Capítulo 2

Legolas e Erulissë correram de volta para a casa principal. O ar, ficou imperceptivelmente mais pesado, impediu que o vestido dela e a bata dele, ambos verdes, esvoaçassem como sempre. Ithil e Amroth seguiram o casal para o interior da mansão. As duas mortais tentaram seguí- los mas foram impedidos pelo príncipe Eldarion.

- Acho melhor vocês ficarem.

- Por que? - disse a irmã - Estão todos entrando.

- Não todos - disse ele - só os elfos. Os mortais ficaram nos jardins.

- É mesmo... - disse Laeriel - Por que será?

- Eles provavelmente foram falar com mestre Elrond. Vou ver se descubro alguma coisa. Fiquem aqui.

Elas se olharam.

- Está bem - responderam. O príncipe mal entrou na casa e elas o seguiram, tentando não serem vistas.

Elrond estava no salão do Conselho, junto com a maioria dos elfos presentes na festa.

- Senhor, sabe o que está acontecendo? - disse Legolas.

- Ainda não, príncipe Legolas.

- Sugiro que mande um mensageiro até Lórien, para ver se descobre algo. - disse Aragorn.

- Isso já foi providenciado - Elrond se virou para os elfos - Sei que suas almas estão atormentadas, mas peço que se tranqüilizem. Com certeza teremos notícias pela manhã.

Os elfos fizeram uma reverência e se retiraram para os seus aposentos. Legolas acompanhou Erulissë até seu quarto.

- Acha que algo realmente muito grave vai acontecer? - disse ela

- Não sei, mas pode ter certeza que eu não vou deixar que nada te machuque - ele beijou- lhe a testa.

Laeriel e Arwen saíram do salão em direção aos seus quartos quando encontraram Ithil nos corredores.

- O que foi, por que não está no seu quarto? - disse a princesa.

- Não estou com sono. - disse a elfa - sei que não vou conseguir dormir esta noite...

- Quer que agente fique com você?

- Agradeço a gentileza mas não será preciso. Vou pro jardim ficar um pouco sozinha. Boa noite.

- Boa noite. - disseram elas.

Aragorn, seu filho e Legolas conversavam nos aposentos reais.

- Fique calmo, Legolas. - disse o Rei.

- Não consigo. Tem algo se aproximando de nós. Eu posso sentir.

- Que som é esse? - disse Eldarion.

Os três foram até a janela.

- É Ithil - disse o elfo - Está cantando um lamento em élfico.

- É uma bela canção... - respondeu o rapaz, num suspiro.

O Rei pôs a mão no ombro de seu filho.

- Meu filho, não dependa das situações para tomar suas atitudes.

- Obrigado, pai, mas não sei se serei capaz...

- Príncipe Eldarion - disse Legolas - lute sempre pelo que você quer... e por quem você ama...

O rapaz sorriu e se retirou. Chegando em seu quarto, foi até a janela continuar a ver Ithil cantando.

- Não sei se posso ser como você, meu pai...

No dia seguinte um novo concelho foi convocado. Nele, Elrond deu a notícia.

- Uma grande peste está se alastrando por toda a Terra- Média. Porém, ao contrário das outras, ela não atinge os mortais e sim os elfos.

Murmúrios tomaram conta do recinto.

- Há algum modo de evitá- la mestre Elrond? - perguntou Amroth.

- Sim. A Senhora Galadriel mandou- nos a fórmula de um chá especial para combater- la. Até o entardecer haverá o suficiente para todos os elfos aqui presente.

Todos respiraram aliviados. O perigo aparentemente não estava tão perto. Todavia, pouco depois do meio- dia, algo inevitável aconteceu. O mensageiro mandado à Lórien desmaiara enquanto caminhava. Elrond ordenou que apressassem a feitura da chá e convocou novamente o conselho.

- Infelizmente a peste já está entre nós. - ele mandou servos entrarem com bandejas cheias de copos contendo os chás. - Há o número exato de copos para os elfos.

Cada um pegou seu copo, levando- o à boca em seguida. Erulissë pegou o seu mas estava tão nervosa que o deixou cair, derramando tudo no chão. Todos ficaram olhando para ela, inclusive Legolas.

