Quando o alarme de Jean disparou na sexta de manhã, ela gemeu e o desligou com a sua telecinésia.
"Graças a Deus hoje é sexta", ela pensou enquanto rolava na cama e se espreguiçava. Seus olhos se abriram de repente. "Meu Deus, é sexta! Hoje à noite é meu encontro com o Scott". Ela esfregou os olhos enquanto seu estômago revirava com o que ela supôs ser nervosismo. "O que é que eu vou fazer na escola hoje? Desse jeito eu não vou conseguir me concentrar em nada".
Quando ela finalmente desceu as escadas, os outros alunos já estavam indo em direção à porta.
— Ai, se apressa, Jean — Kitty chamou enquanto Jean corria para a cozinha, a fim de pegar algo para comer no caminho. — O Scott tá esperando!
— Já vou, já vou — Jean resmungou. — Vão indo. Digam a ele que eu alcanço vocês.
Jean vasculhou a cozinha à procura de algo para comer, mas acabou tendo que se contentar com uma barra de doce de Kurt.
— É isso aí, chocolate Pop Tarts frio — ela anunciou para si mesma enquanto corria pela mansão, parando apenas para pegar sua jaqueta, e disparou pela porta da frente.
Scott estava assistindo quando ela passou pela porta e desceu a escada correndo. Sua sobrancelha se levantou achando a situação engraçada.
— Eu sei, eu sei, desculpa — Jean falou para Scott antes que ele pudesse dizer alguma coisa. Ele simplesmente riu e balançou a cabeça enquanto ela sentava no banco do passageiro e passava o cinto de segurança.
Ela olhou para ele pelo canto do olho, divertindo-se com a sua reação.
— Só cala a boca e dirige, tou pronta.
Ele fez o que ela mandou. Mas ainda estava rindo.
O dia passou sem que ela prestasse atenção nas coisas. Sempre que Jean olhava para o relógio, ele lhe dizia que estavam faltando tantas horas para o encontro. Quando deu 3:30, ela estava com os nervos à flor da pele. Ela mal conseguiu olhar para Scott durante a volta para o Instituto. Felizmente, Kitty e Kurt mantinham as conversas.
— E então, Jean? Algum plano pro fim-de-semana? — Kitty perguntou.
Os olhos de Jean se arregalaram e ela olhou fixo para frente, afundando um pouco no assento. Ela não tinha idéia de como responder.
— Ja, algum encontro ou coisa do tipo? — Kurt se juntou a elas.
Kitty deu uma risadinha.
— Você contou pra eles? — Jean gritou, se virando para Scott, chocada pela descoberta de que ele tinha deixado escapar informações sobre suas vidas pessoais.
Ele olhou para ela e encolheu os ombros, como quem pergunta "E daí?".
Jean fechou os olhos e deixou a cabeça cair sobre o encosto. Ela suspirou, resignando-se com sua sorte.
— Tudo bem. É verdade, Scott e eu vamos sair hoje à noite. Era isso que vocês queriam que eu dissesse?
Mais risadinhas do assento traseiro.
— Ja, é suficiente.
— Não se preocupa. A gente acha, tipo, muito legal que vocês saiam juntos.
— Eu tou tão feliz que vocês aprovam — Jean resmungou. Scott riu. — Sr. Summers, o senhor gostaria de dividir conosco isso que o senhor acha tão interessante?
— Não, tá tudo certo. Mesmo assim, obrigado — ele respondeu convencido, um sorriso estampado no rosto.
— Você já tá muito satisfeito consigo mesmo — Jean lhe disse com um tom amargo.
Ele simplesmente alargou o sorriso.
— O que é que eu vou usar? — Jean se perguntou em voz alta, olhando para o closet. Quando ela notou que não havia uma roupa perfeita, deixou-se cair sobre a cama.
"É uma das coisas que me fazem odiar encontros", ela disse para si mesma. "Tem muita coisa idiota com que se preocupar".
Contrário ao que todos acreditavam, tanto na escola como no Instituto, não tinha muita experiência em encontros. Por alguma razão, tinham a idéia de que Jean já tinha namorado vários garotos, quando na verdade ela só tinha ido a um punhado de encontros antes da sua pseudo-relação com Duncan. Ela achava muito mais fácil ficar com alguém de quem ela parecia gostar do que "reconhecer o terreno", como muitas outras alunas da escola preferiam fazer. Na verdade, ela só já tinha beijado dois rapazes, sendo Duncan um deles.
O primeiro tinha sido uma experiência horrível que ela preferia esquecer. Ela estava no segundo ano, e tinha conhecido um rapaz na aula de matemática — um aluno bonito do penúltimo ano chamado Chris. Quando ele a convidou para o baile da escola, alguns meses depois de terem se conhecido, ela disse sim. Foi o seu primeiro encontro.
A noite não foi nada do que ela esperava. Ela era inexperiente e tímida, e com certeza ele esperava por coisas que ela nem podia imaginar. Passaram muito pouco tempo dançando — em vez disso, passaram a noite em um parque tranqüilo perto da escola. Por mais simpático e bonito que Chris fosse, desde o início ela poderia dizer que não iria acontecer nada entre os dois. Mas a curiosidade tomou conta dela, então ela deixou o encontro prosseguir. Quando ele passou o braço o braço por trás dela, ela não protestou. Quando ele se inclinou para beijá-la, não foi nada daquilo que ela esperava. Pensou que talvez não estivesse fazendo certo, e deixou que ele a beijasse mais, mas não melhorou em nada. Ele chupou seu pescoço, e ela achou aquilo irritante. Quando a língua dele entrou em sua boca, ela achou que fosse ter náuseas. Ele segurou seu seio, e ela mordeu sua língua — com força. Ele pensou que fosse algum jogo violento, e ficou ainda mais excitado. Quando ele levantou sua saia, ela o chutou na virilha.
Jean deixou Chris no parque, dobrado de dor e amaldiçoando-a. Ela voltou para escola e chamou Scott para ir pegá-la. No caminho para casa, ela contou o que aconteceu e começou a chorar — em parte por causa da vergonha, e em parte por causa do choque. Scott encostou o carro e passou quase uma hora consolando-a.
Na segunda-feira seguinte, toda a escola já tinha ouvido a versão de Chris para a história — que ele tinha deflorado Jean no parque, na noite do baile, e que ela tinha sido tão fácil que ele tinha desistido dela. Scott desceu a mão no canalha e foi suspenso por uma semana.
Por causa dessa experiência Scott ficou preocupado quando Jean começou a sair com Duncan. Ele estava tomando conta dela porque não queria que ela fosse magoada, e por isso fazia cara feita para Duncan e resmungava sobre ele, dizendo que ela podia conseguir coisa muito melhor. Ele era superprotetor e dominador, mas Jean não se importava muito — é isso que se faz pelo melhor amigo. Até sua confissão no outro dia, ela não sabia que tudo era por ciúme. Ela tinha sentido o mesmo quando Scott começou a sair com Taryn. Em tempo, Taryn era uma boa amiga de Jean, mas isso não significava que ela devesse considerá-la boa suficiente para ele.
"Talvez faça sentido o Scott e eu acabarmos juntos", Jean pensou. "Dizem que as melhores relações nascem das amizades".
Ela suspirou. Descobriria naquela noite.
