- Quem é?

Uma voz grossa e forte respondeu do outro lado:

- Meu nome é Sirius Black e tenho um recado de seu tio para você.

Uma onda de terror passou por todo o corpo de Rebeca. Seus ouvidos mal podiam captar sons de tanto sangue que passava na direção de sua cabeça.

O infame Sirius Black estava na sua porta. Rebeca sabia das histórias – elas tinham povoado sua infância de terror. Aquele homem sozinho tinha assassinado mais de uma dezena de trouxas, depois de trair e matar os pais do então bebê Harry Potter. Tinha ficado 12 anos em Azkaban, e um dia fugira da prisão, o único homem a conseguir isso. Todos diziam que ele era o braço direito de Voldemort, um homem sanguinário e muito perigoso.

E ele estava na sua porta.

Lívida, Rebeca gritou:

- Não! Fique longe de mim!

- Abra a porta! Deixe-me falar com você!

- Não! Você matou os Potter! Afaste-se de mim! Deixe-me em paz!

- Tenho um recado de seu tio Artêmio! Por favor, deixe-me entrar!

Rebeca gritava, tremendo, mas sabia que estava sem saída. A casa não tinha saída dos fundos, ninguém sabia que aquele homem estava ali, e ele iria matá-la sem dó nem piedade, como bom seguidor de Voldemort. Era simples: ela estava perdida.

Apavorada, tentando imaginar uma saída, ela afastou-se da porta, olhando ao redor, buscando alguma coisa:

- Não! É mentira! Por favor, vá embora!

- É verdade! – ele dizia – Precisa me escutar, Rebeca! Sou amigo de seu tio!

- É mentira! Meu tio não é amigo de Comensais da Morte!

Ela abriu a janela, pegou um pedaço de pergaminho, rabiscou a palavra socorro e entregou o papel a Héstia, dizendo:

- Héstia, por favor, procure o Prof. Dumbledore em Hogwarts. Por favor, Héstia, me salve!

A coruja pegou o papel no bico e zuniu pela janela afora, enquanto Black continuava a bater na porta e a gritar mentiras. De repente, Rebeca ouviu um grande estrondo na porta. Ele estava tentando arrombá-la!

- Vá embora! – ela gritou, chorando, e encolheu-se ao lado de sua cama.

Se a porta ao menos agüentasse...

Parecia de propósito, porque no exato momento em que ela pensou isso, a porta veio abaixo.

Rebeca gritou o mais alto que pôde e se imprensou contra a parede, tentando imprimir o máximo de distância entre ela e o homem que a ameaçava. Não daria tempo de ninguém chegar, não havia jeito, ela estava morta.

- Por favor – pediu ela, entre lágrimas -, não me machuque.

Ele era alto, de cabelos pretos compridos sobre o rosto e a olhava fixamente, como se tentasse decidir o que iria fazer com ela. Isso aumentou o desespero de Rebeca. De repente, ele disse:

- Eu não vou machucar você.

- Fique longe!

Black ficou imóvel, dizendo uma voz calma:

- Eu não vim aqui machucar você. Precisa acreditar em mim. Olhe, eu ficarei aqui e você aí. Não vou chegar perto de você.

- O que você quer de mim?

- Eu disse que vim dar notícias de seu tio e não estou mentindo. Artêmio está numa missão para a Ordem. Pediu muito que desse um recado a você.

- Que recado?

- Que a missão está mais difícil do que ele pensava, então ele vai se demorar, mas ele continua pensando em você. Ele me recomendou muito que lhe dissesse que gostaria de estar a seu lado, mas as coisas se complicaram e ele sente muito.

- Como vou saber que você está falando a verdade?

- Precisa confiar em mim. Eu não sou quem você está pensando. Eu nunca matei ninguém e fui preso injustamente.

- Você não trabalha para Você-Sabe-Quem? Todos os Black são seguidores dele!

- Menos eu. Por isso fui deserdado da família.

Rebeca continuava encolhida e disse, desconfiada:

- Meu tio nunca falou de você.

- Tenho certeza de que foi para protegê-la. Ele me falou muitas vezes da garotinha que costuma sentar em seus joelhos e olhar para o céu, para quem ele contava as lendas gregas por trás das constelações.

