Heart of Sword

Os três tomaram um café da manhã bem animado até. Eriol disse que ia terminar de arrumar as coisas para fazer o "ritual" e que era para Shaoran ficar cuidando de Sakura enquanto isso.

Os dois ficaram conversando um pouco. Shaoran descobriu várias coisas em comum com Sakura, por exemplo, gostos musicais. Shaoran levou Sakura até seu quarto, onde havia um piano onde ele e Eriol gostavam de tocar. Shaoran tocou um pouco e Sakura adorou.

Sakura, impressionada com tudo o que descobria sobre ele, se sentia cada vez mais à vontade. Podia confiar nele, tinha certeza. Ouviu-o tocar o piano com tal habilidade que ela só vira em Eriol. Ia pedir bis, mas foram interrompidos por Eriol, que os chamava para começarem.

- Pronta, Sakura? – perguntou Eriol, depois de terem ido até uma sala com um aroma forte de incenso e a feito sentar em uma poltrona confortável.

- Estou. Quando quiser.

- E você, Shaoran, está pronto?

- Estou... – ele olhou a sua volta. Estavam em um dos salões da mansão. Eriol afastou as mesas para os cantos, fez um círculo com incensos e colocou uma poltrona no centro do mesmo. O restante da sala estava vazio, era um ambiente silencioso.

- Escute, sei que você conhece a magia de regeneração, e também que te ensinaram que não pode regenerar órgãos humanos, mas era tudo mentira, pode ser sim usado para regenerar órgãos humanos, mesmo não podendo ver, poderemos regenerar o nervo óptico de Sakura, mas você tem que confiar em mim.

- Quando foi que eu não confiei?

- Vamos começar, é cansativo, talvez teremos que ir aos poucos, senão nem a própria Sakura agüentará tanta magia... – Eriol suspirou. – Feche os olhos, Sakura, vamos começar. Me avise se sentir algo, certo?

- Certo...

- Então vamos... – Eriol fez sinal para Shaoran se sentar do lado de Sakura, segurando a mão da garota, enquanto Eriol fazia o mesmo do outro lado.

Era uma magia simples, mas cansativa. Regenerar um órgão necessitava de muita energia de quem fazia a magia e de resistência da pessoa em que estava sendo aplicada a mesma.

Shaoran começou a sentir suas energias acabando após alguns minutos e nada de Sakura falar uma palavra. Achou que não ia dar certo quando sentiu a mão de Sakura tremer e ouviu a voz um tanto angustiada dela.

- Eriol... Está ardendo...

- Muito?

- Nada que eu não possa agüentar, mas está um pouco forte.

- Certo, vamos continuar mais um pouco, se aumentar me avise, não vamos agüentar muito mais tempo com isso...

- Tá bem.

- Agüenta firme, Sakura... Não desiste. – disse Shaoran.

- Eu sei.

Continuaram, mas somente por mais dois minutos, até Shaoran se pronunciar.

- Não dá mais... É demais para mim. – ele soltou a mão de Sakura e se apoiou no chão, ofegante.

- Realmente, não pensei que fôssemos conseguir logo de primeira. – comentou Eriol. – Como você está, Sakura?

- Está ardendo, mas nada mais.

- Vamos ver isso, mas antes é melhor você descansar. Drenou praticamente todos os nossos poderes, alguma coisa deve ter alterado.

- Vocês também... Estão exaustos. Não se preocupem comigo, estou bem, melhor do que vocês com certeza.

Todos foram descansar um pouco, e depois Eriol examinou Sakura.

- Ele está começando a regenerar, mas vamos ter que repetir isso todos os dias para conseguirmos sucesso. Estamos no caminho certo, mais talvez uns oito dias e conseguiremos.

- Oito dias drenando a energia de vocês? Acha mesmo que podemos fazer isso? – espantou-se Sakura.

- Não se preocupe, vamos conseguir sua visão de volta, eu juro.

- Não estou preocupada com isso, Eriol... Não quero prejudicar vocês.

- Nem tudo o que fazemos por aqui depende de magia, sabia?

- Mesmo assim...

- Não discuta comigo. Conversei sobre isso com Yelan e Shaoran, eles estão totalmente de acordo.

- Tudo bem, então.

- Ainda arde?

- Um pouco, quase nada.

- Que bom... – nessa hora alguém bate na porta da biblioteca (onde eles estavam).

- Eriol... A galera está aqui e chamando a gente para dar uma volta.

- Shaoran, não sei se a gente deveria...

