O Real Pesadelo

Voaram rapidamente, com a vassoura executando todo o caminho, parecendo não perceber que carregava carga duplicada. Quando pousaram em uma floresta com cara de pântano, o Sr. Weasley falou, quase sem emitir som:

- Estou indo buscar os outros. Por favor, mantenha-se escondido. Faça parecer que a vassoura voltou sozinha, se é que ele ainda não o viu.

E com um "pof" que se perdeu pelas árvores murchas, o Sr. Weasley se foi.

Harry adentrou a fortaleza, pé antipé, tentando descobrir onde Voldemort estava.

Começou a guiar-se por gritos de "não sei do que está falando!", originados de algum lugar acima de sua cabeça. Encontrou uma escada em caracol e subiu-a. Foi parar em um lugar assimétrico, donde estalactites pendiam, ameaçadoras, do teto baixo. O chão parecia de mármore e coberto por uma grossa camada de poeira e de restos de algum animal. Harry seguiu em frente, já que era o único lugar para onde poderia dirigir-se. Mais a diante, o caminho bifurcava-se em duas passagens curvilíneas e inclinadas. Harry precisava de um grito, qualquer sinal de Remo para orientar-se. Parou e apurou os ouvidos, tentando ouvir mais que as batidas rápidas do seu coração desesperado. "E se ele morreu?"- Perguntava-se Harry, em pânico. Foi quando ouviu um arrastar assustador às suas costas. "Nagime?"- perguntou ele, em seus pensamentos.

Virou-se e apontou a varinha. Quando a criatura entrou no seu campo de visão, ele julgou que desmaiaria. Não era Nagime. Era, na verdade, mil vezes pior que aquela jamais poderia ser. Não tinha pele, nem pés, nem boca a vista. Locomovia-se deslizando misteriosamente pelo chão, como se escorregasse por ele. Harry já ouvira falar sobre aquela criatura. Hermione lhe falara certa vez que essas criaturas serviam como "guardas" e que só permitiam passagem àqueles que suprissem suas exigências.

Audinorbis! - Exclamou Harry, sem conseguir deter-se.

- Temos visitas? Ora, ora, vejam só, você gostaria de passar, evidentemente? – Perguntou a Harry, e sem esperar resposta, prosseguiu – Não tenho tempo a perder, vamos direto a minha condição para que eu permita sua passagem.

- Seja mais específico.

- Eu te desafio. Quero que você me prove sua inteligência.. - Sibilou seu interlocutor, arrastando-se ainda mais para perto. - Quero que resolva uma adivinhação.

- Pode dizer...

Harry não era muito bom em adivinhações, mas, pelo menos, aquilo serviria para ele ganhar tempo.

- Essa é a coisa que tudo devora. - Começou seu desafiante, sacudindo sua sinistra mão, freneticamente.

- Feras, aves, plantas, flora. Aço e ferro são sua comida, E a dura pedra por ele moída; Aos reis abate, a cidade arruína, E a alta montanha faz pequenina.

Harry tentou não entrar em pânico. Estava perdido.

- E se eu não acertar? - perguntou Harry, tentando demonstrar firmeza.

- Se não acertar... Digamos que se você não acertar a fome de um de nós dois será saciada... E como certeza não será a sua.

Mais do que nunca, Harry se arrependia por não ter esperado lá fora. Precisava se concentrar, porém com todo aquele nervoso havia se esquecido da charada.

- Por favor, repita-o.

Sem demonstrar qualquer expressão, ela recitou: - Essa é a coisa que tudo devora Feras, aves, plantas, flora. Aço e ferro são sua comida, E a dura pedra por ele moída; Aos reis abate, a cidade arruína, E a alta montanha faz pequenina.

Harry começou a pensar em todas as coisas, trouxas ou bruxas, que tinham esse poder. Nada lhe parecia poderoso o bastante para fazer todas essas coisas.

"Eu devia ter ficado lá fora, esperando os outros e ganhando tempo". "Tempo!!!". O tempo destrói as montanhas... as pedras.. As cidades... Seria o tempo? Só podia ser!

