Neve
Capítulo 11

Como era de se esperar, quase todos no Instituto tinham algum lugar para ir. Até Vampira tinha sido persuadida a passar algum tempo com a família de Kitty. Na véspera de Natal, o Instituto estava bem deserto, só Scott, Jean, o Professor Xavier e o Dr. McCoy estavam lá. Jean tinha se nomeado animadora do feriado, e recrutou Scott para ajudá-la a fazer biscoitos de açúcar. Canções de Natal estavam tocando alto no rádio, e a cozinha parecia uma zona de guerra.

— Você não é uma cozinheira muito boa, né? — Scott alfinetou enquanto ela examinha um livro de receitas, tentando descobrir por que sua massa de biscoitos tinha a consistência aproximada de panqueca batida.

Ela o jogou longe sem nem levantar a cabeça. Scott riu.

— Você sabe, Jean, você não precisa ser excelente em tudo. Tudo bem se você for horrível na cozinha.

— Eu não sou horrível na cozinha — ela disse incisivamente. — Eu só não li muito bem a receita, é tudo. Foi um erro assumido, e eu tenho certeza de que posso consertar.

Scott se encostou ao balcão e cruzou os braços, observando-a distraído.

— Uma pessoa que conhece sua falta de habilidades culinárias saberia a hora de admitir a derrota — ele sorriu.

— Você quer mesmo usar esse avental, Scott? Pois continue assim — ela avisou, apontando para ele com a colher de pau que ela estava usando para misturar os ingredientes, antes de voltar sua atenção outra vez para a receita. Ele simplesmente sorriu para ela, gostando um bocado de vê-la tão aturdida. Jean nunca tinha sido o tipo que admite a derrota com delicadeza – se ela não se saísse bem de primeira em alguma coisa, ela se esforçava até conseguir fazê-lo com maestria. Felizmente, parecia haver poucas coisas que ela não conseguia fazer com perfeição, se não fosse assim Scott temia que ela se matasse tentando. Contudo, parecia que cozinhar era uma das poucas coisas que estavam além das suas habilidades.

— Droga — ela resmungou. — Eu não entendo o que eu fiz.

— Só deixa de mão e começa outra vez — Scott sugeriu.

Jean suspirou.

— Acho que não tenho muita escolha.

Scott a ajudou a remedir os ingredientes a misturá-los, desta vez com sucesso. O resultado foi três dúzias deliciosas de papais-noéis, bonecos e flocos de neve e sinos.

— Te disse que eu não sou horrível na cozinha — Jean falou presunçosa para Scott, sorrindo enquanto mordiscava o chapéu de um papai-noel. — Tão perfeitos.

— Se vocês dois já terminaram de destruir a cozinha, eu gostaria muito de começar os preparativos para o jantar — Hank disse enquanto entrava na cozinha e enfiava um dos biscoitos na boca.

O jantar daquela noite foi um acontecimento calmo, mas agradável. Depois da janta, os quatro seguiram para a sala comunal para comer fios de ovos e biscoitos, e terminaram a noite assistindo Um Conto de Natal.

Devido à insistência de Scott e Jean, o Professor e o Dr. McCoy se retiraram à meia-noite, deixando os adolescentes para limpar tudo. Jean estava à pia da cozinha lavando copos quando olhou pela janela.

— Ah, Scott, olha! Neve de Natal! — ela disse numa voz cheia de admiração infantil.

Scott se juntou a ela próximo à pia e olhou para fora. Era óbvio que a neve estava caindo – pesadamente.

— Você não quer sair naquilo, quer? Tá nevando muito forte.

— Não tá tão ruim — Jean implorou. — Vamos lá, por favor? A gente pode se agasalhar todo, levar uma garrafa térmica com chocolate quente, um lençol pra sentar em cima, e ir até o lago. Vai ser divertido!

Scott a examinou por um minuto, os grandes olhos verdes implorando, um sorriso esperançoso nos lábios. Ele sabia que não tinha chance.

— Ok, ok — ele cedeu com um suspiro. Jean gritou excitada e jogou os braços ao redor dele.

— Isso não é perfeito? — Jean perguntou com um suspiro satisfeito. Ela e Scott estavam sentados num lençol estendido na doca; Jean sentada entre as pernas de Scott, encostada a seu peito. Um vapor saía do lago, a água mais quente do que o ar frio, e a neve continuava a cair. Scott tomou um gole do seu chocolate quente, murmurando sua concordância. — Eu não consigo imaginar um jeito melhor de passar a véspera de Natal — ela continuou, girando a cabeça para beijá-lo. E a beijou de volta, e sorriu.

— Você não se arrepende de não ter ido para casa? — ele perguntou, ainda preocupado.

— Ah, eu só tou desolada — Jean desdenhou. — Eu preferiria mil vezes estar em casa lidando com assuntos de família e ouvindo a Sarah passar horas e horas falando sobre planos pro casamento do que estar com meu namorado.

— Sabe, eu acho que nunca vou enjoar te ouvir me chamando assim — Scott admitiu, ignorando o sarcasmo.

Jean sorriu e acariciou o braço que ele tinha passado pela cintura.

— "timo.

Eles ficaram em silêncio por um bom pedaço, simplesmente aproveitando estarem juntos.

— Você consegue acreditar que esse é o nosso último ano de escola? — Scott finalmente perguntou.

Jean balançou a cabeça.

— Parece meio irreal.

— Você já pensou com calma onde você quer fazer faculdade?

— Sim e não — ela disse. — Tem universidades excelentes, então, contanto que a gente vá para o mesmo lugar, eu não tenho preferência.

— Mesmo? — Scott perguntou, claramente surpreso.

