Heart of Sword
Sakura estava colocando o uniforme, passados oito dias do ataque, ela voltara à escola cinco dias antes. Era o penúltimo dia de aula, todos estavam ansiosos, não somente pelas férias, mas pelo baile de inverno que a escola realizaria.
– Faltam três dias... Não falam de outra coisa... – ela riu sozinha.
Enquanto terminava de pegar suas coisas, sua expressão passou a melancólica. Queria muito ir, mas não tinha com quem, e o clima não seria dos melhores.
Sorriu, lembrando-se do ocorrido dois dias antes, quando Lien contara-lhe que finalmente pedira Sharon em namoro. Ele o fizera na hora do almoço, enquanto a inglesa ia ao banheiro. Sakura abraçou-o, felicitando-o, mas a jovem estava chegando naquele momento e não gostou muito do que viu.
Afastou-se dos dois, por pura consciência, não queria atrapalhar a felicidade de Lien. Muito pelo contrário, desejava imensamente que encontrasse seu caminho e seguisse em frente. Riu novamente. Quantas vezes repetiu isso para ele e não seguiu seu próprio conselho?
Não era hora de ficar remoendo-se com tais pensamentos, tinha que se apressar ou chegaria atrasada à aula. Chegou à sala de jantar e já encontrou os amigos fazendo a refeição matinal.
– Bom dia! – cumprimentou-os animadamente.
– Bom dia, Sakura. – responderam eles.
– Por acaso esse é o efeito que o pensamento de que, em dois dias, não terá mais que acordar cedo para ir à escola? – perguntou Eriol, divertido.
– Se for isso, pode tirando essa idéia da cabeça, porque teremos que levantar cedo para o "treinamento de inverno"... – Shaoran suspirou, visivelmente desanimado. – Todo ano aqueles velhos inventam algo para estragar as férias...
– Na verdade... – ela sorriu, sentando-se entre Eriol e Shaoran. – Não pensei em nada disso que falaram... Simplesmente acordei de bom humor, sem motivo algum. – serviu-se e começou a comer.
Por longos minutos, somente se ouvia na sala barulhos baixos dos jovens que comiam tentando ser o mais silenciosos possível. Aquele silêncio foi quebrado por Shaoran.
– Diga-me uma coisa, Sakura... – perguntou ele, sua dificuldade de falar era perceptível. – Você vai ao baile?
– Ainda não sei... – a jovem fitou o teto, pensativa. – Talvez eu vá... Por que a pergunta?
– Nada não... Pediram-me para perguntar, só isso. – disse rapidamente, voltando a atenção para o prato em sua frente.
– Certo... – Sakura fez o mesmo. Por um instante delirante achou que iria convidá-la a ir com ele, mas era impossível que fizesse isso.
A sineta do almoço já tinha tocado há alguns minutos, a sala do primeiro ano estava quase vazia, com exceção de Sakura, que não se sentia animada o suficiente para aproximar-se ainda mais da agitação que os alunos se encontravam.
Ouviu a porta da sala se abrir e não se importou em levantar o rosto para ver quem era, mantinha seu olhar fixo na folha com o exercício de matemática que usara como pretexto para não sair da sala com Tomoyo e Shaoran. Viu alguém parar em frente à sua carteira e ergueu a cabeça, encontrando um belo rapaz se cabelos castanho-escuros lisos até os ombros e olhos de um verde opaco.
– Tong! – exclamou, sorrindo para o rapaz. Era colega de Lien, o conhecera na época que namorava o rapaz.
– Como está, Sakura? – perguntou ele, cordialmente, sentando-se na cadeira, virado para ela.
– Seguindo em frente... E você?
– Também... Está melhor? – não completou a frase, sabia que ela entenderia.
– Você veio perguntar-me isso nos últimos cinco dias... Já disse que estou bem. Hoje mesmo acho que vou retomar os treinos. – apoiou o cotovelo na mesa, ao mesmo tempo em que apoiava seu queixo sobre a mão, fitando-o. – Agora, vai dizer-me o real motivo de ter vindo?
– Bem... Diga-me uma coisa... Você vai ao baile da escola? – perguntou, hesitante.
– Não sei... Ainda não decidi... Por quê? – indagou ela, inocentemente.
