Heart of Sword

Sakura estava sentada no banco do jardim, a brisa suave da noite já secara o rastro de suas lágrimas. Passara horas lá, nem se importara com a hora do jantar. Não sentia fome, tampouco frio. Apesar de antes sentir seu corpo dolorido, agora sua tristeza inebriava seus sentidos.

Foi até ela, chamando por seu nome, sem obter reação alguma. Parou em sua frente, mas ela mantinha o olhar perdido, sem notar sua presença. Sem saber o que fazer, mas sentindo um aperto no peito ao vê-la em tal situação, fez o que achou coerente: sentou-se e abraçou-a carinhosamente.

A sensibilidade voltava lentamente, e logo ela começou a sentir um calor reconfortante e dois braços envolvendo-a. Olhou para o lado e viu Lien sorrindo-lhe docemente. Sentiu os olhos arderem, enchendo-se de lágrimas, e abraçou-o firmemente, apoiando o rosto no peito dele, voltando a chorar.

– Calma... Meu anjo, está tudo bem... – acariciava as madeixas caramelo suavemente.

– Não... Não está, Lien... – disse, entre soluços. – Foi minha culpa... Se eu não fosse tão idiota...

– Não diga isso... Você não é idiota, e sim uma pessoa maravilhosa que faz de tudo para ajudar os outros...

– Se isso fosse realmente verdade, eu estaria morta e não meu pai!

– Pare com isso, Sakura. Conheço a história e não havia nada que você pudesse fazer para evitar.

– Se eu prestasse mais atenção nas coisas à minha volta, ele não teria sido assassinado!

– Pare com isso! – Lien sacudiu-a pelos ombros. – Se você podia ou não ter evitado, nunca iremos descobrir. Acha que seu pai, que deve estar vendo-a agora, está alegre por saber que, depois de meses que ele se foi, vocÊ ainda se mantém parada, pensando no que poderia ter sido? Posso não tê-lo conhecido, mas nenhum pai estaria feliz vendo a filha chorando pelo passado enquanto o presente possui tantas coisas que a fariam sair, se conseguisse sair das trevas do passado.

– Lien... – Sakura estava espantada.

– Não, escute o que tenho a dizer antes. – pediu. – Essas trevas estão consumindo-a, Sakura. Sabe que eu a amo, não suporto vê-la deixando-se levar por acontecimentos passados que não podem ser alterados. Não quero vê-la assim, da mesma forma que sei que ninguém quer isso.

– Terminou? – perguntou ela, assim que ele inspirou ao acabar de falar.

– Sim, terminei. – respondeu, observando-a atentamente.

– Obrigada. – fitou-o com os olhos marejados, mas mantendo um sorriso nos lábios. – Eu precisava de alguém que me fizesse ver o que eu estava fazendo... Mas eu não posso deixar isso para trás, não enquanto ainda houver a possibilidade de mais alguma morte pelo mesmo motivo. – secou o rosto das lágrimas e levantou-se, com o pingente nas mãos.

– O que quer dizer?

– Afaste-se por um instante, sim? – pediu, jogando o pingente para o alto e acertando-o com uma flecha de magia, que o destruiu.

Houve um clarão e os que possuíam magia puderam sentir uma explosão de energia. Os pedaços do ornamento formaram o que pareceu uma chuva de estrelas.

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– Como é?! Você o destruiu? – exaltou-se Shaoran.

Grande parte do conselho se encontrava na sala. Shaoran estava pasmo, Eriol mantinha o semblante impassível e Yelan tentava acalmar o filho.

– Deixe-o desabafar, Yelan... Sabia que julgariam minha atitude, estou pronta para arcar com as conseqüências. – disse a jovem, serena. – Só estou aflita com o seu silêncio, Eriol. – lançou a deixa ao amigo.

– Não expressarei minha opinião ainda... Prefiro ouvir o que tem a dizer. – disse ele, sem alterar em nada sua expressão.

– Está bem... Como quiser. – suspirou. – Não há muito que explicar... Eriol disse-lhes mais cedo: houve muitas mortes em função desse objeto. Atualmente, sou eu a guardiã de tal poder, que foi criado para proteger as pessoas desse mundo. – sorriu ironicamente. – Mas acabou prejudicando-as e causando mortes. Seria irresponsabilidade não acabar com isso, afinal, além de guardiã, a detentora de tal poder, sou eu, portanto tenho liberdade para fazer o que for necessário com relação ao pingente.

