Capítulo 17 – O começo de uma família

Mais semanas se passaram, e ao final delas, Rebeca estava sentindo um leve mal-estar, especialmente pelas manhãs. Sua barriga ainda não havia começado a crescer, mas o bebê começava a dar sinais de sua presença. Era algo sutil, já que ele era tão pequenino, mas Rebeca sentia uma força vital poderosa dentro de si.

Severo esteve tão presente quanto possível, mas um ataque a um dos membros mais importantes da Ordem tinha mobilizado todo o pessoal em torno de Harry Potter. O atacado tinha sido Arthur Weasley, que quase morrera. Severo tinha sido convocado no esforço da Ordem, e não podia passar mais tanto tempo com ela quanto ambos gostariam. Aquilo também os levou a adiar o casamento por algumas semanas.

Foi depois do ataque a Arthur que Severo definitivamente começou a ficar azedo. Então Rebeca descobriu a razão. Ele tinha que dar aulas extras a Harry Potter.

Ele estava indignado.

- Tão perto do nosso casamento! E eu sou obrigado a ficar pajeando Potter por ordem do diretor! Um absurdo!

Tricotando uma manta, Rebeca disse:

- Calma, Severo. Não é o fim do mundo. Nós nos veremos um pouco menos, é só. Se o Prof. Dumbledore lhe pediu isso, tenho certeza de que foi por um bom motivo.

- Sim, ele teve motivo. Mas proteger Potter não é o suficiente para fazer da minha existência um flagelo! Eu duvido que o garoto tenha disciplina o suficiente para tirar algum proveito dessas aulas!

- Mas Severo, se ele estudou Poções até agora, por que não teria disciplina para aproveitar aulas que ele já conhece?

- Mas ele não estará recebendo aulas de Poções. Ele estará recebendo treinamento em Oclumência.

- O que é isso?

- Um treinamento para evitar que a mente seja penetrada. Aparentemente o Lord das Trevas anda passeando pela mente de Harry Potter, e isso pode ser muito perigoso.

- Nossa! Coitado desse menino! – ela continuava tricotando – Depois de tudo que ele sofreu, ainda mais isso!

- Ele deve ser mimado até o último átomo de seu corpo! – disse Severo, sarcástico – Precisa ver a displicência com que ele se comporta na sala de aula.

Rebeca sabia que esse assunto poderia demorar horas, e resolveu mudar de assunto:

- De qualquer forma, Arthur Weasley vai ficar bem?

- Sim. Foi uma verdadeira procissão de Weasleys em St. Mungo. Mas parece que ele vai se recuperar.

- Ainda bem. Você pode ficar essa noite?

- Sim, e por isso é que estou mais tranqüilo. Longe de você fico muito irritadiço.

- Acabo de morrer de pena de seus alunos.

Severo deu de ombros e perguntou:

- As náuseas voltaram?

- Não, melhoraram bastante com aquela poção que você me deu – Rebeca olhou para o próprio ventre – Mas não dá para ver nada ainda.

- Tenha calma – ele acrescentou, com um sorrisinho – Logo você vai sentir saudade de enxergar seus pés.

- Severo! Não se esqueça de que eu tenho que entrar dentro do vestido de casamento.

- Pensei que não houvesse perigo, uma vez que ele será transfigurado sob medida.

- Você sabe o que eu quis dizer.

- Sim, eu sei. Mas gosto de ver esse biquinho que você faz quando está chateada.

- Severo! Isso não é engraçado.

Ele a enlaçou pela cintura e disse, com uma voz sensual:

- Não, não é engraçado, mas tem um outro tipo diferente de graça. Uma graça que só você tem.

Derretida, ela aceitou os lábios dele nos dela e se entregou àquele beijo, entregando-se depois ao seu futuro marido com desejo e emoção.

Parecia que, naquele casulo de felicidade que era a cabana, nada poderia atingi-los.

Não foi nada espetacular, mas foi um casamento emocionante. Depois de muito tempo, Rebeca finalmente vira o Prof. Dumbledore, que oficiou uma linda cerimônia no próprio jardim da cabana. Um feitiço abrigador foi usado para que os convidados não sentissem o frio de dezembro, e Severo e Rebeca trocaram votos diante do punhado de convidados, sob o choro de Winky, que não parava de verter lágrimas.

Minerva McGonagall havia transfigurado um vestido delicado, sem cintura marcada, de mangas bufantes de cetim e rendas abaixo da linha dos seios. Usando maquiagem e feitiços de glamour, ela havia realçado toda a beleza de Rebeca. Num paletó preto de cetim e cabelos escovados magicamente, Severo também estava muito elegante.

Winky preparou um jantar aconchegante em homenagem aos noivos, e os convidados também puderam observar as modificações feitas na cabana – o presente de casamento de Hagrid. Rebeca agora dispunha de encanamentos internos, um banheiro ao lado de seu quarto, um quartinho todo pintado em cores suaves para receber o bebê e uma pequena cozinha para refeições leves. Depois do jantar, os convidados renovaram os votos de felicidades e retornaram, a maioria ao castelo de Hogwarts.

Rebeca observou os presentes e sorriu. Seus favoritos foram dois. O primeiro era um brasão de família, dado por Minerva McGonagall. Ele tinha uma serpente e um cisne entrelaçados, bem como um livro com uma pena e uma espada, símbolos das duas famílias, Snape e Gall. O brasão era para ser colocado acima da lareira, mas também havia um sinete de prata com o brasão, para lacrar correspondência.