– Estava pensando se não gostaria de ir comigo... Sei que é meio em cima da hora, mas eu realmente gostaria muito que aceitasse meu convite.
Sakura ficou em silêncio, fitando os olhos do rapaz a sua frente. Não podia negar que se divertiria muito saindo com ele, mas estaria cometendo o mesmo erro que cometera com Lien. Não enganaria o rapaz, e tampouco a si mesma. Ele estava visivelmente nervoso, então ela abriu um sorriso compreensivo, fazendo-o relaxar.
– Eu gostaria muito de ir... Mas vou ter de recusar, Tong. – ele arregalou os olhos. – Acho que não soube do motivo para terminar meu namoro com Lien, não é? – ele confirmou com a cabeça. – É difícil colocar em palavras... Mas o fato é que eu amo outro garoto... Estando com Lien, estava iludindo-o e tentando enganar a mim mesma...
– Eu entendo... E... Você já contou para esse garoto como se sente? – perguntou ele, curioso.
– Não... Não tive coragem...
Shaoran estava indo para a sala de aula, falar com Sakura, quando, já na porta, ouviu algo que, com certeza, não deveria.
– Agora, vai dizer-me o real motivo de ter vindo? – era a voz de Sakura.
– Bem... Diga-me uma coisa... Você vai ao baile da escola? – reconheceu a voz de um dos rapazes do terceiro colegial.
– Não sei... Ainda não decidi... Por quê?
– Estava pensando se não gostaria de ir comigo... Sei que é meio em cima da hora, mas eu realmente gostaria muito que aceitasse meu convite.
Não ouviu réplica de nenhuma das partes, e não quis esperar para ouvir. Não suportaria ouvir dela que iria sair ou vê-la junto a outro garoto.
Estavam saindo da escola, o barulho era quase ensurdecedor. Férias: teriam algum tempo livre, sem terem que se preocupar com tarefas de casa e provas. Eram um grupo grande, afinal, juntavam o primeiro e o terceiro colegiais.
– Bem, vamos para a lanchonete, comemorar! – sugeriu Mai Su. – O que acham?
Houve concordância geral, com apenas três exceções.
– Eu tenho que resolver umas coisas na mansão... – disse Sakura. – Mas posso ir para lá mais tarde.
– Eu também... Vou mais tarde e, quem sabe, Eriol não vem conosco? – disse Tomoyo, sorrindo para a prima.
– Eu preciso ir para casa... Acho que lá pelo final da tarde poderei sair... – disse Sharon, mantendo o olhar fixo em Lien.
– Bem, estaremos na lanchonete, qualquer coisa. – Mai Su falou, dando um ponto final àquilo e fazendo os grupos se separarem.
As duas japonesas faziam o caminho em silêncio. Não era incômodo, mas simplesmente era incomum passarem o pouco tempo que estavam sozinhas sem falar nada.
– Você notou algo de diferente neles, Tomoyo? – perguntou finalmente Sakura.
– Neles quem? Lien e Sharon? – indagou, encarando a prima curiosamente.
– É... Eu tive a impressão de que havia algo errado... Sei que eles estão namorando há pouco tempo, mas, sei lá, pareceu como se ela estivesse brava com ele.
– Eu também achei que algo pareceu errado... – comentou, pensativa. – Mas não me pareceu que era com ele que ela estivesse brava.
– Com quem mais seria? Comigo? – perguntou, zombando.
Tomoyo limitou-se a suspirar e mudar de assunto. O restante do caminho foi bastante agradável, já há algum tempo que as duas não conversavam a sós.
Os rapazes estavam sentados à mesa, todos conversando normalmente, aproveitando que não havia garotas no local para interferir na conversa ou repreendê-los por algo que diziam. Eram a maior e mais barulhenta mesa do estabelecimento, mas os donos da lanchonete já haviam se acostumado com o fato e o local não tinha muito movimento àquela hora.
Enquanto conversava, Shaoran deixava-se pensar em tudo o que acontecera em sua vida nos meses que haviam passado. Sorriu ao lembrar-se da japonesa que amava em segredo, fora, talvez, a única coisa realmente boa que ocorrera. Seu sorriso não passou desapercebido pelos amigos.
