CAP III – HUMANIDADE

Gotas

"Lágrimas...grandes gotas rolando a face

Olhos brilhantes transbordando

E o prazer de sentir-se humano

Errando, falhando, sofrendo

Cometendo e sendo acometido de injustiça

Semelhante ao pior dos malfeitores

Ou ao melhor cidadão

Mas sentindo o prazer de ser humano

Humano, humano

Como se houvesse chances de retornar e fazer novamente

Cometer o mesmo erro e sentir o prazer de te-lo comeido

Simplesmente por ser humano

Sorrir na tristeza

Chorar na alegria

Confundir e ser confundido

Odiar e ser amado

Amar e ser odiado

Mas sempre, e por prazer, ser humano

Humano

Esse ser não se entende

Esse ser não é entendido

Esse ser não é

Esse ser não

Esse ser

Esse

Humano

Ser humano."

Autor desconhecido

Parado em frente aquela rocha...não posso negar: era como olhar para Sakyamuni...tão humano em seu choro...tão deus em seu silencioso sofrimento...o semblante de alguém que só teve dúvidas em sua existência e criava agora a certeza...a certeza da more. Mesmo já tendo passado por ela.

Era provável que ele não soubesse a força interior que possuía...talvez fosse aquela sua maior provação...quem sabe agora ele perceba que os 4 sofrimentos da vida não são literais...o nascimento pode ser algo novo como a luz, a velhice simplesmente uma dura passagem, a doença bem pode estar também na alma e com certeza...não é só o corpo que pode morrer.

Os olhos de Shaka naquela incerteza que o acometia junto a surpresa prexidida...eram certamente os olhos de Sakyamuni...Shaka sem dúvida é a reencarnação de Buda. Mas também com certeza...nunca se deu conta de que, antes da iluminação, é Sidharta Gauttama...um ser humano...e mais interessante ainda pensar...que depois de ser Sakyamuni, continua sendo homem.

Perguntas estampadas no rosto dele...assim como a dor...uma dor silenciosa...o olhar fixo na certeza lembrava-se de cada momento com Jamile...a serva que sofreu ao lado do pequeno Buda provações que nem é possível imaginar. E sempre sorria...ela sempre estava muito bem...feliz, isso o que era.

Shaka permaneceu ali durante todo o dia...deixando-se abater pela queda das monções à se aquilo tivesse o poder de revigorar e lavar seu espírito...não era um transe, nem uma meditação...era o tudo e o vazio ao mesmo tempo...lembranças...e visões do futuro.

Como bom mestre permaneci ao seu lado...mesmo sabendo que ele sempre desconfiara de meu valor, eu tinha muito carinho por Shaka...agora mais ainda. Pois podia ver o quão grande se tornaria...quão grande homem...quão grande Buda. E foi com o último raio de sol que pude ver enfim a transformação causada por toda a situação...ele suspirou profundamente e uma energia pacifica e tranqüila tomou o lugar...algo incrível ocorrera com ele...e quando escutei sua voz, uma emoção sem nome tomou conta de mim...sim...era a Voz de Buda:

- Conte-me minha história, Ananda...

Virou-se para mim e sorriu...e eu me inclinei respeitosamente...e nos encaminhamos para o templo.

Era como um cego recobrando a visão depois de muito tempo...eu me sentia estranho...algo que estava presente em mim...e eu nunca me dera conta...minhas lágrimas rolaram até onde meu corpo conseguiu agüentar...então cessaram, como uma criança que chora apenas o suficiente. Apenas o suficiente...Jamile...minha mãe...nunca teve nada além do necessário para se mantes...e eu só podia enxergar o que era agora...apenas o suficiente...o suficiente para amar.

Senti a água fresca escorrer por meu corpo, forte...penetrando em cada poro...me renovando...eu voltava agora a minha verdadeira origem...eu via o sentido do Nirvana...a iluminação, causada por uma informação diretamente ligada a minha pessoa. Não, não era a morte de minha mãe o principal da profecia...mas o meu retorno...minha infância...porque naquela época eu podia vejo agora.