Aquilo tocou o coração de Rebeca. Ela não tinha imagem mais querida de sua infância do que estar no colo de seu tio, olhando para o céu estrelado e falando de lindas histórias de deuses e deusas e de como todos eles se encontravam no céu acima de suas cabeças... Para ela, que não tinha mágica, aquilo tudo era ter um pouco da magia diante de seus olhos.

Mais importante, isso provava que Sirius Black realmente falava a verdade. Pois só seu tio Artêmio sabia daquilo.

- Você falou mesmo com tio Artêmio?

Ele perguntou, franzindo o cenho:

- Agora você acredita em mim?

- Não sei.

De repente, uma grande luz se fez na sala atrás dos dois. De lá, apareceu Dumbledore, que Rebeca reconheceu estar inquieto:

- Rebeca...!

Ela rapidamente gritou:

- Prof. Dumbledore, aqui!

O velho diretor de Hogwarts entrou no quarto e seus olhos se arregalaram:

- Sirius – pela primeira vez o professor pareceu agitado – Confesso que jamais esperava encontrá-lo aqui.

Sirius se ergueu e parecia um tanto embaraçado:

- Dumbledore, eu tive que vir. Artêmio me mandou um recado para eu transmitir a Rebeca.

Dumbledore ergueu uma mão para silenciá-lo e Sirius parou de se explicar. A atenção do professor voltou-se para a moça, ainda encolhida no chão, parecendo apavorada, o rosto banhado em lágrimas.

- Rebeca, minha criança, pode se levantar. Tudo está bem agora.

Hesitante, ela indagou:

- Mesmo?

- Sim – garantiu Dumbledore – Não precisa ter medo. Sirius foi vítima de traição e é inocente das acusações que pesam contra ele. Como seu tio, ele é um membro da Ordem da Fênix.

Rebeca olhou atrás de Dumbledore e disse:

- E... essa é a fênix?

A magnífica ave estava atrás de seu dono, e Héstia voava em círculos ao lado da fênix, agitada.

- Esse é Fawkes. Ele me trouxe aqui quando recebeu seu pedido de socorro.

Agora quem estava embaraçada era Rebeca.

- Desculpe tê-lo trazido aqui à toa. Eu realmente pensei que estava em perigo.

Dumbledore tinha um ar sério quando disse:

- Não, não, não foi à toa. Foi bom eu saber que Sirius está aqui. Ele não pensou em me avisar do fato.

- Foi uma decisão do momento – justificou ele, sem muita convicção.

Rebeca disse:

- Eu pensei que você estivesse sendo procurado pelas autoridades.

Dumbledore disse, fazendo-o enrubescer:

- E está. Por isso ele tem a recomendação de permanecer escondido. Pensei que a saída do começo da semana tivesse lhe ensinado uma lição.

Rebeca arregalou os olhos:

- Você saiu no começo da semana?

Sirius parecia uma criança recebendo um sabão dos pais, tentando se explicar:

- Meu afilhado começou o ano em Hogwarts e eu fui levá-lo até a estação de trem. Eu vou sentir muita falta dele, então quis fazer uma despedida.

- E ninguém viu você?

Ele deu de ombros:

- Eu fui disfarçado.

- Nossa, isso foi muito arriscado – Rebeca sentou-se na sua cama – Vir até aqui também foi muito arriscado. Eu lhe devo desculpas por meu comportamento. Você se arriscou para vir dar um recado de meu tio e eu tratei você muito mal. Desculpe, Sr. Black.

Sirius deu de ombros:

- Foi uma reação perfeitamente compreensível. Para todos os efeitos eu sou um criminoso perigoso e sanguinário. Você tem todos os motivos para ter medo de mim.

Dumbledore disse:

- Ao menos o mal-entendido foi desfeito. Agora, se me derem licença, preciso voltar a Hogwarts para tratar de alguns assuntos pertinentes à escola. Você me acompanha, Sirius?

- Na verdade, eu gostaria de falar um pouco mais com Rebeca.

- Oh, bem – Dumbledore olhou fixamente para ele, uma expressão indefinível, mas certamente não era agradável – Como queira. Boa noite, Rebeca.

- Boa noite, professor. Obrigada por ter vindo tão depressa.

- Fique em paz, criança. Vamos, Fawkes.

Rebeca os acompanhou até a porta, e de lá ela viu Dumbledore e a fênix sumirem num clarão de fogo. Sirius comentou:

- Essa foi uma saída meio dramática, não acha?

Rebeca sorriu e entrou de volta na cabana, dizendo:

- O Prof. Dumbledore tem sido muito bom para mim. Ele tem me protegido.