- Eriol, é claro que você vai! – Sakura o interrompeu. – Não vai ficar aqui por minha causa. Eu vou ficar bem, não se preocupe.

- Ela tem razão, Eriol. Pode muito bem se cuidar, mais que você eu me atrevo a dizer.

- Shaoran, vamos logo! Arrasta o Eriol pra ele não enrolar. – pôde-se ouvir uma voz masculina vindo do final do corredor.

- Não sei... Mesmo assim... Queria ficar por perto...

- Eriol, se você ficar eu juro que vai se arrepender. Prometo que aviso se tiver algo estranho, vai, Eriol.

- Que mal uma volta pode fazer, Eriol?

- Por que não vai conosco, Sakura, você também não é nenhuma inválida.

- São os amigos de vocês, e ainda não me acostumei totalmente com o ambiente daqui, não quero atrapalhar. – ela sorriu. – Não se preocupe, vou ficar bem quieta no meu quarto ouvindo um pouco de música enquanto vocês estão fora.

- O que está atrasando tanto o Eriol, Shaoran? – uma voz de rapaz, a mesma de antes, foi ouvida dentro da biblioteca. Sakura se assustou, não percebera aproximação nenhuma.

- Satoshi! Não falei para você esperar lá embaixo? – Shaoran se exaltou, percebendo a reação de Sakura.

- Não tem problema, Shaoran, só me pegou desprevenida. E ele tem razão, Eriol, vai logo e não se preocupe comigo.

- Me desculpe, eu... – Satoshi percebeu que realmente deveria ter esperado e tentou se desculpar com Sakura, que estava de costas para ele.

- Não se preocupe. – Sakura se virou, sorrindo para o rapaz. – Já que vocês já estão saindo, eu vou para meu quarto, com licença. – ela andou até a porta e colocou a mão na maçaneta. – Eriol, eu já te avisei sobre o que vai acontecer se você não for, não é?

- Já sei, Sakura, não se preocupe com isso.

- Acho bom. – ela abriu a porta e estava saindo quando Shaoran a chamou.

- Sakura, que tal um pouco de exercício depois do almoço?

- Coitadinha de mim, vou ter que treinar com você de novo... – os dois riram. – Se você acha que agüenta...

- Esteja preparada.

- Com certeza. – ela saiu de lá, fechando a porta.

- Satoshi, eu já falei várias vezes que, mesmo sendo meu grande amigo, não é para ficar atrás de mim pela mansão. Pedi para esperar na sala com os outros. – disse Shaoran, saindo da biblioteca com os dois.

- Desculpa, eu também não sabia que vocês estavam lá com aquela gata e...

- Olha como fala dela! – Eriol prensou o garoto contra a parede, com um olhar de extrema fúria.

- Ei, Eriol, vai com calma, tá? – Shaoran segurou-o, liberando Satoshi. – Tudo bem que ele se expressou mal, mas você não pode negar que ela é.

- Não acredito que ainda fale assim dela mesmo depois de saber tudo o que ela passou.

- Será que eu preciso dizer que estou, literalmente, boiando aqui? – perguntou Satoshi.

- A história de Sakura é complicada, esqueça isso e vamos nos divertir. – eles chegaram na sala.

Saíram todos, era um grupo de quatro garotos, contando Eriol e Shaoran, e três garotas.

Sakura estava em seu quarto, ouvindo discman tranqüilamente. Logo se cansou, resolveu deixar de ser tonta e ir treinar um pouco. Se trocou, e foi para o dojo, pegando uma espada de madeira assim que chegou. Começou a praticar movimentos, mesmo não os vendo, testava sua agilidade e resistência com movimentos cada vez mais rápidos. Nem sentiu o tempo passar, só notou quando Shaoran parou na porta do dojo, a observando. Ele estava acompanhado com mais alguém, ela sentia, mas não sabia quem era.

Parou abruptamente os movimentos e ficou parada, esperando ele dizer algo.

- Não precisava ter parado. Eu e Nanaka estávamos aqui te observando...

- Não acho que o passatempo de vocês seria me ver treinar...

- Aí que você se engana... Nanaka que quis vir comigo.

- Quem garante que ela veio para me ver e não só para ficar com você? Eu não a culparia.

- Não vim para ficar com ele, srta Kinomoto, já tenho meu namorado. – Nanaka se pronunciou. Era uma voz suave, mas ao mesmo tempo firme e decidida.

- Acalme-se, não estou insinuando nada...

