Depois que o número de alunos do Instituto cresceu a ponto de não fazer mais sentido conduzir todo o grupo em seções de combate corpo-a-corpo, Logan dividiu os alunos em duplas para práticas mais intensivas e específicas. Scott e Jean tinham sido colocados juntos porque Logan sabia que eles dois eram os que mais combinavam, devido ao tempo que treinavam sob sua coordenação.
Era uma manhã de quarta-feira, e era a vez de Scott e Jean treinarem. Scott entrou na sala de treinamento para encontrar Jean já socando um saco de areia. Ela alternava chutes e socos, praticando os movimentos de kick-boxing em que eles estavam trabalhando. Ela não percebeu quando ele entrou, e ele supôs que ela estivesse gostando daquilo.
— Chegou cedo — ele cumprimentou enquanto passava por ela para pegar seu equipamento do banco. Jean se virou para encará-lo, os olhos arregalados de surpresa, respirando com dificuldade por causa do exercício.
— Não faça isso — ela olhou para ele com um olhar carrancudo, enxugando o suor das sobrancelhas. — Você me matou de susto.
Ele ofereceu um sorriso torto como desculpas. Ela simplesmente o olhou de cima a baixo e voltou para o saco. Scott começou a se alongar, assistindo-a bater o saco com um pouco mais de violência do que ele estava acostumado a ver.
— Castigando o pobre do saco por alguma coisa?
Ela grunhiu em resposta.
Ela não desviou sua atenção, e pelo jeito que o saco balançava com força e pelo rangido na corrente que o prendia, obviamente ela estava colocando um pouco de telecinésia por trás dos socos.
— Pelo amor de Deus, Jean, se acalma. O que foi que esse saco fez pra você? Ou você tá imaginando que tá dando uma surra em alguém particular?
Pelo olhar que ela lhe lançou, ele soube exatamente em quem ela queria descer uma porrada. Scott suspirou.
— OK, o que foi que eu fiz? — ele perguntou, o que o fez receber outro olhar reprovativo. — Você tá chateada por ontem à noite?
O frenesi dos socos parou abruptamente e ela se virou para encará-lo, as mãos nos quadris.
— E o que fez você pensar isso? — ela perguntou, o sarcasmo evidente nas suas palavras.
— Tudo o que eu fiz foi te chamar pra sair, Jean.
— Tudo o que você fez foi me chamar pra sair? É justamente isso, Scott! De donde diabos você tirou essa idéia? Era a última coisa que eu esperava que você fizesse! Você me deixou sem saída! — ela gritou exasperada.
— O que você quer dizer com era a última coisa que você esperava que eu fizesse?
— Eu quero dizer que eu não achava que você estivesse interessado em mim desse jeito! Nós sempre fomos apenas amigos. Namorar nunca entrou em questão. Esse seu convite veio simplesmente do nada.
Ele olhou para ela por um momento, pensando frustrado no que dizer.
— Eu achei que tinha deixado bem claro que eu tava interessado em você. Sei lá, você nunca se tocou que eu tinha tanto ciúme do Duncan que queria matar o desgraçado?
Ela o olhou como se tivesse levado um tapa.
— Do que você tá falando? Eu sabia que você não gostava dele, mas não sabia que tinha ciúme. Eu pensava que você só queria me proteger.
Scott olhou para ela incrédulo e caiu numa gargalhada.
— Às vezes você é tão ingênua que eu me assusto. Durante anos eu pensei em te chamar pra sair. Só nunca tinha pensado que você fosse aceitar.
Ela piscou, sem palavras. Scott sorriu afetado. Tinha conseguido deixá-la sem palavras nas últimas doze horas mais vezes que nos últimos seis anos. Ele estava muito orgulhoso de si mesmo.
Finalmente ela recuperou a voz.
— Mesmo?
Ele olhou cético para ela.
— Honestamente, você não sabia?
Ela balançou a cabeça, muda.
Ele riu ridicularizando-a.
— Então provavelmente no Instituto, ou até mesmo na escola, que não sabia. O que eu sinto por você é um fato bem conhecido, e um dos assuntos preferidos dos nossos amigos.
— E você não sabia como me dizer? — ela perguntou indignada.
— Eu achei que você soubesse, Jean! Só pensei que você preferisse ignorar.
Ela ficou ruminando a descoberta por um momento.
— OK, então por que agora? Por que, do nada, você resolve me convidar pra sair?
Ele encolheu os ombros, sem ter muita certeza do que falar.
— Foi uma combinação de várias coisas. Como o fato e deu estar doente por não te dizer nada. E o fato de eu não estar preparado pra te ver se envolvendo com outro cara sem eu ter te dito como eu me sentia…
— Peraí, que outro cara? Eu não tou saindo com ninguém.