- Tempo! - Exclamou Harry, sem pensar muito.

- Ok, pode passar. - Disse a criatura, esfumando-se no ar, como se fosse feita de vento.

Sem perder tempo atravessou o caminho que a criatura guardava, e mais uma vez passou a ouvir gritos de Lupin.

Célere, caminhou para o fundo do corredor e encontrou-se junto à porta onde Lupin e Voldemor se encontravam. Lentamente abriu-a, fechando mais que de pressa. Em seguida, escondeu-se em um vão.

Com os pés e mãos atados, Lupin estava sofrendo uma tortura mental, onde seus piores momentos voltavam à sua tela mental. Isso enfraquecia muito qualquer pessoa, tornando-a vulnerável a praticamente tudo.

Harry não conseguia ver quem um dia fora seu professor sofrer nas mãos de tão vil criatura. Remo estava sendo um herói, estava preservando a paz do mundo, tanto bruxo quanto trouxa, a um preço muito caro. Remo poderia pagar esse seu ato heróico com a própria vida. E Harry não podia permitir isso, jamais! Fora a possibilidade de Lupin acabar contando o segredo, no auge de sua dor, quando já não se raciocina mais... Isso arruinaria tudo.

Mas Harry tinha ordens de esperar chegar o resto do grupo de Aurores que o acompanhava. Porém... desde quando Harry seguia regras? Mas algo mais forte o impedia de socorrer Lupin, de enfrentar Voldemort: uma promessa. Antes de sair nessa missão, Harry havia prometido à Gina que voltaria com vida, que não se arriscaria de um modo irracional. Prometera a ela que não teria o papel principal nessa história toda: ela fizera ele dar sua palavra de que de modo algum Harry iria se colocar à frente de Voldemort sozinho. Entretanto, enquanto ele esperava os outros Aurores seu professor corria perigo, o mundo corria esse perigo, e sua Gina fazia parte disso. Era da natureza de Harry carregar o peso do mundo nas próprias costas, e não seria diferente dessa vez. Ele enfrentaria Voldemort por todas as pessoas inocentes que ele ameaçava, pela Gina, afinal, ser tão puro como ela merecia viver em paz, num mundo onde nada a ameaçasse.

Com um movimento brusco o Menino-Que-Sobreviveu saiu do lugar de onde se escondia, correu em direção do seu professor e do seu maior inimigo. Este, por sua vez, ao notar a presença de Potter, parou de proferir a Maldição Imperdoável. Remo Lupin caiu inconsciente no chão.

-Ora, ora..- começou Voldemort- vejamos se não é o herói Harry Potter mais uma vez. Você sempre se mete onde não é da sua conta Potter. Mas me agrada que você esteja aqui. Será a última vez que você poderá se dar ao luxo de me encarar, Potter.

E em poucos segundos um difícil duelo entre Harry e Voldemort começou.

Comensais que assistiam a tudo calados se afastaram ainda mais de ambos. As

varinhas, cada qual apontadas para seu adversário, davam saída a fleches de luzes, que cortavam o preto abafado daquela negra floresta. Era ódio contra ódio. Cada feitiço proferido por Harry era dito com uma intensidade que revelava o quanto ele odiava o Lord das Trevas. E com um movimento crucial, Harry atingiu Voldemort com um feitiço que vinha treinando há tempos, mas que pedia muito dele. Harry não sabia se conseguiria fazê-lo com êxito. Juntou todo ódio, toda a raiva que nutria por Voldemort, se concentrou e apontando a varinha pra ele, gritou o tal feitiço.

Mas esse ato puxou muito da energia de Harry, e antes que pudesse ver o fim daquele que era o medo personificado, Harry Potter caiu inconsciente no chão para logo depois ser cercado por Comensais.

E naquela madrugada escura e fria, a qual, além dos Comensais, apenas as corujas testemunhavam, o destino do mundo foi mudado. Nunca mais Lord Voldemort agiria de novo, nunca mais alguém se sentiria aflito só de ouvir seu nome. Chegara o fim das Trevas, todos poderiam dormir sossegados agora. O Lord das Trevas estava caído a um canto, morto.