O seu segundo presente favorito fora dado por seu tio Artêmio, e era um relógio bruxo. Havia uma pá para cada membro da família, "Severo", "Rebeca", "Bebê", e diversas indicações de lugares como "Hogwarts", "Passeando", "Perdido", "Em casa". O bebê tinha outras indicações como, "Com fome", "Com sede", "Com dor", "Com fralda suja". Obviamente, assim que nascesse, o bebê teria sua foto magicamente gravada na pá correspondente a seu nome. Artêmio também lhe trouxera um cartão bruxo musical de Sirius Black, do qual saíam pequenos cupidos desejando muitas felicidades aos noivos. Ao ver quem tinha mandado o cartão, Severo grunhiu, mas não destruiu o cartão.

Rebeca sorriu de novo e sentiu que sua família nascia ali. Naquele momento, com a bênção dos amigos, que eram sua família maior. Ela sentiu uma energia indescritível a envolvê-la, dizendo-lhe que havia muito a construir. Toda família precisava de um lar, e ela deveria ser a provedora desse lar aconchegante e caloroso, como esposa e como mãe.

Ela agora era a Sra. Snape, mesmo que a maior parte do mundo ignorasse o fato.

Severo prometeu compensar a curta lua-de-mel no recesso de Natal. Desde que começara a lecionar em Hogwarts, Severo nunca saía da escola nos feriados, mas esse ano seria uma exceção. Ele passaria o Natal com a família.

Depois da curta lua-de-mel, eles entraram numa espécie de rotina. Quando podia, Severo passava a noite com sua esposa grávida. Rebeca se ocupava com as coisinhas do bebê, ajeitando o quartinho e as roupinhas. Hagrid arrumava utensílios como uma pequena banheira de madeira, um bercinho com balanço e uma espécie de bebê-conforto rústico, feito de cortiça, que Rebeca forrou com um tecido de algodão em tons pastéis. Como eles não queriam saber o sexo do bebê, a maioria das roupas e utensílios era em cores neutras, como amarelo e verde bem clarinhos.

Apesar dos pesares, a vida era boa.

As notícias que Severo dava sobre o mundo exterior não ajudavam muito Rebeca a ter tranqüilidade. Voldemort se fortalecia, graças à insistência das autoridades bruxas em negar sua volta. Ela sempre perguntava sobre Hogwarts e seus alunos. Quando o Prof. Dumbledore saiu da direção, ela teve medo.

Mas um dia, Severo chegou em casa tarde, e bastante irritado. Rebeca sentiu no ar as ondas de ódio que emanavam dele:

- Severo, meu bem, o que aconteceu?

- Maldito! – ele explodiu – Nunca mais vou ensiná-lo! Moleque irritante!

Rebeca se assustou. Jamais vira Severo desse jeito.

- Severo? Meu bem, fale comigo.

- Desculpe, querida, mas estou nervoso. Aquele pestinha mimado conseguiu me tirar do sério!

- Quem?

- Harry Potter! – cuspiu Severo – O húbris imenso do garoto…! Violando a privacidade de um professor!

- Mas o que ele fez?

- Ele viu meus pensamentos numa penseira. Justamente os pensamentos que eu tinha separado para evitar que ele visse! Maldito! Eu deveria pendurá-lo pelos dedões do pé dentro da Câmara Secreta e dá-lo de comida a Nagini!

- Severo, calma, querido. Você não pode fazer isso com um aluno.

- Isso é pouco perto do que eu realmente gostaria de fazer com ele! Tal pai, tal filho! Eu sabia que ele era igual ao pai, e todos os dias ele me prova isso!

- Se ele cometeu uma falta, você deve poder puni-lo, não? Dar-lhe uma detenção, que tal?

Ele parecia angustiado:

- Não posso fazer isso. Essas aulas de Oclumência são secretas, ninguém deve saber que ele as está tendo. Se eu lhe der uma detenção, terei que dizer a Umbridge o motivo e isso é precisamente o que estamos tentando evitar. Só estou fazendo isso a pedido de Dumbledore. Ele se sacrificou pelo garoto, e é dessa forma que esse pestinha, moleque irresponsável, paga ao diretor! É igual ao pai!

- Severo, por favor...

- Mas isso acabou! Não quero vê-lo nunca mais na minha sala! Se ele quiser ter aulas de Oclumência, vai ter que me pedir desculpas, e aí então eu terei o maior prazer em negar-lhe o pedido na sua carinha de herói da bruxandade!

- Mas... ele não estava tendo aulas de Oclumência para fechar seus pensamentos a Voldemort? Deixar a mente dele aberta para aquele homem horrível não pode ser perigoso?

- Que ele tivesse pensado nas conseqüências antes de agir impensadamente. Mas não! Como todo grifinório, ele foi arrogante e irresponsável! Pena que não consegui atingi-lo com a jarra de poção que eu arremessei! Teria deixado suas costas em carne viva!

- Severo! Assim você vai ter uma síncope. Por favor, tente se acalmar.

- Não me diga que está do lado de Potter!

- É claro que não. Sou sua esposa, e estou do seu lado em todas as ocasiões. Mas agora estou preocupada com você. Nunca o vi tão irritado, e estou com medo por sua saúde. Agora tire essa capa e sente-se no sofá. Vou lhe trazer um chá para acalmá-lo. Faça o favor de respirar fundo e olhar para o fogo da lareira.

