As reviews foram poucas... mas como eu também estou entrando em ritmo de provas, vou ser compreensiva...
E, de qualquer forma, Vick Weasley esteve ocupada com uma nova fic – O VINGADOR - cujo prólogo já me conquistou inteiramente ... entretanto que fique avisada: isso não vai servir de desculpa para não atualizar BITERSWEET.
Já Kika-sama brindou-nos semana passada com uma fic só – O ADEUS A ELESSAR - mas como sua narrativa está amadurecendo! Em todos os sentidos.
CRÔNICAS ARAGORNIANAS ganhou um novo personagem, na verdade uma nova personagem, deliciosa, e Nimrodell Lorelim parece-me cada vez mais um pássaro que vai ganhando altitude e confiança, superando-se a cada novo capítulo (e você disse que achava que não ia dar certo, que ela ia ser apagada...).
Elfa Ju Bloom, por fim, trouxe-nos mais dois capítulos de ROSAS, ARMAS, AMOR & SANGUE... bom, não tenho procuração de ninguém para avaliar criticamente o trabalho dos outros autores do ffnet – que aliás deveriam ter poucas e boas para falar do meu, se dispusessem de tempo a perder – e, se há uma professora entre nós, certamente não sou eu...mas não consigo deixar de reparar o quanto o texto de determinadas pessoas está evoluindo, desde que comecei a acompanhá-lo. E é o caso dos dois últimos capítulos de ROSAS...houve momentos, nos capítulos anteriores – desculpe Ju – em que tive dificuldade para entender quem era o sujeito de uma dada ação (sou meio devagar), mas agora o texto ganhou em clareza, sem perder em nada a emoção e o ritmo frenético que vêm sendo suas marcas. Os personagens também, ganharam profundidade (sem perder o mistério); e o romance terno, que às vezes assusta um autor –acreditem, eu também tremo nas bases quando escrevo alguns trechos mais ... íntimos - pelo menos para mim tornou sua fic ainda mais envolvente.
OS JARDINS DE ITHILIEN, de L. Eowyn, é uma recomendação permanente.
A assinatura de Lady Liebe é sempre uma garantia de boas risadas.
VIDAS E ESPÍRITOS, de Sadie Sil, dispensa comentários...mas se alguém ainda não leu MANCHAS VERMELHAS, faça-o agora! Antes que ela ache que não pode escrever sobre mais nada, porque todo autor já utilizou um farrapo de toda e qualquer idéia de alguma forma...Ah! Sadie...
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A PAIXÃO DOS EDAIN
Capítulo IX - Os Filhos de Haldir
A PERMISSÃO DOS SENHORES
- Muito inesperada é esta solicitação, Haldir – disse o Senhor Celeborn. – Raras foram as uniões entre edain e eldar, e há razão para isso, pois como ficaria você, depois que ela tivesse partido, como acontecerá num tempo que é muito breve para o nosso povo? Mesmo nas ocasiões em que tal foi permitido, não o foi sem pesar, pois a impermanência de tais uniões é sua única garantia. E estes são tempos de incerteza, Haldir, tempos em que esse desejo que se acendeu em seu coração se faz ainda menos razoável.
- Certas são as suas palavras, Meu Senhor, mas o destino dos filhos do Único, como as águas, não corre por caminhos retos, embora siga sempre para o mar.
- Mar que tem sido cada vez mais o destino do nosso povo, Haldir. Além de tudo você estaria se prendendo à Terra Média por esses laços que não seria sem grande consternação que eu permitiria que atasse.
- Entretanto, parece que tais laços já se enovelaram – a Senhora Galadriel falou ao chegar à sala onde o Senhor Celeborn se reunia com seu capitão, indo postar-se ao lado do esposo enquanto Haldir fazia uma profunda reverência.
- De alguma maneira, o destino de Haldir se uniu mais ao destino da Terra Média, aonde uma parte dele talvez venha a ficar de um jeito ou de outro, pois o que aconteceu já não pode mais ser desfeito.