– De nada adianta um poder que somente prejudica, até mesmo o próprio detentor do mesmo. – murmurou Eriol, mas todos puderam ouvi-lo. – Agora entendo porque ficou cega, e não foi morta.

– Mas nem todos deram a mesma sorte... – ela suspirou, concordando com o amigo. – Podem julgar-me, mas lembrem-se que a próxima morte poderia ser a de qualquer um de vocês... – retirou-se, indo para seu quarto.

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Lien estava em seu quarto, aflito. Logo que Sakura destruíra o pingente, um ancião chegara e levara-a para dentro da mansão, e ele estava com cara de poucos amigos. Sakura ficara de ligar-lhe, e ele estava esperando, preocupado.

O telefone tocou, fazendo-o esticar a mão rapidamente para o aparelho e sua voz sair trêmula.

– Alô?

– Lien, é Sakura. – disse ela, parecia estar bem.

– Sakura, graças aos céus... – respirou aliviado.

– Lien, não me levaram para a forca, pelo amor de Deus... – ela riu. – Está tudo bem, não se preocupe.

– Depois do que aconteceu hoje de tarde, como quer que eu fique? – suspirou. – Doeu tanto vê-la daquela forma mais cedo, Sakura... Não faça mais isso.

– Descobrir-se parcialmente culpada da morte do próprio pai é um choque para qualquer pessoa, Lien.

– Você não é culpada! – revoltou-se. – Não havia nada que você pudesse ter feito!

– Eu sei que não! Mas ainda sim, ele morreu pelo que era para eu proteger... Em parte, é minha culpa.

– Está bem... Não vamos discutir por isso.

– Também acho melhor... Já está tarde, melhor irmos dormir. – comentou ela, ouvindo um pesado suspiro da parte dele.

– Tem razão... Vou chegar ceda amanhã, espero você na sua sala, está bem?

– Tudo bem. – ela sorriu. – Até amanhã.

– Um beijo.

– Outro. – ela desligou.

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As duas primas entraram na sala rindo e conversando. Sakura olhou para a carteira onde sempre sentava e viu-o sentado lá. Sorriu e foi até ele, recebendo um beijo.

– Bom dia. – disse, colocando a mochila sobre a carteira enquanto ele se levantava.

– Bom dia, meu anjo. – ele sorriu, logo desviando o olhar para a morena. – Bom dia, Tomoyo.

– Bom dia Lien, como vai? – perguntou educadamente.

– Estou bem, e você?

– Muito bem. – sorriu. – Por que não vão dar uma volta no pátio? Ainda há tempo até a sineta tocar.

– Ela tem razão... O que acha? – perguntou Sakura.

– Você primeiro. – os dois saíram da sala, seguidos pelo olhar de algumas pessoas da sala.

Tomoyo sentou e suspirou. Sakura estava cometendo um erro e sabia disso. Viu Shaoran chegar mal-humorado e ficar de cara fechada. Sorriu, os dois não viam o que estava na frente deles. Tinha quase certeza de que Lien sabia que o amor de Sakura era correspondido, só precisava de uma oportunidade para perguntar a ele.

Assim que a sineta para o início das aulas soou, Sakura voltou para a sala e, ignorando o mau-humor de Shaoran, sentou-se sorridente.

– Olha só, a Kinomoto fica com um cara mais velho e agora fica toda alegrinha... – disse uma garota que estava sentada duas carteiras atrás de Shaoran.

– Ora, ora, Chong... – começou Sakura, irônica, encarando os olhos azuis dela. – Pelo menos estou alegre, ao contrário de você que fica com essa cara de limão azedo. – lançou um olhar desafiador à garota.

– O que foi que você disse? – perguntou a chinesa, levantando-se.

– Ming I, cale a boca, pelo amor dos Deuses! – Shaoran levantou-se, olhando enfurecido para ela.

Sakura e Ming I deram um passo para trás, assustadas com a ação brusca do rapaz. Ambas sentaram-se quietas e o professor entrou na sala logo em seguida.

Enquanto o professor passava a matéria do dia, ela refletia sobre o que acabara de acontecer. O que dera em Shaoran para que ele agisse daquela forma? Lembrou-se de que quase batera em Mai Su, mas ele a estava pressionando e as duas sequer falavam nele no momento em que ele gritara com Chong.