— Não, mas eu achei que fosse ser só uma questão de tempo. O que não falta é homem na Bayville High doidinho pra sair com você.
Isso a fez corar.
— E também teve o outro dia, lá na neve — Scott falou, baixando a voz para um tom mais íntimo, dando dois passos em direção a ela. — Eu achei que vi alguma coisa nos seus olhos, no jeito que você olhava pra mim… Eu pensei que talvez você tivesse começando a sentir o mesmo por mim.
Eles ficaram se encarando, sem conseguir desviar o olhar.
— Se você não quiser fazer isso, Jean, então me diz agora. Nós vamos fingir que essa conversa nunca existiu, e nós voltamos a ser apenas amigos. Eu já te disse antes, eu sempre vou ser seu melhor amigo, então você não tem com o que se preocupar. Eu só preciso saber o que você quer.
Ele prendeu a respiração, esperando que ela respondesse. Finalmente ela sorriu tímida, e ele achou que fosse desmaiar com o alívio.
— Eu quero ver até onde isso vai — ela falou macio, e admitindo para si mesma pela primeira vez. — Eu… eu acho que nós devemos isso a nós mesmos. Nós devemos isso à nossa amizade.
Scott sorriu para ela.
Foi assim que Logan os encontrou, separados por poucos passos, sorrindo um para o outro. Ele olhou para os dois desconfiado.
— Que é que cês tão fazendo? — ele grunhiu para eles.
— Nada — eles responderam imediatamente, em perfeito uníssono. Eles se viraram para vê-lo, expressões idênticas de inocência, expressões essas que eles tinham aperfeiçoado dentro de alguns dias se encontrando. Logan sabia que aquilo só poderia significar uma coisa: confusão. Então, eles se encararam de novo e começaram a rir.
— Ah, tá, certo — Logan murmurou sob a respiração, olhando desconfiado para os dois.
— Ei, Scott, espera!
Scott se virou para ver Kurt correndo pelo corredor até ele, se esquivando dos armários abertos e dos grupos de alunos.
— A gente tá pensando em ir pra maratona de filmes no Majestic, na sexta à noite — Kurt contou. — Quer ir também?
— Não posso — foi tudo o que Scott falou.
— Por quê? Tem um encontro ou alguma coisa do tipo? — Kurt alfinetou.
— Alguma coisa do tipo — Scott respondeu, incapaz de esconder o sorriso no seu rosto. Kurt percebeu imediatamente.
— Peraí, você tem mesmo um belo encontro, não é? — Kurt acusou.
— Quem é que tem um belo encontro? — Evan perguntou se aproximando; tinha ouvido o comentário de Kurt.
— O Scott, e ele não quer falar com quem é — Kurt respondeu, a curiosidade evidente na sua voz.
— Ei, é isso aí, cara! — Evan parabenizou, batendo no braço de Scott. — Quem é a felizarda?
O rosto de Scott se abriu num sorriso largo, e ele desviou o olhar.
— Não pode ser — Kurt se engasgou de surpresa quando entendeu tudo. Só havia uma garota capaz de fazer surgir aquela expressão no rosto de Scott. — Você tem um encontro com a Jean?
— Jean? Quer dizer, a nossa Jean? A ruiva alta e bonita por quem você é apaixonado desde, tipo, sempre? É isso aí, cara! — Evan riu, deixando o mais velho envergonhado.
— E é um encontro de verdade? — Kurt, perguntou, ainda surpreso.
— Amram. Fiz o convite ontem à noite.
— Isso é demais! — Kurt exclamou. Desde o primeiro dia de Kurt no Instituto, ele tinha observado o quanto Scott queria alguma coisa com Jean, e ele estava muito feliz por ver os dois começando a se entender.
Scott enxergou Kitty e Vampira se aproximando, e tentou desesperadamente dar um jeito de fugir dali antes que Kurt as colocasse a par de tudo. Mas Kurt tinha outras idéias, e segurou o braço de Scott para evitar que ele fugisse.
— Você tá brincando! — Kitty guinchou quando soube da novidade.
— Por quê vocês estão assim tão surpresos? — Vampira perguntou, com uma expressão completamente entediada e sem surpresa. — Droga, a gente sabia que era só uma questão de tempo até que acontecesse alguma coisa entre eles.
— Pois eu acho, tipo, muito legal! — Kitty falou com entusiasmo, abraçando Scott. — Vocês foram, tipo, feitos um pra o outro. Ah, isso vai ser tão legal!
Scott tentou, sem êxito, conter seu sorriso. Ele estava feliz demais para se importar com isso.
