Capítulo especial - Momentos


Eu sem você não tenho porquê...

Ele abriu a porta da enfermaria e encontrou a ruiva olhando para ele, pensativa. Assim que os olhos deles se encontraram, a face dela se fechou numa carranca. Ele passou as mãos pelo cabelo, embora soubesse que ela odiava isso e sorriu.

- Olá, Lily!

Se é que isso era possível, ela fechou ainda mais a cara. Tiago se pegou pensando que talvez não fosse a melhor hora de cutucar o dragão... Mas logo se esqueceu disso, caminhando na direção dela para se sentar numa cadeira ao lado da cama dela.

- Estava muito bem, Potter, até você fazer o desfavor de aparecer. - ela o observou sentando-se e revirou os olhos - O que pensa que está fazendo?

- Você é bem mais simpática dormindo, sabia?

Lílian bufou, recostando-se mais nos travesseiros. Tiago sorriu. Já estava acostumado com o jeito explosivo da garota. E era isso que ele mais gostava nela. Ele não conseguia manter uma conversa decente com nenhuma garota, já que elas pareciam derreter sempre que ele chegava perto. Não que as conversas com a ruiva passassem das ofensas, mas isso era porque ele simplesmente adorava implicar com ela.

Ele virou-se para a janela, pensando em como as coisas seriam bem mais simples se ela simplesmente deixasse de ser teimosa e se rendesse aos encantos dele. Finalmente, Tiago saiu de seus devaneios e percebeu que a ruiva o observava com um meio sorriso.

- Então, hoje tem visita a Hogsmeade. Você não quer ir comigo para comemorar a quinta vitória da nossa casa no quadribol?

O sorriso dela desapareceu.

- Deixe-me pensar... Comemorar o quinto ano em que VOCÊ é apanhador e VOCÊ ganha a taça de quadribol para a Grifinória em Hogsmeade? É realmente uma proposta irrecusável, mas eu não pretendo estragar sua festa, Potter. E, conhecendo meu temperamento, eu com certeza faria você beber cerveja amanteigada pelo nariz. Então, porque simplesmente me deixa em paz e vai comemorar com Black, Lupin e Pettigrew? - ela falou sarcasticamente, embora tentasse manter a calma a todo custo.

- Seria interessante experimentar cerveja amanteigada pelo nariz. Se eu fizer isso, você vai comigo? - ele perguntou com um sorriso.

- Porque não tenta? Se você fizer isso eu posso PENSAR na possibilidade, embora tenha esperanças de que você morra asfixiado antes disso... Quer saber, Potter, não faça isso. Seria deprimente demais você chegar a tal ponto.

- Mas se você vai PENSAR na possibilidade...

- Os pensamentos serão todos negativos, pode ter certeza.

- É uma pena... Mas não se preocupe. Ainda temos seis meses de aulas e possibilidades de encontros, Lily.

- Não me chame de Lily. - ela disse num tom perigosamente baixo - E nem nos meus pesadelos eu sairia com você, Potter.

Tiago suspirou, decidindo sair dali antes que levasse algum tapa ou coisa do tipo. Abrindo a porta, ele olhou uma última vez para a ruiva.

- Até mais tarde, Lily.

Ele mal pode desviar do livro que veio voando em sua direção. Sorrindo, ele seguiu para a torre da Grifinória. Ainda tinha uma vitória a comemorar.

Porque sem você não sei nem chorar

- Então, o que foi dessa vez? - perguntou Remo, enquanto acabava de beber seu suco de abóbora.

- Ela ganhou um anel que utiliza "princípios trouxas da eletricidade". - Sirius sorriu, arrumando o cabelo - Eu adoro aquela maluca.

Pedro riu.

- Vocês dois são muito espertos, mas quando se trata de garotas... Foram escolher duas pimentinhas...

- Ah, cala a boca, Rabicho. - Tiago levantou-se levemente irritado, embora o "pimentinha" tivesse lhe dado uma idéia para mais tarde.

- Mas é verdade, Tiago. - Pedro continuou, levantando-se também, seguido de Remo e Sirius. Eles começaram a deixar o salão - Você e o Sirius podiam conseguir qualquer garota. Desde o ano passado vocês deixaram todas a população feminina de Hogwarts de lado e passaram a correr exclusivamente atrás dessas duas.

- Eu concordo com você, Rabicho. - começou Remo, enquanto eles caminhavam pelo corredor que levava a sala de transfiguração - Mas eu sei porque esses dois elegeram Lílian e Camille suas musas.

Sirius riu, piscando o olho para o amigo enquanto entrava na sala de McGonagall.

- Elas são um desafio. É isso que as fazem tão especiais, Rabicho.

- Eu diria que é mais que isso, Almofadinhas. - Remo sorriu, depositando seu material numa das carteiras do fundo da sala - Não é apenas pelo desafio. Há outras garotas em Hogwarts tão ou mais difíceis que elas.

- E o que você diagnosticou em nós, Aluado? - perguntou Tiago, sorrindo.

- Bem, isso vocês terão que descobrir por si mesmos.

Sou chama sem luz, jardim sem luar

Lílian observou surpresa Sirius encurvar-se de dor enquanto Camille Dearborn desaparecia nos corredores que levavam a torre da Corvinal. Mesmo um tanto distante, ela podia ver com perfeição a marca dos dentes pequenos de Camille na mão do moreno. Respirando fundo, ela aproximou-se, parando na frente do colega.

- Precisa de ajuda, Black? - ela perguntou, tentando ser o mais gentil possível.

- Se você puder ajudar, eu agradeceria muito. Seria humilhante chegar com isso para Madame Pomfrey.

Lílian assentiu e fez um sinal com a cabeça para ele segui-la. O rapaz obedeceu até chegarem às escadas que levavam ao dormitório feminino. Lílian subiu sozinha e instantes depois voltou com uma pequena caixa branca.

- É um kit de primeiros-socorros. - ela disse ao ver o olhar inquisidor dele - Minha mãe me deu no primeiro ano quando vim para Hogwarts.

Rapidamente ela limpou o ferimento e fez um discreto curativo, finalizando com um feitiço cicatrizante. Sirius sorriu agradecido.

- Obrigado, Evans.

- Pode me chamar de Lily.

Os olhos azuis de Sirius adquiriram um brilho divertido.

- Oras você vive brigando com o Tiago porque ele te chama de Lily! Está dando em cima de mim, ruiva? Sinto muito, não posso fazer isso com meu melhor amigo. - o olhar dele ficou mais malicioso - Embora você não seja de se jogar fora...

A garota sorriu, piscando o olho marotamente enquanto dava um tapa de leve no braço do rapaz.

- Vocês garotos vêem segundas intenções em tudo, não? - ela mudou o semblante de repente, ficando séria, embora

mantivesse um discreto sorriso no canto dos lábios - Sinto muito por não ter sido muito legal com você por todos esses anos. Amigos?

Ela estendeu a mão e Sirius sorriu, correspondendo ao cumprimento.

- Amigos. Mas como fica o Tiago nessa história?

- Não fica. Ele corre por fora. - os dois riram enquanto caminhavam para os sofás da sala comunal - E então, quer conversar sobre sua relação com a Dearborn?

O rapaz suspirou.

- Essa é uma looooonga história...

Luar sem amor, amor sem se dar...

- Mataram meus pais. - ela disse num soluço - Comensais.

- Lílian... Eu sinto muito. - ele ficou em silêncio por alguns instantes - Há alguma coisa que eu possa fazer?

A garota não se importou por ele tê-la chamado pelo primeiro nome. Na verdade, não fazia diferença nenhuma. Ela voltou o olhar para a porta que Gideão deixara entreaberta e pensou ter visto uma sombra se escondendo.

- Não. Não há nada que você possa fazer. A não ser que possa trazê-los de volta à vida.

Lá fora, Tiago ouvia com atenção o diálogo que se desenrolava. Fora na monitoria para tentar encontrar Remo, mas ele não estava lá. Ao invés de encontrar o amigo, descobrira porque a ruiva saíra mais cedo das aulas. Ele encostou-se à parede, desejando que pudesse ser ele a consolá-la. Mas não era.

- Lílian, eu sei que está doendo muito, mas seus pais não iam gostar que ficasse assim. Eles iam querer que você superasse isso e só guardasse na memória as lembranças dos momentos que tiveram juntos. Nenhum pai quer ver o sofrimento do filho.

- Mas...

- Você pode e deve chorar agora para aliviar o que sente. Mas, prometa que vai reagir. Que vai enfrentar tudo com o sorriso doce que sempre tem nos lábios. Eu sei que é difícil, mas você vai conseguir. Agora, prometa.

A garota assentiu, dando um tímido sorriso e Gideão a ajudou a se levantar.

- Você vai jantar?

Ela negou com a cabeça e caminhou para a porta.

- Até outro dia, Gideão.

Eu sem você sou só desamor

- Muito bem, é hora de deixar a razão de lado...