– Hei, Shaoran, que é que você tem? – perguntou Tong. – Parece que viu passarinho verde. – todos riram.
– Não se pode dizer que é mentira, não é? – perguntou Mai Su, sorrindo de lado. – Não precisa tentar esconder, todos aqui já perceberam que está caidinho pela Sakura.
– Com essa sua matraca, é claro que não tinha como não saberem, não é? – disse, ríspido.
– Ah, cara, corta essa de dar uma de ofendido. – continuou Tong. – Não foi Mai Su que nos contou, você que é muito pouco discreto, por assim dizer. – o rapaz suspirou. – Por que não tenta chamá-la para o baile?
– Para quê? – ele encarou o rapaz, com raiva. – Para ela dizer-me que já aceitou ir com você? – viu o rapaz arregalar os olhos. – Eu ouvi vocês dois conversando hoje. – Tong soltou uma gostosa gargalhada antes de responder.
– Ora, ora... Então é bisbilhoteiro? Deveria ter ficado até o final, ouviria-a recusar meu convite.
– Ela te deu um fora? – perguntou Mai Su, espantado, enquanto um sorriso formava-se no rosto de seu irmão. – Por quê?
– Seu irmão sabe muito bem o motivo, bem melhor do que eu, provavelmente. – ele fitava Lien intensamente. – Diga-me... De quem Sakura gosta tanto?
– Não me cabe dizer-lhes algo que ela confidenciou a mim... – disse ele, simplesmente. – Por que não perguntam a ela quando chegar?
– Por que ela nos responderia? – perguntou Mai Su, perplexo pelo irmão estar tão calmo diante de vários rapazes que estavam, obviamente, curiosos.
– Por que ela contou a você? – perguntou Shaoran, olhando-o friamente.
– Ela disse que não queria enganar-me de forma alguma... Contou-me isso antes mesmo de eu pedi-la em namoro. Foi esse o motivo de terminarmos, ela estava sentindo-se culpada por estar pensando sempre nele... – suspirou.
– Então dê-nos uma dica... Conhecemos o sortudo? – perguntou Tong.
– De quê importa? Lien não vai falar e, sinceramente, prefiro não saber. – disse Shaoran, sentando-se, resignado.
– Não acredito que esteja realmente desistindo...
– Desisti já há tempos, Lien... Desde aquele dia que falei com você.
– Então espero que seja infeliz pelo resto de sua vida... Se desistir fácil das coisas que quer, nunca vai chegar a lugar algum. – o rapaz replicou, com raiva.
– Ora, não venha me dar lição de moral! Pelo menos eu não estava namorando alguém que não me ama de verdade! – Shaoran levantou-se, e os rapazes começaram a se agitar.
– Pelo menos eu não sou cego a ponto de não perceber que a garota pela qual estou apaixonado corresponde aos meus sentimentos!
– O que quer dizer com isso?
– Que a Sakura ama você, seu idiota! – todos se calaram ao ouvi-lo dizer isso. – Ela sente-se assim há séculos... Sofre demais pensando que você nunca vai sequer olhar para ela de maneira diferente. Sinceramente, acho que não merece os sentimentos dela, mas quem sou eu para julgar, não?
– Você está me zoando, não é? – perguntou Shaoran, pasmo.
– Estou com cara de quem está te zoando? – replicou secamente.
– Pelos Deuses...
Sakura estava em seu quarto, terminando de arrumar os materiais que não usaria nas próximas semanas, após dar uma geral no quarto e trocar de roupa, usando uma calça jeans desbotada nas coxas e uma camiseta de manga comprida rosa bebê.
– Pode entrar! – disse, ao ouvir batidas na porta. Viu a prima abrir a mesma. – Tomoyo, o que foi?
– É que... Você tem uma visita. – informou, incerta.
– E quem é? – indagou, estranhando.
– É a Sharon. – Sakura arregalou os olhos. – Ela está esperando na sala.
– Bem, eu já acabei aqui... Vou falar com ela, que tal irmos juntos à lanchonete depois disso? – perguntou, não dando tanta importância ao fato da inglesa ter ido falar com ela. – Ora, não faça essa cara, ela não vai fazer nada comigo.
– Se você pensa assim... – suspirou. – Vou estar com Eriol na sala de música, avise-nos quando terminarem de conversar.