- Lamento que você tenha que se esconder. Você parece uma pessoa tão jovem, com tanto para viver... Não é justo ter que se enfurnar nessa casa, isolada de tudo e de todos.

Ela deu de ombros.

- Não estou tão isolada assim. Recebo visitas de vez em quando e tenho minha coruja para me comunicar com o mundo exterior. É tranqüilo.

- Não sei como consegue ficar tão calma. Ficar entocado me angustia muito.

- Pelo menos eu posso entender bem como se sente – ela sorriu – Gostaria de tomar alguma coisa? Eu posso fazer um chá.

- Eu poderia tomar uma xícara, mas mais tarde. Agora tenho que consertar sua porta.

Rebeca se riu, indo buscar água para esquentar:

- Sinto que isso tudo foi minha culpa, Sr. Black.

Ele tirou a varinha e disse:

- Pode me chamar de Sirius. Afinal, Artêmio fala tanto de você que eu só me refiro a você como Rebeca. É justo o tratamento ser recíproco.

Com um movimento floreado com a varinha, ele ergueu a porta e restaurou-a nas dobradiças. Depois ele consertou o ferrolho e virou-se:

- Pronto!

Rebeca sorriu de novo:

- Muito obrigada por isso. Agora eu sei que não teremos nenhum bicho entrando aqui de noite, não é, Héstia?

A coruja estava no seu poleiro, olhando com uma cara muito feia para Sirius. Aparentemente, Héstia não estava totalmente convencida de que o homem era mesmo inocente. Rebeca, contudo, não notou nada de errado no animal de estimação.

Sentado num sofazinho de dois lugares, Sirius observava a moça pegando os apetrechos para fazer o chá:

- Na verdade, eu também preciso pedir desculpas a você... Quebrei sua porta. Assustei você demais.

Rebeca ficou rubra:

- Nossa, agora estou muito envergonhada pelo vexame que eu dei. Pensei que você fosse um deles... Um daqueles homens horríveis...

- Eu soube do que aconteceu com você. Participei da reunião em que seu resgate foi decidido. Todos ficaram muito preocupados com sua saúde. Quando seu tio soube o que aconteceu, ele quase enlouqueceu.

Ela colocou a água fervente num bule antes de sentar ao lado dele e perguntar:

- Você sabe onde ele está agora? O que mais ele falou?

- Eu sei onde ele está, mas talvez não seja seguro você saber. É perigoso.

- Ora, vamos. Para quem eu iria dizer? Héstia sabe guardar um bom segredo.

A coruja deu um pio como se dissesse que sabia que estavam falando dela. Sirius teve que ceder à argumentação da moça:

- É bem verdade. Mas você sabe que essa informação é delicada. A vida de seu tio pode depender deste segredo.

Rebeca serviu chá para ele e disse:

- Não se preocupe quanto a isso. O que pode me dizer sobre meu tio?

Ele bebeu um pouco do chá e respondeu:

- Seu tio está numa missão de recrutamento. Dumbledore o mandou para longe, para reunir-se com os chefes dos duendes e garantir a lealdade deles contra Voldemort. O problema, segundo ele, é que as negociações estão mais difíceis do que inicialmente calculávamos. Os duendes querem mais autonomia, que é uma reivindicação antiga e uma grande fonte de mágoa do povo deles em relação aos bruxos. Seu tio está tendo que lidar com essas questões diplomáticas. Por isso a complicação.

Rebeca disse:

- Ele está numa missão muito importante. Se puder se comunicar com ele, diga-lhe que estou bem, e que ele não se preocupe comigo. Minha saúde está quase boa, e eu estou segura aqui.

- Se houver chance, eu transmito o recado com prazer – Sirius sorriu – Ele vai gostar de saber.

- Obrigada. Eu não lhe agradeci apropriadamente por ter se arriscado tanto em vir me dar um recado do tio Artie.

Ele disse:

- Ora, foi um prazer, acredite. Além disso, se Artêmio tivesse me dito que tinha uma sobrinha tão bonita, eu teria deixado meu afilhado de lado para vê-la.

Rebeca enrubesceu, mas preferiu mudar de assunto:

- Seu afilhado estuda em Hogwarts?

- Sim, ele é Harry Potter.

- Nossa! – Rebeca arregalou os olhos – E ainda tiveram coragem de acusá-lo de matar seus pais?