Rebeca pôs água na chaleira e sentou-se ao lado de seu marido, que ainda estava fumegando de ódio. Com palavras doces e carícias, ela conseguiu que o pior da irritação se dissipasse. Com o chá, ela o forçou a controlar-se o suficiente para não derramar líquido quente. Rapidamente, ela mudou de assunto e o fez pensar em outras coisas.

Aquela foi uma noite difícil, uma que Severo se mostrou especialmente agarrado a ela. Rebeca sentiu que o marido estava profundamente magoado e humilhado, e ficou imaginando o que haveria naquelas memórias. Quando ele lhe contou, no meio da madrugada, foi em meio a lágrimas e depois de um pesadelo. Rebeca abraçou o marido, sentindo que tinha em seus braços um garoto de seus 15 ou 16 anos, humilhado por valentões perversos, um garoto que nunca tinha recebido carinho naquele momento de dor, discriminado por ser de uma determinada casa. O coração de Rebeca doeu ao saber que durante todos aqueles anos a mágoa permanecera fresca, a dor intacta dentro de Severo. Naquele momento, ela ficou com ódio do pai de Harry Potter e penalizada porque Severo aparentemente transferira o ódio do pai ao filho. Era óbvio que o marido não tivera condições de superar o incidente. Se pudesse, naquele momento Rebeca teria retirado toda a dor de seu marido e transferido fisicamente para ela.

Depois de muito desabafar, Severo adormeceu de pura exaustão física e mental. Aninhado nos braços de Rebeca, beijando a barriga que começava a crescer, ele sentiu um calor que em sua vida jamais tivera. Em sua volta havia carinho e apoio. Sua família estava a seu lado.

Capítulo 18 – O outro lado da batalha

A barriga de Rebeca começou a crescer, e parecia que tinha sido rapidamente. Contudo, Madame Pomfrey, que vinha visitar a jovem mãe regularmente, tranqüilizava-a quanto ao progresso de sua gravidez. Tudo ia de vento em popa.

As semanas se passaram e também os meses. O ventre de Rebeca inchou tanto que ela se lembrava do que Severo lhe dissera a respeito de ter saudades de ver os pés. A hora aproximava-se. Hagrid também ficara em alerta para qualquer emergência referente ao bebê.

Aos sete meses, Rebeca parecia uma grávida perfeita. Tricotando as últimas roupas, arrumando as pequenas roupinhas que tinham sido dadas de presente tanto por Severo quanto pela Ordem. Aliás, Rebeca tivera um de seus momentos de melhor diversão quando Severo lhe disse que estava comprando roupinhas com a ajuda de Minerva. Os dois tinham entrado numa discussão tão grande que só mesmo a lembrança da presença de Umbridge os deteve para uma confrontação total.

Severo voltou à cabana ainda nervoso. Andando de um lado para o lado, as capas esvoaçando, ele esbravejava:

- Ela queria encomendar um traje com ursinhos!

Sem se alarmas com a veemência do marido, Rebeca continuou tranqüilamente a tricotar uma calça comprida de lã:

- Mas Severo, o que tem de mais? Bichinhos são um motivo comum nos tecidos infantis.

- O que tem de mais? Não um Snape! Simplesmente não é digno! Nenhum Snape vai sair vestidinho de ursinho! Jamais enquanto me restarem forças! Assim ele vai parecer o filho de Hagrid!

- Que exagero, Severo. Você precisa se acalmar.

- Se não houvesse a situação de Umbridge, eu a teria azarado!

- Minerva só queria ajudar. Espero que você tenha resolvido tudo com ela, porque ela é uma grande amiga que eu tenho. Por favor, Severo, fale com ela.

- Só se ela não trocar ursinhos por palhacinhos! Era a segunda idéia brilhante que ela tentou me impingir.

- Severo, ao contrário do que você possa pensar, eu não acredito que nem entre os bruxos, haja roupinhas de bebês com pequenas serpentes. Simplesmente não é infantil. Deixe-me oferecer-lhe uma alternativa. Que tal cavalos? Sabe, pequenos pôneis?

- Hum... Isso parece mais digno...

- Pronto, viu? Conversando é que a gente se entende. Da próxima vez que for encomendar as roupinhas, fale comigo. Posso fazer uma lista de coisas para o bebê e para mim.

- Você precisa de alguma coisa? – ele parecia preocupado – Por que não me disse antes?

- Não é nada tão urgente. Vou precisar de algumas coisinhas logo depois do parto, enquanto não puder me mexer muito. Madame Pomfrey disse que poderia ficar comigo uns dois dias. Isso deve bastar.

- Se eu pudesse contratar uma babá...

- Querido, está tudo bem. Winky pode ajudar também. Vai dar tudo certo, não se preocupe.

- Você parece tão calma.

- Você é que parece estar nervoso, e não há motivo algum. Eu estou bem, o bebê está ótimo, e o parto deve ocorrer nas férias, quando os alunos estarão fora. Tudo parece estar a nosso favor.

- Você é ótima.

Eles sorriram um para o outro e se beijaram.

Se Rebeca apenas sonhasse com o que estava por acontecer...