Com o cair da noite volto a Terra...e aquele que me guiava...a voz que eu ouvira durante toda minha vida, sumira por completo. Com tranqüilidade aceitei o fato...Era aquela a MINHA voz agora.

- Conte-me minha história, Ananda...

Senti meu cosmo se diferente de antes...Ananda se inclinou e me levou até o interior do templo.

E ele me contou...

Foram horas a fio de uma bela e comovente história...da maneira como me encontraram através da marca de Buda, e como Jamile já se encontrava deveras preparada para tal...uma vez que impôs como condição para levar-me estar sempre ao meu lado. Com esse pedido abandonara marido e um filho mais velho para viver no Tibete e, posteriormente, na Índia. Mal imaginaria ela que, em menos de 5 anos eu estaria entrando em um mundo completamente diferente: os protetores de Athena.

Aquela noite, depois da conversa, entrei em meditação. Em busca do próximo passo a seguir, apesar de estar quase certo dele. E, com uma facilidade incrível, incrivelmente poderosa, eu permaneci assim durante 3 dias.

- Mestre Shaka?...

Terminara a minha oração depois desse dias em posição de lótus. Com calma e serenidade foi que pedi ao servo:

- Arrume meus pertences, vou visitar meu pai e irmão.

O lugar não mudara em praticamente nada...exatamente como vira nos sonhos...nas visões...e mesmo eu não sabendo qual a reação dos meus parentes ao me ver ali, o motivo da perda da mãe e mulher, eu estava bem...tão bem como nuca estivera...tão leve que pareciam-me que eu flutuava ao invés de andar e parado a frente do jardim de "minha" casa esperei, tão somente...a oportunidade...mesmo porque...meus trajes naquela terra ocidental chamavam muita atenção...

- Não pode ser...Ian?!

Um homem de idade, cabelos tão brancos como puro algodão me observa...era baixo perante minha estatura...mas seus olhos, de um azul tão vivo, não podiam negar quem era...e meu nome mortal em sua boca só me fez sorrir com certeza:

- Aqui estou...

Como me senti naquele instante? Difícil dificuldade no andar chegou-0se próximo a mim...lagrimas correndo por seu rosto enrugado do tempo...tomou minhas mãos com força e também sorriu:

- Que bom que você esta bem, filho! – seu sorriso se alargou – sua mãe se preocupou muito com sua partida do Templo...mas sempre soube que iria voltar...

Porque aquilo não me surpreendeu? Porque saber que ela informara e cuidara dos entes queridos tal qual comigo não me abismou? Mas de certa forma aquelas palavras me comoveram, e eu não pude evitar...meus olhos ficaram úmidos...

- Eu apenas soube que ela era minha mãe quando...

- Isso não importava pra ela, importava?

Perguntou ele me guiando para dentro da confortante casa...e o perfume me inebriou...me emocionou...não...ela não se acometia por tais sofrimentos...e ele completou abrindo a porta...

- Não deixe que importe para você...

Tudo eram lembranças...tudo era memória...imaginei que já havia chorado o que podia, mas estava enganado. E haviam fotos...minhas fotos espalhadas na parede junto de ouras mais belas de toda a família. E, observando cada detalhe da casa pude perceber...ao final de um corredor, discretamente disposto...um oratório budista...ao lado de...uma cruz...estranha sensação aquela...e, no fim, eram essas crenças tão semelhantes.

Me convidou a sentar entregando-me um porta retrato com a última foto que tiramos juntos...

- Jeremy! Temos visitas, desça um instante!

Com as costas da mão enxuguei meu rosto...esperando que meu irmão descesse...e, no fundo eu sabia...que ele demoraria a entender a minha volta...e pensando apenas nisso, não pude prever a questão que meu pai faria...

- Ela voltou não é?

Olhei então para ele lentamente, com dúvida no rosto...demorei a retornar de meus devaneios...meu velho pai sentou-se ao meu lado e sorriu cansado:

- Voltou para Deus...

