O Baile de Férias anual da Bayville High tradicionalmente acontecia na semana anterior ao início férias de Natal. Aquele ano não foi exceção. A única coisa diferente no evento daquele ano era que Jean estava verdadeiramente nervosa em aparecer com seu par.
Em uma concordância tácita, e por razões que nenhum dos dois entendia muito bem, Scott e Jean tinham mantido silêncio sobre seu relacionamento enquanto estavam na escola. Eles mantinham as aparições de costume — almoçar junto com os outros alunos do Instituto, sentar juntos nas aulas comuns, e ir e voltar da escola no mesmo carro. Jean às vezes até andava de braços dados com Scott pelos corredores, como vinha fazendo desde o seu primeiro ano de escola; mas não havia mãos dadas, beijos roubados entre as aulas ou qualquer outra coisa que pudesse indicar que seu relacionamento tinha mudado.
Havia boatos circulando de que Scott e Jean estavam namorando, mas não eram nenhuma novidade — vinham supondo isso durante quatro anos. Então, pelo tempo, os boatos continuavam sem confirmação.
Isso iria, claro, mudar quando Jean e Scott aparecessem juntos no baile. Seria óbvio que eles eram um casal, e isso iria se tornar assunto para fofoca na escola. Isso incomodava Jean, mas não o suficiente para fazê-la pensar em não ir — não era um segredo que ela e Scott estavam namorando, ela só não queria a escola toda fofocando sobre eles.
Uma pessoa retraída por natureza, Jean não gostava que as pessoas soubessem muito sobre algum aspecto da sua vida — apesar de algumas suspeitarem da sua personalidade falsamente extrovertida. Poucos percebiam que havia mais Jean do que ela permitia que vissem — ela era mais do que uma aluna nota 10, mais do que uma estrela do esporte, mas do que a garota legal, bonita e popular de quem todos gostavam. Tudo aquilo eram superficialidades. Sim, era uma parte de quem ela era, mas não era tudo que a definia. Todos pensavam que conheciam Jean, mas estavam errados. Só um punhado de pessoas realmente a conhecia e realmente sabia o que passava na sua vida. Ela gostava daquele jeito.
Muito para o desalento de Jean, Duncan gostava de exibir seu relacionamento, o que destruía qualquer possibilidade de privacidade. Ela era grata a Scott por ele parecer partilhar do seu senso de discrição. Ele era mais reservado, sob qualquer perspectiva, e não gostava de chamar atenção indevida para nenhum aspecto da sua vida, especialmente sua vida pessoal.
Jean terminou de mexer nos cabelos e examinou seu reflexo no espelho. Ela suspirou. "Eu acho que tá tão bom quanto pode ficar", ela pensou.
Mesmo tendo ouvido com freqüência o quanto era bonita, Jean não conseguia acreditar nisso. Ela olhava no espelho e ainda via tudo o que tinham usado para provocá-la quando era criança. Ela não se importava na maioria dos dias, mas, quando fazia um esforço para parecer bonita, ela ficava frustrada. Pelo olhar no rosto de Scott quando ela o encontrou no andar de baixo, contudo, ela percebeu que devia ter feito algo certo.
— Você está ótima — ele falou para ela, sorrindo espantado. Ela correu as mãos pelo corpete do vestido, desamassando quaisquer dobras.
— Você acha mesmo?
Scott balançou a cabeça pasmo.
— Como você pode duvidar, eu não tenho chance.
Ela sorriu e beijou sua bochecha, apagando rapidamente a marca de batom.
— Você é um amor. E você também está bem alinhado — ela falou, dando uma olhada rápida nele.
— Ei, vocês dois tão ótimos! — Kurt exclamou quando apareceu no meio de uma nuvem de fumaça. — Tão prontos pra ir? Nós precisamos pegar a Amanda em vinte minutos.
— Então, vamos — Scott falou, guiando Kurt e Jean a sua frente.
Quando ele chegara à escola, o baile já estava bem animado. Os garotos foram pendurar os casacos, enquanto Jean e Amanda foram para um lado conversando. Jean gostava mesmo da menina, principalmente porque Amanda conhecia o Kurt real e gostava dele por causa disso, não apesar disso.
O ginásio tinha sido decorado para parecer um paraíso de inverno. Balões brancos e serpentinas estavam por toda parte, entremeados por grandes flocos de neve que brilhavam com a luz emitida pela grande bola espelhada que rodava acima das cabeças no meio do salão. Neve falsa tinha sido pulverizada sobre as árvores sempre-verdes e arbustos feitos com papel que estavam pregados à parede, e algumas poucas árvores de verdade cobertas com luzes brancas tinham sido espalhadas pelo salão. Jean achou que estava mesmo bem legal.
Kurt e Amanda em poucos minutos já estavam na pista de dança, deixando Jean e Scott sentados sozinhos a uma mesa. O braço de Scott passou casualmente por trás da cadeira de Jean, e ela se inclinou ligeiramente em direção a ele. Eles eram aparentemente o assunto da conversa de alguns grupos, e Jean suspirava quando os alunos lançavam em direção a eles olhares não tão discretos.