Naquela tarde, ela recebera apenas um bilhete, por coruja. Era de Severo, e dizia que ela não deveria esperá-lo, pois ele viria quando pudesse. Preocupada, Rebeca tratou de examinar a coruja, que estava bem – não parecia ter sido atacada. Cautelosa, ela não mandou resposta.

Contudo, ela mal poderia deixar de se impressionar com aquele bilhete. Havia meses que eles tinham parado de se comunicar via coruja por causa da censura em Hogwarts. Alguma coisa tinha acontecido.

Rebeca podia sentir em seus ossos que alguma coisa não estava bem. Não era tanto a ausência de Severo (ele nem sempre podia vir dormir com ela), mas havia algo pairando no ar. Aquela noite ela não dormiu nada bem, acordando várias vezes durante a noite, sobressaltada, pouco conciliando o sono.

O dia seguinte se passou do mesmo jeito. À noite, Severo chegou em casa. Foi só olhar para ele e Rebeca teve certeza de que algo grave tinha se passado.

Rebeca largou o tricô e perguntou:

- Você está bem?

- Sim, eu estou – ele disse, retirando a capa – Mas não trago boas notícias.

- Sente-se, querido. O que aconteceu?

- Tome essa poção primeiro – ofereceu o frasco – Ela é inofensiva ao bebê.

Rebeca obedeceu, apreensiva:

- Estou ficando nervosa, Severo. O que houve?

- Aconteceram diversas coisas entre ontem e hoje, mas a principal delas é que a guerra começou, e já tivemos uma baixa do nosso lado. Uma pessoa morreu.

O coração de Rebeca se apertou:

- Oh, meu Deus... Tio Artie...?

Severo pegou as mãos dela:

- Não, seu tio está bem. Sirius Black está morto.

Rebeca inspirou fortemente, arregalando os olhos:

- Oh, não! Sirius...! Como... quando?

Severo resumiu-lhe o ocorrido no Departamento dos Mistérios do Ministério da Magia. Rebeca não entendeu direito:

- Mas... ele só caiu atrás de um véu? Por isso ele morreu? Eu não entendi o que isso quer dizer.

- Fique calma, mas isso quer dizer que ele morreu – disse Severo, notando que as mãos dela estavam trêmulas – Ele não vai poder voltar daquele véu. É um dos mistérios do Departamento de Mistérios.

- Oh, meu Deus! E Harry Potter?

- O garoto parece inconsolável, pelo que ouvi falar. Está muito revoltado, e acha que foi sua culpa.

- Sirius adorava Harry – disse Rebeca, as lágrimas finalmente a cair pelo rosto – Oh, meu Deus, Severo, que tragédia.

Um pouco tenso, ele disse:

- Eu sei o quanto vocês eram amigos. Acredite, ele morreu como herói.

- Será que o nome dele pode ser limpo agora?

- As coisas ainda estão um pouco indefinidas. Pelo menos agora, o Ministério da Magia passou a reconhecer publicamente a volta de Você-Sabe-Quem. A guerra vai ser aberta. Era tudo que o Lord das Trevas não queria. Ele está arregimentando seguidores, e gostaria de trabalhar discretamente.

Rebeca chorava, e Severo a abraçou pelos ombros. Ela disse:

- Desculpe. Sei que você não gostava de Sirius, mas ele era meu amigo. É difícil acreditar que ele tenha morrido.

- Eu disse a ele que ficasse na sede da Ordem. Eu suspeitava de uma armadilha do Lord das Trevas, e no final minhas suspeitas estavam certas. Você pode não acreditar nisso, mas eu tentei impedi-lo de ir. Você sabe que ele era... arrojado.

- Sim, ele era mesmo muito intempestivo. Que tragédia! Que coisa horrível!

- Sei que isso não é consolo, mas como eu disse, vários Comensais da Morte foram presos. Sem contar que Dumbledore voltou a Hogwarts e aquela mulher desprezível teve uma lição que merecia. Sou obrigado a conceder que nem eu teria uma idéia tão brilhante quanto a da Srta. Granger. Deixá-la nas mãos dos centauros!...

Rebeca tentou enxugar as lágrimas:

- É bom que Dumbledore esteja de volta. Vamos precisar muito dele nessa hora tão difícil. Oh, Severo, estou com medo.

Ele a puxou para perto de si:

- Espero conseguir ficar mais tempo com você a partir de agora. As aulas estão para se encerrar, e você está numa fase delicada da gestação.

- A Ordem vai precisar de você, querido – disse ela.

- Sim. Ainda tenho que verificar a reação do Lord das Trevas. Aposto como ele não gostou nada do que se passou no Departamento dos Mistérios.

E isso era dizer o mínimo.

Capítulo 19 – A chegada da deusa

As semanas se passaram rapidamente, trazendo o clima mais quente e os dias mais compridos. Era um prazer para Rebeca ficar sentada na sua varanda, observando o entardecer, conversando com seu bebê ainda não-nascido, sob a brisa cálida do verão que se iniciava. Os alunos já tinham deixado Hogwarts e, de algum modo, tudo parecia mais calmo à sua volta.

Exceto Severo. Voldemort estava irritado por ter perdido a profecia, e queria acelerar o enfrentamento com as forças da Luz. Infelizmente para ele, seu principal alvo, Harry Potter estava inatingível na casa de seus tios. Nesse meio tempo, ele tentava promover ataques contra a bruxandade, apavorando os bruxos e ameaçando a posição de Cornélio Fudge como ministro da Magia. A tudo isso Severo estava atento, sem falar nas reuniões da Ordem da Fênix, de contra-ataques e interceptação das investidas de Voldemort.