Fechando os olhos, a ruiva passeou com as mãos sobre a madeira, sentindo novamente a sensação gostosa que sua aura lhe proporcionava. O barulho de uma tranca se abrindo pode ser ouvido. Lílian sorriu. Funcionara.

Ela agora estava diante de um grande salão de paredes de pedra. Embora não houvesse tochas nem nada do tipo, uma luz suave inundava o recinto. Vários objetos estranhos abarrotavam o chão, junto com livros antigos e armas enferrujadas. Em algum ponto muito distante do passado, aquele fora um suntuoso aposento. Ela observou tudo com curiosidade, especialmente os livros, pensando em que tesouros eles poderiam esconder entre suas páginas.

Finalmente, após uma minuciosa observação, os olhos dela encontraram um velho cortinado de veludo, puído em alguns cantos, mostrando fios de prata soltos, brilhando. Com cuidado, ela afastou o pano, encontrando uma escadaria que levava para ainda mais fundo em Hogwarts.

Respirando fundo, a garota principiou a descer, chegando a outro salão, esse, completamente escuro. Ela ergueu a varinha, tenatando iluminar o local. Mas era um salão muito grande, ela só conseguia ver as paredes atrás dela, que levavam à escada. Foi então que ela percebeu que não estava sozinha.

Havia outra respiração ali, uma respiração forte e pesada. Ela começou a caminhar lentamente, enquanto a luz de sua varinha bruxuleava pelo chão. Lílian tropeçou e fez um som alto, encolhendo-se no chão em seguida, enquanto sua varinha escorregava de sua mão com um baque surdo e se apagava. O que quer que estivesse ali, já sabia da presença dela.

Um barco sem mar, um campo sem flor

- Helena... - Lílian disse num sussurro.

Hades fez mais um movimento tentando se aproximar, mas ela se esquivou novamente.

- NÃO ME TOQUE! VÁ EMBORA!

Tiago notou que grossas lágrimas começaram a correr dos olhos de Helena, que eram idênticos aos de sua "pimentinha". A ruiva deu um passo à frente, observando a face confusa de Hades e só nesse momento o maroto reconheceu o cavaleiro.

- Helena, porque estás agindo assim? - ele perguntou num tom magoado.

- Vá embora, Hades. Eu te imploro, não te aproximes. - ela pediu soluçante.

- Eu não vou até que me digas porque devo ir.

Uma risada fria soou atrás dos grifinórios. Os dois se viraram, como Helena e Hades, notando um homem alto, de cabelos

muito negros e olhos escuros.

- Saint-Germain. - sussurrou Tiago.

Lílian virou-se para o rapaz, confusa, mas antes que pudesse falar, Helena passou por eles sem vê-los, a saia negra do longo vestido brocado esvoaçando, furiosa. O homem que Tiago chamara de Saint-Germain retirou das vestes uma varinha.

- Petrificus Totalus.

Helena parou já bem próxima a ele e Hades aproximou-se mas, antes que pudesse tocá-la, a morena quebrou o feitiço, esquivando-se novamente. Sem voltar-se para o cavaleiro, ela aproximou-se novamente do bruxo, cheia de ódio.

- Acha mesmo que pode me vencer com essa ridícula varinha?

- Essa "rídicula varinha" já provou ser páreo para ti, Helena.

Lílian pensou consigo mesmo que a voz grave e firme do homem teria sido o suficiente para conquistar qualquer mulher se não fosse pontuada por um frio sarcasmo.

- O que está acontecendo afinal, "senhor conde"? - Hades virou-se para o homem com os olhos cheios de ódio.

- Pergunte a sua querida Helena, meu caro "amigo".

- Ele me amaldiçoou. - Helena disse tristemente, olhando para os olhos sombrios de Hades - Com a Thanatus.

Lílian empalideceu.

- Você está entendendo alguma coisa? - Tiago perguntou, olhando-a preocupado.

- Thanatus, em grego, significa morte. É uma maldição baseada no mito de Midas. Mas enquanto o rei grego transformava em ouro tudo em que colocava a mão, o amaldiçoado pela Thanatus terá seu toque transmudado em morte. Mas, para se usar esse feitiço, é preciso um sentimento muito forte entre os envolvidos.

Tristeza que vai, tristeza que vem

Pedro caminhava em silêncio entre os amigos. Sirius e Tiago pareciam nunca ter brigado e caminhavam pelos corredores como reis, cantando todas as garotas do caminho, embora Tiago prestasse muita atenção se não havia alguma cabeça ruiva caminhando por ali por perto. Remo fazia jus ao apelido olhando tolamente para o nada. Enquanto isso, o louro assimilava tudo o que ouvira na noite anterior.

Eles passaram por um grupinho de sonserinos entre os quais ele reconheceu Bellatrix Black. Ela estivera na reunião do dia anterior. Respirando fundo, Pedro lembrou-se da falta de confiança que os amigos depositavam nele.

Rabicho tinha a opinião de que o mundo pertence aos vencedores. E ele sempre ficara ao lado dos mais fortes. Em Hogwarts ele tinha Sirius, Remo e Tiago. Mas quando saíssem da escola, eles não continuariam a ser o "máximo". Talvez fosse hora de pensar em seu futuro. Talvez fosse hora de mudar de lado...

Sem você, meu amor, eu não sou ninguém...

Antes que Tiago pudesse retrucar, ele se sentiu desabar. Rindo, Lílian observou o moreno completamente encharcado, tentando secar os óculos enquanto a olhava furioso.

- Definitivamente, você tem que ser internada, sua louca perigosa, sua...

- Cuidado com o que diz, Potter. - ela advertiu-o, enquanto voltava a colher suas ervas.

- Você é uma tonta, é isso! Como alguém pode resistir tanto tempo a mim? Você...

- Começou de novo a sessão de tortura com o "eu-sou-o-arrogante-Potter"?

- E você não é nem um pouquinho arrogante não é, senhorita Evans?

A ruiva começou a perder a paciência.

- Potter, será que dá pra calar a boca?

- Ah, a verdade dói, não é? - ele disse, desistindo de secar os óculos e colocando-os de volta, ainda sentado dentro d'água - Você também é orgulhosa, cabeça-dura, histérica, chata, convencida só porque é a toda poderosa monitora-chefe,...

Enquanto o moreno desfiava um rosário de defeitos da ruiva, Lílian, depositando a cesta no chão, começou a entrar na água. Se ele não ia se calar por bem, ia por mal mesmo. Tiago só a notou através dos óculos embaçados quando ela estava bem diante dele, com água até os joelhos.

- ...e detestável, petulante, e, e... - ele começou a gaguejar à medida em que a garota se abaixava, agarrando-o pela gravata para em seguida colar os lábios aos dele.

Tiago ficou em choque, mas o contato não durou mais de dois segundos, pois tão subitamente quanto começou, a ruiva interrompeu o beijo, soltando a gravata dele, erguendo-se rápida. Ele voltou a cair sentado dentro d'água com toda a força enquanto ela passava a mão pelo rosto.

- Ai, meu Pai, que foi que eu fiz?

Lentamente Tiago levantou-se e segurou a mão que ela mantinha no rosto corado, entrelaçando seus dedos com os dela.

- Porque fez isso? - ele perguntou baixinho.

Ela ergueu a cabeça, os olhos brilhantes.

- Eu... eu não sei... - ela ia dizer "esqueci", pois realmente esquecera porque o beijara.

Tiago levou a mão livre à face da garota, passeando com os dedos pela pele sedosa até tocar os lábios dela, vermelhos e levemente úmidos. Lílian fechou os olhos, desejando que ele nunca findasse o toque. Ela sentiu a mão dele escorregando até sua nuca. Com um passo, o rapaz venceu o pequeno espaço que separava os corpos dos dois.

Ela reabriu os olhos, sentindo a respiração dele sobre sua face, enquanto a mão em sua nuca deslizava até a cintura. Tiago soltou a mão da dela, acompanhando o destino da primeira. Sem pensar direito no que estava fazendo, ela envolveu com os braços livres o pescoço de Tiago.

Finalmente os lábios dos dois se tocaram, de início timidamente, até que Lílian os entreabriu, permitindo que Tiago aprofundasse o beijo. Ela sentiu como se tivesse uma companhia completa de balé sapateando em seu estômago.

Um vento frio começou a soprar e Tiago apertou ainda mais a ruiva contra seu corpo. Sentir a boca dela sob a sua era mais perfeito do que imaginara em seus sonhos mais malucos. E era ainda melhor porque não era um beijo à força, roubado, como tantas vezes imaginara. Lílian estava correspondendo!

Ai, que saudade...

O Salão estava repleto de Comensais quando ele e alguns outros alunos, quase todos muito novos, entraram. Voldemort estava sentado em um trono negro e sorriu ao ver o grupo. Pedro sentiu as pernas bambearem ao ver os intensos olhos vermelhos que o encaravam. O bruxo se levantou.