Sakura foi para a sala de visitas e sorriu para a inglesa quando adentrou o recinto.
– Que surpresa, Smith. – disse ela, sentando-se em uma poltrona de frente para a jovem.
– Eu precisava conversar com você antes de voltar para a lanchonete. – disse, séria.
– Sobre Lien, suponho. – replicou no mesmo tom, recebendo assentimento. – E o que exatamente seria?
– Você terminou o namoro com ele alegando gostar de outro... Mas aparentemente ainda sente algo pelo Lien.
– Bem, isso não é surpresa... Por mais que eu não correspondesse aos sentimentos dele, sempre tive um carinho muito grande por Lien. E ele foi tão bom para mim que não tem como eu simplesmente ignorar tudo o que ele fez para me ajudar. – disse Sakura, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
– Isso eu posso entender... Mas há algo mais que me incomoda. O que sente por ele parece ir além do que você diz...
– Pois eu lhe garanto que não é a realidade. – Sakura interrompeu-a. – Eu não sinto por Lien nada além de uma grande amizade e carinho. E desejo que vocês dois sejam felizes... É só.
– Você tem uma forma muito estranha de demonstrar isso... – a inglesa disse, desconfiada.
– Eu achei mesmo que havia algo errado quando saímos da escola... Você conversou com Lien a respeito disso, não foi?
– Claro! Afinal de contas, ele é meu namorado! E ele defendeu-a até o fim...
– Ele é um bom amigo. – ela sorriu tristemente.
– Pois eu estou começando a achar que nenhum de vocês dois está sendo honesto consigo mesmo ou com as pessoas ao redor! – a inglesa levantou-se, com as mãos na cintura.
– Não há motivo para todo esse alarde. Lien a ama, e eu... – foi interrompida.
– Não seja hipócrita! Eu não tenho motivos para acreditar em suas palavras se suas ações as contradizem o tempo todo!
– Não entendo o que quer dizer com isso. – perguntou Sakura, ainda calma.
– O que quero dizer é que você diz que ama Shaoran Li, mas está tão envolvida pelo meu namorado que não percebe que ele corresponde aos seus sentimentos! – a Sharon gritou, vendo a japonesa levantar-se, assustada.
– O que foi que você disse?
– Exatamente o que ouviu! Shaoran Li a ama também, e você é a única que não enxerga isso! – parou por um instante, observando a reação de Sakura. Não era sua intenção dizer-lhe aquilo, mas ficara tão irritada que não conseguira conter-se.
Aquelas palavras ecoavam na mente de Sakura, não era capaz de ouvir mais nada. Deixou-se cair na poltrona novamente, absorvendo a informação. Era seu sonho tornando-se realidade, tudo em que pensara nas últimas semanas estava cada vez mais próximo de se concretizar.
Sakura olhava pela janela de seu quarto, completamente distraída. Depois que a inglesa deixara a mansão, avisara Eriol e Tomoyo que poderiam ir até a lanchonete sem ela. Sentia-se insegura demais para encarar Shaoran e acabar constatando que Sharon estava equivocada. Cenas dos últimos cinco meses passaram diante de seus olhos enquanto o que Smith lhe dissera, há poucos minutos atrás, repetia-se em sua mente.
"Será que eu sou tão cega assim?" - perguntou-se duvidando que aquilo pudesse ser possível.
Pensou que Shaoran estava, naquele momento, na lanchonete com os amigos e ela estava ali, sozinha em seu quarto com seus pensamentos confusos e o medo de deparar-se com mais uma desilusão.
– Ah, mas que droga... - murmurou, levantando-se e abrindo o armário para trocar de roupa. Seu coração clamava por vê-lo e, dessa vez, iria atender seu pedido. Iria arriscar.
Saiu correndo da mansão e caminhou com passos largos em direção à lanchonete. Seu coração batia descompassado, parecendo querer pular para fora de seu peito. Já havia percorrido alguns quarteirões quando, subitamente, parou respirando profundamente e sentindo todo seu corpo tremer. A presença de Shaoran se aproximava rapidamente e ele parecia estar agitado. Avistou-o próximo à saída do parque, que separava a rua que ela percorria da lanchonete.
