Heart of Sword

Eriol acordou naquela manhã muito pensativo, tomou café com os outros dois completamente calado. A tensão era tanta que dava para cortar, só Yelan estava calma.

Shaoran ainda estava irritado com o amigo pelo que ele havia dito, mas Eriol parecia indiferente ao rancor do outro. Assim que acabou de comer se levantou e disse que ia dar uma volta.

Ele foi para a cidade e ficou andando em meio às lojas. De repente, avistou uma loja de óculos. Entrou lá, estava precisando de uns óculos escuros.

- Posso ajudar? – perguntou um jovem.

- Yukito, já faz tempo! – disse Eriol.

- Eriol! Cara, há quanto tempo... O que faz por aqui?

- Vim atrás da Sakura.

- Soube do rapaz que chegou?

- Ele é meu amigo, não fará mal algum a vocês.

- Imaginei, Sakura anda muito desconfiada. Mas, o que quer na minha humilde loja?

- Um par de óculos escuros.

Ele comprou e saiu dali logo em seguida, ficou andando até parar na frente da casa de Sakura. Tocou a campainha e Fuyutaka o atendeu.

- Posso ajudá-lo? – perguntou o senhor.

- Senhor Kinomoto, não vá me dizer que já se esqueceu de mim?

- Eriol? Eriol Hiiragizawa?

- Bom, parece que ainda se lembra.

- Entre, por favor! Quando chegou à cidade?

- Ontem pela tarde. Encontrei Sakura já.

- Ela não me contou nada, chegou em casa e foi direto para o quarto, parecia triste.

- Não a culpo, nosso encontro não foi dos melhores. Onde ela está?

- No quarto, disse que tinha umas coisas para fazer e que não era para eu incomodar.

- Bom, ela vai ter que se incomodar comigo. Com licença. – Eriol subiu as escadas e bateu na porta do quarto de Sakura.

- Pode entrar, Eriol.

- Você tem uns minutos?

- Claro. Senta aí. – disse ela, apontando a cadeira da escrivaninha.

- Escuta, sobre ontem...

- Você não precisa me explicar nada, já sei de tudo.

- Como assim?

- Você é do Clã Li de Hong Kong e eles querem que eu me una a eles.

- Como sabe de tudo isso?

- Não sou tonta, não passei aqueles três anos sem você sem treinar ou aprimorar minha magia e os meus feitiços.

- Certo...

- Minha resposta é não.

- Não vim aqui falar disso.

- Então o que quer?

- Queria conversar com você com mais calma. – ele se levantou e sentou do lado dela, na cama.

- Pode falar.

- Não aqui, janta comigo?

- Hoje?

- No hotel, lá teremos um pouco mais de privacidade e calma. – ele pegou uma caneta que estava em cima da cama. – Você não precisa dessa caneta, não é?

- Não, por que?

- Por nada. – ele jogou pela janela, que estava aberta e acertou em Shaoran, que estava escondido na árvore logo em frente a ela. – Tente se ocultar melhor, meu amigo.

- Ai, essa doeu. – gemeu Shaoran, saindo de lá.

- Então, onde estávamos? – perguntou ele, como se nada tivesse acontecido.

- Ele deve sofrer muito com você.

- Só um pouco. Mas, então, você janta comigo?

- OK, que horas e onde?

Ele passou tudo para Sakura e depois se foi. Na hora do jantar, Sakura chegou no quarto de Eriol acompanhada do gerente do hotel.

- Obrigado. – agradeceu Eriol educadamente enquanto Sakura adentrava no quarto.

- Qualquer coisa é só avisar, senhor.

- Obrigado. – ele fechou a porta. – Pervertido.

- Ai, Eriol... – ela riu.

- É bom te ver sorrir assim, viu?

- Vamos começar com isso? – perguntou ela, mudando a expressão alegre por uma mais séria.

- OK, desculpe. O que quer comer?

- O que você pedir está bom para mim.

- Está certo então... Comida Italiana? – ela deu de ombros. – Macarronada simples então, vou pedir. – ele pegou o telefone e fez o pedido.

- Vai enrolar até quando?

- Certo, certo. – disse ele, se sentando no sofá, ao lado dela. – Chamei você aqui para falar sobre esses dois anos.

