CAP IV – AMIZADE

"pode haver momentos na amizade em que o silêncio é preferível às palavras. Os defeitos de um amigo saltarão nítidos aos nossos olhos e será melhor fecha-los. Com freqüência, vemos a amizade como algo forte, duradouro, capaz de sobreviver a todo tipo de maus tratos. Mas este é um grave erro, pois a amizade pode morrer no instante exato de uma palavra mal-entendida. A condição para sua sobrevivência é trata-la com doçura e ternos cuidados porque é uma planta delicada e não um cardo silvestre. Não é justo esperar que nosso amigo seja mais que humano."

Marie Armand

Minha decisão já estava certa...não tinha volta...no templo eu agora apenas esperava...a visita daquele que sempre, consciente ou inconscientemente, me trazia de volta a Buda.

- Não acho que aconteceu alguma coisa, mas como ele não mandou nenhuma notícia eu vou pra lá...

- Grande Mu!!! Eu sabia que você iria entender!

Claro que eu iria entender, eram 9 cavaleiros de ouro contra mim! Como eu podia negar?

Fazia quase 15 dias que Shaka viajara para a Índia...é claro que eu me preocupara...mas conhecendo meu amigo, se algo estivesse errado, ele teria nos avisado...portanto, bem...eu sabia que ele estava! Eu só...não achava certo...ele...sumir assim.

Depois dessa "pequena reunião", os cavaleiros foram para suas casas, cuidar de seus afazeres...a não ser por Aldebaran...que permaneceu um pouco mais, com questões bastante profundas...estranhas...talvez ele soubesse, como eu, o que Shaka pretendia...

Com um sorriso bonachão ele senta-se na escada:

- Você acha que é possível prever o futuro, Mu?

- Está falando de Shaka, Aldebaran?

- Pode ser...

Nos últimos dias Aldebaran estava muito esquisito...eu não sei se por conta da...possível "perda" de mais um amigo...ou se suas visitas ao Oráculo de Delfos o deixavam, com essas questões complicadas na mente...no fim, fiquei de pé ao seu lado e respondi cordialmente:

- Já vi Shaka profetizar muitas vezes, amigo.

O cavaleiro de Touro respirou profundamente...balançou a cabeça e se levantou, despedindo-se de mim:

- Boa viajem, Mu...Mande um abraço para Shaka...diga-lhe que seu cosmo fará falta no Sanuário...

Que tipo de conversa era aquela? Como ele podia ter tanta certeza que Shaka não voltaria? E porque...porque eu evitara de pensar nisso se...era tão óbvio?

E é mesmo engraçada a maneira como as coisas acontecem...há tanto ainda para viver, é o que eu pensava observando meu amigo Aldebaran se retirando...existem tantas coisas para ver fora dos portões do Santuário...longe de toda a guerra ou lembrança dela.

Pensamentos assim simplesmente povoavam minha mente após a despedida de Kamus...e o olhar estranhamente saudoso de Shaka ao voltar para a Índia...creio que tudo era resultado do aparecimento, ou melhor, o retorno do amor às nossas vidas...o retorno de algo há tanto esquecido...da paz...tranquilidade.

Arrumando minhas coisas para a viajem percebo que sinto inveja de Shaka agora...sim, era bem provável que eu não permanecesse no Santuário...pois o que nos prendia ali era a maizade entre nós, os 12...mas, no momento em que um de nós se foi...percebemos que a verdadeira amizade não se perde assim... que podemos construir nossos sonhos...e continuarmos sempre fomos...

A única coisa que incomodava...de forma tremenda e impassível...era a saudade.

- Kikí, cuide de tudo na minha ausência.

Ele assente com a cabeça, sempre sorridente...e ao me virar o escuto:

- Mestre Mú! Mande lembranças à Shaka!

- Mandarei!

Dito isso, logo me teletransporto e posso sentir o aroma das especiarias espalhado pelo ambiente indiano...o sol estava quente, mas podia-se sentir uma brisa com cheiro de chuva que passva de quando em vez...e, qual não foi minha surpresa ao ve-lo...Shaka, em uma esquina próxima...me esperando!