Li não pôde esconder sua surpresa ao vê-la do outro lado da rua. Quando Eriol e Tomoyo chegaram à lanchonete, dizendo que Sakura não quisera ir, decidiu-se por procurá-la. O que Lien lhe revelara na lanchonete ecoava em sua mente, deixando-o cada vez mais nervoso, diante da japonesa. Ficaram parados, encarando-se, apesar da distância.
Sakura sorriu um pouco e atravessou a rua aproximando-se dele, sentindo-se ansiosa. Caso não tivesse seus sentimentos retribuídos, sabia que sofreria e se repreenderia por alimentar falsas esperanças.
Ambos permaneceram apenas se encarando, mesmo estando frente a frente. Buscavam no olhar do outro qualquer sinal que confirmasse a reciprocidade de seus sentimentos.
Shaoran sorriu de lado, ainda encarando-a fixamente.
– Achei que fosse ficar em casa... – ele disse com a voz levemente trêmula, enquanto se aproximava um pouco mais, lentamente.
– E eu pensei que você estaria na lanchonete... – retrucou suavemente, percebendo um brilho diferente nos olhos dele.
Shaoran também notara uma peculiar luz, que nunca estivera ali antes, na forma com que Sakura o encarava. Estavam a poucos centímetros um do outro.
– Eu estava, mas vim atrás de você... – ele sussurrou em resposta, como se tivesse medo que, falando mais alto, a imagem de Sakura à sua frente esvaecesse.
– Por quê? – ela perguntou, com as pernas bambas, enquanto Li se inclinava levemente sobre si para falar ao seu ouvido, como quem conta um segredo.
– Precisava falar com você, Sakura... – murmurou ternamente, sentindo o perfume floral que as madeixas cor de mel possuíam. Ela apoiou a mão sobre o peito másculo do rapaz, sentindo-se inebriada com toda aquela proximidade. Shaoran sentiu o leve tremor que acometia o corpo da garota e, temendo que ela desfalecesse, segurou-a pela cintura, trazendo-a para mais perto.
– Por que me tortura... desse jeito? – ela questionou, com um fio de voz, afundando o rosto na base do pescoço dele. Shaoran sorriu com o comentário, apertando-a ainda mais em seus braços.
– Não é menor martírio para mim... – respondeu, afastando-a apenas o suficiente para que pudesse olhar as belas gemas esmeralda que a garota possuía.
– Então, por que continuar com isso? – Sakura sorriu timidamente, sentindo a respiração de Shaoran roçar em seus lábios, pouco antes de tê-los tomados de forma carinhosa. Uma fraqueza nas pernas fez com que ela se segurasse ao chinês. Um frio gostoso no estômago surgiu quando Shaoran lhe pediu permissão para aprofundar o beijo.
Li experimentava o gosto e a textura daqueles lábios delicados, que tanto ansiara por tocar. Um leve desejo de provar melhor seu sabor o dominava.. Com a língua, impaciente, pediu a Sakura que abrisse os lábios e um arrepio percorreu toda sua espinha quando teve seu desejo atendido.
Fogos de artifício pareciam estourar ao longe, uma profusão de cores parecia tomar conta de tudo e as auras se misturavam agitadas e calmas ao mesmo tempo. Interromperam o beijo lentamente, continuando com os lábios colados, trocando pequenos beijos, enquanto recuperavam o fôlego.
– Eu mal consigo acreditar... – Shaoran murmurou, beijando demoradamente o rosto dela. – Não acreditei que fosse possível quando Lien falou... – foi interrompido pela risada de Sakura.
– Acho que ele e Sharon combinaram de nos contar tudo hoje... – comentou, olhando-o nos olhos.
– Será? – ele perguntou, pensativo por um instante.
– Não!... – Sakura balançou negativamente a cabeça com as sobrancelhas franzidas.
– Tem razão! Lien não faria isso! – o rapaz disse, beijando brevemente os lábios dela.
– Será que somos tão desligados assim? – ela perguntou, abraçando-o e descansando a cabeça em seu peito.
– É o que está parecendo... - ele riu, mergulhando o nariz nos cabelos dela.
Sakura abriu os olhos, percebendo de relance que algumas pessoas os estavam observando e escondeu o rosto no peito dele com um sorriso no rosto.
