Olá,
Mais uma semana, mais um capítulo. Este aqui, coitado, certamente eclipsado pelas cenas de ação com que as autoras de séries SdA nos brindaram na última semana:
CRÔNICAS ARAGORNIANAS, de Nimrodel, continuam magistrais, não sei como ela consegue fazer um texto ao mesmo tempo lírico e violento;
Elfa Ju nos deixou zonzos com tanta ação em ROSAS, ARMAS, AMOR E SANGUE;
E Sadie, por fim, nos brindou com o emocionante capítulo 17 de VIDAS E ESPÍRITOS, para mim o melhor de toda série até agora. Agradeço a ela por esse texto maravilhoso, pela consistência de seu Rei Thranduil e, obviamente, pela propaganda desavergonhadamente enganosa que tem feito do meu fic. Obrigada Sadie ... onde quer que você esteja se escondendo das organizações pró-elfos.
Ao contrário delas, não sou boa em cenas de ação...desenvolvi até uma técnica: sempre que possível as evito. Se são importantes para o desenrolar da história, algum personagem comenta "o que o impressionou na batalha de ontem"...
Entretanto, às vezes me arrisco numa seqüência de pouca monta, principalmente se é inevitável.
Vamos logo a ela, assim que eu agradecer a gentil review de Lady-Liebe...já estava me sentindo discriminada (hehehe)
A PAIXÃO DOS EDAIN
Capítulo VI - Os Visitantes
A SURPRESA DE NIÉLE
O Retorno ao ponto central da fronteira apagou as preocupações da mente de Haldir, ele tinha visitas.
- Mîleithel! – Haldir rodopiou em seu braços a criança que correra para ele – meu filho querido, você veio se juntar aos guardiães de Lórien afinal!
- Já está quase pronto para isso – sorriu Niéle.
- Niéle! Mae Govannem – saudou-a Haldir.
- Mae Govannem, Niéle – acorreram Rúmil e Orophin.
- Mae Govannem – respondeu a moça, e acrescentou – Mae Govannem, Mornfinniel.
- Mae Govannem, senhora – respondeu Mornfinniel com um cumprimento formal.
- Veio até a fronteira sozinha para nos trazer esta alegria? Sou-lhe muito grato, Niéle, mas por que fez isso? Está acontecendo alguma coisa? Trouxe palavras do Senhor ou da Senhora? – perguntou Haldir
- O Senhor Celeborn tem estado ocupado com embaixadas de Valfenda e da Floresta das Trevas. Mîleithel tem estado impossível desde então, e a Senhora Galadriel achou bom que eu o trouxesse para ver a você e à mãe – respondeu a dama.
- Conte-me tudo sobre essas embaixadas, Niéle – disse Haldir passando Mîleithel para o colo de Mornfinniel, que o segurou desajeitadamente enquanto Haldir e Niéle se afastavam. – Precisamos nos preparar, pois chegará a hora de combater abertamente a sombra que cresce – a voz dele se foi distanciando, enquanto Mornfinniel voltava-se lentamente para a criança estranha que pesava em seus braços.
Mornfinniel correu a atender ao chamado de Haldir:
- Mornfinniel, providencie acomodações para a senhora Niéle – ordenou o Capitão. – Perdoe-me, Niéle, minha avidez sobre notícias da batalha que anseio por travar me fez falhar para com você, que deve estar cansada da longa viagem. Foi muito corajosa vindo sozinha.
- Nada temerei enquanto a Floresta Dourada estiver sob sua proteção, Capitão Haldir, e muito me apraz ser-lhe útil com as poucas informações de que disponho; eu é que falhei para consigo em não trazer mais conhecimento sobre as deliberações acerca de nossas defesas.
- De forma alguma, minha cara Niéle. Sua presença entre nós é uma dádiva que não deve ser conspurcada com preocupações que não concernem às damas. Mornfinniel ficará à sua disposição para tentar tornar sua estada entre nós o mais digna possível de sua graciosidade, e mitigar a falta de cortesia deste soldado que é seu servo, minha senhora. – Haldir se curvou galantemente à saída da dama élfica.
Mornfinniel fez o melhor possível para acomodar Niéle. Na verdade sentia-se envergonhada da própria indignação com as ordens de Haldir, pois não estaria lhe proporcionando nada que não houvesse recebido dela muito mais vezes, em hora de maior necessidade. Niéle fora o anjo que velara seu sono, a vestira e banhara em Caras Galadhom, quando Mornfinniel renascera aos cuidados da Senhora Galadriel. Sua vida era sua dívida para com ambas.