Rebeca acompanhava tudo de longe, angustiando-se por saber que seu bebê chegaria em meio a uma guerra. Dumbledore viera visitá-la e garantira-lhe toda a segurança possível nas circunstâncias. Mas ela gostaria de poder se defender melhor. A única arma que ela tinha era sua lareira, que tinha sido incorporada à rede de Flu e agora era um meio de transporte ativo.

Ela soube que Dolores Umbridge estava enfrentando um julgamento por ter lançado dois dementadores contra Harry Potter e seu primo trouxa, bem como por ter usado Veritaserum sem consultar o Ministério e por ter ameaçado usar uma Maldição Inominável contra bruxos menores. Era muito pouco provável que a antiga professora de Defesa contra as Artes das Trevas escapasse de uma temporada em Azkaban.

De todas as coisas que tinham acontecido no final do ano letivo, sem dúvida a que mais marcara Rebeca tinha sido a morte de Sirius Black. Era difícil aceitar que aquele homem tão cheio de vida tinha encontrado seu fim nas mãos de Belatriz Lestrange – uma foragida de Azkaban que já tinha cometido outros crimes, pelo que Severo lhe dissera. Ocasionalmente, ela ainda chorava. Por mais que tentasse, não podia deixar de pensar que, se ela tivesse feito escolhas diferentes em sua vida, agora seria uma viúva, talvez até grávida de um filho que jamais conheceria o pai. Como isso seria triste. Ela esperava fervorosamente que Sirius estivesse bem, no lugar para onde ele tinha ido além do véu.

Rebeca chegou a pensar em escrever para Harry Potter e assegurar que seu padrinho tinha sido um homem bom, que se preocupava muito com ele. Contudo, ela entendeu que isso seria muito arriscado, talvez até confuso para o garoto. Uma carta de uma desconhecida falando sobre o padrinho poderia ser até suspeito, em tempos tão difíceis.

Mas ela sentia falta de Sirius. Por menos que tivessem passado tempo juntos, ela tinha desenvolvido uma grande afeição pelo animago. Ela tinha falado a ele da lenda por trás da constelação de Sirius, Canis Major. A deusa da caça, Ártemis, tinha se apaixonado por um caçador, chamado "rion. Mas seu irmão Apolo inadvertidamente fez Ártemis matar "rion com uma pedrada certeira na cabeça. A deusa então pediu ao pai Zeus que desse a "rion uma morada no céu e deixou que um dos seus cães, Sirius, acompanhasse o caçador e também se tornasse constelação. Como sempre, Sirius estava envolvido em meio a um casal que se amava. Rebeca pensou nessas ironias e sentiu-se um pouco melhor.

Foi ainda em meio a essas transformações à sua volta que Rebeca sentou-se para costurar uma blusinha de bebê que estava quase pronta, sentindo-lhe o ventre pesar e as pernas inchadas. Durante todo o dia ela tinha se sentido particularmente pesada e suspirou, na tarde quente que se findava, imaginando quando poderia ver o rostinho daquele que estava dentro dela.

Então sentiu uma forte dor no baixo ventre.

Ela largou a blusinha, sentindo nova pontada de dor lancinante e chamou Winky, que se preparava para voltar a Hogwarts. Quando ela se ergueu do banco de madeira, sentiu umidade escorrendo-lhe pelas pernas: a bolsa d'água tinha estourado.

Tinha chegado a hora de o bebê nascer.

Com a ajuda de Winky, Rebeca foi para o quarto, e tomou as providências que Madame Pomfrey tinha deixado recomendadas: colocar água no fogo, forrar a cama com uma espécie de lona bem limpa, e chamar a enfermeira imediatamente. Foi o que Winky fez, e em pouco tempo, as duas estavam na cabana, Rebeca sentindo as contrações se acelerando. Ela não tinha certeza de onde estava Severo, e queria mandar Héstia atrás dele, mas temia que ele estivesse em alguma reunião de Comensais da Morte. De qualquer modo, Héstia tinha sido mandada para o QG da Ordem da Fênix com o seguinte bilhete: "A pequena águia está aterrissando". Além disso, Madame Pomfrey avisara o Prof. Dumbledore, caso Severo viesse para a escola. Ele tinha despachado Hagrid para qualquer eventualidade.

Com essas providências tomadas, Rebeca resolveu despreocupar-se o máximo possível de seu marido e concentrar-se no seu parto. Como geralmente acontece em partos, esse demorou algumas horas. Era tarde da noite quanto Severo chegou à cabana, espavorido, nervoso e agitado. Ele viu Hagrid do lado de fora e os gritos de Rebeca o apavoraram. Temeu o pior.

- Rebeca!...

Antes que corresse para dentro da casa, foi impedido por Hagrid:

- Espere um pouco, professor.

- Mas... minha mulher...! Ela está aí dentro!

- Madame Pomfrey está dando todo o auxílio de que ela necessita. Se ela precisar de ajuda, tenho certeza de que seremos chamados.

Um grito de Rebeca fez Severo olhar para a porta fechada e Hagrid pôs a imensa mão no ombro do Mestre de Poções:

- Tenha calma. Madame Pomfrey diz que está tudo indo bem.