- Jovens, meus caros jovens... - ele começou a discursar - Estou feliz em tê-los aqui conosco. Hoje começaram a se preparar para se tornarem parte de meu exécito negro. Ainda há muito a aprender e alguns de vocês terão que dar o sangue para isso. Sim, meus jovens comensais, o caminho que escolheram não tem volta, mas lhes dará, com certeza, poder e honra imensuráveis quando, finalmente forem dignos da minha marca.

A um aceno da varinha do bruxo, um fiapo de luz verde projetou-se sobre o salão. Pedro sentiu o coração acelerar enquanto mirava o crânio, morsmodre, a marca prometida. Sim, ele. Rabicho, seria grande. Provaria aos amigos que era forte, confiável, poderoso. Voldemort confiaria nele, nos segredos que ele ouvira no colégio, e faria dele o maior de seus comensais.

Que vontade de ver renascer nossas vidas

- Falta três meses para deixarmos Hogwarts. - ela observou depois de alguns minutos de silêncio - O que vamos fazer depois que sairmnos daqui?

- Eu vou ser Auror e você curandeira, como viemos planejando desde o resultado dos N.O.Ms., vamos ficar juntos, ter um time de quadribol de filhos...

Ela riu.

- Um time de quadribol? Você acha que eu tenho cara de quê, Tiago? - ela levantou a cabeça, encontrando os olhos dele - Quando a escola acabar, eu vou ter que voltar para casa, ficar com Petúnia... E acho que ela não vai gostar muito de receber visitas suas.

- Você não precisa ir para a casa de sua irmã. - ele respondeu sério - Pode ficar comigo, pode casar comigo.

Ela o olhou surpresa. Ele não estava brincando, podia perceber pelo semblante dele.

- Tiago, somos muito novos para casar.

- Lily, seu maior defeito é pensar demais. - ele sorriu - Sem casamento então, pelo menos por enquanto. Mas se você for morar com a sua irmã, eu vou junto, nem que tenha que viver debaixo da capa de invisibilidade.

Volta, querido...

- Bom, parece que o meu amigo Pontas vai agora desertar do dormitório masculino. Você vai ter mesmo coragem de nos abandonar? - Sirius disse com a voz chorosa, sentando-se na frente deles.

Encostada no ombro do namorado, Lílian observou o amigo por cima de um livro.

- Não se preocupe, Almofadinhas, depois eu empresto o quarto para você matar a saudade do seu querido Pontas. Eu sei que sou só um passatempo, você é que é o grande amor da vida dele. Mas se serve de consolo, você pode ajudar o Tiago a fazer as malas.

Tiago observou a garota com um tênue sorriso no canto dos lábios. Sirius ficou mudo por alguns instantes (como se diz, "o feitiço virou contra o feiticeiro"), surpreso com a resposta.

- Você não é a Lily. A Lily foi abduzida! Onde você escondeu ela, seu monstro devorador de donzelas?!

Tiago tentava a todo custo se conter, mas estava sendo difícil segurar as gargalhadas. Lílian simplesmente ergueu a sobrancelha.

- O que aconteceu, Sirius? Seu cérebro perdeu o prazo de validade? Abduzida? Ora, francamente... A propósito, a única donzela por aqui é você. Será que devo devorá-lo? Ou talvez eu mande o meu "dragão de estimação" fazer o serviço.

Sirius riu.

- Muito bem, eu me dou por vencido. Pontas, pelo visto logo teremos uma marota honorária.

- Não, obrigada, Almofadinhas, os marotos costumam dividir tudo o que têm, ou melhor, tudo o que EU tenho, como a capa de invisibilidade por exemplo, e eu definitivamente não quero ter que dividir a MINHA namorada com vocês.

- Perdi alguma coisa? - Remo perguntou, sentando-se ao lado de Sirius e começando a se servir.

- Só o show particular do Almofadinhas. A propósito, Sirius, você não deveria estar correndo atrás da Camille? - Lílian perguntou.

Sirius virou-se para a mesa da Corvinal, onde Camille conversava animadamente com Hestia, Marlene e um garoto que estava de costas para eles.

- Mais tarde. Eu tenho muitos planos para mais tarde. A propósito, alguém aqui não vai a Hogsmeade?

Os meus lábios precisam dos teus...

Lílian e Edgar Bones entraram no salão, caminhando até a mesa dos professores de onde, após alguns instantes conversando com Dumbledore, seguiram para suas respectivas mesas.

- E então, garotos, animados com os testes? - a ruiva perguntou, sentando-se após ter dado um beijo no namorado.

Apenas Remo não fechou a cara a esse comentário e a resposta veio de Susan, que acabava de chegar, seguida de Selene e Emelina.

- Sabe, Lily, nem todos são insanos como você para gostar de exames. Aliás, hoje à noite vamos ter reunião.

- Eu sei. - a ruiva respondeu pensativa - E lá se vai mais uma noite de sono...

- Vocês não podiam marcar essas reuniões para de dia, não? - Tiago perguntou, mal humorado - Já basta que eu não possa saber o que minha namorada anda fazendo por aí de noite, ainda vou ter que esperá-la de novo até depois da meia-noite?

A ruiva corou enquanto os amigos disfarçavam os risos.

- Tiago, fica quieto ou vai dormir no sofá hoje. - a garota disse entre dentes.

- Eles não são uma gracinha? - Sirius observou, soando como uma daquelas típicas tias velhinhas que adoram apertar as bochechas dos sobrinhos.

A turma riu e quando finalmente voltaram ao silêncio, Emelina virou-se para Sirius.

- Eu me lembrei agora, Sirius, você tinha dito que ia batizar a nossa "banda". E então, será que você já tem alguma sugestão?

- O Sabá do Black! - ele disse, estufando o peito - Vocês podem se vestir de odaliscas e eu fico de sultão no meio.

- Por acaso está propondo que sejamos o seu harém? - Selene perguntou, divertida.

- Porque não?

- Sirius, você se esqueceu que a Alice e a Lílian também estão na banda. - Remo observou, apontando Tiago, que olhava perigosamente para o amigo.

- Sinto muito, Pontas, já que você é egoísta com as suas coisas, também não vou dividir meu harém com você. - Sirius disse sorrindo.

- Meninos, não vamos brigar... - Lílian disse, segurando o namorado.

- Sabe, até que não é uma idéia tão ruim. - Susan observou - Com algumas pequenas modificações, lógico. Em vez de "Sabá do todo-poderoso Black" podemos ser o sabá negro, Black Sabath!

Teus abraços precisam dos meus...

Camille parou diante da sala, tensa. Tentara não se importar com as cartas diárias de Sirius, mas a situação estava agora crítica. Se não falasse com ele, o rapaz acabaria por enlouquecê-la. Respirando fundo, ela abriu a porta, entrando no aposento mergulhado em completa escuridão.

Antes, no entanto, que pudesse se acostumar com a falta de claridade, a porta se fechou e ela se sentiu prensada contra a parede, enquanto alguém (que ela tinha plena consciência de quem era) a beijava fervorosamente. Por alguns instantes ela apenas correspondeu ao beijo, sem se importar com os pensamentos estranhos que passavam pela sua mente. Mas aquilo não podia continuar. Camille enlaçou Sirius pelo pescoço, virando o pequeno anel que tinha no dedo, despejando uma descarga elétrica no corpo do pobre rapaz, fazendo com que ele se afastasse. Finalmente voltando a respirar, a corvinal pegou a varinha.

- Lumus!

A sala se iluminou e ela pode ver Sirius parado diante dela com um sorriso maroto.

- Sentiu saudades, Mille?

- Eu ainda não estou usando camisa de força, Black. E você sabe que eu detesto que me chame assim.

- Exatamente por isso é que eu a chamo assim, Mille. - ele disse, dando ênfase ao apelido dela - A propósito, quantas vezes devo dizer que pode me chamar de Sirius?

- Até o fim de seus dias, Black. - ela disse no mesmo tom que ele.

Estou tão sozinha...

- O que aconteceu?

- Nada, não. - a italiana fez um muxoxo de descrédito e ele deixou-se cair numa cadeira em frente a ela - Você tinha razão.

- Sobre? - ela perguntou, sentando-se à frente dele.

- Camille. Ela vai para o baile com o Bones.

- Sinto muito. Mas, bem, você não queria que ela te esperasse sentada para o resto da vida, não é?

- Você está me consolando admiravelmente, Susan... - ele respondeu com um sorriso fraco.

- Desculpe. Mas, e então, o que vai fazer? Desistir?

Ele ficou pensativo por alguns instantes.

- Eu nunca desisto. Só dou um tempo. Eu vou pensar numa estratégia para reconquistar a camille. Enquanto isso, eu preciso de um par para o baile...

- É bom correr, Sirius. Embora eu acredite que qualquer uma que você convide, se já tiver par, vai dispensar o garoto rapidinho. - ela riu, levantando-se - Boa sorte.