- Shaoran me contou sobre a srta e fiquei curiosa.

- Mesmo? – Sakura estranhou.

- Nanaka adora artes marciais, posso dizer que ela é melhor que Eriol e está mais ou menos no seu nível. Ela pode muito bem nos dar uma mão.

- Espera um pouco, está dizendo que eu luto melhor que Eriol?

- Fácil, fácil... Eriol parou de treinar para resolver o problema com a sua visão. Mesmo sem enxergar você ganha dele.

- Ela sabe tudo sobre...

- Magia, sim sabe. Ela só não entra no clã por não ter magia, mas sempre está nos ajudando.

- Eriol bateu muito no tal do Satoshi, a propósito?

- Não... Só ficou um pouquinho bravo quando ele te chamou de gostosa, mas nada de mais. – Sakura riu.

- Tem que ser o Eriol... Que horas são?

- Onze.

- Ainda temos uma hora e meia...

- Não precisamos fazer nada se você não quiser. – disse Shaoran, estranhando o tom de voz dela.

- Não é isso... Hoje é dia 20 de julho, não?

- É, por que?

- Nada... – Sakura sorriu tristemente. – Agora sei porque estou me sentindo assim... – ela suspirou. – Se importa de só treinarmos depois do almoço?

- Não... Claro que não. Tem alguma coisa errada?

- Nada com a qual eu não possa lidar... Não se preocupe comigo... – ela saiu do dojo.

- Shaoran, você tem certeza que ela está bem?

- Na verdade não... Até iria perguntar para Eriol, mas ela está indo falar com ele...

- Bem, eu passo aqui mais tarde então... Pode ser?

- Pode sim. Qualquer coisa é só ligar.

- Tá bem, até mais. – ela saiu do dojo.

- Sakura... O que deu em você? – Shaoran perguntou em voz alta, pegando a espada de madeira que Sakura deixara no chão do dojo.

Assim que sentiu que Sakura fora para seu quarto, deixando Eriol sozinho, Shaoran foi falar com ele.

- Hoje faz cinco anos que a mãe de Sakura morreu. – disse Eriol, sem Shaoran perguntar nada.

- Nossa... Era a última coisa que eu iria pensar...

- Sakura passou por coisa demais... Viu o porque de eu não querer sair hoje?

- Não fazia idéia... Mas ela também não estava lembrando.

- Ela não tem muita noção de tempo, foi só descobrir que dia é hoje que se lembrou.

- Ela estava chorando? - pergunta e Eriol o olha de forma curiosa.

- Estava, por que?

Shaoran balança negativamente a cabeça.

- Nada... Vou dar uma volta pelo jardim... Nos vemos no almoço. - saiu do quarto um pouco pensativo - "Acho que ela não confia em mim o suficiente para se abrir comigo... ou talvez não queira que eu sinta pena dela..." Droga!... - exclamou dando um chute na ponte do quintal - "Eu tenho que fazer com que ela veja que pode confiar em mim sem medo... eu não vou ficar com pena dela... não tenho porque ficar com...".

Ele olha apreensivo para a porta do quintal por onde alguém saía sorrateiramente. Ele tenta identificar a figura que está de costas e a uma distância considerável, que não o permite identificar o vulto.

- "Sakura?..." - começa a se aproximar ao perceber que não se pode mais sentir a presença dela de dentro da casa. O vulto segue para trás de uma das paredes da casa e quando ele chega lá, não vê mais ninguém. - Mas que... - pára de falar ao perceber certa agitação um pouco mais adiante. Caminha lentamente, ocultando sua magia dessa vez, e chega até uma construção afastada das outras dentro da propriedade. Era um tipo de templo no formato pentagonal, com grossos pilares vermelhos e estatuetas dos guardiões da família. Dentro desse templo eram feitas orações para os antepassados da família, e lá estavam depositadas as cinzas dos mesmos. O lugar não trazia as melhores recordações para Shaoran, era o lugar que ele sempre evitou a todo custo, desde a morte de seu pai, e agora ali estava ele. - "Volto a pisar aqui por causa de uma garota!" - ri internamente - "Espero não ser castigado por isso...".

