Capítulo 6

Uma batida leve na porta do quarto fez Jean acordar na manhã de sábado. Ela rolou na cama e olhou para o despertador, que dizia faltarem poucos minutos para as dez horas. As batidas na porta soaram outra vez, e ela pôde ouvir vozes baixas conversando pelo corredor.

— Vai'mbora — Jean falou, antes de enfiar a cara no travesseiro.

— Ah, vai lá, Jean, deixa a gente entrar — Kitty respondeu.

— Por que é que a gente simplesmente não pode deixar ela em paz? — Vampira perguntou a Kitty com uma voz entediada.

— Porque a curiosidade tá, tipo, me matando, eu tenho que saber o que aconteceu ontem de noite.

— Vocês duas podem por favor me deixar dormir de novo? — ela gritou, exasperada.

— De jeito nenhum, não tá tão cedo assim. Jean, por favor, deixa a gente entrar. A gente só quer saber como foi o seu encontro — Kitty implorou.

Jean grunhiu resignada e usou sua telecinésia para abrir a porta. Com o clique baixinho da fechadura se abrindo, Kitty entrou correndo no quarto, puxando junto uma Vampira envergonhada.

— Foi mal, Jean. Eu tentei convencer ela a te deixar sozinha — Vampira se desculpou e Kitty pulou na cama de Jean, começando a pular excitada.

Jean sorriu para Vampira para mostrar agradecimento pelos esforços, por mais inúteis que tivessem sido.

— E então? Vai, fala! — Kitty mandou com um sorriso largo. Jean se escorou na cabeceira da cama e olhou para a garota mais nova.

— Falar o que, exatamente? — ela perguntou, ainda aborrecida por ter seu quarto invadido tão cedo num fim de semana.

Kitty revirou os olhos.

— É, tipo, tudo! O que aconteceu no seu encontro ontem à noite? Onde vocês foram, o que vocês fizeram?

Jean sorriu para si mesma. A excitação de Kitty era algo contagiante.

— Nós fomos jantar, e depois fomos ver um filme.

— E depois?

— O que faz você pensar que teve um e depois? — Vampira perguntou desconfiada para Kitty.

— Porque eles, tipo, só voltaram pra casa depois de uma hora, e um filme não pode durar tanto.

— E então, nós fomos patinar no The Glen. Mas como o Scott te pediu pra roubar meus patins do meu quarto ontem, você provavelmente já sabia disso.

— Aaaaah, eu amo o The Glen! É, tipo, totalmente romântico! — Kitty gritou, ignorando a acusação de Jean.

Agora, foi a vez de Vampira revirar os olhos.

— Me desculpem, mas eu não vejo nada de romântico em congelar sua bunda enquanto tenta não cair em cima dela.

Jean riu. Ela estava feliz por ela e Vampira terem concordado em algo e dado uma trégua — por mais frágil que fosse. A garota tinha um senso de humor maravilhosamente seco quando queria mostrá-lo, e Jean estava criando uma profunda admiração por ele.

Kitty olhou para Vampira, e então voltou os olhos esperançosos para Jean.

— E?

— E o quê? — Jean perguntou com inocência, sabendo exatamente o que Kitty queria saber.

— E…? Vocês…? Ele…? — Kitty perguntou começando a frase seguinte.

Jean estava determinada em não deixar isso fácil para a outra garota, e por isso ficou em silêncio, observando os olhos curiosos de Kitty. Vampira tentou esconder o riso.

— Ugh! Você consegue ser, tipo, tão frustrante às vezes!

Jean sorriu maliciosamente, e Kitty se engasgou.

— Ah, meu Deus, vocês beijaram! Vocês, tipo, totalmente se beijaram! Eu sabia!

Jean corou, mas não conseguiu tirar o sorriso do seu rosto.

— Ok, ok, ok — Jean falou, levantando uma mão para acalmar Kitty. — É, nós nos beijamos.

Kitty gritou novamente e se enfiou nos braços de Jean, abraçando-a alegremente.