Antes que ela pudesse ir para seu dormitório, no entanto, Sirius a segurou pelo braço.

- Su?

- O que é agora? - ela perguntou num suspiro.

- Quer ir ao baile comigo?

Ela piscou surpresa.

- Ir ao baile com você?

- Você já tem par? - ele perguntou receoso.

- Não. Mas...

- Por favor, Susan, eu queria ir com uma amiga para o baile, não com a primeira oferecida que me surgisse pela frente.

A garota observou atentamente por alguns instantes e acenou timidamente com a cabeça.

- Certo, você me convenceu. Eu vou com você ao baile.

Ele soltou o braço dela e sorriu.

- Obrigado, Susan.

Tenho os olhos cansados de olhar para o além

- Boa noite, senhor monitor.

- Quem é você afinal? - ele perguntou depois de ter ensaiado aquela frase muitas vezes enquanto estava sozinho, levantando-se.

- Primeiro, meu medalhão. - ela disse, aproximando-se com a mão estendida, revelando a face ao luar.

Remo observou os olhos castanho-azulados, a boca pequena, cada covinha no rosto emoldurado pelo cabelo negro que se perdia atrás da orelha. A sensação de que conhecia aquele rosto que o perseguia em sonhos e o estava enlouquecendo voltou a invadi-lo.

- Porque eu deveria entregá-lo? - ele perguntou, voltando a se sentar.

- Porque ele me pertence e você sabe que isso não é certo.

- E o que está fazendo comigo é certo?

Ela respirou fundo, sentando-se diante dele.

- Não. Mas eu não tive muita escolha. Escute, eu realmente gosto de você, mas não posso responer suas perguntas agora. Então, por favor, será que pode me devolver o medalhão?

O rapaz observou o olhos dela com atenção por alguns instantes e depositou o medalhão sobre a palma dela, levantando-se em seguida.

- Já conseguiu o que queria, agora, com licença.

- Calminha aí! - ela exclamou, segurando-o e fazendo com que ele voltasse a se sentar - Eu não queria apenas o medalhão. Também quero entender o que está acontecendo com você. Eu já te observo a um bom tempo e notei que está triste. E eu me preocupo com isso.

Ele sorriu tristemente.

- Eu tenho muitos motivos para estar assim. E você é um deles. Pode parecer loucura, considerando que essa é a segunda vez que nos encontramos, mas...

Ela colocou a mão sobre os lábios dele, inclinando-se levemente para sentar-se ao lado dele.

- Um dia, quem sabe, você vai entender porque estou fazendo isso. Agora, se prometer não perguntar nada sobre mim, podemos voltar a nos encontrar.

Ele assentiu, sorrindo sinceramente.

- Mas eu não posso fazer nem uma pergunta?

Ela ficou pensativa por alguns instantes.

- Pode fazer. Mas eu não prometo uma resposta.

- Você aceitaria ir ao baile comigo?

A morena mordeu os lábios.

- Isso é um pouco difícil. Mas eu vou tentar. - ela respondeu sorrindo, enquanto vencia a pouca distância entre eles.

Vem ver a vida!

A lua apareceu por entre as nuvens, refletindo-se exatamente sobre o meio do lago onde ele e a ruiva tinham trocado seu primeiro beijo. Lílian caminhou lentamente pela água, molhando-se até os joelhos. Mas não parecia se importar com isso. Na verdade, para Tiago, a garota parecia estar em transe. Ela ergueu as mãos e uma luz diáfana a envolveu.

- Pelo poder a mim concedido, eu renovo a magia destes seres. Concedo vida aos sentinelas e morte àqueles que buscam corromper meu sagrado segredo. Pelo sangue inocente aqui derramado, eu peço perdão. Concedo paz aos que aqui foram sacrificados e terror aos que se sujaram com ele. Pela noite de vigília eu invoco os espíritos desterrados. Concedo a eles a chance de se redimirem e proteção aos que a mim se unirem.

As respostas ao encanto de Lílian não tardaram, vindas de todos os pontos da floresta.

- Nós saudamos a nova guardiã, detentora dos poderes antigos, do sangue, da alma, da paixão. Aquela que protege a escuridão para que possa a luz reinar.

- Saudamos a nova magia, união da Alta e da Antiga, daquela que segue o coração usando da inteligência.

Como num coral, mais vozes se sobreporam àquelas.

- Nós saudamos a nova guerreira, que usa espada e varinha, sendo mortal quando quer.

Tiago viu quando Firenze, ao seu lado, começou a falar, junto com os outros centauros, enquanto o mais velho deles, Magoriano, se ele bem se lembrava, aproximava-se da beira do lago.

- Saudamos a nova vidente, capaz de desvendar o destino através de seus sonhos.

Firenze fez Tiago se levantar e o olhou com respeito.

- Você também tem uma escolha para fazer. Ela precisa de um sentinela, alguém com quem dividir seu fardo. Se você aceita, apenas ouça o que a magia lhe sussurra.

Magoriano abriu uma pequena caixa quando Tiago aproximou-se dele, enquanto Lílian se virava para ambos.

- A ti, guardiã... - continuou o velho centauro - ...oferecemos nossa sabedoria, nossa força, nosso poder, nossa proteção, nossa lealdade.

Tiago observou dentro da caixa, pendendo de um cordão dourado, uma forma lapidada no cristal, um dragão. Magoriano acenou com a cabeça para ele, como se a encorajá-lo e Lílian sorriu levemente, encontrando os olhos do namorado.

- Por amor e devoção, eu me ofereço livremente como sentinela da guardiã dos Perpétuos.

A aura prateada dela expandiu-se lentamente, envolvendo o rapaz e, para surpresa de ambos, uma torrente de pensamentos invadiu a mente deles. Era como se pudessem sentir exatamente o que o outro sentia. Mas a ligação logo cessou e Magoriano ofereceu a caixa a Tiago. Lílian caminhou até a beira do lago, parando bem diante dele. Tiago abriu o cordão, envolvendo o pescoço dela com ele, afastando-se em seguida.

- Eu aceito a responsabilidade de guardiã da Antiga Magia e disponho minha vida nessa proteção. Diante de vós fiz meu juramento. Sois testemunha de meu compromisso.

Fawkes desceu até Dumbledore.

- Está feito afinal... - o diretor sussurrou para si mesmo.

No horizonte, o céu começava a nascer.

Sem você meu amor, eu não sou ninguém...

- Nenhuma resposta, Hórus? - a morena perguntou tristemente.

A coruja piou baixinho e Tonks deixou escapar um suspiro resignado enquanto levava o animal de volta para a janela, para que pudesse voar ao corujal.

Quando Hórus desapareceu em meio à noite, a garota voltou-se para o espelho no dormitório vazio. Se a visse agora, o ex-monitor certamente a reconheceria. Exceto pelo cabelo, um pouco maior do que usara para se encontrar com ele, aquela era exatamente a imagem da garota que agarrara Remo Lupin na torre de Astronomia.

Ela se sentou em sua cama antes de se deixar cair, olhando desolada para o teto. Quase três anos... Três anos em que só tinha notícias pelas raras cartas que ele respondia. Maldita diferença de idade. Ele já tinha vinte e ela, só catorze. Seis anos a separavam de estar junto do rapaz. Só seis anos...

- Eu vou acabar enlouquecendo se continuar me torturando por isso. Ele não responde minhas cartas, quando dá sinal de vida é só para pedir que eu me acalme nas toneladas de papel que mando ou vou acabar matando Hórus! No mínimo deve ter arranjado outra para fazer companhia!

Tonks revirou-se na cama com esses pensamentos nada animadores. Na verdade, eles não tinham nenhum compromisso, ela não podia cobrar nada dele. Além do que, ele sequer sabia quem ela realmente era! Talvez fosse hora afinal de esquecer aquela paixão infantil que sentia desde que pusera os olhos sobre Remo Lupin.

Eu sei que vou te amar...

Por mais anos que se passassem, a ruiva jamais conseguiria descrever a sensação que percorreu seu corpo naquele momento. Era como se toda a vida que existia nela houvesse evaporado, como se cada célula se tornasse uma pedra de gelo, rasgando-lhe a carne e a alma. Quando o toque cessou e a garota desapareceu da mesma forma que aparecera, restou em Lílian apenas o sentimento de perda.

- Você não pode...

- Eu pesquisei muito, minha cara, para criar minhas próprias maldições. Sei que apenas pessoas ligadas por um sentimento muito forte podem lançar essa maldição. Mas acredito que, a essa altura, você já tenha percebido que o maior poder que possuo é o ódio. Se não acredita em mim, porque não tenta se aproximar de seu amado Potter para se certificar? Eu imagino o que vai sentir com ele morrendo em seus braços, apenas porque você o tocou com as pontas dos dedos.