Sirius deu de ombros:

- É bem verdade que nas circunstâncias era o que parecia. Eu estava enlouquecido, havia sido traído e meus melhores amigos estavam mortos. Eu tive 12 anos para pensar sobre isso.

- Desculpe fazê-lo reviver esses momentos ruins. Mas me diga: você se dá bem com o menino? Ele sabe que você é inocente?

- Sim, ele sabe de toda a verdade. Harry é um garoto maravilhoso, e eu o amo muito.

- Por isso você se arriscou indo levá-lo à estação de trem. Deve ser um padrinho muito dedicado.

O último dos Black quase riu diante da ironia:

- Depois de 12 anos em Azkaban sem que ele sequer soubesse da minha existência? Ele e eu ainda estamos tentando nos conhecer.

- Tenho certeza de quando isso tudo acabar, vocês dois poderão passar muito tempo juntos.

Ele pousou sua xícara num banquinho e disse:

- Sim, é o que eu espero. Até lá, como você, terei que me esconder.

- Arriscou-se muito vindo até aqui. Depois do modo como eu lhe tratei, sinto-me ainda mais culpada.

- Já disse que entendo. Além do mais, valeu a pena. Espero ter feito uma nova amizade.

- Sim, com certeza – ela sorriu – Mais chá?

- Não, obrigada. É melhor eu ir agora. Já abusei de sua hospitalidade e fiquei mais tempo do que ditam as regras de etiqueta sobre visitar uma moça solteira sozinha.

Rebeca fez uma ironia:

- Você não me pareceu o tipo que segue regras, especialmente de etiqueta.

- Você tem razão: eu me especializo em quebrar regras. Mas esse é um caso especial. Confesso que estou tentando a me arriscar mais vezes para vir vê-la. Posso fazer isso?

- Oh, não precisa fazer isso por mim. Uma coruja será mais do que suficiente.

- Minha companhia foi assim tão desagradável?

- Claro que não. Não quis dizer isso. Mas estaria se arriscando demais vindo aqui só para me ver.

Ele sorriu e era um sorriso encantador:

- Terá valido a pena, acredite. E se houver oportunidade, também poderei visitar Harry. Claro, se não quiser que eu venha, pode me dizer com toda sinceridade.

Rebeca assentiu:

- Não se trata disso. Mas se vier visitar Harry, gostaria que viesse me ver, se puder.

- Está combinado – ele se ergueu – Depois que eu sair, tranque bem a porta, e estará segura.

Ela o levou até a porta e estendeu a mão:

- Foi um prazer conhecê-lo. Muito obrigada pelo que fez por mim e por meu tio.

Sirius pegou a mão dela e levou-a aos lábios, para depois dizer, ainda segurando-lhe a mão:

- Foi um prazer para mim. Conhecê-la foi uma surpresa mais do que agradável, Rebeca.

A moça sentiu que suas faces ficavam quentes e recolheu a mão, envergonhada:

- Volte em segurança.

- Até mais. Não se esqueça de fechar a porta.

Rebeca obedeceu, mas antes olhou bem para aquele homem, e sentiu um arrepio lhe percorrer o corpo. Fazia tempo que ninguém olhava para ela daquele jeito.

Ela fechou a porta, passou o ferrolho e deu um grande suspiro. Lembrou-se de tudo que acontecera nos últimos minutos e concluiu que, para alguém que estava morta, ela certamente estava tendo grandes emoções.

Capítulo 9 – A toda ação, corresponde uma reação

Durante pelo menos mais três dias, Rebeca não teve notícias de Snape e começou a notar que estava com saudades. Madame Pomfrey vinha vê-la religiosamente de dois em dois dias e estava para dar alta de sua condição de saúde, já que até o braço estava bem melhor. Fora isso e a companhia de Winky, ela não tinha visitantes.

Uma noite, ela estava começando a escrever um bilhete para o Prof. Dumbledore dizendo de seu interesse em aprender algum tipo de arte manual (talvez tricô) quando ouviu uma batida à porta. Era Snape.

- Severo! – ela saudou, feliz – Que bom vê-lo! Vamos, entre.

- Com licença – ele disse formalmente – Espero não estar atrapalhando.

- Claro que não. Sente-se. Eu estava mesmo com saudades. Como estão as aulas?

Ajeitando-se na poltrona, Severo respondeu:

- Oh, nada de novo. Soube que você é quem teve novidades.

