Mesmo Sem Necessidade
Parte I – Junho de 1992
Capítulo
Três: Fim dos Exames
Patrick
realmente almoçou com elas naquele dia, e foi muito atencioso
com todas, o que era muito estranho, vindo de um sonserino. Mas
ninguém tinha do que reclamar, pois não viam Mariana
tão feliz há muito tempo. Parecia que ela realmente
tinha chances com o garoto agora.
O tempo passou e ele se tornou
um grande amigo das meninas. E Mariana passou a gostar ainda mais
dele.
Paralelo a isso, Percy e Penelope também se tornaram
bons amigos, mesmo não se falando tanto. Acontece que eles se
encontravam apenas na biblioteca, estudavam em silêncio (mas
juntos) e, vez ou outra, saíam de lá juntos. E, mesmo
conhecendo tão pouco daquela garota, Percy pensava cada vez
mais nela.
Isso o incomodava profundamente. É verdade que
há muito tempo não se aproximara tanto de uma garota.
Mas ele não precisava se aproximar mais. Penelope era uma
colega de estudos, apenas isso. Ele chegara a pensar em ter alguma
relação mais próxima com ela, mas isso
atrapalharia seus estudos. Nada e nem ninguém podia fazer
isso. Ele era o melhor aluno da turma e assim ia continuar sendo.
Além do mais, ele não tinha necessidade de namorar e
estava proibido de se apaixonar.
Mas esse é o tipo de
sentimento que ninguém consegue controlar. Percy teve que
parar de lutar contra si mesmo e assumir que, mesmo sem necessidade,
ele queria namorar. E não queria namorar qualquer
garota - queria Penelope. Ela era encantadora. A delicadeza dela, o
brilho dos seus olhos, o jeito como ela sorria e falava. Tudo isso
fez com que Percy tomasse uma decisão.
Ele respirou fundo
e levantou-se da cama. Era domingo de manhã e a única
cama vazia em seu dormitório era a de Olívio Wood, que
provavelmente levara o time para treinar.
Vestiu o uniforme,
colocou seus óculos e desceu em direção à
sala comunal. Dormira pouquíssimo naquela noite, pois fora se
deitar pensando em Penelope e remoendo seus sentimentos. Sentia-se
fraco como a chuva que caía, típica do início do
verão.
Ele tomou um café da manhã reforçado.
Apenas esperou o correio matutino para checar se sua mãe não
mandara notícias, antes de ir para a biblioteca e estudar
mais. Começaria a prestar seus N.O.M.s no dia seguinte. Ele
sabia que estava preparado para passar nos exames, mas queria fazê-lo
com louvor. Por esse motivo, não se daria o luxo do descanso
até que terminassem os testes.
Após alguns minutos
concentrado na releitura de suas anotações sobre as
aulas de Transformações, Percy levantou os olhos ao
ouvir uma voz conhecida.
- Bom dia, Percy. Chegou cedo!
Antes
que ele pudesse puxar a cadeira para a garota, como de costume,
Penelope o fez, em seguida tirando um livro de baixo do braço
e abrindo-o sobre a mesa.
- Bom dia – respondeu ele - Faz
tempo que não a vejo por aqui.
- Venho com a mesma
freqüência – afirmou ela, com as sobrancelhas erguidas –
Acho que você é quem tem vindo mais.
Percy meneou a
cabeça e voltou a sua atenção às
anotações (ou ao menos tentou fazê-lo).
Eram
dez horas quando ele guardou o material novamente e levantou-se.
Penelope fez o mesmo, saindo com ele da biblioteca.
- Nervoso
com os exames? – perguntou ela.
- Um pouco.
- Não
se preocupe, você vai bem. Só precisa relaxar um pouco,
ou seu cérebro vai explodir! - Percy soltou uma gostosa
gargalhada - Quando vão terminar as provas?
- Na
sexta-feira.
Eles subiram um lance de escadas. Penelope estava
dizendo algo, mas Percy não ouvia. Tinha um plano em mente,
para ele mirabolante, e estava em um paradoxo de colocá-lo ou
não em prática. Só conseguiu se decidir na hora
em que eles passaram pelo corredor que levava à sala comunal
da Corvinal e Penelope se despediu dele com um beijo no rosto, algo
que nunca tinha feito.
- Boa sorte nos exames! – disse ela
sorrindo.
- Er... Penelope! – chamou Percy antes que ela
pudesse se virar – Os alunos do quinto ano estão organizando
uma festa para comemorar o final das provas na sexta e... bem, eu não
gosto muito de festas desse tipo, mas... talvez, se você
quisesse ir...
Ele não conseguiu completar seu convite.
Era esse o resultado do seu deslize, de ceder tão fácil
ao charme de uma garota: Percy já começara a perder a
postura. Nunca ficara tão embaraçado antes.
- Ah,
é claro – Penelope ampliou seu sorriso – Pode deixar, eu
vou sim!