Suspirou pesadamente. Não conseguiria entender simplesmente refletindo, precisaria saber se algo acontecera enquanto ela estava com Lien. Lien... Era incrível a forma com que ele a tratava, sempre atencioso e carinhoso. Quisera e esperara tanto por alguém que a entendesse e não pedisse dela mais do que ela podia dar. Sentia-se bem com ele, apesar de saber que não o amava, sua consciência estava tranqüila por saber que ele estava ciente de seus sentimentos e que não se importava, apesar de tudo.

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Moviam-se rapidamente, em investidas precisas e moderadas. Completamente encharcados pelo suor e ofegantes pelo treinamento intensivo, mantinham os movimentos em um nível particularmente alto Sakura e Lyu eram observados atentamente por Shaoran, Eriol e alguns anciãos.

Sakura mantinha-se mais se defendendo e esquivando dos ataques do que atacando em si. Lyu estava muito mais rápido, ou seria ela que estava dispersa demais? Não saberia dizer.

Tudo acontecia rápido demais e as coisas pareciam totalmente fora de seu controle como jamais pareceram. Estava completamente confusa com tudo o que acontecia, ainda mais sentindo o olhar de Shaoran sobre si.

Desviou o olhar rapidamente para a direção dos espectadores e sentiu Lyu chutar suas costelas, levando-a ao chão.

– Ah, não acredito que não deu tempo! – Tomoyo chegaram com sua câmera na mão, fazendo Eriol e Shaoran rirem, enquanto os anciãos e Yelan mantinham-se sérios olhando para Sakura, que era levantada por Lyu.

– Você tem de parar com isso. – disse ele simplesmente, afastando-se dela, prestando reverência aos senhores e saindo.

– Srta Kinomoto, acompanhe-nos. – disse um deles em tom autoritário e ela seguiu-os calada. Passou pelos amigos de cabeça baixa, Shaoran notou que seu rosto estava machucado e um pequeno filete de sangue escorria por sua têmpora, mas não fez nada.

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Esperava no hall e viu-a entrar e ir em direção ao corredor dos quartos, mas parou-a, segurando seu braço e fazendo-a erguer o rosto para encará-lo.

Estava com um hematoma na face esquerda e um filete de sangue seco partindo de sua têmpora direita. Ele arregalou os olhos ao ver isso.

– Não diga nada. – soltou a própria mão e afastou-se da dele, que ia a seu rosto.

– Não seja orgulhosa, deixe-me cuidar disso. – pediu ele.

– Posso cuidar eu mesma, obrigada. – disse, mais calma. – Tenho que me arrumar, logo Lien estará aqui. – afastou-se, sem olhar para trás.

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Estavam no hall, indo para o jardim em busca de um pouco de paz quando ele entrou no recinto. A morena logo o chamou.

– Lien! Foi bom ter chegado um pouco antes, eu queria falar com você... – comentou Tomoyo, com a cintura ainda envolta pelo namorado.

– Olá, Tomoyo... Eriol. – sorriu para os dois. – O que foi, Tomoyo?

– Bem...

– Não é nada, Lien. – Eriol a interrompeu. – Sakura já está quase pronta, vá. – Lien obedeceu rapidamente, sentindo que não deveria perguntar.

– Eriol!

– Não se preocupe, Tomoyo... Lien não está cometendo um erro por tentar dar à Sakura a autoconfiança que ela precisa para encarar seus próprios demônios. Ele sabe que está, de certa forma, afastando-os, mas isso os fará aceitar seus sentimentos e fazer com que criem coragem para dizerem tudo. – sorriu sedutoramente. – Acho que sabemos muito bem como é que isso funciona.

– Sim... Sabemos... – fechou os olhos, sentindo a respiração dele próxima e logo seus lábios capturados em uma carícia tão doce quanto possessiva.

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Acabara de se vestir e estava olhando-se no espelho. O hematoma estava à mostra, assim como o corte, que fora maior do que ela imaginara. Olhava-se com pena. Por que tinha que ser tão covarde? Se ao menos conseguisse parar de pensar nele por algum tempo, somente para clarear as idéias e saber exatamente como agir dali em diante, as coisas seriam tão mais fáceis.

Batidas na porta do quarto tiraram-na de seus devaneios e, assim que a abriu, viu a face preocupada de Lien e o olhar dele demorar-se nas marcas.

– Sakura... O que houve? – perguntou ele, tocando levemente o hematoma.

– Não dói. – sorriu, agradecida pela preocupação. – Descuidei-me durante o treinamento com Lyu... Nada demais.