- Tome o meu. - disse ele, estendendo o copo.

- Não. - ela respondeu - essa porção te pertence, foi destinada à você.

- Vamos tome. - ele pôs o objeto em suas mãos.

- Não quero! - ela estendeu de volta.

- Ah, vai ser assim? Está bem! - ele tomou- lhe o copo, botando todo o conteúdo na boca com um gole só. Em seguida puxou Erulissë pela cintura, beijando- a e derramando o chá de sua própria boca na de Erulissë. Chorando, ela tentou se soltar mas não conseguiu. Terminando, ele olhou- a nos olhos e perdeu o equilíbrio de seu corpo.

- Legolas! - ela segurou o rapaz meio zonzo e ajoelhou- se com ele no chão.

Amroth mediu os batimentos cardíacos do elfo.

- Estão irregulares.

- Ele foi pego - disse Elrond.

- Estou bem, estou bem. - disse Legolas se levantando, a vista ficando mais clara outra vez - foi só uma vertigem.

- Você sabe muito bem que elfos não tem vertigens - disse Aragorn.

- Bom, os outros não precisam se preocupar pois já tomaram o remédio - disse Ithil.

- Mestre Elrond - disse Erulissë - por favor mande fazer mais para Legolas! - seus olhos estavam cheios de água.

- Infelizmente não posso. O chá previne a doença, mas não cura. E o antídoto é desconhecido, assim como causou tudo isso.

- Eu sei quem foi - disse Laeriel, se manifestando. A princesa Arwen estava lá também.

- Mas o que lhes dá o direito de invadirem o conselho dessa forma? Já não basta os hobbits!? Virou moda, é?

- Pedimos perdão, mestre. - disse Arwen - Porém acho que o que ela tem a dizer é igualmente importante.

- Se for relevante, então fale.

Laeriel olhou à sua volta.

- Sou descendente do antigo povo habitante das Terras Ermas. Entre nós há uma lenda de mais ou menos duzentos anos que conta a história de um homem do nosso povo que, desejando a imortalidade, foi pedir ajuda aos elfos. Estes o ajudaram dando- lhe vida longa. Todavia, esse homem acabou por trair a confiança dos elfos que, como castigo, amaldiçoaram as terras de nosso povo, tornando- as improdutivas.

- Eu conheço essa história. - disse Amroth - Ela é verdadeira.

- Esse homem, cujo nome era Khâmul, segundo a lenda, está sempre buscando um jeito de se vingar dos elfos.

- Mas o que te dá tanta certeza de que tenha sido ele o causador de tudo isso? - disse Ithil.

- Os boatos entre meu povo. Dizem tê- lo visto caminhando pelas Terras Ermas.

- Acho que deveríamos ir até lá agora mesmo com uma tropa e capturar esse canalha! - disse Eldarion.

- Não seja precipitado. - Elrond respondeu - Mandaremos um pequeno grupo ver se descobre algo.

- Peço permissão para ir com esse grupo, mestre Elrond. - disse Erulissë.

- Erulissë... - disse Legolas.

- Me sinto culpada pelo que aconteceu com você...

- Deixe de bobagem... não acho seguro que vá...

- Por favor, quero ser útil...

- Então eu vou junto - ele a puxou pra perto de si, ela aninhou- se em seus braços.

- Eu também vou - disse Amroth.

- Nós também! - disseram as duas mortais.

- Como assim? - disse o Rei Aragorn.

- Ué, Eldarion não vai?

- Mas é claro que vou! - disse o príncipe.

- Então eu também posso.

- Conversamos mais tarde... - disse o Rei - mandarei alguns dos meus soldados. Melhor que vá mortais do que elfos, por causa da peste.

O Sol se pôs. Os pássaros se recolheram em seus ninhos com alegres canções. Arwen e Laeriel conversavam com os pais da primeira.

- Mas pai, qual é o problema se nós formos?

- Não acho certo duas moças mortais ficarem andando por aí.

- Os soldados vão estar por perto!

- Mesmo assim. E se acontecer algo? Você não sabe nada de artes bélicas.

- Mas ela pode... - tentou dizer Laeriel

- Shhhh! - disse a outra falando o mais baixo que podia - Ninguém pode saber.