Dessa feita eu sorri tristemente...era óbvio demais minha vinda estar ligada com a partida de minha mãe.

- Ela sempre esteve em Deus, pai...sempre esteve em Buda...

Toquei sua mão enrugada.

- Aliás, não sei dizer de alguém mais próximo de Buda do que ela...

Fechei os olhos um momento...depois de saber de todas essas coisas, não havia motivo para permanecer guardando meu cosmo dentro de isso abro eles novamente...

- Mas se esta me perguntando sobre a morte de minha mãe e sua esposa...ela faleceu há 7 dias...

- Então é você meu irmão Ian...mamãe dizia mesmo que só quando ela morresse você voltaria pra cá...

Jeremy...cabelos claros...acastanhados...olhar forte...azul...firme...úmido. Senti vontade de abraça-lo, tamanha era a dor que ele sentia no coração...mas, ao mesmo tempo, a repulsa que senti vindo dele...impediu até mesmo o contato visual por muio tempo...mas, mesmo assim, levantei-me...e ele me cumprimentou...

Pude sentir ali uma mágoa muito grande...uma tristeza imensa...uma saudade imensurável...muitas coisas eles me perguntaram...muito eu também perguntei e, determinados momentos foram de completo silêncio.

Descobri que meu pai se convertera a linha budista de pensamento, assim como meu irmão...mas que não deixavam de cultuar seu Deus católico. Que minha mãe mandava noticias a eles a cada mês, e uma vez por ano os visitava...

Percebi que meu coração pedia por aquilo também...por um contato maior com minha minhas origens...para eu não me perder novamente...meu próximo passo...eu descobrira agora: aquela visita não era um fim...era um começo.

Passei o dia ali...chorei...e não fazia ha muito tempo...meus parentes também, aos poucos, se mostraram a vontade na minha presença...logo após o jantar, resolvi me retirar...

- Tem planos do que vai fazer agora, filho? Quero dizer...para sua vida.

Naquela pergunta estava incutido o que ele realmente queria saber...se eu voltaria.

- Pretendo continuar o trabalho de Buda, meu pai... e também o de minha mãe.

Jeremy sorriu, um pouco cínico...e eu resolvi brincar com ele...

- E quem sabe eu vindo mais aqui, você, irmão, não passa a conhecer o verdadeiro Buda?

E, com mais cinismo ainda, tocou meu ombro em resposta:

- Mas eu já conheço você, meu irmão...

- Ah! Mas eu não estou falando desse Buda!

Falei a ele apontando para meu próprio peito...já esperava uma resposta como aquela...e resolvi ser enigmático ao responder, tocando em seu peito e olhando em seus olhos:

- Estou falando desse Buda.

Jeremy ficou sério...e curioso, posso dizer...ao qual meu pai riu-se e abraçou-nos em conjunto. Despedi-me então, e fiz uma oração com eles antes de ir-me...e o que parecia impossível acontecera: eu saia mais leve e melhor em espírito do que entrara...

Já estava quase virando a esquina da rua quando meu pai gritou da casa:

- Ian! Você sabe o que seu nome significa?

Sorri...ora, essa fora a primeira pergunta que eu me fizera quando sonhara com minha mãe...e ele mencionara que ela quem escolheu minuciosamente nossos nomes...gritei então que não sabia...e meu pai sorrindo respondeu-me com um aceno:

- Ian...é a graça de Deus!

CONTINUA...

N/A: que cap dificil de sair!!!! Mas também quando saiu, veio com a metade do IV junto...hehehehehe... essa historia me envolve demais...mas tenho que estar inspirada pra escreve-la...ou então fica bem ruim...

Obrigada a todos pelas reviews!!! Sempre, sempre é bom o apoio de vcs!!! Mandem mais!!!

O próximo cap vai voltar um pouco a falar do Santuário...terá narração de Mu... e algumas coisinhas vão ficar no ar...acho que irão gostar!

Jeremy...Jeremias...é o nome de um profeta.

Bem, é isso! Até o próximo cap!