O quê? Ela tinha gostado da confusão de
palavras dele? Não, era só impressão. Talvez ela
já estivesse procurando um pretexto para ir a uma festa com
garotos mais velhos do que ela e mais interessantes do que ele.
Mas
o fato é que, durante aquela semana, Percy só conseguiu
parar de pensar em Penelope quando estava fazendo provas. Foi um
alívio para ele quando terminou a última prova. Quase
não vira Penelope durante a semana e estava ansioso para a
festa. Seus colegas haviam marcado-a para as sete horas na torre de
astronomia e, Percy fez questão de checar, com a devida
autorização da professora McGonagall.
Eram sete e
meia quando Percy entrou na torre. O espaço interno tinha sido
ampliado com um feitiço e todos os alunos do quinto ano se
encontravam ali, acompanhados de alguns alunos de outras séries.
Alguém levara um rádio que tocava música alta,
algum novo sucesso d'As Esquisitonas. Percy olhou ao seu redor
procurando algum vestígio de Penelope. Como não a
encontrou, foi desvencilhando-se dos alunos e adentrando o salão
improvisado, esticando o pescoço por cima de todos (não
que isso fosse necessário, pois Percy era provido de uma
altura razoavelmente grande).
Ele avistou seus irmãos, os
gêmeos. Pensou em ir até eles e perguntar o que estariam
fazendo ali, mas a sua atenção foi dispersa quando ele
ouviu uma voz familiar vinda de algum lugar às suas
costas.
Virou-se e pôde distinguir Penelope
desvencilhando-se dos braços de um garoto da Sonserina.
-
... eu sou comprometida! – dizia ela tentando afastar-se do menino.
Este, disse algo que Percy não conseguiu ouvir, mas que fez
com que Penelope ficasse notavelmente irritada.
Ela avistou Percy
e deu as costas ao menino, correndo em sua direção.
- Eu estava te procurando – disse ela sorrindo.
- Ah... oi!
Está gostando da festa?
- Estou sim! Nunca tinha
imaginado que esse lugar poderia se transformar em um salão de
festas. Quer dançar?
- Eu... não gosto muito de
dançar.
- Ah... – ela pareceu desanimar-se um pouco –
Então vamos procurar uma mesa vazia!
Não era muito
difícil encontrar um lugar para sentar, uma vez que quase
todos na festa estavam em pé, dançando. Eles
sentaram-se à uma mesa de dois lugares, sobre a qual havia uma
garrafa fechada de cerveja amanteigada e algumas taças.
Percy
abriu a garrafa e ofereceu uma taça à Penelope, que
recusou educadamente.
- Eu não bebo, obrigada!
- Não
é forte – disse ele espantado.
- Eu sei. Só não
gosto do sabor.
Durante alguns minutos, os dois mantiveram
silêncio. Percy procurava argumento para iniciar uma conversa,
mas algo não lhe saía da cabeça. "...eu sou
comprometida!" Então ela já tinha alguém?
Ele havia escolhido a garota por quem se apaixonaria e tivera a
capacidade de escolher a garota errada? Era mesmo um imbecil – uma
beldade daquelas não poderia dar importância a ele!
E
naquela noite ela estava especialmente mais bonita. Seus cabelos
estavam presos em um rabo-de-cavalo e ela usava um par de grandes
brincos azuis que realçavam a cor de seus olhos.
Percy
estava admirando os olhos dela, que miravam as pessoas que dançavam,
quando uma mão bateu abruptamente na mesa, assustando os
dois.
- É esse o seu namorado? – perguntou uma voz
grossa e arredia.
Penelope olhou para cima assustada para cima e
viu o garoto da Sonserina que havia lhe abordado momentos antes e que
Percy conhecia bem como Samuel Oliver, um dos maiores encrenqueiros
do sexto ano.
- Não, ele não é meu namorado
– respondeu Penelope educadamente.
- Escute aqui, seu
moleque... – começou Oliver ignorando Penelope e agarrando
Percy pela gola das vestes – É bom você não
mexer com a Penelope, porque ela é minha, está me
ouvindo?
Como o garoto fosse três vezes mais forte do que
Percy e tivesse três amigos de seu tamanho, este sentiu certo
receio em levantar a voz e dizer:
- Desculpe-me, acho que está
havendo algum engano. Eu, que sou monitor, estava apenas
acompanhando a senhorita Clearwater, nada mais que isso!
- Não
dê satisfações a ele, Percy – mandou Penelope
puxando-o pelo braço e levando-o para fora do salão, de
cabeça erguida.
Tão logo a porta se fechou, a
música foi abafada pelo Feitiço da Imperturbabilidade e
Penelope deixou de lado a pose de independente e olhou preocupada
para Percy.
- Não dê ouvidos a esse garoto! Ele não
pára de me perseguir desde que...
Ela parou de falar e
olhou para o chão.
- O que foi? – perguntou Percy
fitando-a, consolador.
- Eu o conheci na festa do dia das
bruxas, no ano passado – disse ela para os degraus que descia.