— Ah, meu Deus, isso é totalmente demais! Eu tou, tipo, tão feliz por vocês dois — ela guinchou. — O beijo foi bom mesmo?

Jean corou novamente e desviou os olhos.

— Ah, pelo jeito, eu diria que foi um beijo e tanto — Vampira provocou.

Jean suspirou, tentando ao máximo não parecer sonhadora — mas falhou miseravelmente, e as outras duas garotas começaram a rir descontroladas. Nem mesmo Jean conseguiu ficar sem rir de si mesma. Finalmente ela recuperou a compostura e pensou em como responder à pergunta de Kitty.

— Foi… perfeito — Jean finalmente respondeu, com a voz pouco acima de um suspiro. Inconscientemente, ela levantou os dedos para tocar os lábios, relembrando a sensação do beijo de Scott.

— Então, vocês são, tipo, oficialmente namorados agora? — Kitty perguntou.

Jean piscou surpresa.

— Sabe uma coisa? Nós nunca nem discutimos isso — ela admitiu. — Quer dizer, eu diria que sim, mas eu não tenho certeza.

— Se eu fosse você, tratava de resolver esse assunto ainda essa manhã — Vampira sugeriu com um sorriso de superioridade.

— Eu sei, eu sei, eu vou resolver. Agora, vão atrás de outra pessoa para atormentar pra eu me levantar e tomar banho em paz? — Jean mandou enquanto levantava da cama e expulsava as duas garotas mais novas do quarto. — Vejo vocês lá embaixo.

Jean suspirou enquanto fechava a porta e entrava no banheiro. Os acontecimentos da noite anterior ficavam passando pela sua mente, e ela não conseguia parar de sorrir.

— Ah, você tá entendendo tudo mal, garota — ela murmurou para seu reflexo no espelho. Suas bochechas estavam cor-de-rosa e seus olhos estavam literalmente cintilando. Ela não conseguia se lembrar de si mesma tão feliz. Jean entrou embaixo do chuveiro, e o sorriso não saiu do seu rosto;

— Nós soubemos que o seu encontro com a Jean foi, tipo, perfeitamente bem — Kitty falou para Scott um pouco depois. Ela estava empoleirada no balcão da cozinha, mastigando uma maçã ruidosamente.

Scott lançou-lhe um olhar, tentando forçosamente evitar sorrir.

— Hã? Quem te disse isso?

— Sua namorada — Vampira se juntou à conversa.

— Minha namorada?

— Bem, é. Vocês dois não estão, tipo, oficializados agora? — Kitty perguntou.

Scott ponderou a informação por um momento.

— Não sei — ele admitiu. — Nós não falamos disso.

Vampira riu com um ar de superioridade.

— Exatamente o que a Jean falou.

— Mas ela falou que ela, tipo, diria que vocês estão — Kitty completou.

— Ela falou?

— Quem falou o quê? — Jean perguntou enquanto entrava na cozinha procurando por café da manhã. Ela olhou para Scott e sorriu, corando ligeiramente. — Oi — ela o cumprimentou com doçura enquanto se virava, incapaz de manter seu olhar.

— A Kitty acabou de contar pro Scott que você diria que você e ele são oficialmente um casal agora — Vampira falou de uma vez antes de correr da cozinha, sabendo que Kitty iria querer matá-la.

— Ah, sua, tipo, traidora! — Kitty gritou enquanto corria atrás da amiga.

Scott riu enquanto as garotas desapareciam pelo corredor. Ele se virou para olhar para Jean, que estava ocupada com a torradeira, de costas para ele.

— Então, somos? — ele perguntou finalmente, desconfortável com o silêncio que recaiu sobre eles.