Lílian olhou para suas mãos e, num delírio febril, imaginou-as cobertas de sangue.

- Seu... - ela avançou para cima dele, pela primeira vez na vida sentindo vontade de acabar com a vida de alguém.

- Hoje não, minha cara. Eu não estou preparado para morrer.

Antes que ela se aproximasse o suficiente, Voldemort desapareceu. Ela ajoelhou-se sobre o lugar em que ele estivera, sentindo as lágrimas a lhe queimarem os olhos. Ela sabia que era verdade. Vira a garota, sentira o toque dela. Nunca mais... Nunca mais poderia tocar alguém, nunca mais poderia sentir Tiago...

Repentinamente, ela se levantou. Ainda havia Tiago. Ele precisava de cuidados. Lílian aproximou-se dele, mas parou antes que pudesse tocá-lo. Precisava de algo que pudesse transformar numa chave de portal. Inconscientemente, ela levou a mão até o pescoço, onde o cordão de Hades repousava.

Lílian segurou o pingente com força, arrancando o cordão de seu pescoço, que ficou levemente vermelho. Sem se importar com a dor que sentia, ela observou as lágrimas se misturarem com o brilho prateado da aura em sua mão.

- Adeus, Tiago. - ela disse num sussurro, abrindo a mão.

O cordão caiu sobre o peito do rapaz e, pouco depois, o moreno desapareceu. Ao longe, o sol finalmente começava a se pôr.

Por toda a minha vida eu vou te amar

- Sirius esteve comigo. - ele disse simplesmente, observando os olhos dela. Mas ela continuou em silêncio - O que ele disse é verdade?

Lílian se levantou, dando as costas a ele. Não tinha forças para mentir dessa vez. Tiago sorriu. O silêncio dela, para ele, era resposta suficiente. Ele deu mais um passo e, para sua surpresa, conseguiu se mover. Um soluço escapou dos lábios dela e Tiago mordeu os lábios, aproximando-se novamente até ficar diante dela.

- Lily...

- Sirius contou tudo a você, não? - ela voltou-se para ele - Porque está aqui então?

- Você acha que é tão fácil esquecer? Será que não conseguiu entender, depois de todos esses anos que eu AMO você?

- Tiago, por favor, vá embora. Desista. Procure outra pessoa que possa...

- E você acha que eu não tentei? - ele perguntou encarando-a com insistência - Você acha que eu não tentei me livrar da sua lembrança, que não tentei... Merlin, eu quase enlouqueci, Lily. Eu tentava me concentrar nas suas palavras, tentava ficar com raiva de você...Mas eu não consegui.

Ele levantou a mão, como se fosse limpar as lágrimas que escorriam pelo rosto dela. Mas Lílian deu um passo para trás.

- Desista, Tiago. - ela pediu num sussurro.

- Eu não vou desistir de você, Lily - ele retrucou, anormalmente sério - Nunca. Nem que o troco seja a morte, eu quero você. E eu não me importo se...

- MAS EU ME IMPORTO! - ela gritou, não deixando que ele continuasse - Vá embora, Tiago. Por Deus, VÁ EMBORA!

Ele suspirou enquanto ela mirava nele os olhos verdes, agora extremamente vermelhos. Ele assentiu com a cabeça, voltando para a porta.

- Eu vou, Lílian. Mas essa história ainda não terminou. - ele sorriu de leve - Tenha certeza que não vai se livrar de mim tão fácil...

Ela ficou novamente sozinha. Encostando a cabeça na parede, por entre as lágrimas, um tênue sorriso apareceu.

Em cada despedida, eu vou te amar

- Não me chame de Ninfa... Esquece. - a morena respirou fundo quando sua mãe desapareceu no corredor.

- Parece que você tem a quem puxar, não? - Remo observou quando ela lhe entregou os últimos pergaminhos que estavam no chão.

- É verdade. - ela respondeu simplesmente - Está aqui por causa da Ordem?

- Como? - ele perguntou assustado.

- Por causa do meu dom, Dumbledore decidiu me colocar sob a proteção da Ordem. Ele acha que eu posso estar em perigo se alguém descobrir que além de ser filha de um trouxa, eu sou uma metamorfomaga.

Remo assentiu, observando os olhos dela agora que Tonks finalmente levantara a cabeça para ele. Dessa vez eles estavam tão azuis quanto os de Sirius e Andrômeda. Sem perceber o que estava fazendo, Remo se inclinou levemente, roçando os lábios da garota, que o observava surpresa. Mal ele se endireitou, a mãe da garota ressurgiu.

- Bem, Lupin, foi um prazer conhecê-lo. Vamos, Ninfadora.

Dessa vez a garota não se deu ao trabalho de contestar o nome, apenas seguiu a mãe em silêncio, sem entender o que acontecera. Remo observou ela desaparecer antes de seguir pelo corredor que o levaria até Dumbledore.

Desesperadamente, eu sei que vou te amar...

- Eu sou ridículo, não? - Sirius deu uma risada que mais parecia um soluço - Nunca pensei que chegaria o dia em que eu choraria por uma mulher.

- Você se acostumou a fazer chorar. - Susan respondeu tristemente.

Ele observou a moça por alguns instantes. Distraidamente, ela começou a fazer cafuné nele.

- Eu fiz você chorar também, não foi, Susan?

Ela piscou os olhos por alguns instantes, surpresa. Sim, chorara muitas vezes por causa do moreno, mas jamais revelaria o que sentia por ele. Sem que ela se desse conta, Sirius endireitara o corpo, aproximando-se ainda mais dela. Susan só saiu de seus pensamentos quando sentiu os lábios do rapaz colados aos seus.

Ele a abraçou com cuidado, sentindo-a tremer sob seu beijo. Por alguns instantes eles estiveram assim até que a morena se separou, levantando-se, o rosto extremamente vermelho. Sirius estava bêbado, ele gostava de Camille e a situação sairia de seu controle se continuasse por muito tempo. Susan caminhou de um lado para o outro, sob o olhar observador de Sirius, encostando-se à porta de seu quarto.

- Sirius, eu...

Ele levantou-se, caminhando até ela, colocando o dedo sobre os lábios para silenciá-la.

- Por favor, Su... Cuida de mim...

Os olhos dela alargaram-se em choque, mas suas últimas resistências se foram quando ele voltou a enlaçá-la pela cintura, levantando-a a alguns centímetros do chão enquanto a beijava. Susan sentiu a porta do quarto se abrir sob seu corpo e Sirius caminhar para dentro do quarto escuro, cerrando-a novamente.

E cada verso meu será...

Ele entrou rápido, assustando-se com o silêncio que havia na casa. A porta do quarto estava cerrada. Tiago atravessou a sala, abrindo-a. Uma nuvem de vapor saía do banheiro, junto com o barulho do chuveiro. Sorrindo, ele entrou no banheiro.

Lílian não o percebeu, já que estava com a cabeça sob a água. Através do box enfumaçado, ele pôde observar o corpo da namorada, o corpo que tanto adorava e que por tantas noites dormira próximo ao dele. A ruiva desligou o chuveiro, puxando uma toalha para enrolar-se, ainda sem se virar para ele. Mas Lílian já sentira a presença de Tiago.

Lentamente, ele levantou a mão, colocando-a sobre o vidro, na altura da face dela. Lílian fechou os olhos tentando se lembrar como era sentir os dedos dele sobre sua pele. Ela também levantou a mão, colando-a a dele, embora o vidro os separasse.

As lágrimas começaram a correr, juntando-se à água que escorria dos cabelos encharcados. Ela afastou-se, abaixando a mão.

- Saia, Tiago.

- Lílian...

- SAIA AGORA!

O rapaz respirou fundo, dando as costas a ela.

- Eu estou te esperando no quarto.

Ele saiu do banheiro e a ruiva encostou-se na parede, escorregando para o chão, sentindo como se estivesse se partindo por dentro.

Sentado na cama, Tiago apoiou os braços sobre os joelhos, escondendo o rosto com as mãos. Se Voldemort os tivesse matado, não seria tão doloroso... Enquanto não tivesse a ruiva de volta, ele jamais poderia ser ele mesmo.

- O que está fazendo aqui? - ela perguntou ríspida, saindo do banheiro - Eu já disse que...

- Eu tenho que repetir, Lily? Eu não vou desistir de você.

- E o que pretende fazer? - ela perguntou cruzando os braços.

- Eu conheço alguém que pode nos ajudar, que conhece a Thanatus.

Os olhos dela brilharam, febris. Ela sentiu a boca secar de nervosismo. Tiago estaria falando a verdade?

- Quem?

- O fantasma de meu antepassado, fundador da família Potter, o Conde de Saint-Germain.

...pra te dizer que eu sei que vou te amar...

Tiago acordou quando os primeiros raios de sol começaram a inundar o aposento. Tirando os óculos, ele esfregou os olhos com força. Quando sua visão voltou ao normal, ele divisou as formas translúcidas de Lady Glamis contra a luz. Todo o castelo estava mergulhado no silêncio.