– Ele... – começou sussurrando, mas ela o interrompeu, respondendo à pergunta incompleta.

– Estava assistindo, bem como Yelan e alguns anciãos, que me deram uma baita bronca. – suspirou. – Mas vamos deixar isso de lado e simplesmente aproveitar o tempo que temos, está bem?

– Tudo bem. – aproximou seu rosto do dela, beijando-a suave e longamente.

– Vou somente pegar meu casaco para sairmos. – ela afastou-se dele para pegar o casaco que estava sobre a cama e os dois saíram.

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Estava em seu quarto, revendo alguns feitiços que teria que praticar com Eriol no dia seguinte. Desde que tomara aquela surra de Sakura vinha sendo pressionado para melhorar seu desempenho em magia.

Sentiu seu estômago roncar e resolveu dar um tempo para comer alguma coisa. Assim que saiu do quarto, viu Lien na porta do quarto de Sakura. Eles estavam se beijando e logo saíram de lá, sem sequer olharem para ele.

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Andavam abraçados, conversando sobre qualquer coisa ou sobre simplesmente nada, ficando calados. Até que ela quebrou esse silêncio bruscamente.

– Você ainda não me disse aonde vai me levar. – comentou inocentemente.

– Eu pensei em irmão a um restaurante que fui uma vez com meus pais, mas...

– Mas o quê? – estranhou a falta de atitude dele.

– Você teve um dia complicado... Então talvez se fôssemos para a minha casa e...

– Lien! – reclamou. – Eu já expliquei... Não acho que estou pronta para conhecer seus pais.

– Eles não estão em casa. – disse, calmamente. – Só voltam lá pela meia-noite. Só Mai Su está lá e pensei que eu pudesse preparar algo para nós comermos e depois podemos ver um filme ou algo assim.

– Oh... Desculpe. – sorriu constrangida.

– Tudo bem. – ele sorriu. – O que você acha da idéia?

– Será que posso mesmo confiar? Não vou ter nenhum tipo de intoxicação alimentar? – brincou, rindo.

– Não... – riu também. – Eu prometo.

– Então está bem.

Entraram no casarão, aonde só se via uma fraca fonte de luz, vinda do andar de cima do local.

– Mai Su! Cadê você? – perguntou Lien em voz alta, enquanto Sakura andava pelo corredor logo atrás dele.

– Estou aqui! – ouviu-se a voz dele se aproximando. – Voltou cedo, o que houve? A Sakura te deu bolo?

– Não, Mai Su... – disse Sakura, rindo. – Estou aqui também.

– Ah tá... – ele riu também, agora descendo as escadas. – Ué, vocês já jantaram?

– Não... Vou fazer o jantar para nós três. – explicou Lien. – Fiquei com medo de deixar você na cozinha. – riu, junto com Sakura.

– Muito engraçado. – ele chegou ao lado dos dois. – Sakura? O que houve? – deteve o olhar nas marcas.

– Um pequeno incidente no treinamento de hoje, nada de mais. – sorriu. – Obrigada por se preocupar.

– De nada. – virou-se para o irmão. – Então, o que teremos para o jantar?

– Não sei... Deixemos que a convidada escolha. – virou-se para Sakura. – O que você quer jantar?

– O que você fizer está bom para mim... Deixe Mai Su escolher... – disse, ruborizada.

– Já que você insiste tanto para que eu escolha... – ele sorriu.

– Não precisa nem falar... Está bem, macarronada será. – disse, encaminhando-se para a cozinha.

– Ele gosta tanto assim de macarronada? – perguntou Sakura, rindo, enquanto Mai Su subia as escadas pulando de alegria.

– Mais do que você pode imaginar... – ele riu. – Mas é rápido e fácil, então ninguém reclama.

– É verdade. Quer que eu ajude em algo?

– Não senhorita, eu disse que vou fazer o jantar para nós. – passou a mão pela cabeça dela, como se fosse uma criança. – Pode me fazer companhia enquanto preparo tudo.

– Como quiser, senhor. – sorriu. – Posso sentar aqui? – perguntou, apontando uma cadeira.

– Pode sentar onde quiser. – ele começou a pegar os ingredientes.

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– Lien, estava uma delícia! – exclamou Mai Su pela milésima vez, enquanto retirava os pratos da mesa com a ajuda do irmão.

– Claro, Mai Su, obrigado. – disse Lien, já entediado. – Você lava a louça?