Dei uma risada...ao qual ele sorriu e fui me aproximando:

- Você sempre me surpreende!

Seu olhar estava completamente diferente...a vibração de seu cosmo era quase o oposto de antes...até mesmo seus o sorriso era mais calmo...mais...sereno. E minha maior admiração não foi com o fato de que ele realmente não voltaria...mas de que naquele momento ele ERA BUDA.

- Surpreso? Não diga bobagens, Mu...você NUNCA se surpreende!

Rimos os dois com um abraço...

- Desculpe não ter mandado notícias, mas...eu realmente queria que você viesse.

- Eu percebi isso, não se preocupe...

Conversávamos enquanto ele me guiava elas ruas até o templo. E olhando o movimento foi que disse a ele:

- Você não vai mesmo voltar, não é?

- Assim como você, se retornasse a Jamiel...

Sorri, então ele sabia de meus anseios por também voltar a minha terra natal...

E depois disso ficamos por longos momentos em silêncio...dois bons amigos conversando sem palavras...

Muitas lembranças vieram...os dias em que brincávamos juntos nos jardins da Casa de virgem...as longas conversas junto dos outros...as brigas sem nexo, por pura vontade de chamar a atenção...os treinamentos árduos...E nós, Cavaleiros de Ouro, também com ouro no coração...cuidávamos uns dos outro...de ferimentos físicos...e daqueles causados por uma desilusão, por ciúme, por saudade...sempre ao unidos...foi quando houve o incidente com Aioros...e uma estranha frieza tomou o lugar...eu logo fui mandado para Jamiel e nossos destinos separados foram se unir novamente apenas na Guerra Santa contra Hades...quantas lágrimas rolaram em nossas faces nessas lutas? Quanto sofrimento? Tudo porque pensávamos nunca mais nos ver...mal acabávamos de nos perdoar...de nos entender, e íamos à morte. Foi quando a vida novamente bateu à porta...Athena nos trouxe de volta...e vivemos. Vivemos? Era essa a pergunta que me fazia agora...era essa a pergunta que fazíamos todos depois que Kamus se foi...oras, nossa missão estava cumprida, e mesmo assim a deusa da Sabedoria nos trouxe mais uma vez...para viver...

Não sei até que ponto eu pensei tudo isso sozainho ou se Shaka incutiu parte em minha mente...mas era tudo verdadeiro. Só sei que quando dei por mim, estávamos num local atrás do templo...e parávamos em frente a uma rocha...um campo bonito com uma única pedra...enfeitada com flores e frutos...oferendas...

- Esta é minha mãe, Mu...

Olhei-o com um misto de compreensão e tristeza...era esse então o motivo. Fiz uma reverencia e uma oração...e sentamos em frente ao túmulo, e ele me contou tudo o que ocorrera.

- E foi essa uma das muitas vezes que o passado mudou o futuro...

- De fato a única coisa que não nos permitimos fazer foi permanecer no passado.

- Eu não acho...

Shaka finalizava sua história mais uma vez me contradizendo...eu não estava acostumado com esse jeito dele...essa serenidade e sabedoria quase palpáveis...esperei e ouvi:

- Creio que o que nunca permitimos foi pensar no futuro...porque até então não tínhamos a possibilidade de um.

Toda a razão...meu amigo sabia exatamente o que falava...e o quanto, com isso, mexera comigo. Ainda assim, desviei do seu olhar quase num instinto para que ele não pudesse adentrar ainda mais meus pensamentos...doce ilusão.

- Hoje somos pessoas comuns...podemos enfim, fazer escolhas...e elas não irão interferir em outro futuro além do nosso...

Ele respirou profundamente e sorriu...e eu nunca sentira tamanha energia pacífica...não além do cosmo de Athena...e meus olhos se voltaram para ele novamente...úmidos:

- Eu sei o que estou fazendo, mas...qual é a sua escolha, Mu?

Subitamente me percebi um turbilhão de sentimentos me tomando arrebatadoramente...Ele me deixou assim por alguns momentos, então colocou as mãos sobre meus ombros ainda a sorrir...

- O medo do novo é inevitável, meu amigo...