Novo grito e Severo disse:

- Eu preciso vê-la!... Rebeca! Rebeca!

De dentro, veio o grito:

- Severo!...

Ele entrou na sala e Madame Pomfrey foi recebê-lo antes que ele entrasse no quarto, dizendo:

- Está tudo indo bem, Severo.

- Como ela está?

- Ela é jovem e forte, está indo muito bem. Winky está com ela.

- Ela está com dor!

- Isso é muito normal. Agora pode vê-la por um momento.

- Não posso ficar com ela? Os trouxas ficam com suas mulheres.

- Esqueça essas modas de trouxa. É melhor para ela se preocupar apenas com o bebê. Se você ficar a seu lado, ela poderá querer dar-lhe atenção.

- E uma poção para diminuir as dores?

- Eu já ministrei todas as poções possíveis. Não posso retirar a dor dela: ela é necessária para medirmos se alguma coisa por acaso estiver indo mal. Por enquanto, tudo está ótimo: o bebê está no lugar que deve estar, Rebeca está bem e tudo se encaminha para um parto feliz. Agora venha vê-la, e nada de deixá-la nervosa.

Finalmente Severo recebeu permissão para ver sua mulher, e seu coração batia descompassado. Mas ele controlou suas emoções assim que entrou no quarto.

Rebeca estava enfiada num roupão, em pé ao lado da cama, e Winky estava logo atrás dela, com uma expressão de quem já estava acompanhando a dor de sua mestra há muito tempo. Ao vê-lo, ela abriu um sorriso e também os braços:

- Severo!...

- Mas... de pé? – ele arregalou os olhos – Querida, você deveria estar deitada, não?

- Madame Pomfrey diz que eu preciso ajudar a dilatação. Andar faz bem.

Severo notou que a respiração de Rebeca estava um pouco entrecortada, e perguntou:

- Você está bem?

- Sim... As contrações estão bem espaçadas... Mas quando chegam... são bem doloridas...

Ele procurou tranqüilizá-la:

- Madame Pomfrey garantiu que está tudo normal, e você está indo muito bem. Em breve, teremos nosso filho nos braços.

- Mal posso esperar – disse ela, o rosto crispado, segurando a barriga – E digo isso sinceramente!

- Tenha calma, meu bem. Vai dar tudo certo.

Madame Pomfrey disse:

- Rebeca, se você quiser ir até a varanda, isso vai lhe fazer bem.

Severo ajudou-a a ir até a varanda, onde havia um recém-chegado: Artêmio Gall. A parturiente se mostrou muito feliz, cumprimentou todos, sorriu muito para Hagrid, que estava todo sem jeito, e depois voltou para dentro da cabana a pedido de Madame Pomfrey.

A noite se transformou em madrugada, e foi na madrugada que o trabalho de parto realmente começou. Severo lançou feitiços em volta da cabana para que os gritos não atraíssem pessoas. Os homens ficaram na varanda, esperando o desenlace. Só nos primeiros raios do sol é que o futuro papai começou a sentir a pressão. Rebeca estava há horas sofrendo, e ele teve que ser seguro por Artêmio quando os gritos aumentaram de intensidade, e ele queria ver o que estava acontecendo.

Foi precisamente nesse momento que um novo conjunto de gritos surgiu no ar, vindo de dentro do quarto. Gritos mais finos, vindo de uma pequenina garganta que pela primeira vez recebia ar, de pulmõezinhos que se inflavam pela primeira vez, reclamando da passagem para fora do ventre materno, como que anunciando ao mundo sua chegada no dia que raiava.

Agitado até aquele momento, assim que ouviu a nova voz, Severo se quedou imóvel, estático, enquanto era efusivamente abraçado por Hagrid, e depois por Artêmio. Finalmente o desenlace acontecera.

Ele era pai.

Ainda demorou um pouco até Madame Pomfrey surgir na porta, anunciando, enquanto recolhia seu avental:

- Pode entrar agora, Severo.

- Como ela está? E meu filho?

Madame Pomfrey respondeu:

- Mãe e filha estão ótimas. As duas precisam descansar, mas você pode vê-las. Os demais devem esperar até o fim da mamada.

Sem esperar novo convite, Severo atravessou a sala e chegou ao quarto. A cena que o saudou lhe deixou com um nó na garganta.

Na cama, Rebeca estava com a filha nos braços, e a criaturinha mamava no seu peito. Os cabelos da mãe eram banhados pelas primeiras luzes do dia, e tudo tinha uma atmosfera dourada, mesmo no pequeno volume com tufinho de cabelos pretos na cabeça.

Ele aproximou-se das duas e Rebeca dirigiu-se à filha:

- Olhe só quem veio ver você: o papai. Ele quer conhecer você.

Sem se impressionar, a menininha continuou mamando em sua mãe. Severo se sentou na cama, ao lado das duas e apreciou a pequena criatura nos braços de Rebeca. A pele era muito clara deixando-a rosadinha, os dedinhos esguios, o rostinho redondo e bolachudo. Os cabelos eram bem pretos, e faziam um tufinho no alto da cabeça. Os olhos estavam fechados, no esforço e concentração de sugar o leite que a sustentaria. Ele teria que esperar o bebê parar de mamar para dar um diagnóstico sobre o nariz. Até o momento, tudo indicava que (felizmente) ela tinha puxado ao nariz da mãe.

- E então?