- Isso é então motivo de pesar – declarou o Senhor Celeborn – pois vejo um jovem valoroso abrir mão de sua liberdade por algo que só poderá lhe trazer tristeza.
- Minha liberdade está em servir aos Meus Senhores – respondeu Haldir, pois aqueles que amavam a Senhora Galadriel não falavam então em votar às Terras Imortais – e nisto, acima de tudo, reside minha alegria.
- Não só nisso, Haldir, pois a notícia que você nos traz é uma notícia de alegria – falou Galadriel.
- Suas palavras são um consolo, Senhora – respondeu Haldir.
- Haldir vai ter um filho – disse Galadriel a Celeborn.
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SOZINHA COM O MENINO
Havia um ar de melancolia em Niéle, quando levou Mîleithel ao Talan de Mornfinniel, e a edain sentiu uma certa vontade de dizer-lhe para ficar com a criança, afinal era mais mãe do pequeno do que ela.
- Haldir também o considera íon dele, minha querida. Você lhe traz grande fortuna com seus frutos. Cuide bem de todos eles.
Fortuna? Será que esses filhos representariam alguma benção para ele? Não sabia se representavam para ela, pois Haldir agora a deixara em Caras Galadhom e voltara para a fronteira. Vinha amiúde vê-la, mas sua expressão estava sempre toldada de preocupações. Ela não exigira nada, não o forçara a nada, ele é que fizera questão de unir-se a ela aos olhos de Lórien. Para quê? Para abandoná-la na cidade das árvores? Aquele filho parecia a ela precipitar um final, e não um começo entre eles.
Embora não se entendessem bem quando Haldir vinha, Mornfinniel derramava lágrimas de raiva e tristeza cada vez que ele a deixava, proibindo-a de voltar com ele às fronteiras da Floresta Dourada.
- Você está chorando, nana? – Mîleithel chamava todas de mãe, mas a canção sindarin de sua voz tocou algo no coração da estrangeira.
- Não tithen, Mornfinniel não chora. Mornfinniel sente saudades do seu papai, seu ada.
- Meu ada me deu uma espada nova, porque já estou muito crescido, você quer ver?
- Claro. – Muito, muito crescido, pois o menino não tinha nem três anos e já aparentava o dobro. Todos lhe diziam que era seu filho, embora ela só soubesse das circunstâncias em que nascera pelo que Niéle lhe contara. Para Mornfinniel esta gravidez era como se fosse a primeira, e ela não reconhecia seu corpo. O corpo que durante tanto tempo ansiara por ver no espelho era agora motivo de desgosto, com o ventre protuberante, as ancas largas e os seios cheios. Como Haldir poderia desejá-la assim?
Como era horrível estar grávida, e entretanto, como podia ser fonte de consolo a criaturinha que disso resultasse! Pois naqueles dias Mîleithel era seu único consolo, e ela brincava de espada com ele, e treinavam com o arco, e Mornfinniel também o levou para a clareira das estrelas, e lhe ensinou sobre o céu de Elbereth, como Haldir havia ensinado a ela.
Naquelas noites, após um dia de brincadeiras, ele adormecia em seu colo escutando suas preocupações, e ela o carregava nos braços de volta ao talan, uma criaturinha absolutamente confiante no amor infinito que respirara desde o primeiro momento de vida.
- Ah, tithen, aleitado no amor da Senhora Galadriel, onde vou encontrar em mim o mesmo carinho para dedicar ao seu irmãozinho? Ajude-me pequeno amigo – dizia ela para a criança adormecida em seus braços, onde brevemente estaria outro filho.
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Haldir temia a espada sob a qual pusera a própria cabeça. Não apenas se entregara a um amor sem futuro, como ainda se condenara a perder um filho também. Dois, na verdade. E se revoltava contra a sina dos edain, na qual agora fora enredado: conhecer tanta vida sabendo que ela acabaria!
