Capítulo 8

As semanas passaram, e Scott e Jean ficavam cada vez mais confortáveis com sua nova relação. Os outros alunos ainda implicavam com eles, mas a encheção de saco era bem intencionada. Todos pareciam genuinamente felizes por eles.

Havia, é claro, duas exceções.

Logan continuava a fuzilá-los com o olhar sempre que via Scott e Jean juntos. Ele quase não falava com Scott fora dos treinamentos. Felizmente para Scott, Logan finalmente tinha recebido uma tarefa que o deixaria longe do Instituto por um bom pedaço — talvez até meses.

O Professor Xavier observava com emoções misturadas o relacionamento entre seus dois alunos preferidos crescer. Ele tinha um lugar especial no coração para Scott e Jean, já que tinham sido os primeiros alunos do Instituto; a bem da verdade, eles eram os responsáveis pela própria existência da escola. Tinha sido sempre evidente para ele que Scott e Jean tinham uma ligação que ia além da amizade, e que tinha sido apenas uma questão de tempo até que a ligação se transformasse em romance. Isso ainda o perturbava.

Depois do jantar, uma noite mais de um mês depois do primeiro encontro de Scott e Jean, o Professor Xavier chamou Scott a seu escritório.

— Scott, eu estive observando as mudanças no seu relacionamento com a Jean — o Professor começou, os cotovelos sobre a mesa e os dedos das mãos entrelaçados a sua frente.

Scott esperou seu mentor continuar.

— Devo admitir, eu tenho algumas preocupações — Charles falou devagar.

— Senhor? — Scott perguntou, confuso.

— Tenho certeza de que você e Jean combinam muito, e que você serão capazes de fazer um o outro muito feliz. Eu estou, contudo, preocupado sobre como isso pode afetar a equipe.

— Eu não acho que estou entendendo muito bem, Professor — Scott admitiu.

Charles suspirou e fechou os olhos para ler seus pensamentos.

— Você é o líder dos X-Men, Scott. Você tem responsabilidades para com todos sob o seu comando. Eu estou preocupado que a sua relação com Jean possa ser causa de distração em situações em que ela esteja em perigo.

— Com todo o devido respeito, Professor, eu discordo — Scott disse, a mandíbula rígida em posição de defesa. — Eu já me preocupava com ela, eu sempre me preocupei. Não interessa a natureza do nosso relacionamento, ela sempre será a pessoa mais importante da minha vida. Isso nunca vai mudar.

— Eu entendo, Scott. Eu simplesmente estou preocupado que sua atenção e seu julgamento fiquem comprometidos se você e Jean estiverem envolvidos romanticamente. Temo que você tente protegê-la a todo custo, inclusive as vidas dos outros membros da sua equipe.

— Professor… — Scott se espantou, profundamente ofendido.

— Scott, por favor, compreenda. Não pretendo atacar seu caráter. É admirável desejar ir a tal ponto. Só me preocupo com as implicações possíveis.

Scott estava em silêncio, encarando a frente da larga mesa de mogno do Professor.

— É apenas algo sobre o que pensar, e pronto — Charles falou com uma voz gentil. — Acredite ou não, Scott, seria um prazer e tanto ver você e Jean felizes juntos. Mas quais seriam os custos…?

Nenhum dos dois falou por um bom pedaço. Finalmente, Scott se levantou e saiu da sala, deixando Charles sozinho.

— Aí está você — Jean falou triunfante quando entrou na biblioteca e encontrou Scott afundado em uma cadeira de frente para a lareira. — O que você tá fazendo aqui?

— Esperando por você — ele falou sem virar a cabeça para encará-la. — Eu achei que fosse apenas uma questão de tempo antes que você subisse aqui para se esconder pela noite.

Jean franziu as sobrancelhas com o seu tom de voz.

— Scott, você tá bem? — ela perguntou enquanto se sentava na cadeira próxima a ele, dobrando as pernas sob si mesma e ficando de lado para poder encará-lo.

Ele continuou olhando para o fogo.

— Ei — ela disse tranqüilamente, estendendo o braço para colocar a mão sobre o braço dele. — O que te deixou tão chateado?

Respirando fundo, Scott tentou encontrar as palavras.

— O Professor X me chamou até o escritório dele hoje à noite — ele falou em voz baixa.

— Sobre o quê ele queria falar?

— Você e eu.

Jean estava claramente surpresa.

— O quê sobre você e mim? — ela perguntou esganiçada.

Scott suspirou, frustrado.

— Ele está preocupado que o nosso relacionamento possa fazer eu me atrapalhar em campo — Scott disse amargamente.

Jean absorveu aquilo, mordendo o lábio inferior enquanto ponderava o que lê tinha dito.

— Você acha que poderia? — ela perguntou finalmente.

Scott virou a cabeça bruscamente para olhar para ela.