– Acho que estamos chamando um pouco de atenção, Shaoran... – comentou, fazendo-o olhar rapidamente para os 'espectadores'.
– Vamos sair daqui, então... – afastou-a um pouco, mantendo-a bem presa pela mão como se temesse que ela fugisse. – Quer ir para a lanchonete? – questionou, vendo-a negar com a cabeça, com um sorriso no rosto.
– Agora não! – foi a resposta da japonesa que fez os lábios dele se curvarem, enquanto seguiam para a mansão.
Sakura arrumava nervosamente o cabelo em frente ao espelho do banheiro. Já o prendera de diversas formas e soltara, não gostando do resultado. Suspirou, derrotada, fitando a própria imagem: seu vestido longo rosa perolado, colado até os quadris, possuía mangas longas, que também delineavam o belo corpo jovem. Os cabelos mantinham-se desalinhados, por todas as tentativas frustradas de fazer um bom penteado. Ouviu batidas na porta.
– Pode entrar, Shaoran. – disse, seu tom transpassando seu desânimo.
– Sakura, está na hora de irmos. Está pronta? – perguntou ele, adentrando o quarto. Fitou a amada, que ainda olhava para o espelho. – O que houve?
– Simplesmente desisto de arrumar meu cabelo de forma decente!
– Acalme-se, querida... – ele abraçou-a pelos ombros, beijando-a levemente na bochecha. – Vire para mim. – pediu, sendo atendido por ela. – Bem, não sou nenhum especialista, mas sempre gostei muito quando deixa seu cabelo solto... – pegou uma escova, ajeitando as madeixas de cor caramelo dela. – Bem, eu gostei. – sorriu de lado.
Sakura virou-se para o espelho e sorriu ao ver a própria imagem. O resultado realmente não ficara nada mal e, se agradava a ele também, não queria mais nada.
– Obrigada. – fitou-o docemente, antes de beijá-lo.
Saíram do quarto de mãos dadas e encontraram Tomoyo e Eriol já prontos. No carro, Sakura aproveitou para reparar nos rapazes. Não era um baile tão formal, para a sorte de Shaoran, então eles usavam calça negra e camisa branca, ambos sociais, com o sapato combinando. Traziam casacos e, para o caso de um imprevisto, iriam deixar um sobretudo na limusine. Tomoyo trajava um vestido longo em estilo chinês, vermelho com detalhes em dourado. Manga longa e gola alta, com uma fenda até os joelhos do lado direito.
Ao descerem do carro, em frente ao salão, ouviram a música alta, enquanto vários colegas desciam também. Estavam entrando, conversando, quando ouviram alguém chegar buzinando. Viraram-se e viram a limusine branca, responsável por tal comoção, parar no mesmo local que a deles tinha o feito instantes antes. Shaoran rolou os olhos ao ver quem descera do carro.
– Shaoranzinho querido! – Chong segurou o braço dele.
O chinês mirou-a atentamente. Estava usando um vestido negro longo, com fendas até a metade das coxas em ambos os lados da saia reta. A manga era três quartos e o colo alvo dela estava exposto por um decote generoso. Vulgar demais a seus olhos.
– Ming I, pare com isso, por favor. – pediu ele, secamente.
A garota soltou-o e reparou nas mãos do jovem guerreiro à sua frente. Uma delas segurava a da jovem japonesa que se mantivera calada durante todo o tempo.
– O que significa isso? – ela exaltou-se, olhando descrente para a jovem de olhos verdes.
– Significa que eu tenho o prazer de comunicar primeiramente a você que eu e Sakura estamos namorando.
– Como é?! – a chinesa exclamou, encarando Sakura com fúria.
– Exatamente o que você ouviu. – disse ela, calmamente. – Podemos entrar, Shaoran?
– É claro, querida. – ele sorriu para ela e viraram as costas para Ming I, entrando no salão em seguida.
Assim que entraram, juntaram-se aos amigos e ficaram conversando calmamente. Sakura e Shaoran não desgrudavam, ele mantinha a cintura dela bem presa em seu braço esquerdo e ela deixava-se usufruir a proteção dos braços dele, tendo sonhado noites seguidas com esse momento.