E, além do mais, Niéle ficara com a criança, aquela que diziam ser seu filho, mas pela qual Mornfinniel não sentia nada, só estranheza.
Portanto, naquele momento Mornfinniel se sentia duplamente constrangida: por sentir-se desgostosa em servir uma dama tão amável e delicada, com a qual estaria eternamente em débito e com quem não conseguia deixar de se comparar; e pela presença da pequena criatura com a qual todos percebiam que não tinha a menor intimidade.
O MASCOTE DA FRONTEIRA
A senhora Niéle buscou integrar-se ao dia-a-dia da fronteira, embora fosse evidente que seu lugar não era aquele. Haldir e seus irmãos, por sua vez, cumularam de atenções a amiga de longa data. Todos os guardiães tratavam com grande deferência a dama da Senhora Galadriel, assim como todos se ocupavam do pequeno soldado que Seus Senhores haviam enviado para integrar a guarnição da fronteira.
Alto e forte como se tivesse 4 ou 5 anos, Mîleithel fazia mais uma vez jus ao nome, não menos querido entre a tropa do que entre as damas da corte.
No dia em que o menino atingiu pela primeira vez um coelho com suas setas, todos o cumprimentaram efusivamente.
- Você é um verdadeiro guardião da fronteira agora, e vou pedir ao Senhor Celeborn que o coloque sob meu comando direto – declarou Haldir solenemente, ajoelhado em frente ao menino, que nessa posição lhe chegava quase à altura do peito. – "Como você está grande", pensou. "Quem é você , garoto adorado, e que força acelera seu crescimento assim?" – mas a sombra que toldou momentaneamente a fronte do capitão foi afastada pelo sorriso cristalino daquele olhar confiante e amoroso.
Mornfinniel se perguntava quando Niéle iria embora.
Haldir e Rúmil logo precisaram retomar a rotina de suas obrigações e se ausentaram numa inspeção ao Sul, demorando a retornar. Entediado, Mîleithel exigiu de Orophin uma caçada:
- Meu pai me fez setas novas, e eu PRECISO testá-las!
- PRECISA testá-las, jovem capitão? Pode me responder como foi que se imbuiu tão rápido do jeito arrogante de seu ada? – mas Orophin ardia de orgulho pelo jovem sobrinho, a quem nem Haldir conseguia resistir, e decidiu fazer-lhe de presente uma grande aventura.
- Vamos partir numa expedição de caça então!
- Uma expedição de caça? – o semblante do menino brilhou.
- Isso mesmo, e vamos acampar na fronteira.
- Acampar!? – Mîleithel abraçou o tio.
- Acampar! E Mîleithel vai aprender com seu tio a acender uma fogueira.
- Uma fogueira! Uma fogueira! – Mîleithel dançava e batia palmas. O olhar do pequeno em Orophin era da mais pura adoração.
Apenas Mornfinniel tentou se opor:
- Haldir nos comerá vivos se voltar e só encontrar a senhora Niéle aqui.
- Oh, mas eu irei também, não posso perder essa expedição por nada – Niéle saiu em defesa da promessa que iluminara o rosto do menino.
- A borda da floresta não é lugar para criança – tentou argumentar.
- E só por uma noite. – respondeu Orophin – e eu já empenhei minha palavra de honra.
- Quer dizer que deixaremos nossos postos totalmente abandonados? Vou pedir aos Valar que Haldir não retorne na nossa ausência! – mas Mornfinniel também estava entediada, depois de uma estação inteira bancando o pajem, e a idéia de uma noite sob as estrelas lhe pareceu sedutora.
O SEQUESTRO
A aventura fora um sucesso absoluto, e, se por um momento o coração de Orophin bateu oprimido por uma sombra de preocupação, certamente com a possível reprimenda de Haldir à travessura, a respiração de Mîleithel enroscado junto a ele, dormindo tranqüilamente, reconduziu-o ao ritmo normal.
Os guardiões ainda dormiam quando Niéle despertou junto às cinzas da pequena fogueira. Fora uma noite desconfortável para ela, deitada no chão, duro ainda que forrado com a relva de Lothlórien.
A dama procurou levantar-se com o máximo silêncio, para se recompor antes de ser flagrada com o ar cansado; queria ser considerada uma verdadeira companheira entre os guardiões da fronteira, e não algo à parte de suas vidas.
Olhando em volta, seu coração procurou por Mîleithel. O tithen dormira junto de Orophin, seu novo ídolo, mas onde estava agora?
Niéle foi se afastando em direção às colinas que Mîleithel contemplara com olhos curiosos no dia anterior, os olhos élficos vislumbrando sinais do menino nas pedras ao longe.