- Eu?

- Soube que recebeu uma visita bastante interessante há alguns dias. Uma visita noturna.

Rebeca disse:

- Oh, sim. Sirius Black veio me trazer um recado do tio Artie. Quase me matou de susto.

De cara fechada, Snape comentou:

- Imprudência é efetivamente uma de suas características mais marcantes.

Rebeca indagou:

- Você o conhece?

- Infelizmente sim. Estudamos juntos, mas nunca nos melhores termos.

- Lamento saber disso.

Snape parecia um tanto nervoso ao perguntar:

- Vocês se tornaram amigos?

- Eu acho que sim. Ele mostrou desejo de voltar a me ver – ela reparou – Eu fiz alguma coisa para desagradar você, Severo? Você desaprova?

- Como eu disse – ele estava sério –, Black e eu nunca estivemos em bons termos. Na verdade, ele tentou me matar quando éramos estudantes em Hogwarts.

A moça horrorizou-se:

- É mesmo? Ele não mencionou você.

- Não, suponho que não. Mas quando ele disse, em plena reunião da Ordem, que a tinha conhecido, eu fiquei... perturbado.

- Vocês discutiram?

- Eu preferi não levantar polêmica, porque aparentemente ele não sabia que éramos amigos. Acho que se ele soubesse, não teria se arriscado a vir aqui dar o recado de seu tio.

- Desculpe, Severo. Eu não sabia de nada disso. Jamais quis magoá-lo.

- Acredite, eu sei que não tem culpa. Provavelmente Black a enganou, o vira-lata sarnento. Mas eu gostaria de saber: você quer continuar a ser amiga dele?

Rebeca se angustiou:

- Oh, Severo. Você quer me fazer escolher entre vocês dois? Isso me parece tão... tão... eu sei lá o que parece!

Severo fez uma cara séria e disse:

- Deixe-me ser sincero: Black falou sobre você com um certo... interesse bastante explícito. Isso é verdade?

A moça enrubesceu:

- Bom... não posso negar que ele mostrou interesse em voltar a me ver. Ele parecia interessado em mim.

O peito de Snape doía quando ele perguntou:

- E ele é correspondido?

Engraçado que o coração de Rebeca também começou a ter reações estranhas à voz amargurada dele:

- Oh, Severo... Eu não sei. Quando esteve aqui, Sirius me disse algumas coisas que me fizeram ver como é bom ter um homem me olhando daquele jeito. Mas... eu não sei se ele é o homem que eu quero ver olhando para mim desse jeito, entende? Desculpe, acho que ele me confundiu.

Snape cerrou os dentes, fechando os olhos:

- Típico... Metendo-se onde não é chamado... Fazendo de tudo para arruinar minha vida... Mais de 20 anos e o vira-lata pulguento não mudou em nada!

- Por que você o chama de vira-lata? Ele vem de uma família muito tradicional.

- Ele não lhe disse? Ele é um animago. Tem a forma de um grande cão preto.

- Não, ele não me disse. Mas isso explica como ele teria se disfarçado para vir até aqui.

- Sim, ele acha que isso é muito esperto – ironizou Snape. – Como se isso enganasse as pessoas por muito tempo. Típica arrogância grifinória!

Rebeca disse:

- Olhe, eu não sei o que aconteceu entre vocês dois, mas obviamente parece ter sido bastante sério. Agora eu me sinto na obrigação de lhe perguntar: se eu quiser continuar a ser amiga de Sirius, você deixará de vir aqui? Eu não quero perder sua amizade, Severo.

- Eu não vejo mais o que teríamos em comum se você continuasse a ver o pulguento.

- Você fala como se ele fosse um... rival – Snape se mexeu desconfortavelmente na poltrona – Não como um antigo adversário.

O silêncio se fez presente, desconfortável e misterioso. Rebeca chegou perto de Severo e perguntou, em voz baixa e cuidadosa:

- Você por um acaso... também tem... interesse?

- Faria alguma diferença se eu dissesse que tenho?

Rebeca abriu a boca para falar, mas se calou. Seu primeiro impulso foi dizer que não, que não faria diferença, mas seu coração dizia que seria uma mentira. Se Severo tinha algum interesse nela, ela se sentia... lisonjeada. Também se sentia excitada e feliz.

Sinceramente, ela respondeu:

- Sim, faria toda a diferença do mundo.