- Onde está Lílian? - ele perguntou para a fantasma.

- No quarto em frente. - ela respondeu.

O rapaz levantou-se num pulo, indo para o quarto onde a ruiva passara a noite. De algum ponto de suas confusas memórias da noite anterior vieram gritos, que ele sabia pertencerem a Lílian. Ele levou a mão à maçaneta. E se tivesse acontecido alguma coisa enquanto ele dormia? E se Lílian estivesse morta? Balançando a cabeça com veemência, Tiago abriu a porta.

Sentada no chão em meio a uma poça de sangue, estava Lílian. Ela tinha arranhões por todo o corpo e respirava entrecortadamente, apoiando-se no pé da cama. Ao ouvir a porta se abrir, Lílian levantou a cabeça. Seus olhos estavam vermelhos, o cabelo pregava-se em seu rosto suado, ainda marcado de lágrimas.

Tiago aproximou-se lentamente, ajoelhando-se ao lado da garota, sem se importar com o sangue. Ele levantou a mão, deixando-a a milímetros da face dela, encarando-a. E se não tivesse dado certo? E se...

Mandando as precauções às favas, Tiago tocou o rosto dela. A ruiva fechou os olhos, deixando uma lágrima se misturar ao riso cansado. Ele acariciou a face dela por alguns instantes, sentindo-se explodir de felicidade, os lábios curvados num misto de riso e suspiro enquanto começava a chorar.

- Lily! - ele exclamou alegre, abraçando-a com força.

Ela retornou o abraço, escondendo o rosto no pescoço dele. Como ansiara por aquilo, como pedira aos céus para voltar a tê-lo tão perto de si...

Tiago finalmente a soltou, beijando todo o seu rosto, sentindo o gosto salgado das lágrimas de ambos até finalmente encontrar os lábios da ruiva. Lílian se deixou perder num mar de sensações que conhecia muito bem e que sabia que apenas Tiago era capaz de fazê-la sentir.

Quando finalmente se separaram, mais por falta de ar que por vontade, ela passou a mão sobre os olhos dele, limpando as lágrimas. Nunca tinha visto o rapaz chorar, e mesmo quando o magoara ou quando estavam separados, ele sempre fora forte. E agora, ali estava ele, como um bebê chorão...

- Eu nunca tinha te visto chorar...

- É de felicidade. - ele respondeu num sussurro, aproveitando a sensação de cada toque dela - Eu te amo demais, pimentinha.

- Eu também te amo, Tiago. - ela disse com um sorriso - Amo tanto que até me assusta.

Por toda a minha vida...

Sirius acordou pouco depois de o sol ter nascido. Por alguns instantes ele se perguntou onde estava, mas as lembranças da noite anterior voltaram quando ele viu a cabeça de Susan repousando sobre seu peito, os cabelos castanhos espalhados pela cama.

Com cuidado para não acordá-la, ele se levantou, vestindo-se rapidamente, observando a morena dormindo. Susan tinha um ar tão inocente... Ele sorriu com esse pensamento ao observar num espelho os vergões avermelhados de suas costas que as unhas dela tinham deixado. Bem, não tão inocente...

Ele tirou a varinha do bolso, conjurando uma rosa e depositando a flor num vaso junto a cama da italianinha. Não queria que ela achasse que a estava usando, que aquela noite fora apenas um erro de um bêbado. O moreno debruçou-se sobre o corpo da jovem, roçando os lábios dela levemente. E, ainda sorrindo, deixou o quarto.

Eu sei que vou chorar

- SURPRESA!

Do alto do bolo saíra Lílian, vestida num colant negro, meias arrastão, e um par de graciosas orelhinhas de coelho cor-de-rosa. Além, é claro, do rabinho de pom-pom.

- Li-lily?

- Não, Tiago, querido, apenas uma visão causada por sua imensa bebedeira. - ela inclinou-se dando um selinho nele e saindo do bolo.

Todos os rapazes tinham parado, e olhavam para ela assustados. De algum ponto do salão, veio a voz de Selene, magicamente ampliada.

- Dormire!

Um a um eles caíram no chão e logo a música foi substituída por uma orquestra de roncos que mais pareciam moto-serras. As garotas se aproximaram de Lílian, Emelina estendendo para a amiga a capa que a ruiva tirara.

- Parece que agora é hora de a gente ter a nossa festinha, não? - Marlene sorriu - Vamos, Camille está nos esperando com chá e doces.

- Pobre Tiago. Você podia pelo menos deixar um bilhete para ele não achar que vai ser deixado no altar, Lily... - Selene piscou o olho.

- Hum... Não. Um pouquinho de ansiedade sempre é bom. Vamos.

As outras assentiram e, em instantes, todas tinham aparatado.

A cada ausência tua eu vou chorar

- Minha pimentinha... - ele sorriu ao vê-la contorcer o rosto - sabe, eu às vezes me pergunto se você me enfeitiçou, ou coisa do tipo, já que não entendo como alguém pode amar tanto. Porque eu amo cada sorriso seu, cada olhar repleto de alegria, cada fungada da sua alergia. Amo irritá-la para ver você corar e depois poder pedir perdão. Amo sua amizade, e até seus achaques e piripaques. Amo esses cabelos cor de fogo, esses olhos brilhantes... Amo fazer amor contigo todas as noites, tê-la sempre entre os meus braços, sempre perto de mim. Amo vê-la cozinhando pra mim, amo ajudá-la enquanto isso e amo até mesmo ir de vez em quando para a panela em seu lugar, só para ver seu rostinho surpreso. Amo cada linha que escreves, cada nota que cantas, cada suspiro que dás. Amo cada parte do teu corpo e da tua alma, amo você mais do que posso suportar, e se te amasse menos, não seria eu. Amo você com cada fibra e pensamento e a única coisa que preciso para ser feliz é tê-la ao meu lado.

Ele beijou a mão dela levemente antes de colocar a aliança. Lílian respirou fundo tentando não chorar ou não seria capaz de fazer seus votos.

- Você não me deixou muita coisa para dizer, meu caro Pontas. - ela sorriu - E se alguém aqui tivesse sido enfeitiçado, tenha certeza que fui eu a vítima. Eu escondi por muito tempo o que sentia, mas uma vozinha muito chata intiulada consciência sempre repetia que aqueles duelos verbais eram mais do que raiva. E tudo o que você fazia e falava era o suficiente para me deixar totalmente confusa. Mas, ao final das contas, eu descobri que não pudia fugir do que sentia, não podia simplesmente dar as costas a esse sentimento. Eu tinha medo de me apaixonar, porque sabia que quando isso acontecesse eu ia me entregar por completa. E foi exatamente o que aconteceu. E eu não me arrependo disso. Já passamos por poucas e boas juntas e, se quer realmente saber, eu passaria por tudo de novo se tivesse você ao meu lado. A vida é realmente irônica, não? Eu que jurava para todos que preferia sair com a lula gigante do que com você, estou aqui, agora, olhando nos seus olhos e repetindo o que já está cansado de saber. Eu amo você, Tiago Potter. E você vai me ter pra sempre, porque eu também não consigo imaginar numa vida sem a sua existência!

Mas cada volta tua há de apagar

Mas para que se importar? Agora já era tarde demais para voltar atrás. Ele olhou para o braço, que ardia terrivelmente. Lá estava a marca negra. Finalmente fora "digno" de recebê-la. Em troca dela, ele seria assombrado eternamente pelo olhar de ódio de Edgar, pelas lágrimas de Camille e pelo sorriso inocente da pequena, que continuara dormindo, mesmo quando seus pais caíam mortos no chão.

O que esta ausência tua me causou

- Ela quer vê-lo, meu filho. - Míriam sussurrou para Tiago.

O moreno se levantou lentamente, ajeitando os óculos sobre o nariz e fechando atrás de si a porta que o separara de Lílian. A sala estava numa penumbra confortável. Os dois únicos pontos de luz vinham das mesas ao lado da cama em que a ruiva estava recostada, tendo em seus braços uma pequena trouxinha. Ela ergueu a cabeça quando o pressentiu.

- Ei, Harry, olha o papai. - a voz dela saiu suave, quase como uma canção de ninar.

Tiago se aproximou de mansinho, notando olhos intensamente verdes a observarem-no. Mas não eram os olhos da esposa. Eram os olhos do seu filho. Harry ergueu as mãozinhas rechonchudas, um sorriso nos lábios pequenos. Lílian estendeu o bebê para Tiago, que o pegou com um certo medo. Harry tentou tocar seus óculos, deixando nas lentes as pequenas marcas de suas digitais.

- Bem vindo ao mundo, Harry, meu filho. - o moreno disse com a voz embargada, sorrindo para o pequeno em seus braços e para mulher que contemplava a cena muda, os olhos brilhantes de lágrimas - Bem vindo.