Percy a seguia, ouvindo seus desabafos – Ele tentou me beijar e eu
não quis. Ele não aceitou muito bem a recusa e me
perseguiu por algum tempo. Certa vez eu ameacei denunciá-lo à
profª McGonnagal, e então ele parou por um tempo. Eu
pensei que ele já havia desistido de me perturbar, mas hoje
ele tentou me beijar de novo e... Argh!
Percy acompanhava tudo
atentamente, tentando descobrir mais sobre a garota. Eles passaram
por uma sala de aula e ele abriu a porta com cortesia, convidando-a a
entrar.
- Que sala é essa? – indagou Penelope
interessada, observando tudo à sua volta.
Percy deu de
ombros.
Eles trocaram olhares por alguns momentos, talvez
procurando algum assunto para conversar. De repente, como que
acordando de um devaneio, Penelope sacudiu a cabeça e
dirigiu-se a uma das janelas, a passadas largas.
- Desculpa. Eu
te tirei da festa.
- Tudo bem, não estava me
divertindo.
- Por minha culpa.
- Não, não! A
culpa não é sua! Acontece que eu não gosto de
eventos muito agitados.
- Eu entendo. Em todo caso, me desculpe
pelo Oliver. Eu havia acabado de dizer a ele que estava comprometida
com alguém. Foi apenas pretexto para me desvencilhar dele, não
achei que ia ser levada a sério.
- E você não
está comprometida? – ele arriscou perguntar, com simulado
desinteresse, enquanto apoiava-se no parapeito da janela ao lado
dela.
- Claro que não, Percy! Eu já disse,
inventei isso para despistá-lo.
Percy acenou com a cabeça
em sinal de compreensão.
- E você? Está com
alguém?
- Quem, eu? Não, não.
- Alguma
pretendente?
Ele olhou para Penelope, que tinha uma expressão
marota no rosto, e não respondeu.
- O silêncio diz
tudo – filosofou ela – Quem é? – perguntou interessada,
deixando de lado o incidente com Oliver.
- Você não
vai querer saber – disse Percy, sentindo o rosto corar levemente e
desviando o olhar para algum ponto na mal iluminada floresta
proibida.
- Se eu não quisesse saber não
perguntaria.
Ele foi obrigado a concordar.
- Posso tentar
adivinhar?
Percy levantou uma única sobrancelha,
analisando mentalmente a proposta. O que ele tinha a perder?
-
Okay. Vamos testar seus poderes de vidente.
- Garanto ser melhor
que a professora Trelawney – afirmou Penelope, com uma breve
gargalhada – Ela é da Grifinória? Sonserina? –
conforme ela perguntava, recebia a resposta na forma de um aceno -
Lufa-Lufa? Corvinal!
Percy fez que sim com a cabeça, sem
coragem de olhar nos olhos dela. Penelope deixou escapar um
gritinho.
- Eu conheço todo mundo na minha casa!
Vejamos... quinto ano? Não? Sexto? Sétimo? Primeiro? –
ela riu – Brincadeirinha! Ela é do quarto ano?
Desta vez
Percy demorou um pouco mais para responder. Penelope mordia o lábio
inferior e observava-o com ansiedade. Ele soltou um breve e tímido
"É" e olhou para ela, para perceber que esta estava tão
vermelha quanto ele.
- Okay... quarto ano, Corvinal... Rebecca
Smith!
- Quem é essa?
- Esqueça, você
não conhece. Elisa Gasparetto, talvez?
- Também
não conheço.
- Ananda sobrenome!
- Não
sei quem é.
Penelope parou por um momento e, começando
a roer a unha do dedo mindinho, olhou curiosa para Percy.
-
Quantas pessoas do quarto ano da Corvinal você conhece? –
perguntou com receio.
Percy engoliu em seco e respondeu:
-
Apenas uma.
Ela tentou disfarçar.
- Mas eu também
estou no quarto ano!
- E de quem mais estaríamos
falando?
O queixo de Penelope caiu.
- Então quer
dizer que...
- ... eu gosto de você. É patético,
eu sei.
- Por que patético? – perguntou ela,
ofendida.
- Creio ser certa a afirmação de que
você já recebeu convites para sair vindos de pessoas bem
mais interessantes do que eu, não é mesmo?
- Não,
não é.
Percy olhou para ela incrédulo.
- A afirmação certa é a de que essa foi a melhor
festa da qual eu já participei.
- Mas você nem ao
menos está na festa! – argumentou Percy – Está
comigo nessa sala vazia, observando o céu e conversando...
- ... por isso mesmo!
Ele olhou para ela e engoliu em seco. Seus
rostos se aproximavam mais e mais. Ele podia sentir a respiração
dela. Em um segundo, seus olhos se fecharam e seus lábios se
tocaram.
Nota da Autora: Ufa! Demorei, mas consegui juntar
esses dois. Eta casalzinho difícil, viu! Bom, espero que
tenham gostado do capítulo, precisei de muito esforço
para escrevê-lo e espero seus comentários!