E pude ver uma lagrima solitária correr em seu rosto também, enquanto dizia com palavras firmes:

- Mas chegou a hora de vivermos!

- Chegou a hora de vivermos...

Repeti com a voz entrecortada por soluços. Tentava controlar a respiração aos poucos enquanto com as mãos enxugava o pranto:

- De certa forma todos nós já percebemos isso, Shaka...

- Sim, eu pude ver...

Ele sabia de tudo! Balanço a cabeça sorrindo sem compreender muito bem...no fim, talvez ele só quizesse...

- O que esta incomodando a nós é apenas o fato de...

- Não estarmos mais sempre juntos...

Respirei fundo, então era por isso que ele quis que eu viesse...seus olhos agora estavam úmidos também...

- É...

- Mas é por isso que existem momentos como esse...

Eu não sabia dizer se algo ali me fazia ficar emotivo daquele jeito, ou se era o simples fato das circustancias...iríamos demorar a nos ver novamente, sem dúvida...mas o fato era que sempre estaríamos por perto quando acontecesse algo...e quando não acontecesse também. E me lembrei da despedida de kamus...de sua promessa...e que ele mesmo ligava toda semana para pelo menos 1 de nós...

Uma vida normal...isso o que era. Amigos, família, objetivos de vida, profissão...cada qual com sua importância e mesmo assim nenhum esquecido...e, para nós, engraçado, parecia tão difícil...

Shaka olhou para mim enquanto se levantava:

- Aceita um chá?

Sorri aceitando e fechando os olhos, e também aceitei a ajuda dele para levantar-me. Logo ele perguntou sobre todos no Santuário...ao qual respondi prontamente e animadamente. A conversa séria terminara...estava tudo bem agora, ou, pelo menos, ia ficar...

Mas pouco antes de entrar no templo, uma certa quietude pairou novamente no ar...e Shaka parou:

- Obrigado, Mu...

Olhei para ele:

- Por sempre estar me mostrando o caminho de Buda.

Não consegui entender bem o que ele quis dizer com aquilo...e ele percebeu pois sorriu divertido e colocou a mão em meu ombro...

- Obrigado...por ser meu amigo.

Eu acredito que Mu soubesse a profundidade daquelas palavras. Nos abraçamos e ele também me agradeceu...

Hoje faz mais de 1 ano que isso ocorreu.

Me encaminho pelas 12 casas...minha vez de visita-los! Já posso escutar o barulho dos italianos na casa de Câncer...Carlo fazia aniversário...

Damos mais valor ainda às coisas quando estamos longe delas...e, com isso, me emociono ao ver Aioros com seu filho no colo juntamente com Mu a me acenarem... O antigo Cavaleiro de Ouro de Sagitário da então um grito alto, cheio de saudade...de alegria...

- Olá amigo!!!

Como era bom estar era bom...

CONTINUA...

"Pequena história de uma amizade

- Meu amigo não regressou do campo de batalha, senhor. Solicito permissão para procura-lo.

- Permissão negada - replicou o oficial - Não quero que arrisque sua vida por um homem que provavelmente esta morto.

O soldado, ignorando a proibição, saiu e uma hora mais tarde regressou, mortalmente ferido, transportando o cadáver de seu amigo.

O oficial estava furioso; - Eu já lhe disse que ele estava morrto! Agora perdi dois homens! Diga-me: valeu a pena sair para trazer um cadáver?

E o soldado, moribundo, respondeu:

- Claro que sim, senhor! Quando o encontrei ainda estava vivo e pôde me dizer:

'joão...eu tinha certeza que virias'".

Autor desconhecido

N/A: Na minha singela opinião...esse não foi o melhor cap...eu quis fazer algo mais leve e acho que saiu beem leve...pra compensar o próximo...eu acho.

Espero q gostem, apesar dos pesares!!

Esse, mais que qualquer um, desejo que mandem reviews!!

Obrigada meninas pelas ótimas criticas!!! Estou extremamente contente com a aceitação desse fic...e tem gente que nem gosta do Shaka e ta lendo!!! Valeu mesmo!!!

O próximo...é o último...hunf...ou o primeiro?

Até mais!!!

Ephe-chan