— Não! Claro que não — ele falou enfaticamente.

— Você tem certeza? Porque, se eu for honesta comigo mesma, eu percebi que agora eu me preocupo um pouco mais nas seções de treinamento — ela admitiu.

— Mesmo? — Scott perguntou, surpreso.

— É claro — ela respondeu com uma risada autodepreciativa. — É bem natural, não acha? Nós estivemos um pouco mais… preocupados um com o outro no último mês e meio.

Scott lançou-lhe um meio sorriso.

— Eu acho que você tá certa.

— Mas eu não acho que vai ser sempre assim — ela o confortou. — Quanto mais tempo estivermos juntos, quando menos novo o nosso relacionamento for, mais fácil vai ser se concentrar em outras coisas das nossas vidas.

Ele olhava fixo para ela, uma sobrancelha arqueada em divertimento.

— Como você consegue ser tão sábia com essa coisa de relacionamentos? — ele alfinetou.

Ela corou.

— Tempestade e eu tivemos uma pequena conversa de garotas outro dia — ela admitiu. — Eu só precisava de alguns conselhos de alguém mais velho e bem mais sábio.

— Parece que foi uma conversa bem importante — ele provocou, segurando a mão de Jean e a fazendo se levantar. Quando ela ficou de pé, ele a puxou para seu colo. Ela sentou com uma risada, não esperava acabar sentada em cima dele. Ele passou um braço firmemente ao redor da cintura dela, prevenindo-se que ela não escapasse.

— Foi — ela disse com um sorriso. — Tempestade dá ótimos conselhos.

— O que ela te disse? Ou é apenas para ouvidos femininos? — ele perguntou enquanto esfregava suavemente o nariz no pescoço de Jean.

— Pára, isso faz cócegas! — Jean ralhou com ele de brincadeira, inclinando-se um pouco para fugir dele. — E não, não foi uma conversa só pra meninas. Se você quer saber, eu estava preocupada com o quanto eu estava me sentindo dispersa ultimamente. Tá me deixando louca, parece que eu só consigo pensar em você — ela admitiu timidamente.

Scott recompensou a admissão com um sorriso que fez a barriga dela cair.

— Mesmo?

Jean rolou os olhos e gentilmente beijou seu peito.

— É, mesmo. Como se você não soubesse — ela se inclinou para frente e o beijou levemente, e depois se afastou, seu lábios mal roçando os dele. — E eu espero que seja mútuo — ela falou pedindo uma resposta.

Ele respondeu segurando a parte de trás da sua cabeça e fechando o espaço entre seus lábios. O beijo aumentou de intensidade rapidamente, seus dentes colidindo e línguas duelando. Entre a lareira aquecendo suas costas e o calor do beijo de Scott, todo o corpo de Jean se sentiu excitado. Ela passou os braços ao redor dele e se aproximou mais, desesperada para ficar o mais próxima dele possível. Ele não conseguiu segurar um gemido quando o quadril dela foi parar sobre a sua virilha. Os dois pararam com o som.

— Desculpa — ele pediu, visivelmente envergonhado.

— Não precisa — ela o confortou rapidamente.

— Precisa sim! Meu Deus, Jean, tudo que a gente fez foi se beijar por alguns minutos, e agora eu te quero tanto que eu poderia até gritar — ele admitiu com raiva, claramente chateado consigo mesmo.

— Você quer? — ela perguntou incapaz de esconder a surpresa na sua voz. Por mais intensos que fossem seus sentimentos um pelo outro, e por mais rápido que sua relação parecesse avançar, eles ainda tinham que discutir o assunto sexo.

— Eu achei que isso fosse bem embaraçoso um segundo atrás — ele falou secamente.

Ela riu da autodepreciação de Scott, e beijou sua testa.

Ele respirou fundo, tentando se recuperar.

— Isso não vai ser fácil, vai?

Ela olhou para ele interrogativamente.

— Ter esse tipo de relacionamento — ele elaborou.

— Talvez não — ela concordou. Ela sabia que ele estava se referindo a tudo, das atitudes dos seus colegas de equipe e dos professores aos aspectos mais físicos do seu relacionamento, que logo precisariam ser discutidos. — Mas eu acho que por nós vale a pena o esforço — Jean admitiu, beijando a ponta do seu nariz.

Ele sorriu em concordância.

— Agora, você vai deixar eu fazer a minha tarefa, ou vai ficar tentando me distrair pelo resto da noite? — ela provou, deslizando do colo de Scott e olhando para ele.

— Tudo bem, tudo bem. Eu peguei a indireta — ele riu. Ele se levantou e a beijou suavemente. — Boa noite, Jean.

— Boa noite — ela respondeu baixinho. Quando ela ficou sozinha, afundou na cadeira que Scott tinha acabado de desocupar e contemplou as chamas dançantes da lareira, sorrindo.