Eu sei que vou sofrer...

- Sirius, você tem... - ela ouviu a voz tremer, mas em seguida falava com segurança de novo - Você tem que se acalmar. Nem tudo está perdido ainda e...

Ele ergueu a cabeça e Susan se surpreendeu ao perceber que ele lhe lançava um olhar raivoso.

- Calma? Como eu vou ter calma com tudo o que está acontecendo? Como eu vou ter calma sabendo que tenho um amigo que está me traindo...

- Remo não está te traindo, Sirius, pelo amor de Merlin, abra os olhos! Ele é seu amigo! Nunca Remo os trairia!

- Remo É UM TRAIDOR! Você não pode estar defendendo ele!

Ela se levantou, tremendo.

- Você está cego, Sirius! Está deixando de confiar em alguém que esteve ao seu lado mesmo nas maiores burradas... Lamenta a covardia do seu irmão pelos motivos errados, como se Régulo devesse ter ficado ao lado dos comensais até o fim para provar sua coragem... E chora por uma mulher que nunca, NUNCA te amou! Você está criando problemas atrás de problemas, e na maior parte, são apenas problemas imaginários. Pare de agir como uma criança!

Foi a vez de Sirius se levantar. Ele era bem mais alto do que ela, mas mesmo assim, Susan não desviou o olhar por um instante sequer. Sem que mais nenhuma palavra fosse dita, ele abriu a porta do apartamento, batendo-a com força ao sair, enquanto Susan finalmente se deixava abater, caindo sentada no chão, dando livre curso a todas as lágrimas.

A eterna desventura de viver

Lílian se precipitou para fora da tenda, caminhando pelas ruas cheias de aurores, apressada. Havia ainda muitos corpos a recolher. Sem se importar com nada, a ruiva continuou a seguir por entre os escombros, um sentimento de urgência. Ela lembrou-se do sonho que tivera. Fora uma visão. Mais uma maldita visão.

Chegou afinal aos escombros da casa de Selene, num beco afastado no fim de uma das ruas mais escuras do bairro bruxo. O lugar estava deserto. Febrilmente, ela começou a procurar. As mãos delicadas arranharam-se aos primeiros blocos de concreto que arrastaram. Nem por um momento, Lílian lembrou-se de usar a varinha.

Tão desesperada estava que não percebeu quando um vulto se aproximou até ser brutalmente erguida pelo braço.

- Lílian, o que pensa que está fazendo? - Tiago perguntou preocupado - Esse lugar é perigoso! Volte já para a tenda.

- Susan, Tiago. Susan estava aqui. - ela falou, sem prestar atenção nas palavras dele - Por favor, me ajude a encontrá-la, por favor...

O moreno olhou-a com tristeza e virou-se para outro vulto que se aproximava.

- Sirius, vá buscar uma equipe de buscas. Rápido!

O rapaz assentiu e poucos instantes depois a área era cuidadosamente vasculhada. Lílian chorava baixo, encostada ao peito de Tiago. No fundo, ela sabia que não adiantava procurar Susan ali. A aura dela... A aura de Susan tinha desaparecido completamente. Sirius aproximou-se novamente.

- Quem estava aqui?

Um outro auror veio até eles, avisando o fim das buscas. Lílian tentou se soltar de Tiago, cambaleante. Não podia... Pelo menos o corpo dela tinha que estar ali...

- Ela estava aqui, Selene disse. Vocês precisam continuar procurando.

- Lily, não há ninguém aqui. Se Susan realmente esteve nesse lugar... Não há mais nada que possamos fazer.

Sirius sentiu-se congelar. Susan estava ali? Era Susan que estavam procurando? Ele ouviu a voz de Lílian vir de muito longe.

- Ela não pode ter morrido... Por favor, me diga que isso é só mais um estúpido pesadelo.

Tiago não respondeu, mas a face dele era mais do que suficiente. Ele também estava cansado de perder aqueles que amava. Cansado... Cansado de toda aquela estupidez. Cansado de lutar e sempre acabar daquela mesma maneira... sem nada poder fazer.

Sem outra alternativa, Lílian voltou a jogar-se nos braços dele. Não era um pesadelo. Aquela era a realidade. E ela não podia fazer nada, NADA, para mudar aquilo. Nada...

- Sirius... - ela balbuciou entre as lágrimas, levantando a cabeça.

O rapaz estava a poucos metros deles, tentando assimilar a perda de Susan. A caixa com a aliança que comprara parecia pesar terrivelmente em seu bolso. Ele se aproximou, transtornado pela dor.

- O que quer, Lily?

- Ela me fez prometer que não contaria... Mas você merece saber. Você tem que saber...

- Do que está falando, Lily? - Tiago perguntou.

- Susan, ela estava... Ela estava grávida, Sirius. Grávida... de você.

Sirius sentiu o mundo rodar sob seus pés e tudo escurecer. Aquilo não podia ser verdade, podia? Susan morta... Susan grávida... Um filho... Seu filho... Morto...

À espera de viver ao lado teu

- Lily?

- Sim, Tiago? - ela respondeu com a voz doce, erguendo a cabeça, fixando os olhos intensamente verdes nos dele.

- Nunca mais se afaste de mim. Nunca mais... Por favor.

- Tiago...

- Eu não suportaria, Lily. Não suportaria perdê-la. Não suportaria sobreviver a você. Prometa que nunca mais vai se afastar de mim.

A ruiva passou a ponta dos dedos pelo rosto do rapaz e ele fechou os olhos, apreciando a carícia. Calmamente, ele levou a mão dela aos lábios, beijando-a.

- Eu sei que pode ser egoísta da minha parte, mas eu não quero ter que chorar sua perda. Eu não sobreviveria a isso, Lily. Eu te amo demais para deixar que se vá.

Os olhos verdes dela brilharam com as lágrimas e ela se aconchegou um pouco mais ao corpo do rapaz.

- Eu também não suportaria mais viver sem você, Tiago. Por mais absurdo que seja dizer isso, eu gosto até da sua arrogância, das nossas discussões... - ela sorriu - Eu também te amo. Mais do que jamais pude imaginar. E vou amar sempre.

Por toda a minha vida...

O ambiente era sombrio, cortado apenas pela luz fraca da lua que se infiltrava pelos vitrais. Pedro observou a velha igreja com atenção. Não era seguro, por hora, se encontrar com seu mestre. Por isso, escolhera aquele lugar para que um dos comensais que sabiam de sua existência ouvir suas informações e levá-la para o Lorde. Bastava que a Ordem soubesse que havia um traidor, não era preciso também que ele desse bandeira de quem realmente era.

O rapaz quase riu com a contradição da cena. Igrejas deveriam ser lugares de arrependimento e perdão. E ele estava ali, pouco depois de ter deixado a companhia de seus amigos, para traí-los. Um som difuso venho de algum lugar da escuridão. Alguém aparatara.

- E então, Rabicho, alguma novidade?

O comensal se aproximou com grandes passadas.

- Dumbledore foi visitar os Potter hoje. Já sabem que o Lorde está atrás deles. Descobriram o plano do St. Mungus.

O homem parou, obviamente curioso.

- Como ele pode saber? Isso é informação restrita... A não ser que tenhamos um espião em nosso meio... Você não seria um agente duplo, não é, Rabicho?

Pedro se sentiu gelar.

- Nã-não, eu jamais, ja...

- É, eu sei que não. Você é covarde demais. Bem, se é tudo, até a próxima, Rabicho.

O comensal desapareceu e Pedro olhou com raiva o ponto em que ele estivera há pouco. Como podia mudar de sentimentos em tão poucos minutos? Talvez porque todos o acusavam de covarde.

- Eu não vou me arrepender. Muito em breve serei tão grande quanto todos que me humilharam. Não importa o quanto isso custe.

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento

Ela se lembrou da voz de Chaos."Nunca se esqueça que a Antiga Magia é uma magia de sacrifícios. Sempre que usá-la, estará sacrificando algo para ela. Talvez não tenha percebido... Ou só agora tenha entendido... Depois do que viu e ouviu essa noite, só use sua magia quando for estritamente necessário. Ela pode se voltar contra voc."

- Eu não me importo mais comigo, Tiago. Mas eu quero que você e Harry sobrevivam. Eu sacrificarei o que for necessário para fazer o feitiço.

Novamente, ela deitou a cabeça no ombro de Tiago. Harry virou-se na cama, engatinhando até os dois e caindo sentado diante deles. Tiago deixou escapar um riso, e libertou uma mão para afagar o filho, enquanto com a outra segurava Lílian protetoramente pela cintura.

- Daqui a duas semanas vai ser nosso aniversário de casamento.

- O dia das bruxas... - ela riu - Só você mesmo para querer se casar no dia das bruxas... Entre os trouxas, isso provavelmente seria considerado um mau presságio.

- Nosso destino está ligado ao dia das bruxas, Lily. - ele respondeu - Começamos a namorar no dia das bruxas, casamos no dia das bruxas... Porque seria um mau presságio?