Snape a encarou, surpreso. Jamais imaginou esse tipo de resposta.

- Eu... eu... não sei o que dizer...

Rebeca pediu:

- Só me deixe saber se você tem esse interesse.

Com um suspiro, Snape disse baixinho, como se tivesse receio em admitir em voz alta:

- Eu não gostaria que meu interesse fosse diminuído ou ridicularizado.

- Eu jamais faria isso – disse Rebeca – Eu me sinto muito honrada.

- Não quis lhe trazer esse problema de repente, eu só... queria... – Snape de repente se viu sem palavras – Eu...

Rebeca disse:

- Olhe, talvez ainda seja cedo para sabermos como nos sentimos. Só o que eu sei é que Sirius me fez uma gentileza muito grande, mas você salvou minha vida. Não só isso: você tem estado a meu lado e tem sido um bom amigo. Quem sabe nós pensamos sobre isso algum tempo.

Snape sentiu isso com uma rejeição.

- Entendo – ele disse, numa voz fria – Você não me quer aqui.

- Não! – Rebeca segurou o braço dele – Eu sei que você é muito importante para mim, Severo. Mas quero ser sincera com você e não sei se posso lhe dar algo que você espera de mim. Mas saber que você quer isso ajuda muito.

Snape a encarou e viu que ela dizia a verdade. Mas ele tinha dúvidas, e muita insegurança. Ele assentiu pesadamente e disse:

- Está bem. Eu voltarei.

Rebeca não pôde impedir que ele saísse – e sentiu que tinha magoado um coração sincero. Aquilo a fez ficar triste, e Héstia voou para longe dela, piando como se quisesse consolá-la.

Era tarde da noite quando uma batida urgente à porta acordou Rebeca. Assustada, ela colocou um roupão e foi atender, enquanto Héstia se agitava em seu poleiro. Mal ela destrancou a porta, um furacão de cabelos pretos compridos entrou a sua sala, parecendo furioso. Ela ficou tão surpresa que logo o sono passou:

- Sirius? O que aconteceu?

- Eu tive que vir – ele andava de um lado para o outro, agitado – É urgente!

O coração de Rebeca apertou-se:

- Aconteceu alguma coisa com meu tio?

- Não, não, Artêmio não mandou mais notícias e isso geralmente é um bom sinal. Eu vim por causa do Ranhoso.

- Quem?

- Snape! O que você tem com esse cara?

Rebeca ficou intrigada:

- Por quê?

Sirius parecia muito nervoso ao dizer:

- Porque ele não presta. Simplesmente não é flor que se cheire, e eu acho que ele está enganando você, se fazendo passar por uma coisa que ele não é.

- O que você quer dizer com isso?

- Snape não é uma pessoa em quem se possa confiar. Ele é dissimulado e traiçoeiro.

Rebeca disse:

- Ele me disse que vocês dois não se davam bem. Por que não me disse que o conhecia?

- Eu nem sabia que você o conhecia. Se eu soubesse disso antes, teria avisado você a não acreditar nas mentiras que ele anda dizendo.

- Como assim?

- Parece que ele não gostou que eu tivesse visitado você. Tem me envenenado contra Dumbledore. Como se Dumbledore não tivesse problemas suficientes. Ele sempre foi assim: fica na espreita, esperando uma oportunidade para nos meter em confusão.

Rebeca lembrou:

- Sirius, ele salvou minha vida.

- Vê? Ele tem que ter alguma coisa planejada. Snape nunca se envolveu numa missão de resgate antes. Todos nós da Ordem achamos muito estranho que ele tivesse feito uma coisa assim. E ele nunca explicou os motivos que o levaram a salvá-la. Ele certamente tem algum motivo escondido, algo maligno e sórdido.

A moça não tinha muita certeza de estar gostando do rumo daquela conversa:

- Parece até que você não queria que ele me salvasse.

- O quê? Não, Rebeca, claro que não é isso.

- Acho que você está com ciúmes de Severo.

Sirius fez uma expressão desconfiada:

- Hum, então é Severo, não é? Já estão se tratando pelo primeiro nome?

- Assim como eu e você – lembrou Rebeca – Sinceramente, Sirius, não sei se estou gostando dessa nossa conversa. Severo tem sido um bom amigo e você parece estar mais interessado em destratá-lo.

- Mas eu estou pensando em você. Não quero que depois ele a magoe. Você não merece uma coisa dessas.