— E assim começa — Scott murmurou sob a respiração, alto o suficiente para que apenas Jean o ouvisse. Um sorriso se assentou sobre seus lábios.
— Por quê as pessoas se importavam, por falar nisso?
Scott encolheu um pouco os ombros?
— É só o jeito que as coisas funcionam na escola secundária. Como você é uma das garotas populares, a sua vida vira automaticamente um assunto muito interessante — ele provocou.
Ela lhe lançou um olhar de desaprovação pelo canto do olho, o que o fez sorrir.
— Por quê isso não tá te incomodando? — ela perguntou.
— Honestamente? Porque eu tou com você e isso é tudo que importa pra mim. Podem falar ou pensar o que quiserem.
Jean olhou para ele por um bom pedaço, um sorriso surgindo no seu rosto.
— Você sempre sabe exatamente o que falar pra fazer eu me sentir melhor, não é — ela disse, sem fazer uma pergunta.
De repente, uma sombra caiu sobre eles. Eles olharam para cima para ver o sorriso de superioridade de Duncan Matthews, vários dos seus colegas de futebol atrás deles.
— Ei, Summers, ela já te deixou descobrir se ela é ruiva natural? — ele perguntou, olhando de esguelha para Jean.
Scott pulou da cadeira e segurou Duncan pela frente do paletó antes que o outro percebesse o que estava acontecendo.
— Scott, não! — Jean falou de supetão.
Scott não deixou Duncan ir, mas ficou olhando fixo para ele, seus rostos separados por poucos centímetros. Duncan parecia bem assustado.
— Ele não vale a pensa, Scott — Jean insistiu, olhando para a multidão que tinha começado se formar ao seu redor.
— Não olhe para ela. Não fale com ela, e não fale sobre ela — Scott ameaçou em uma voz baixa, perigosa. — Se você falar, eu vou fazer você se arrepender.
Com isso, Scott soltou Duncan, empurrando-o de maneira que ele cambaleou um pouco. Duncan olhou para Scott, mas se afastou e fugiu rapidamente do ginásio, seguido por sua turminha. Houve uma salva de palmas e alguns gritos vindos do redor deles, e Scott olhou para a multidão, percebendo-a pela primeira vez. Ele corou com o embaraço, e se sentou.
— Meu herói — Jean falou secamente, observando os alunos voltarem para a dança. — Bela atuação de neandertal, por falar disso. O que aconteceu com o podem falar ou pensar o que quiserem?
Scott olhou para ela, meio envergonhado e meio na defensiva.
— Me desculpa, Jean, eu só não consigo ficar quieto e deixar ele dizer coisas como aquilo sobre você.
Jean suspirou.
— Eu sei, e eu acho um amor você querendo defender a minha honra — ela falou, roçando de leve a língua na sua bochecha.
Ele a encarou, mas então riu.
— Você é mesmo demais — ele gargalhou.
Ele riu para ele quando se levantou e estendeu a mão para ele.
— Dança comigo.
Ele segurou a mão dela quando se levantou e a guiou até a pista de dança, enquanto uma música lenta começava a tocar. Ele passou os braços pela cintura dele enquanto ela estendia os seus por sobre seus ombros. Ele percebeu de repente que, em todos os anos que se conheciam, essa era a primeira vez que dançavam juntos.
Ele devia ter transmitido aquele pensamento, porque Jean riu.
"Eu sei, estranho, né?", ela enviou para ele.
"Valeu a pena esperar", Scott respondeu enquanto a puxava para mais perto. Jean descansou a cabeça sobre seu peito e fechou os olhos, e ele a sentiu suspirar de contentamento. Ele acariciou suavemente a parte mais baixa das costas dela enquanto dançavam, apreciando a sensação do veludo sob seus dedos. Silenciosamente, ele se perguntou se a pele dela também seria tão macia, e quando ele teria a chance de descobrir.
"Eu ouvi isso", veio a voz mental dela, retirando Scott abruptamente dos seus devaneios. Ele podia sentir o corpo dela sacudindo, em uma gargalhada silenciosa.
— Não é educado bisbilhotar — ele murmurou, abaixando-se um pouco para que pudesse falar bem na sua orelha. Ela riu com mais entusiasmo, e Scott se pegou rindo também.
— Desculpa — ela respondeu baixinho, lutando para manter a cara séria quando ela encontrou os olhos dele pelas lentes vermelhas dos seus óculos. — Eu não queria, mas você tava pensando alto demais.
Ele tentou lhe lançar um olhar reprovativo, mas desistiu quando ela sorriu para ele.
"E, se você apostar as fichas certas, talvez você tenha a sua chance logo" ela enviou para ele.
Scott tinha certeza de que, se não parasse de sorrir, ia ficar com câimbra no rosto.