Severo não tinha notado que sua voz estava tão embargada até dizer:

- Eu estou tão orgulhoso... Ela é linda.

- É uma menina, Severo. Desculpe se você esperava um menino.

- Você não tem que se desculpar. Ela é linda.

- E está com fome. Por isso não quer ver o papai.

- Que nome vamos dar a ela? Pensou em algum?

- Eu pensei em dar a ela o nome de Ártemis, deusa da caça.

- Eu sabia que você ia pensar em algum nome grego...

- Você não gostou?

- Eu gostei imensamente. É um nome digno de uma Snape. Ártemis Gall-Snape.

- Não. Ela será Ártemis Helena Snape.

- Não quer seu nome?

- Odeio nomes hifenizados. Parecem brigas de egos, e acho que Ártemis pode ser de linhagem pura sem ter dois nomes para provar isso. Mas... confesso ter um temor...

- O que é, querida?

- Que nossa filha não seja bruxa... que ela seja... como eu...

- Não pense nisso. Seja lá como ela for, eu vou amá-la do mesmo jeito.

Rebeca afastou-a, dizendo:

- Acho que ela dormiu, mas ela precisa arrotar. Poderia segurá-la para mim enquanto eu me ajeito? Entendo que os outros cavalheiros queiram conhecer Ártemis.

Com extremo cuidado, como se pegasse porcelana fina, Severo ajeitou a trouxinha nos seus braços. O bebezinho se mexeu um pouco, os bracinhos erguidos, o rostinho crispado. Por um minuto, ela abriu os olhos e olhou solenemente para o pai, como se tentasse se apresentar àquele que lhe dera a vida. Os olhinhos se firmaram em Severo, duas gotas verdes que penetraram no fundo de sua alma, hipnotizando-o pelo resto da vida. Ele sabia que, daquele momento em diante, até o dia em que morresse, ele era prisioneiro daqueles olhinhos.

A pequena Ártemis logo se cansou e resolveu que era hora de tirar uma sonequinha. Ela bocejou fundo, levantando os bracinhos, fechando as mãozinhas e suspirou profundamente, ficando quietinha aconchegada junto ao pai. Severo ainda ficou observando a pequenina dormir em seus braços, quando se deu conta de que Rebeca o observava, um sorriso nos lábios.

- Algo errado?

- Pelo contrário. Está tudo ótimo. Estou vendo que os dois se deram muito bem.

Winky chegou na porta do quarto:

- Madame Pomfrey pergunta se os mestres podem entrar para visitar bebê de Mestra Rebeca.

Rebeca disse:

- Claro que sim, Winky. Só avise que a nenê está dormindo – a elfa saiu e Rebeca pediu – Severo, por favor, ponha Ártemis no berço.

Artêmio Gall foi observar sua sobrinha-neta, e Hagrid deixou um presentinho para o bebê: ervas para um chá que acalmava a cólica típica de recém-nascidos. Madame Pomfrey certificou que o chá era eficiente, mas disse que mãe e filha deveriam descansar. Ela voltaria mais tarde para observar como as duas estavam se saindo, e até lá elas deveriam descansar ao máximo, respeitando os horários de mamada da menina.

Entendendo o recado, as visitas saíram para dar chance aos novos pais de se ajustar ao novo rebento. Severo se deu conta de que todos tinham passado a noite em claro e agora deveriam descansar. Mas ele ainda estava muito excitado com tudo aquilo que acabava de acontecer, e achava que seria capaz de ficar o dia inteiro acordado, sem tirar os olhos da parte mais nova da família. Rebeca se deitou na cama, exausta, e Severo se abraçou a ela, a mãe de sua filha. Depois suspirou, contente.

Em minutos, os três estavam dormindo.

Capítulo 20 – Começa a segunda guerra

Periodicamente, Severo colocava a cabana inteira sob um feitiço abafador para que ninguém soubesse que havia um bebê tão próximo de Hogwarts. Não que Ártemis chorasse muito durante a noite. Depois da mamada das 23h, ela dormia direto até umas seis da manhã, mas acordava com fome. Considerando-se o que outros pais e mães padeciam, Ártemis era um bebê tranqüilo e com horários bastante razoáveis.

Ocasionalmente ela tinha alguma cólica, mas o primeiro mês foi excelente para a adaptação mútua. O varal começou a ficar cheio de fraldinhas, e Winky observava com atenção os cuidados de um bebê humano. Madame Pomfrey foi de valiosa ajuda nos primeiros dias, e Minerva apareceu na segunda semana, também com dicas preciosas para a mamãe inexperiente.

Até o tempo quente ajudou. Ártemis usava roupinhas leves, e tinha liberdade para mexer bracinhos e perninhas. Rebeca sempre a levava para tomar sol no comecinho da manhã, e ficava com ela na varanda, enquanto Winky cuidava da casa. A elfa sempre incentivava Rebeca a dormir quando Ártemis cochilava, por recomendação de Madame Pomfrey.

Três semanas antes das aulas de Hogwarts começarem, Severo testou todos os sistemas antiintruso da cabana. Eles agora tinham que tomar muito mais cuidado em deixar curiosos bem longe daquela parte do lago.

Em dois meses, Ártemis cresceu consideravelmente, a ponto de Severo se dar ao trabalho de expandir suas roupinhas para dois números acima. O tempo ainda era quente, mas as chuvas começavam a cair. Agosto se despedia e junto com setembro, viriam os alunos.