– Lavo sim. – sorriu.

– Então vamos, Sakura. – segurou a mão dela e os dois saíram do recinto.

Lien levou-a até a sala. Era um ambiente espaçoso, com um sofá em frente a um móvel, onde se encontravam o televisor, vídeo, DVD, alguns livros e enfeites. Em outro canto, um outro móvel que comportava um micro system, com outro sofá de três lugares ao lado. Havia também um terceiro móvel no lado oposto ao do televisor onde se encontravam várias fotografias e uma mesa de jogos, com um armário ao lado, finalizando a decoração.

Foram até o aparelho de som e ligaram-no, começando a tocar uma suave melodia.

– Não sabia que gosta de música clássica, Lien. – comentou Sakura, sorrindo.

– Aqui em casa, ou se gosta de tudo, ou não se vive em paz... – suspirou. – Mas eu gosto muito de ouvir quando quero relaxar.

– Acho que as músicas são uma mera reflexão de nossos sentimentos... Afinal, são criações humanas, baseadas em conhecimentos ou experiências. Não somos capazes de isolar nossos sentimentos, por mais que queiramos fazê-lo.

– Isso é verdade. – sorriu, fitando as esmeraldas que eram os olhos de sua amada. – Não quer sentar um pouco?

– Pode ser. – os dois sentaram no sofá e ficaram conversando, aproveitando a companhia um do outro.

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– Bati de novo! – Sakura riu da cara de Mai Su quando abaixou suas cartas.

– Ah, Sakura, não vale, você está roubando! – protestou o rapaz, sob os risos do casal.

– Mai Su, você é péssimo nesse jogo, não sei porque ainda insiste... – disse Lien.

– Quero revanche, deixem-me embaralhar as cartas... – ele pegou o baralho.

Eles estavam lá jogando, perderam a noção do tempo enquanto um CD de rock de Mai Su tocava.

– Lien, Mai Su! O que está acontecendo aqui? – ouviu-se uma voz grave vinda da porta.

Os três viraram-se sobressaltados na direção da voz. Um homem de meia-idade estava parado lá observando o grupo. Ele tinha cabelos negros com alguns fios brancos e olhos cor-de-mel.

– Pai? O senhor não ia chegar só à meia-noite? – perguntou Lien, preocupado.

– Olhe a hora, meu filho... São meia-noite e quinze. – disse o senhor, calmamente.

– Como é?! – os três viraram para o relógio de parede da sala e constataram que ele dizia a verdade.

– Essa não... Eu tinha que voltar até dez e meia... – murmurou Sakura, assustada.

– Quem está aí com os garotos, querido? – uma senhora de cabelos castanhos e olhos negros entrou na sala. – Oh! Você deve ser a Sakura...

– Mãe, por favor... – Lien começou, mas Sakura tocou seu braço, fazendo-o parar de falar e fitá-la.

– Está tudo bem... Afinal de contas, eu fui irresponsável e perdi a hora. – sorriu. – Senhor e senhora Lang... Desculpem-me por ter adiado nosso encontro, realmente queria que fosse em um momento um pouco mais oportuno. – suspirou. – Eu adoraria ficar, mas já está tarde, eu tenho que ir... – é interrompida pela senhora Lang.

– Querida, está tarde... Por que não pernoita conosco? – perguntou gentilmente.

– Eu não posso aceitar, não quero incomodá-los... – ela pára de falar ao ouvir o telefone.

– Alô? – ele atende, logo estendendo o telefone para Sakura. – É Hiiragizawa.

– Eriol... – é interrompida pelo rapaz, ficando a ouvir o que ele dizia. – Está bem, parece-me que não há outra opção, não é? – suspirou. – OK, eu aviso... Até amanhã. – desligou.

– O que foi, Sakura? – perguntou Lien, preocupado.

– Eriol disse que eu não deveria voltar para casa tão tarde... – sorriu, balançando negativamente a cabeça. – Agradeço seu convite, senhora.

– Mas você não trouxe nada, Sakura. – comentou Mai Su.

– Eriol deixará uma mala no quarto de Lien dentro de cinco minutos. – explicou.

– Então vamos arrumar a bicama no meu quarto para você dormir, Mai Su... – disse Lien.

– Não... Não posso tirar Mai Su do próprio quarto... – contestou Sakura. – Não quero ser um incômodo.

– O que sugere, então? – perguntou Mai Su. – Você dorme no quarto do Lien?