Ela deu de ombros e levantou-se. A campainha tocou nesse exato instante. Logo a voz de Sirius preencheu a casa alegremente.

- Eu estou subindo! Espero que estejam decentemente vestidos até eu chegar aí.

Tiago riu, balançando a cabeça e Lílian abriu a porta do quarto, recebendo o amigo com um sorriso.

- Você tem uma mente muito poluída, sabia?

- E você é uma santa?

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor, hei de espalhar meu canto

E rir meu riso, e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou ao seu contentamento

- Você não presta.

- Eu tenho plena consciência disso. Nesses sete anos, você nunca me deixou esquecer disso.

- Mas eu te amo. - ela retrucou, divertida.

- Eu também. Quem não me amaria? - ele tirou o avental - Eu sou o máximo...

Ela rolou os olhos.

- Ai, Merlin, porque comigo?

Tiago voltou a abraçá-la.

- Porque se não fosse com você, não seria com mais ninguém.

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

- E então, está feliz?

Ela riu.

- Que tipo de pergunta é essa, Tiago?

Lílian fixou os olhos nos dele e percebeu o semblante sério do rapaz. Ele segurou uma mecha do cabelo ruivo e começou a brincar com ele, enrolando-o entre seus dedos.

- Estamos juntos há tanto tempo... Eu sempre me perguntei se você era feliz comigo. Mas nunca tive coragem de verbalizar esse pensamento. Mas eu queria saber...

Ela o calou colocando os dedos sobre seus lábios.

- É claro que eu sou feliz com você, Tiago. Eu te amo, e isso é suficiente para mim. Por toda a eternidade. Se eu morresse nesse exato instante, só me arrependeria de não ter aceitado o que sentia mais cedo. Mesmo nos momentos mais difíceis que tivemos de enfrentar... Eu fui feliz pelo simples fato de ter você ao meu lado.

Tiago puxou ela para seu colo, beijando a testa da ruiva ternamente.

- Eu sinto muito...

Ela levantou os olhos para ele.

- Do que está falando?

De repente, a temperatura pareceu abaixar. Mesmo o fogo na lareira parara de crepitar. Tiago segurou a mão dela, levantando-se e ela percebeu a aura dos dois se confundir. E as cenas do sonho que tivera naquela manhã voltaram a sua mente. Ele a puxou novamente para um abraço, num beijo urgente, antes de separar-se bruscamente, empurrando-a na direção da escada.

- Lílian, leve Harry e vá! É ele! Vá! Corra! Eu o atraso...

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

A noite estava escura como breu; não havia sequer uma estrela no céu. Talvez os deuses soubessem o drama que se desenrolava naquele lugarejo escondido, ou talvez fosse só uma coincidência. Fosse como fosse, havia uma tristeza mal disfarçada no ar. A magia chorava a perda de sua guardiã.

Mas Sirius ainda não sabia de nada disso quando pousou a moto no caminho florido apesar da proximidade do inverno, obra da magia de Lílian. Podia sentir, mas não conseguia acreditar. Mesmo diante das ruínas do casarão que abrigara seus amigos, ele não podia, ou não queria entender o que acontecera.

Uma silhueta gigantesca levantou-se das ruínas com um pequeno embrulho que gemia baixinho em seus braços. Hagrid. Sirius imediatamente desmontou da moto e caminhou até o homem, tendo os olhos levemente embaçados. As poucas luzes acesas da rua atrapalhavam sua visão.

- Hagrid, onde eles estão? Onde eles...

O gigante apenas abaixou a cabeça como resposta e Sirius sentiu o desespero crescer em seu peito. Era mentira. Tinha que ser mentira. Um pesadelo... Dali a pouco ele ia acordar e ia encontrar Tiago deitado na cama ao lado, roncando, enquanto Remo acabava de se arrumar e Pedro tentava se erguer depois de cair da cama pela décima vez. E depois eles desceriam para o salão principal e Lílian estaria lá para gritar com Tiago, e Camille usaria um dos objetos de seu pai para afastá-lo. Susan estaria com seus recortes, Emelina iria para a mesa da corvinal tomar café com Fábio... Tudo estaria bem, na segurança de Hogwarts, sob as vistas de Dumbledore.

Eu sei que vou sofrer...

"Às minhas caras amigas:

Este é um mundo muito mau, não é mesmo? Nunca sei se volto viva quando de casa saio. Mas não importa. Nada importa quando fazemos aquilo que gostamos. Por isso não me importam os riscos, eu os enfrentarei para ter a companhia de vocês.

Não sei se já pararam para pensar, mas amigos são a família que nos permitiram escolher. Não é necessário que tenhamos o mesmo sangue. Sangue não significa afeição. Mas o espírito... Sim, são irmãos de alma os nossos amigos. Muitas vezes a ligação é tal que não se precisam palavras para compreender o que o outro pensa. É palpável a alegria, a tristeza, a dor. Percebemos através dos sorrisos que algo o corrói, através das lágrimas, um pouco de alívio.

Mas, apesar de todo o amor que sentimos por esses "amigos-irmãos", algumas vezes os machucamos e somos por eles machucados. Sempre é assim entre pessoas que têm uma amizade tão profunda como a nossa. Muitas vezes brigamos para cinco minutos depois nem lembrarmos mais o porquê. Ou então, brigamos por preocupação. Dificilmente criamos confusão se não temos certa afeição. Lílian e Tiago são, decididamente, os maiores exemplos disso.

É um bocado difícil reconhecer nossos erros. Pior ainda é pedir perdão por eles, revelar ao mundo nossa imperfeição. Mas, aos nossos amigos, não apenas pedimos perdão como, muitas vezes, relevamos os erros deles. Não foi à toa que Camões disse que o amor (seja ele fraterno, enamorado ou amizade) "é ter com quem nos mata lealdade", pois não importa o quanto errem conosco, nosso amor, nosso carinho, nossa afeição estará sempre ali, firme, imensurável, indescritível.

Assim é quando encontramos verdadeira amizade. Quando sabemos que, não importa o que aconteça, teremos alguém para nos ajudar e que ajudaremos, que nos acompanhará e a quem faremos companhia, que nos compreenderá com um olhar ou um toque e a quem entenderemos com menos de um sussurro.

Sei que tem sido difícil nos vermos nos últimos tempos. Acho que só nos encontramos nas reuniões da Ordem nesses últimos dois anos. Tem sido muito difícil organizarmos reuniões festivas com uma guerra acontecendo. Mas ainda assim, quero que saibam que me preocupo com todas e que minha grande alegria nos últimos tempos tem sido lembrar da época em que estávamos sempre juntas. O que me motivou a escrever essa carta dramática? Bem, em primeiro lugar, foi a morte de alguns de nossos antigos colegas numa emboscada semana passada, em Kent. Descobri que podia amanhecer amanhã e me arrepender de nunca ter dito isso a vocês. Em segundo lugar, foi o reencontro com um antigo álbum de fotografias que reproduzi e estou mandando como presente para vocês junto com essa carta.

Espero que possamos tirar ainda muitas fotos felizes como essas, que possamos completar nossos álbuns e sair de toda essa confusão vivos.

Beijos,

Susan Timms Matteotti."

A eterna desventura de viver

Silêncio... Um som de muitos significados. Alegria, raiva, frustração, dor... Remorso. Ele os traíra. Machucara-os, fizera eles sofrerem... E, por fim, matara-os. Seus amigos. Poderia considerá-los ainda amigos? Que direito tinha ele, um traidor, de usar essa palavra?

Tiago, que sempre o defendera. Lílian, com seu sorriso sincero, sempre pronta a ajudar, mesmo quando não suportava os marotos. Sirius... Sirius, o amigo de todas as horas... Matara os dois primeiros. E entregara o último a Azkaban. E o que era Azkaban, se não algo pior do que a morte?

À espera de viver ao lado teu

Sirius relutou antes de deixar o ônibus que o levara até a ilha. Finalmente ele pisou em Azkaban e, quase que imediatamente, as lembranças começaram a vir. Os olhos dele se estreitaram e o corpo paralisou-se, enquanto ele revivia alguns dos piores momentos de sua vida.

- Espero que se divirta muito com seus novos companheiros, Black. - um dos aurores o empurrou ao chão - Alimente-se bem, quero você saudável por um bom tempo, para dar aos dementadores tempo suficiente para se arrepender até o inferno do que fez.

O moreno voltou a ficar sozinho e viu um dementador se aproximar. Ele ouviu Dumbledore anunciar a morte de Camille ao mesmo tempo que a voz de Lílian soava, dizendo que Susan esperava um filho dele. Mas, diante de seus olhos, estavam novamente as ruínas da casa dos Potter em Godric's Hollow.

Por toda a minha vida...


Agradecimentos e coisas do tipo, no próximo e último capítulo dessa saga...