A moça tentou controlar seus sentimentos:

- Olhe, é óbvio que vocês dois têm problemas, mas eu não tenho nada a ver com isso. Sinto-me como se estivesse no meio de uma briga que não é minha. Agora os dois parecem estar um tanto interessados em mim, e eu...

- Ahá! – fez o homem mais procurado pelo Ministério da Magia – Ele quer colocar as garras ensebadas dele em cima de você! Eu sabia que era algo assim! Ele mal sabe o que o espera.

- O que quer dizer?

- Ora, você não vai dar bola para ele, não é? Você é mais inteligente do que isso.

- Eu vou dizer para você o mesmo que eu disse a ele: talvez fosse bom primeiro nós nos darmos conta bem direitinho de nossos sentimentos. Preciso confessar que estou confusa.

- Mas o que pode confundir você? Ele é um babaca seboso, ranhento, sarcástico e desagradável.

- Ele também me disse que você é um animago. E isso você nunca me disse.

- Ora, eu só achei que não era relevante. Mas posso virar um cão, sim. Você quer ver?

- Não será necessário. Só acho que você tem que reconhecer que Severo tem muitas qualidades. Ele é corajoso e leal, um amigo excelente.

- Leal? – Sirius riu-se como se fosse uma piada – Ele é um espião traiçoeiro, é isso que ele é. Não sei como Dumbledore confia num ex-Comensal como ele...

Rebeca ficou branca, o sangue fugiu de sua cabeça:

- Como é que é? O que você está dizendo?

Sirius parecia bem sarcástico, a voz destilando desprezo:

- Você não sabia? Seu querido amigo foi um Comensal bem na época que sua família foi morta. Não duvido nada que ele tenha participado de matanças e torturas. Ou por que você acha que ele é um espião no meio dessa gente? Se quer a minha opinião, ele ainda trabalha para Voldemort.

- Não – Rebeca não podia evitar tremer toda – Isso não é verdade! Ele faz parte da Ordem...!

Sirius ergueu as mãos e admitiu:

- Está bem, vamos dizer que ele seja sincero hoje. Mas ele já foi um Comensal, e isso não é mentira. Ele era um seguidor de Voldemort, por isso eu acho que ele não merece você.

- Ele... nunca me disse... Nunca me falou nada...

- Viu? Viu só? Eu estou dizendo que ele está escondendo coisas de você. Ele não presta!

Confusa, Rebeca mal ouvia o que Sirius dizia. Ela sentou no sofá, envolvendo-se toda no roupão e dizendo, tentando conter as lágrimas:

- Sirius, por favor. Vou ter que lhe pedir que me deixe agora. Preciso ficar sozinha.

Sirius sentou-se ao lado dela e pegou suas mãos:

- Está vendo o que ele já fez com você? Não deixe que ele a magoe ainda mais, Rebeca.

- Estou tão confusa – as lágrimas desciam pelo seu rosto – Não sei o que pensar. Preciso pensar muito sobre tudo isso. Desculpe, eu não quero ser rude, mas eu realmente preciso ficar sozinha.

- Eu não gostaria de deixá-la tão angustiada.

- Eu ficarei bem.

- Então está bem – disse ele – Se você insiste, eu vou, porque eu não quero pressioná-la.

- Obrigada, Sirius. Você se arriscou muito vindo até aqui.

- Eu tinha que vir. A situação exigia.

- Obrigada. Agora tome cuidado. Use a coruja. Eu fico preocupada.

Ele abriu aquele sorriso encantador que ele tinha:

- Então eu posso ter alguma esperança?

Rebeca disse:

- Sirius, você me parece ser uma pessoa muito bacana e legal. Mas eu preciso pesquisar meus sentimentos antes de tomar qualquer decisão. Não tome isso como nada pessoal: eu disse a mesma coisa a Severo.

Ele deu de ombros:

- Oh, bem. Talvez agora você se dê conta de quem aquele babaca seboso é de verdade. Tranque a porta depois que eu sair.

- Boa noite, Sirius.

Mais uma vez, Sirius Black se afastou da cabana de Rebeca deixando a moça num turbilhão de emoções. Só que dessa vez ela estava dividida. Muito do que Sirius tinha dito parecia exagero, mas a parte sobre Severo ser um ex-Comensal da Morte fazia todo o sentido do mundo. Assim ele poderia ser um bom espião.

Mas ela poderia viver com isso?