– Bem, ele não vai me atacar no meio da noite... – comentou, ouvindo-o rir.

– Nem se eu quisesse, não sou tão louco a ponto de fazer isso. – disse Lien.

– Por mim não tem problema nenhum... Eu nunca gostei de dormir com o Lien...

– Mai Su Lang! – a senhora repreendeu-o. – Tem certeza disso, querida? Quero dizer, seus pais não se importam?

– Não tenho pais... Minha mãe morreu quando eu ainda era pequena e meu pai em julho.

– Oh, perdão... – foi interrompida suavemente por Sakura.

– Não há problema... Digamos que já superei. – sorriu.

– Bem, acho que podemos conversar pela manhã, já está tarde. – disse o senhor.

Os três foram para o andar de cima e uma mala com as coisas de Sakura já se encontrava sobre a cama do quarto do Lien.

Logo Mai Su foi para seu quarto e Lien e Sakura trocaram-se e deitaram, Lien na bicama e Sakura na cama dele.

– Tem certeza que não prefere que eu durma aí embaixo? – perguntou ela, encabulada. – Não me sinto bem fazendo isso.

– Não senhorita. – ele sorriu. – Agora durma, está bem?

Sakura logo pegou no sono, apesar de não estar familiarizada com a casa de Lien, algo ali a fazia ficar tranqüila. Lien, no entanto, não conseguia dormir.

Sentou-se e olhou para Sakura. Apesar das marcas, o rosto dela era lindo. Estava com uma expressão serena, com os lábios curvados em um leve sorriso.

– Sakura... Amo você. – murmurou, beijando levemente a face dela, vendo-a aconchegar-se melhor em seguida. Sorriu e deitou-se, logo adormecendo.

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N/A:

– Sakura... Amo você. – murmurou, beijando levemente a face dela, vendo-a aconchegar-se melhor em seguida. - "Pena que todo mundo sabe que você termina com o Li..." - pensou abrindo um sorriso malvado. Parece que um novo desafio surgiria na vida de Sakura....

Yoruki: Não perca no próximo episódio de Sak... opa!... de Heart of Sword... Lien se mostra uma cobra traiçoeira que... *levando uma tamancada na cabeça*

Miaka: Ora, pois... Eu dou o ar de minha graça nas notas do fic dela e agora ela quer aparecer aqui... que posso fazer? Mas eu gosto do Lien, vocês não?

Yoruki: Não!!... Ele acabou com o casal mais maravilindo e sensacionário de CCS... *chorando desconsolada*

Miaka: Ai, ai... ¬¬'' Eu mereço... Será que ninguém mais tem o direito de ser feliz por aqui? Eu quero que eles fiquem juntos, eae, quem vai encarar? *fazendo pose de foderosa*

Yoruki: *nervosa* Se você não vai fazer eles ficarem juntos, pelo menos podia... *ficando vermelha*.. podia... aiai... *trocando a expressão furiosa por uma sonhadora*

Miaka: Calma, calma que a gente tá chegando lá... Posso só fazer os agradecimentos? Aí farei o que me pediu, OK? *gota*

Yoruki: *no mundo da lua*... Claro, claro... como você quiser...

Miaka: Então, retomando o controle das notas do MEU fanfic... *olhando torto para Yoruki* Eu só tenho a agradecer à vocês que estão sempre me apoiando e aturando as minhas loucuras...

Felipe S. Kai, amigo, estou com saudades de você também!! Vê se volta logo e depois nós explodiremos a Telefônica juntos!! Trarei Murphy de volta do Além só para matarmos o miserável!!

Yoruki, obviamente, que é tão ou mais louca do que eu, mas que, apesar de tudo, é o motivo da minha alegria e me ajudou com o final desse capítulo...

Bella-chan, desculpe, mas o casal S+L ainda vai durar um pouquinho... Mas espero que tenha gostado do capítulo mesmo assim.

MeRRy-aNNe, fico feliz em saber que gostou e, acredite, por mais que eu demore, eu me esforço para atualizar o mais rápido possível, só que as coisas complicam, tudo me influencia e eu prefiro demorar e escrever algo de maior qualidade do que publicar qualquer porcaria...

Tasuki, docinho, o que achou do capítulo? Desculpe a demora, mas você sabe como eu ando, não é?