- Não há nada para ser dito sobre eles. – ela se levantou e ficou de costas para ele.

- Só essa sua agitação já me diz que tem coisa errada.

- Não tem nada errado, só porque eu mudei um pouco...

- Um pouco? Você não é a pessoa a quem eu prometi que iria curar nem que isso fosse a última coisa que eu faria! Não é a pessoa doce que sempre tinha um sorriso para toda e qualquer hora... – ele se levantou e a abraçou por trás (não pensem besteira...).

- Você queria que eu continuasse a mesma, desculpe decepcioná-lo.

- Sakura, você não é assim. Por que mudou tanto?

- Às vezes, é preciso fazer escolhas que não quer para conseguir viver em paz.

- E mesmo fazendo essas escolhas forçadas ainda consegue viver em paz? Não acredito nisso.

- Ou talvez vivesse pior com a escolha que realmente queria fazer.

- Viver pior sendo quem você é e melhor rejeitando a si mesma? Acho difícil.

- Esqueça, não valho seu tempo.

- É exatamente disso que eu estou falando. Você perdeu a fé em si mesma e em seus sonhos.

- Eles não estavam me levando a nada. – ela se desvencilhou do abraço dele e parou de frente a ele. – Eu mudei, Eriol, você tem que encarar isso.

- Vamos ver o que eu vou ter que encarar. – disse ele, indo até a porta quando bateram.

O serviço de quarto deixou a comida e os dois comeram em silêncio. Depois que retiraram as coisas, Eriol foi ligar uma música.

- O que você quer ouvir?

- Gosto de qualquer coisa, pode escolher.

- Eu falo sério, o que você quer ouvir?

- Qualquer coisa.

- Ótimo, acho que vou ter que partir para o ataque mesmo. – ele foi até ela, que estava sentada no sofá e fez a magia para fazê-la ver por uma meia hora.

- Por que tanto tempo? – perguntou ela, percebendo a duração que ele queria que o feitiço tivesse.

- Precisamos conversar sério agora. – ele se sentou ao lado dela e a encarou. – Não pode continuar fugindo de si mesma para sempre. Sei que deve ter sofrido muito estando cega e tendo aquele jeito doce. Imagino que tenha algo a ver com seu antigo namorado, Shinta.

- Descobri que ele só estava me usando, como eu era a garota mais popular da escola... – ela suspirou. – Eu realmente achei que ele gostasse de mim, mas assim que fiquei cega e saí da escola ele me largou.

- Isso depois que eu fui embora?

- Logo depois. – os olhos dela se encheram de lágrimas.

- Não chora... – ele a abraçou. – Não gosto de te ver assim.

- Queria que você estivesse aqui naquela época. – ela se apoiou nele e chorou tudo o que precisava, até seus olhos não conseguirem derramar mais uma lágrima, o que demorou uns cinco minutos de silêncio.

- Então foi isso que te fez mudar tanto, te deram um motivo para desconfiar das pessoas.

- Não foi só isso, ele não foi o único. Muitos engraçadinhos tentaram por brincadeira, mas não chegaram nem perto.

- Foi por isso que tratou Shaoran tão mal quando vocês se encontraram?

- Em parte, mas não podia me aproximar dele sem saber o que ele queria aqui se tinha tantos poderes.

- Sakura, eu não vim aqui esperando encontrar aquela garota ingênua. Sabia que você tinha mudado, assim como eu também mudei. Mas não acho que essa mudança tão drástica seja necessária. Você nunca vai deixar de ser a pessoa maravilhosa que sempre foi, mas não pode se fechar do mundo desse jeito.

- Foi o único meio que eu encontrei de me proteger de pessoas que só querem se aproveitar...

- Eu sei, é duro. Mas você não precisa disso, só a sua força já é suficiente. Vem comigo, quero te mostrar uma coisa. – ele a ajudou a se levantar do sofá e a levou para o quarto.

- O que é? – perguntou ela, se sentando na cama (galera, não pensa besteira não).

- Acho que você vai se lembrar muito bem disso. – ele se sentou ao lado dela e abriu um álbum de fotos. Nele estavam várias fotos deles ou às vezes só dela, ou com os outros amigos. – Sempre tenho isso comigo, é como se fosse o meu amuleto. Você é uma pessoa muito importante para mim, Sakura. Só quero o seu bem, não quero te ver triste desse jeito.