Orophin acordou com o grito distante, e Mornfinniel saltou de pé no mesmo instante. Começaram a correr ainda prendendo as espadas à cintura e as aljavas às costas. O jovem elfo voava à frente, subindo a encosta, mas Mornfinniel conseguiu agarrá-lo no último momento, antes que atingisse o topo e os orcs que se afastavam pudessem vê-los.
- Veja primeiro onde estão Niéle e o menino!
- Os orcs os estão levando. Mîleithel está chorando e Niéle parece desmaiada. Vamos atrás deles!
- São muitos, Orophin! – viu-os Mornfinniel - Uma parte pode nos atrasar enquanto a outra foge levando-os, ou pior ainda, podem matá-los quando se virem atacados. Não poderemos só nós dois pô-los à salvo.
- Pela luz de Elbereth, temos que fazer alguma coisa!
- Você corre dez vezes mais do que eu. Vá buscar Haldir. Ele tem de já estar retornando! É dele que precisamos agora.
- E abandonar Niéle e Mîleithel a estes animais? Nunca! Não sabemos para que destino cruel os estão levando.
- Eu os seguirei e sinalizarei o caminho, e também os atrasarei o quanto possível. É a única chance de salvá-los, não se entregue a um ato sem esperanças meu irmão!
- É minha culpa!
- Deixe a atribuição de culpas a cargo de Haldir quando tudo estiver resolvido. No momento a vida dos que nos são caros estão em suas pernas, vá agora!
Orophin e Mornfinniel então dispararam em direções opostas.
O RESGATE IMPOSSÍVEL
Mornfinniel agradecia em pensamento a Rúmil por sua enervante insistência em reclamar do barulho de seus movimentos, pois agora conseguia acompanhar os orcs despercebida, mesmo nos caminhos estreitos dos vales sombreados que o grupo percorria rapidamente.
Assim como no coração de Orophin, também no seu ardera o desejo de simplesmente fazer uso suas setas e depois ir ao encontro de seu destino brandindo a espada; mas nas circunstâncias a mulher pedia não a Manwë por força, mas a Elbereth por iluminação, para encontrar uma maneira de retribuir sua vida à Niéle, que no fundo lhe era muito querida.
A proximidade do meio-dia, porém, precipitou os acontecimentos. Os orcs buscaram uma parada ao abrigo do sol, e suas atenções se voltaram para a dama pura e branca, abraçada ao menino assustado. Mornfinniel não conseguiu mais se conter, e começou a disparar suas setas, correndo de uma árvore a outra, na esperança de fazer crer que não agia só.
A princípio a tática surtiu efeito, e os orcs se dispersaram em busca de proteção, até que a aljava da edain esvaziou-se por completo.
A situação se invertera, e era ela agora que se escondia dos orcs que vasculhavam a procura do elfo solitário que não poderia empreender um resgate contra seu numeroso grupo. Mornfinniel era um animal acuado, e ainda pior era sua disposição por saber que fracassara e não conseguira proteger a amiga. Num assomo sacou a espada e atacou os orcs que voltavam- se novamente para Niéle, a maldade das intenções estimulada.
Sabia que era um sacrifício inútil, mas simplesmente não toleraria sobreviver com a lembrança de que não fizera nada.
Dezenas de setas crivaram os corpos dos orcs enquanto Mornifinniel protegia Niéle, abatendo com a espada os mais próximos. Haldir correu até eles com uma flecha ainda em seu arco, seguido pelos irmãos, e abraçou Niéle e Mîleithel.
- Graças às estrelas de Elbereth! – disse ele ao verificar que estavam bem, passando Mîleithel a Rúmil e tomando Niéle em seus braços, não sem antes dirigir um olhar terrível a Mornfinniel.
Haldir foi para Caras Galadhom escoltando Niéle pessoalmente. Mornfinniel se sentia miserável; antes de partir ele lhe dissera que esperara que velasse pelo filho, mas deveria ter sabido que não poderia confiar no zelo de uma mãe como ela.
Desejava que ele não voltasse nunca e desejava que voltasse o quanto antes. Não conseguia suportar a imagem de Niéle em seus braços e não conseguia pensar em outra coisa. Como Haldir poderia ignorar a beleza e o amor em seus olhos claros?
Uma admoestação de Rúmil a Orophin levou-a a uma nova confrontação física com esse, o que parecia ter lhe custado uma costela fraturada.
- Pare com isso, não preciso que você me defenda! – Orophin despejou sua raiva sobre ela.
Seu coração estava esgarçado, seu corpo moído e acabara de perder o único amigo verdadeiro. Mornfinniel lançou ao céu um olhar de desafio, não iria se curvar àquela sina injusta!