Durante as férias escolares, Severo tentou ficar presente o máximo que podia. Mas as coisas estavam muito ruins no mundo bruxo. O ministro da Magia, Cornélio Fudge, tinha sido substituído depois que deixara dois ataques acontecerem em pleno Beco Diagonal. Os Comensais da Morte haviam feito dezenas de vítimas, e até as autoridades trouxas estavam sendo avisadas. O novo ministro, Quim Shacklebolt, era um membro da Ordem, e rapidamente organizou as forças da luz para o combate e também para o esvaziamento de possíveis alvos dos Comensais.

Os ataques ao Beco Diagonal, além de derrubarem Fudge, também conseguiram, para o campo da Luz, reforçar a aliança com os duendes. Os esforços de Artêmio Gall tinham sido decisivos para esse entendimento diplomático entre bruxos e duendes. Outras raças também se alinhavam ao lado da Luz, e a guerra era aberta.

O bruxo comum sentia que os tempos difíceis tinham voltado, 15 anos depois de Voldemort ter sido derrotado. Agora ele retornara com carga total, prometendo lançar toda a bruxandade às trevas e ao desespero.

- Dificilmente era esse o ambiente em que se quereria ter um filho - pensou Severo, observando Ártemis choramingar nos braços da mãe, que tentava fazê-la dormir. Mesmo que sua filha estivesse num oásis de tranqüilidade e na segurança de Hogwarts, ele tinha que fazer a sua parte.

E seu braço ardeu no mesmo instante que pensou nisso. Voldemort o chamava. De novo.

Ao ver o marido segurando o braço, Rebeca olhou para ele e disse:

- Você vai sair, não vai?

Severo apenas assentiu, erguendo-se do sofá. Ele beijou Rebeca e acariciou Ártemis, que ainda relutava em dormir, e pegou sua capa, saindo.

Ele já estava longe quando Rebeca sussurrou:

- Tome cuidado, meu amor. Estaremos te esperando.

- Relatório!

Severo Snape se adiantou, a máscara branca lhe cobrindo o rosto, antes de informar:

- Houve quem defendesse a suspensão do ano escolar em Hogwarts. Mas o diretor é taxativo em manter as aulas, para dar sensação de normalidade às crianças. Um ataque a Hogwarts seria um duro golpe nesse momento.

- Podemos pensar nisso mais tarde – assentiu Voldemort, os olhos vermelhos brilhando – Avery!

Mais um Comensal da Morte se adiantou:

- Nenhum sucesso ainda na pesquisa, meu Mestre. Mas meu contato no Ministério da Magia continua trabalhando.

- Eu quero isso o quanto antes – sibilou o Lord das Trevas – As coisas se precipitaram, e eu preciso dessa... vantagem. Desde a morte da menina Gall, eu tenho tentado encontrar uma alternativa, sem sucesso. Eu não vou desistir! Continuem trabalhando nisso. Haverá recompensas para quem me agradar nesse assunto.

Severo instintivamente mordeu o lábio. Fazia meses que Voldemort não tocava naquele assunto. Mas havia alguma coisa que Rebeca possuía que o Senhor das Trevas queria.

Ele tinha que descobrir o que era.

A segurança de sua família podia depender disso. Pelo jeito como Voldemort insistia naquilo, talvez até o destino da guerra pudesse ser mudado.

Se ele descobrisse o que era...

Enquanto eles faziam planos para um terceiro ataque de grande escala ao Beco Diagonal, a partir da Travessa do Tranco, Severo pensava em como abordar o assunto com sua mulher.

A tática mais direta sempre foi o ataque frontal, dizia o grande estrategista chinês, Sun Tzu. Ele era trouxa, mas tinha lá sua mágica.

- Rebeca?

- Sim, querido?

- Está muito ocupada?

- Não, estou apenas guardando umas roupinhas de Ártemis. Em breve seria bom pensarmos em comprar outras. Essas não vão agüentar mais um feitiço de alargamento.

- Podemos pensar nisso mais tarde. Estou preocupado com uma coisa.

Rebeca olhou para o marido, esquecendo os afazeres domésticos e indagou:

- O que aconteceu, meu amor?

Severo confessou:

- Há tempos estou para lhe perguntar uma coisa, mas não sei nem como fazer. É que eu não sei bem o que perguntar.

- Sobre o quê?

- Sobre o que os Comensais da Morte queriam com você. Algo não está fazendo sentido.

- Mas nós já conversamos sobre isso, querido. Eles queriam se vingar do tio Artie, por isso me prenderam. O que não faz sentido?

- Voldemort deu a entender que queria mais de você. Ele deu a entender que desde sua morte, ele está procurando alguma coisa – alguma coisa que você tinha.

Rebeca ficou surpresa:

- Eu? Não pode ser, Severo. Eu nem tenho poderes, e todo mundo que conhece minha família sabe disso. Tenho certeza de que você entendeu mal.

Naquele momento, um insight tomou conta de Severo. Todo aquele tempo ele estava encafifado, matutando o que Rebeca tinha que Voldemort podia querer.

Ele jamais pensara na possibilidade de Voldemort querer que ela não tivesse algo.

Fazendo o máximo esforço para não demonstrar seus verdadeiros sentimentos, ele sorriu e disse, cheio de sinceridade:

- Sim, eu acho que realmente entendi mal.