— Hã? — Jean perguntou distraída, sem se virar para olhar para ele. Scott suspirou frustrado e andou até ela, segurando seu braço para gentilmente fazê-la virar-se para ele. Antes que ele percebesse o que estava fazendo, inclinou-se e beijou-a ruidosamente nos lábios. Depois de meio segundo de surpresa que a deixou imobilizada, ela o beijou de volta. Os braços dela envolveram os pescoço dele, e ele a segurou pela cintura. Ele a empurrou um passo para trás para que pudesse gentilmente incliná-la contra o balcão e pressionar seu corpo contra o dela. Eles mantiveram o abraço por um bom tempo antes de Scott finalmente se afastar e olhar para ela com um sorriso tortuoso.

— Então, agora nós passamos por esse incômodo inicial da primeira manhã pós-encontro, ou, resumindo, será que nós podemos parar de agir tão estranhos? — ele perguntou baixinho.

Jean riu e fez que sim com a cabeça.

— É, eu acho que sim.

— Só mais uma coisa antes que eu deixe você ir — Scott falou para ela. Jean fez que sim com a cabeça para que ele continuasse. — Agora nós somos oficialmente um casal?

Ela sorriu e o beijou outra vez. Quando se afastou, ela sorriu.

— É, eu acho que já dá pra dizer que a gente é oficialmente um casal.

Scott riu.

— Então, quer dizer que eu posso te beijar na hora que eu quiser?

Ela deu um tapa de leve no braço dele.

— Só se tiver motivo, garoto apaixonado — ela provocou. — Nós temos reputações para manter, você sabe.

— Dane-se. Eu estava meio que esperando que nós pudéssemos criar novas reputações para nós — ele falou, mexendo as sobrancelhas sugestivamente enquanto se inclinava para mais um beijo. Jean riu, se virando para desviar a cabeça a tempo de o beijo acabar simplesmente na sua bochecha.

— Você sabe, se você continuar com esse comportamento relaxado, você não vai conseguir manter sua imagem como nosso líder conservador, durão, fechado. Os outros podem perceber que você não só sabe se divertir como também pode ficar completamente maluco às vezes — ela sussurrou em tom conspiratório, seus olhos verdes brilhantes mostrando como se divertia.

— É, assim como poderiam finalmente descobrir que você não é nem de longe a garota certinha que os outros pensam que você é — ele riu com superioridade.

Ela lançou-lhe um olhar falsamente ofendido.

— E o que você quer dizer, Sr. Summers? Eu nunca arranjo confusão, e eu nunca faço nada que não deva.

Scott riu às gargalhadas.

— Não, você só tem sorte suficiente para nunca ser apanhada.

— Men-ti-ra, men-ti-ra — ela gracejou com um piscar de olhos, se soltando aos poucos do abraço de Scott enquanto a torradeira apitava.

Scott encostou-se ao balcão e ficou observando Jean passar manteiga de amendoim na torrada.

— Algum plano para hoje? — ele perguntou.

Ela balançou a cabeça e lambeu um pouco de manteiga de amendoim do dedo.

— Você?

— Nada. Então, será que você aceita só sair por aí comigo?

— Pode ser — ela sorriu para ele. — Mas eu tenho outra idéia. Por quê você, o Evan e o Kurt não encontram as outras meninas e eu lá fora em, vamos ver, uma hora e meia?

Ele olhou para ela desconfiado.

— Por quê? — ele perguntou devagar.

— Você olhou pela janela? Nevou um bocado durante a noite. Eu achei que fosse ser divertido agirmos como crianças imaturas e construir bonecos de neve ou coisa do tipo — ela respondeu, balançando descuidadamente a mão no ar diante da incredulidade dele para com ela. Ele cruzou os braços sobre o peito e a encarou, a dúvida estampada no rosto.

— Scott, o que foi? Você não acredita em mim? — ela perguntou, com inocentes olhos suplicantes.

Ele riu com superioridade.

— Eu te conheço, Ruiva, e eu sei que você está aprontando alguma. Mas, se vai te deixar feliz, nós vamos encontrar vocês garotas lá fora.

Ela lançou-lhe um sorriso de prender a respiração, e ele sabia que, não importava o que acontecesse, valeria a pena se ela olhasse para ele daquele jeito mais uma vez.