– Bem, depois dessa confusão toda, Lien, tem algo que quero perguntar a você... – disse Tomoyo. – Como conseguiu manter-se calado diante de tudo? Agiu como se não soubesse de nada sobre os 'desencontros' dos dois...
– De quê me adiantaria falar? Eles precisavam resolver por si mesmos, senão não teriam futuro algum.
– Mas você não gostou nada de ouvir Shaoran dizer que já tinha desistido da Sakura... – comentou Mai Su.
– Ora, por mais que não estejamos mais namorando, não significa que eu não me importe mais com ela. – ele sorriu, observando a ex-namorada fazer o mesmo. Desviou o olhar para Sharon em seguida. – Mas estava considerando contar tudo aos dois... Já tinha levado uma bronca naquele dia de uma certa ciumenta.
A jovem inglesa sorriu, corada. Nesse momento, uma música lenta começou a tocar.
– Shaoran... Vamos dançar? – pediu Sakura.
– O que você quiser, meu anjo. – ele sorriu, segurando a mão dela enquanto a guiava para o centro da pista.
– Querida, me dá a honra dessa dança? – perguntou Eriol, cordialmente, beijando a mão da namorada.
– Claro. – Tomoyo sorriu com o galanteio e deixou-se levar por ele.
– Eu ainda vou entender como é que o Eriol consegue falar essas coisas sem parecer idiota... – comentou Tong.
– Oras, ele faz o que pensa que vai agradar a quem ele quer fazê-lo. – disse Sharon. – Ele não se importa com o que os outros vão pensar. – sorriu, observando o casal dançar. – Talvez a magia tenha alguma influência no comportamento das pessoas. – comentou, para que só o namorado a ouvisse.
Sakura e Shaoran dançavam abraçados, totalmente envoltos nos braços um do outro, entorpecidos pelas maravilhosas sensações que aquele simples toque lhes proporcionava.
– Shaoran... Você tinha mesmo desistido de mim? – perguntou, de olhos fechados, permitindo-o guiá-la.
– Eu não conseguia imaginar que, algum dia, você pudesse sentir a mesma coisa por mim. – acariciou levemente os cabelos dela. – Mas talvez eu tentasse novamente... Não saberia dizer-lhe com certeza.
– Não vamos precisar descobrir, não é? – ela sorriu, aconchegando-se melhor no abraço dele.
– Esperemos que não, querida. – beijou-lhe a fronte.
– Não adianta viver com medo do futuro... – ela disse, suspirando. – Vamos simplesmente aproveitar o presente.
N/A:
Está vivo!!! Está vivo!!! tendo ataque
Gente, mil perdões pela demora, mas, creio eu, valeu muito a pena não? Não é presunção nem nada, mas eu também fiquei na expectativa, já que a cena que saiu por último não foi feita por mim... E eu quase tive um treco quando li...
Agradecimentos: Eu não queria citar nomes por medo de esquecer alguém, mas acho que vou tentar...
Yoruki Mizunotsuki, eu não preciso nem falar nada, né? Docinho, você já está cansada de me 'ouvir' dizer as mesmas coisas sempre... Mas eu não sei como me expressar diferente e sentir-me satisfeita com o resultado... Mas, de uma forma ou de outra, acaba dando na mesma... Amo vc, querida!!
Felipe S. Kai, que, apesar de estar bastante atrasado na leitura, sabemos que é por motivo de força maior e, quando chegar aqui, que veja que eu não o esqueci... .
Rosana, que está sempre disposta a me ajudar quando eu preciso... Brigada, queria, adoro vc!!
De imediato, com participação direta são desses que me lembro... Claro que todos os reviewers estão no meu coração... Obrigada mesmo por todo apoio que me deram... Agradeço mesmo de coração...
Vou ficar sumida por uns tempinhos, mas ainda tem a minha parceria com a Yoru, que está trazendo até vocÊs uma nova produção denominada Desígnios do Destino. O endereço para acessá-la é: www(ponto)fanfiction(ponto)net(barra)yorunohoshi
Também quero fazer uma propaganda básica... acessem o blog da história Suteki da ne. O endereço é: www(ponto)sutekidane(ponto)blogger(ponto)com(ponto)Br
Beijinhos A todos!!! Espero que tenham curtido tanto quanto eu!!!
Miaka Hiiragizawa.