- Querido - disse a Rainha - se é a vontade dela, deixe- a ir.

- Hum...

- Você se lembra de Amroth, amigo de nosso filho e de Legolas?

- Sim, já falei com ele algumas vezes.

- Então tenho certeza que não se recusaria em ensinar o básico para ela.

Arwen olhou para a mãe, o coração batendo mais rápido. A outra sorria para a filha com um jeito de quem sabe o que está acontecendo.

- Você concorda? - disse o Rei.

- Sim, ada.

- Então... tudo bem. Se é o que você quer, apesar de eu ir contra, que vá.

A jovem correu até ele, dando- lhe um beijo no rosto.

- Obrigada, papai! - e, abraçando a mãe, sussurrou - Espero um dia herdar o seu dom de ler o coração dos outros.

Ithil caminhava pela mansão, pensando se havia algum sentido naquilo tudo. Chegou num jardim interno com uma grande vidraça no teto que deixava a luz da Lua passar. Num dos bancos ela pôde ver Eldarion sentado, sozinho, entalhando um objeto de madeira.

- Me desculpe, meu senhor. Não sabia que estava aqui - ela se virou para ir embora.

- Fique. - disse ele sem levantar os olhos - Por favor.

Ela voltou e se sentou ao seu lado.

- O que está fazendo?

- Ainda não sei. estava tentando fazer um cavalo, mas está parecendo um olifante...

Ela riu, fazendo- o rir também.

- Opa!

- Que foi?

- Me cortei. - ele mostrou o corte na mão. Sangrava bastante. A elfa pegou uma das folhas curativas do jardim, pondo- a no ferimento.

- Obrigado...

- ... - ela segurava a folha com força para estancar - Porque você teme o passado se ele foi bem sucedido?

- Não temo o passado. Temo o futuro. Tenho medo de não conseguir seguir meu pai e fazer feliz aquela que amo.

- E a quem você ama, meu senhor?

- Amo uma elfa que visitava meu castelo e que furtivamente roubou meu coração com suas canções. Amo aquela que no presente momento observo. - e, segurando- lhe o rosto com uma das mãos, ele a beija - Gostaria de ser imortal como você...

- A imortalidade nem sempre foi vantagem...

- Mesmo assim...

- ...

- ...

- Eldarion, você tem atitude, como demonstrou no conselho. Sabe o que quer, pode conseguir qualquer coisa!

- Mas e se eu não conseguir fazer você feliz?

- Você me ama?

- É claro!

- O seu amor me basta. Não me importa se somos de raças diferentes, se somos mortal e imortal. Serei feliz enquanto você me amar.

- O amor é lindo... - disseram Erulissë, Arwen e Laeriel. Estavam ali só observando.

Ithil se levantou num pulo.

- Vocês estavam me espiando?!

- Ah, nem vem que não tem! - disse Erulissë - Vocês também ficaram de camarote quando eu estava com Legolas.

- Calma, meninas. - disse Eldarion - eu já estava de saída. Até amanhã, Ithil. - ele beijou- lhe a testa.

- Awwwww... - suspiraram as três.

- Parem com isso, que vergonha! - disse a elfa.

- Viemos perguntar se você irá conosco amanhã. - disse Laeriel.

- Mas agora que vimos essa cena, - disse Arwen com um sorriso maroto - já sabemos a resposta.

- É, eu vou, porém não pense que eu não vi quando você disse que ía, só por causa de Amroth...

- E ela ainda vai ter aulas de artes bélicas, graças à Rainha.

- Com ele? Nossa, você tem uma sorte... - disse Ithil - Ele já manifestou alguma coisa?

- Ainda não.

- "Ainda"? - riram elas - Você é decidida mesmo.

- Ai, vocês viram que elfo maravilhoso ele é...? Nunca tinha visto um tão lindo...

- Sei... - disse Erulissë - Ele é comparável ao Legolas.

- Tá bom, não começem a brigar. - disse Laeriel - Eu é que devia estar zangada porque sobrei outra vez...

- Não fique assim. - disse Ithil - Muito em breve você vai encontrar alguém merece e te mereça.

As quatro amigas se abraçaram e sumiram pelos corredores.

Continua...