Pára ao lado da porta e pode ouvir um sussurro baixinho, apura melhor os ouvidos e consegue perceber um tipo de prece. Em determinado momento percebe que a prece se torna um murmúrio entre lamentações e pranto. Decide olhar para dentro do templo, onde vê a imagem de Sakura de joelhos com as mãos travadas sobre o peito. De fato aquela imagem partira o coração do jovem, que, mesmo sabendo que poderia por tudo a perder com aquela atitude, se aproximou ajoelhando-se ao lado dela e a envolveu em um abraço. Sakura sabia que Shaoran a estava observando, mas não imaginou aquela atitude vinda dele. Na hora não pensou em nada apenas se deixou acalentar no abraço confortável.

Shaoran não soube dizer o que sentiu ao ter Sakura chorando em seus braços naquela hora, mas foi como se houvesse mais alguém ali com eles. Não era uma presença nociva, era reconfortante. Sakura deve tê-la percebido também, pois em pouco tempo parou de chorar.

Se permitiu continuar nos braços dele por mais alguns minutos. Quando se levantou tinha um sorriso sereno nos lábios.

- Eu não queria que você me visse chorando... - disse desviando rapidamente o olhar.

- Me desculpe por ter te seguido até aqui, mas não é sempre que alguém anda por aí se escondendo e... - ela o interrompe.

- Eu só não quero que sinta pena de mim!

- Mas eu não sinto pena de você... Se eu vim até aqui é porque não gosto de te ver chorar e apenas isso...

- Eu sei... Eu percebi... - sorri -... É diferente quando te abraçam por pena... Consegue-se sentir o que as pessoas estão sentindo apenas pela maneira com que elas te tocam... - fica levemente vermelha e levanta - é melhor irmos... Temos um treinamento a fazer à tarde e eu preciso descansar um pouco...

- Se você quiser... - ela ergue a mão e balança a cabeça.

- Nada disso... Agora que eu descobri que luto melhor que o Eriol quero ver se chego ao seu nível... - ele sorri.

- Vai ter que se empenhar muito para conseguir isso...

- Nossa que modéstia de vossa parte... - os dois riem e saem com Shaoran segurando a mão de Sakura até chegarem na mansão.

Sakura estava se sentindo bem, Shaoran a tratava melhor do que qualquer garoto. Não que Eriol não a tratasse bem, mas Shaoran a via de uma forma totalmente diferente, ele era muito carinhoso com ela, mesmo se conhecendo há tão pouco tempo, ele a compreendia talvez até melhor do que Eriol.

Ele a deixou no quarto, parecia realmente cansada, mas feliz. Ela mantinha um sorriso nos lábios, um sorriso doce e calmo. Antes de ele se virar para ir embora, ouviu a doce voz dela o chamar.

- Escute... Eu queria agradecer por tudo o que fez por mim nesses últimos dias.

- Não precisa agradecer...

- Claro que preciso... Também te devo desculpas, pelo modo rude que eu o tratei em Tomoeda.

- Não pense nisso, só estava se protegendo. Não posso culpá-la. – ele sorriu.

- Obrigada... Eu tenho sorte por ter pessoas que me compreendem... Tenho sorte por me entenderem com tanta facilidade, algo que eu mesma não consigo fazer geralmente. – ele riu do último comentário.

- Realmente, às vezes eu tenho que concordar com Eriol... Você é a única que se deprecia, confiamos em você, mais do que você pode imaginar.

- Obrigada, agora eu vou descansar um pouco... Nos falamos na hora do almoço... –Sakura fechou a porta do quarto e suspirou. Tinha que se controlar mais, não podia sair daquele jeito de novo. – Sakura, não seja louca... Você tem que ter mais autocontrole, já passou por situações piores, não se lembra?

Sakura foi até a cama e adormeceu por umas duas horas. Assim que acordou não tinha muita noção de quanto tempo dormira, então somente se trocou e foi para a sala.

- Já acabamos de comer, Sakura. – disse Shaoran, que a esperava recostado em uma parede.

- Por que não me chamou?

- Você me pediu para fazer isso? – ele riu da careta que ela fez. – Estou brincando... Achei que fosse bom que dormisse mais. Pedi para as cozinheiras deixarem algo separado para você. Sente-se e eu peço que tragam.

- Obrigada. – ela sorriu e se sentou.

Logo trouxeram as coisas e Sakura comeu bem. Combinaram de começarem o treino duas horas mais tarde, Shaoran também tinha umas coisas a resolver.

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Primeiro, quero agradecer a todos que me incentivaram a não desistir da história... Realmente, estou desanimando para escrever, mas prometo que enquanto tiver gente lendo eu continuo... Vou tentar ser mais responsável com os fics, eu prometo. E tentar adiantar as coisas aproveitando as férias...

Bjs, Miaka.