— Claro. Nós sempre planejamos fazer assim – nós acordamos isso no começo da décima série. Eu sei que nós nos inscrevemos para as mesmas escolas, então eu acho que nós devêssemos tomar essa decisão juntos — ela disse, e fez uma pausa. — A não ser que você não queira mais fazer a universidade junto comigo.

É claro que eu quero que nós façamos a universidade juntos — ele disse, abraçando-a com força e enterrando o rosto no cabelos cheio de neve dela. — Agora mais do que nunca.

Jean saiu de entre as pernas dele, e virou o corpo. Scott recolheu as pernas preparando-se para se levantar, mas ela o surpreendeu jogando rapidamente uma perna sobre ele de modo que ela estivesse como que montada em um cavalo, sentada nas coxas dele. Ela ficou ali olhando para ele por um bom pedaço.

Scott estava embevecido com quão bonita ela estava naquele momento, o brilho da neve iluminando sua pele clara, flocos de neve rodopiando ao redor dela, o cabelo balançando suavemente na brisa.

— Que foi? — ele perguntou finalmente, ficando desconfortável sob o olhar dela.

Ela não respondeu, ao invés disso se inclinou para frente e cobriu os lábios dele com os seus. Scott respondeu o beijo dela. Sem quebrar o contato, Jean se empurrou levemente contra o peito de Scott e ele se inclinou para trás até sentir a dureza da doca sob seu corpo. Ele se agarrou com força às costas dela através da jaqueta grossa que ela usava, trazendo-a mais para perto. Ele pôde sentir o calafrio subindo pelo lençol, pelo seu casaco, mas ignorou-o.

Apoiada nas mãos e nos joelhos, Jean continuava o assalto à boca de Scott. Eles se beijaram até suas respirações ficarem ofegantes. Scott deslizou cautelosamente as mãos pelos seus quadris e acariciou a parte mais traseira, e ficou entusiasmando quando Jean ficou um pouco sobressaltada mas depois o beijou com ainda mais vigor. Ele empurrou gentilmente seus joelhos, de modo que ela ficasse completamente deitada sobre ele. Ela cedeu, e ele se deleitou com a sensação do peso dela. Ele abriu um pouco as pernas, permitindo-lhe ficar entre elas, sua pélvis pressionando a dele. Ele sentiu sua inspiração rápida com o contato, e rapidamente rolou para ficar sobre ela, sabendo que tinha sido um pouco cedo demais. Eles continuaram a se beijar por vários minutos antes de finalmente se separarem. Eles ficaram deitados ali olhando um nos olhos do outro, sentindo suas respirações. Os flocos de neve que aterrissavam sobre suas peles superaquecidas eram refrescantes quando derretiam. Scott segurou a mandíbula dela e acariciou levemente sua bochecha com o polegar.

— Eu te amo — ele falou baixinho, impulsivamente.

Jean sorriu para ele, a felicidade parecendo irradiar dos olhos.

— Também te amo — ela respondeu, a voz pouco acima de um sussurro. Eles se beijaram outra vez, e o beijo estava cheio da doçura das suas declarações.

Eles se levantaram e pegaram o lençol e a garrafa térmica em silêncio, e pegaram o caminho de volta para a mansão.

— Eu te disse que ia ser divertido vir aqui fora — Jean finalmente falou, sorrindo rapidamente para Scott de um jeito malicioso. Ele riu, parou de andar e a prendeu entre os braços. Ele simplesmente a abraçou.

Eles finalmente entraram em casa. Eles ficaram à porta do quarto de Jean se beijando gentilmente.

— Vai ser um caminho tão solitário pelo corredor até o meu quarto, completamente sozinho — Scott provocou.

Jean riu baixinho, mas depois ficou séria.

— Scott, eu sinto muito. Eu sei que parece clichê, mas eu ainda não tou preparada pra isso.

— Eu sei, eu sinto muito, tava só provocando — ele disse apressado, sentindo-se culpado por tê-la feito sentir-se mal. — Eu nunca te forçaria a nada, espero que você saiba disso.

— Claro que eu sei — ela o reconfortou, segurando sua mão. — E eu posso te dizer, sem dúvida, que não vou te fazer esperar pra sempre. Não interessa o que o Duncan possa dizer, eu não sou de ficar enrolando.

— Foda-se o Duncan — Scott disse amargamente, chocando Jean com a veemência por trás das palavras.

— Não, obrigada — Jean brincou, tentando aliviar a súbita tensão. — Eu não costumava fazer isso quando estava namorando ele, e tenho certeza de que não vou fazer agora.

Scott olhou para ela.

— Não fique uma fera.

— Eu não estou uma fera. Eu tou tentando fazer você relaxar. E falhando miseravelmente, pelo jeito — ela falou.

Ele forçou um suspiro.

— Me desculpa. Eu só não quero que você me compare ao Matthews.

— Eu não tava comparando — ela o reconfortou. — Eu só tava tentando te dizer que não sou de ficar provocando. Eu não vou te enrolar.

Scott finalmente sorriu e beijou a testa dela.

— Eu sei, e eu nunca pensei que você fosse.

Ela inclinou a cabeça para trás convidativamente e ele a beijou nos lábios.

— Agora via dormir ou o Papai Noel não vem.

Jean sorriu para ele uma última vez e se virou para entrar no quarto. Ela girou a cabeça para trás e sorriu para ele por sobre o ombro.

— Eu te amo mesmo — ela falou, e atravessou a porta, fechando-a atrás de si.

Scott passou por duas portas corredor em frente até seu quarto, sorrindo para si próprio. Feliz Natal pra mim.