- Ah, Eriol... – ela se deitou com a cabeça no colo dele. - Sabe do que eu mais senti falta?

- Não, do que? – perguntou ele, começando a acariciar os cabelos dela.

- Daquelas vezes que eu dormia na sua casa depois do treino e você ficava comigo...

- Fazendo cafuné até você cair no sono. – completou ele, continuando a acariciar os cabelos dela. – Também senti falta disso.

Eles ficaram ali até que Sakura quebrou o silêncio pouco antes de adormecer.

- Sabe, Eriol...

- O que?

- Queria te agradecer, sem você eu não sei o que seria de mim.

- E eu não sei o que seria de mim sem você.

- Seria uma pessoa com muito menos problemas... – ela adormeceu.

Eriol a ajeitou na cama, a cobriu, ligou para Fuyutaka e foi falar com Shaoran e Yelan.

- E então? – perguntou Yelan, enquanto Shaoran assistia TV.

- Não sei, mas acho que consegui. Ela está dormindo agora.

- Que magia você usou? – perguntou Yelan, intrigada.

- Só um pequeno truquezinho, nada de mais. – ele olhou para a TV onde viu que Shaoran assistia "Beavis e Butthead" (nem sei se escreve assim, mas eu acho ridículo...). – Você assiste esse lixo? – perguntou, incrédulo, desligando a TV logo em seguida. – Ela está dormindo agora, vou saber o resultado amanhã só.

- O que você fez com ela? – perguntou Shaoran, desconfiado.

- Nada, eu juro. Se quiser ir lá olhar, fique à vontade.

- Não, obrigado.

Eriol logo voltou para o quarto dele e acabou por dormir no sofá. Na manhã seguinte, Sakura acordou cedo e se sentindo bem, como não se sentia há muito tempo. Fez a magia para poder ver por uns 15 minutos e foi até a sala. Viu Eriol dormindo deitado no sofá e se sentou na pontinha do mesmo.

- Eriol, acorda. – disse ela docemente enquanto acariciava a face dele.

- Ahn, o que foi? – ele acordou assustado.

- Calma, sou só eu. – ela riu.

- Desculpe, não costumo ter alguém para me acordar.

- Desculpe por te acordar.

- Tudo bem. – ele se sentou e esfregou os olhos. – Acho que a nossa conversa ontem deu resultado, não é?

- Obrigada por me fazer ver a besteira que eu estava fazendo... Me fazer perceber que eu estava errada.

- De nada, é bom te ver sorrindo. – nessa hora Shaoran entra pela porta, mas ao ver os dois tão perto vai saindo rapidinho.

- Não precisa ir embora, Li. – diz Sakura, se levantando do sofá. – Eu tenho que ir agora mesmo.

- Como você sabia que era eu? Eu nem falei nada.

- Não é a primeira vez que te vejo.

- Você está me vendo?

- Eriol, você não contou nada para ele?

- Não, não estava afim.

- Bobo... – ela riu. – Eriol me ensinou uma magia que me permite ver por algum tempo.

- Ah... Então era esse o truquezinho que o Eriol usou ontem.

- Eu não chamaria de truque. – disse Sakura. – É algo muito útil.

- Parece que tudo deu certo, não é, Eriol? – perguntou Yelan, entrando no quarto também.

- Consegui o que queria, mas quanto ao clã... Isso fica a critério de Sakura agora. – ele a encarou enquanto a mesma o olhava com um olhar decidido.

- Isso vou ter que pensar com mais calma, agora quero ir para casa.

- Sakura, não queremos te forçar a nada.

- Eu sei, não vou fazer nada que contrarie a minha vontade. – ela pegou o casaco. – Até mais. – ela deu um beijo no rosto de Eriol e saiu dali.

- Parece que você conseguiu. – comentou Yelan.

- Parece que ela ta é gamadona em você. – disse Shaoran.

- Não seja bobo, Sakura não gosta de mim além do que como amigo.

- Se você diz...

Sakura chegou em casa e seu pai logo notou a mudança na filha. Ficou muito contente por ela voltar a ser o que era. Mas, voltando ao hotel, Eriol estava lá conversando com Yelan sobre Sakura enquanto Shaoran lia um pouco quando a campainha tocou.