Érika-chan (seu nick é muito grande...), muito obrigada pelo review, adorei mesmo q espero q tenha gostado do capítulo e que tenha atendido às suas expectativas... Espero seu review ^.~

Hime Hayashi, hahaha, pobres personagens nas mãos da malvada Miaka, é? Você não viu anda ainda!!! Hehehe, fico feliz em saber que alguém me entende, mas diz que o Lien não é muito fofo?

Harumi, amiga, estou com saudades!!! Quando ler esse capítulo espero que curta bastante! Muito obrigada pelo presente que me enviou, e vê se me arranja seu endereço ou telefone, eu não tenho como falar com você, menina!!

Diogo_Li, tem certeza de que não quer se ver livre de mim? O que você é, masoquista? Hehehe, valeu pelas palavras e espero que tenha gostado do capítulo...

*Rô*, querida, tá emburrada ainda? (acho que sim...) Desculpa, sei que não contei nada, mas quando você não sabe seus reviews ficam muito mais engraçados... Espero que tenha gostado do capítulo... Ficou melhor com essa marcação para separar as cenas?

RubyMoon, muito obrigada pelos elogios, fico muito feliz em saber que minha estória envolveu tanto assim, definitivamente é muito gratificante receber um review como o seu...

MiDoRi, você deve ter detestado o capítulo, não é? Se não suporta ver a Sakura com o Lien, imagino a tortura que deve ter sido... Bem, de qualquer forma, espero seus comentários...

Rach Snape, oro! Roteirista da CLAMP? Exagero seu... Eu não mereço tudo isso... #^_^# Ah, a Sakura dar um chute no Lien, acho que vai ter que esperar... Desculpe, mas, de qualquer forma, espero que esteja gostando... Estou tentando colocar umas gotinhas de T+E no meio para quebrar o clima... Espero que esteja conseguindo...

Ah sim... Uma perguntinha... Alguém se lembra da Ming I? Ela apareceu no capítulo 12, o do ritual que fez a Sakura voltar a enxergar... Bem, ela vai ficar um pouco mais ativa na fic agora...

Gente, agora vem uma ceninha alternativa com o Shaoran, que a Yoruki me pediu... Ela estava tão frustrada, mas tão frustrada... Ela é minha filhinha querida, eu não consigo vê-la desse jeito, então resolvi liberar esse espaço para ela...

Espero que gostem!!!

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Assim que saiu do quarto, viu Lien na porta do quarto de Sakura. Eles
estavam se beijando e logo saíram de lá, sem sequer olharem para ele.

Desviou o olhar do corredor por onde o casal desapareceu, abaixando levemente a cabeça. Não havia percebido que alguém observava àquela cena encostada na parede do corredor ao lado da porta de seu quarto. Ela tinha os cabelos longos, num tom azul-profundo acinzentado. Seus olhos eram de um azul meia-noite como os do seu amigo inglês. Usava um longo vestido chinês, verde água com o desenho de uma meia-lua prateada no lado esquerdo. Estava boquiaberta com a cena que presenciou, tanto que não notou que o rapaz a observava.

"Como pode ser tão tapada ao ponto de trocar um deus Grego por um réles mortal?..." - murmurou pensativa desviando seu olhar para o chinês que a encarava desconfiado com um ponto de interrogação (enooooorme) sobre a cabeça. Ficou levemente vermelha por ter os orbes ambarinos pousados sobre si. - 'Ainda se a situação fosse inversa e o Li fosse o mortal...' - pensou abrindo um lindo sorriso.

"Eu acho que não nos conhecemos..." - Shaoran disse encarando-a desconfiado.

"Ai,... Desculpe a minha distração!" - disse sem-graça, levando a mão até a cabeça. - "Eu sou Yoruki Hiiragizawa, filha de Er..." - foi interrompida pelo rapaz que balançou positivamente a cabeça, passando por ela e seguindo pelo corredor.

"Filha de Eriol e Miaka Hiiragizawa, eu sei..." - rolou os olhos. - "O que você está fazendo aqui, afinal?" - perguntou, mal-humorado.

"Eu queria ver com meus próprios olhos o que meu coraçãozinho não conseguia acreditar..." - disse de forma meiga, fazendo-o voltar a encará-la.

"E o que seria isso?..." - não resistiu em perguntar, vendo-a dar um passo em sua direção. Ela abaixou a cabeça estando triste.

"Eu sinto muito pelo que minha mãe está fazendo com você..." - disse num murmúrio, mas sendo compreendida. (Miaka: legal... agora a culpa é minha...)