- Eu vejo quem é. – disse o rapaz, olhando pelo olho mágico e logo depois abrindo a porta, aparentando estar nervoso. – Tomoyo, que surpresa!

- Sakura me contou onde você estava hospedado, espero que não se importe.

- De modo algum... Mas como eu sou mal educado, entre, por favor.

- Obrigada. Olá... – ela cumprimentou os outros dois que estavam na sala (detalhe: Shaoran tinha parado de ler, estranhando o nervosismo de Eriol).

- Tomoyo, esses são Shaoran Li, que você já conhece, e a mãe dele, Yelan Li.

- Muito prazer. – disse Tomoyo. – Escuta, Eriol, tem uma coisa que me intriga em você.

- O que é? – perguntou Eriol em um tom divertido, como se já esperasse a pergunta.

- Como é que você consegue fazer uma coisa difícil parecer tão fácil? – Eriol riu ao fim da pergunta. – Mas é verdade, faz quase dois anos que eu e Yukito tentamos fazer Sakura voltar a ser o que era e você consegue isso em uma noite.

- Isso não é algo que eu possa responder... Somente consigo...

- Quando é que você vai aprender a dar uma resposta direta?

- Isso é uma coisa que ele nunca vai aprender a fazer. – disse Shaoran, voltando a meter a cara no livro.

- Ele fica meio irritado quando tem alguma garota no local que não está dando atenção para ele. – cochichou Eriol, rindo. – Vamos dar uma volta.

- Tudo bem. – os dois saíram.

Os dois foram dar uma longa e demorada volta pelos jardins do hotel e, quando Eriol voltou ao quarto, já sozinho, Shaoran perguntou, de mau-humor.

- E aí, já deu os amassos que você queria nela?

- Shaoran, não fale assim! – repreendeu-o Yelan.

- Deixe-o. Shaoran, não é só porque tenho alguns amigos aqui que você tenha que ficar tão enciumado. – disse para o amigo.

Sakura falou com seu pai de tarde e ele disse que isso caberia somente a ela decidir, mas que ele não deixaria a cidade. Ela poderia ir se quisesse, seria até melhor, assim ela teria mais esperanças de recuperar a visão.

Dois dias depois ela decidiu, iria com eles. Era a melhor coisa a se fazer, principalmente se quisesse proteger os seus amigos. Bateu duas da tarde e ela foi falar com Eriol.

- Eriol, eu vou com vocês.

- Fico muito feliz em ouvir isso, mas você não vai poder voltar atrás, sabe disso?

- Sei. É a melhor coisa que vou fazer, por todos. Mas, além de tudo, para mim mesma.

- Certo, então parece que não tem mesmo dúvidas sobre isso. Ah, e se seu pai quiser vir...

- Ele não vai. – interrompeu ela. – Ele disse-me desde o começo que não deixaria a cidade.

- Entendo... Bom, então eu acho que é só avisarmos Yelan e Shaoran e iremos o mais breve possível.

- Imaginei que tivesse de ser rápido...

- Yelan é a chefe do clã, não pode se ausentar por muito tempo.

- É... – ela suspirou.

- Você não precisa ir se não quiser.

- Não me pergunte isso de novo.

- OK, desculpe.

- Ei, você está sentindo essa presença? – perguntou ela, subitamente séria.

- É fraca demais, Sakura. Você está meio paranóica, não?

- É ele... O mago que me deixou cega... E está perto da minha casa. – ela saiu correndo do quarto e foi para a rua, seguida de Eriol, porém este não conseguia alcançá-la. Shaoran e Yelan foram atrás deles também, espantados com a fúria em que Sakura parecia se encontrar. – Você não vai fazer o que quiser dessa vez... – sussurrou ela para si mesma.

Gente, eu sinceramente peço mil desculpas por tanta demora nos meus fics... O outro eu até tive justificativa, mas por esses vocês podem me bater: estou com ele pronto há séculos...

Desculpem mesmo, gente... Só que eu empaquei no 5 (e ainda tou empacada) e não queria por assim sem ter certeza do próximo...

Vou tentar não dar essa mancada de novo...

Bjs, Miaka.