"Hei, não esquenta!" - falou rapidamente vendo que ela estava prestes a chorar. - "Sua mãe está certa em fazer isso!... Onde estaria o drama? As provações?... Onde estaria a profundidade dos nossos sentimentos? Se tudo fosse fácil demais não teria graça. A Miaka é uma grande escritora, tenho certeza de que ela sabe o que está fazendo..." - colocou uma mão sobre o ombro da jovem, para animá-la. (Miaka: Olha que eu não sou fã do Li, mas... DALE SHAORAN!!! =P)

"Aposto que, se não tivesse o script do fic, você não estaria tão certo a respeito disso..." - disse fazendo o jovem guerreiro sentir-se embaraçado.

"Nisso você tem razão!" - levou uma mão até a nuca, sem-graça pelo comentário. Yoruki começou a encará-lo com um pequeno sorriso no rosto, deixando-o levemente desconfortável. – "O que foi?" – perguntou finalmente, vendo-a se aproximar lentamente.

"Você é muito mais bonito do que eu imaginei..." - disse sussurrando e fazendo-o arregalar os olhos.

"O-obrigado..." – agradeceu, receoso do que viria a seguir.

"Nossa, eu já ia me esquecendo!" - Yoruki disse parando frente a frente com Li e assustando-o. - "Eu trouxe um presentinho para você..." - sorriu, tirando algo de dentro de uma bolsa que apareceu do nada de repente.

"Alguma cortesia da sua mãe por me fazer interpretar isso tudo?" – perguntou, curioso.

"Não. Esse presente é 'meu' para 'voc'..." - sorriu, dando ênfase ao meu e ao você. Entregou uma caixa de tamanho considerável, fazendo o rapaz olhar curiosamente para a pequena bolsa de onde a caixa saíra.

'Me pergunto o que mais ela guarda ali...' - pensou pegando o pacote e sorrindo em forma de agradecimento. - "Posso abrir?" - perguntou, vendo-a suspirar.

"Até hoje não entendi o porquê vocês sempre perguntam isso quando recebem um presente..." - comentou rolando os olhos. - "É claro que pode abrir!" - disse vendo-o abrir um sorriso forçado.

Enquanto abria a caixa sentiu um inconfundível aroma, que conhecia muito bem o que o fez parar de se preocupar em não rasgar o pacote e abrir o pacote de uma vez. Arregalou os olhos abrindo um sorriso radiante.

Yoruki só se deu conta do que estava acontecendo quando sentiu Li abraçá-la fortemente, ainda segurando a caixa, e rodá-la no ar.

"Muito obrigado!..." - parou de rodá-la. - "Como você sabia que eu..." - foi interrompido por ela que tinha um sorriso no rosto.

"Que você gosta de chocolate?" - perguntou, abrindo ainda mais o sorriso. - "Todo fã de CCS sabe que Shaoran Li é maluco por chocolate!" - comentou, ficando vermelha ao perceber, que apesar de ter parado de rodá-la, Li ainda a estava abraçando. Ficou paralisada, enquanto o chinês olhava admirado para a caixa.

"Mas aqui tem todo tipo de chocolate... Como você conseguiu fazer tudo isso entrar aqui?" - perguntou perdendo-se na imensidão do 'Mundo do Chocolate'. – "Obrigado... Obrigado mesmo. Se tiver algo que eu possa fazer..."

"Na verdade..." – começou, ainda ruborizada.

"O que é? Pode dizer." – encorajou-a.

"Bem... Eu..." – sentia-se fraquejar diante do olhar inquisidor e penetrante do rapaz.

"Vamos, fale logo..." – insistiu, sendo interrompido por lábios doces sendo colados aos seus.

A caixa caiu de suas mãos, milagrosamente sem deixar um chocolate cair, enquanto envolvia-a pela cintura provando a suave textura e o gosto doce daqueles lábios que imploravam por suas carícias. Quando ela passou os braços por seu pescoço, os dois ouvem uma voz estridente e Yoruki abruptamente interrompe o beijo.

"Yoruki, minha filha, venha aqui, por favor!" – é a mãe da garota.

Yoruki olha para o rapaz e leva a mão aos lábios, levemente inchados. Em seguida vira-se e percorre todo o corredor com passos rápidos, deixando o chinês sozinho novamente.

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E então, o que acharam de nossa insanidade? Eu, particularmente, achei que ficou fofa...

Bem, por enquanto é só...

Beijinhos a todos...

Miaka.