Haldir preocupava-se também pelo parto de Mornfinniel, a quem, a despeito das condições bem mais favoráveis de que certamente desfrutava agora do que por ocasião da vinda de Mîleithel, a gravidez trouxera antes amargura do que alegria:
- Vá logo para a sua fronteira, não preciso de mais um me pajeando aqui – disse ela, azeda, naquela manhã.
- Vim para ficar, a hora do nascimento não tarda.
- Mais um motivo para você ir embora.
Mas Haldir continuou em Caras Galadhom, embora a mulher se afastasse à sua aproximação. Na mesma noite as dores começaram, o que não era usual entre as eldar, e Haldir temeu como nunca antes temera em batalha ou combate, agarrado a Mîleithel enquanto os gemidos de Mornfinniel iam serenando, até ser chamado pela Senhora Galadriel.
- Mornfinniel?
- Mornfinniel está bem, Haldir venturoso, e lhe trouxe mais um filho.
- Elbereth seja louvada, Minha Senhora.
- Um filho eldar, Haldir.
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O FILHO ELDAR
Os olhos de Mornfinniel eram como a noite estrelada ante o contentamento de Haldir com o nascimento de um filho de sua raça, reafirmando sua linhagem, perpetuando seu amor pela eternidade.
O próprio Senhor Celeborn cumprimentou Haldir: – De muito júbilo são os dias em que também a semente dos bons frutifica. – Trazia pela mão Mîleithel, e Haldir levantou o filho adotivo até o berço.
- Veja que belo o irmão que você ganhou, tithen.
- Ele é meu? – perguntou o pequeno.
- Aye. Sim, ele é seu, e vocês dois são meus – o amor pelo filho recém- nascido reforçava o amor de Haldir pelo filho mais velho, e àquele tempo já ninguém em Lórien deixava de vê-los desta forma.
- Todos os corações se alegram ao ver o seu tão abençoado pela fortuna – falou Niéle, embora houvesse uma nota de emoção dissonante em sua voz.
Na satisfação orgulhosa de Haldir, Mornfinniel encontrou facilmente em si mesma o amor pelos filhos que sacramentavam sua união; e a beligerância de seu espírito adormeceu no colo da maternidade.
Aqueles foram os melhores anos de sua vida em comum, pois o nascimento do filho que permaneceria retirou de Haldir todas as restrições com que encarara aquela relação. Suas ausências de Caras Galadhom eram curtas: encontrara as Terras Imortais nos braços de Mornfinniel e nas vozes alegres de seu ionath, e não ansiava por outro tempo ou lugar. A felicidade de seu coração eram os dias passados ao lado dos meninos e as noites passadas ao lado da esposa.
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DOS TEMPOS DE ENCANTAMENTO
Mornfinniel às vezes manifestava o desejo de voltarem todos à fronteira, mas Haldir replicava:
- Para vê-la dançar com a morte no campo de batalha novamente? Não, Cabelos Negros, você é minha esposa agora, e seu lugar e de meus filhos é onde eu saiba que estão protegidos. Nem que seja preciso mantê-la acorrentada ao pé da cama você não sairá de Caras Galadhom.
E ao escutar a posse na voz de Haldir a alma da guerreira era subjugada pelo coração da mulher, que ansiava acima de tudo pertencer ao seu senhor.
- Ademais, prefiro você de vestido que de calças, Cabelos Negros. Seus atributos não precisam ser mais evidenciados do que já se evidenciam a si mesmos. E os cabelos livres do elmo daquela trança apertada, minha esposa.
Mornfinniel se comprazia em atender-lhe os desejos, ainda que escolhesse vestidos de cores escuras, azuis ou preferencialmente vermelhos, às claras vestes das damas de Lothlórien, que sentia destacarem em demasia o tom avermelhado e escuro de sua pele, em contraste com a pele nívea dessas. E ao menos uma parte do cabelo trazia trançado, para evitar que sua aparência selvagem sobressaísse demais em meio à seda delicada das melenas das filhas dos primogênitos.
Afastado de qualquer preocupação por um vento de quase euforia que soprava de seu coração, Haldir - que era jovem entre os elfos, com apenas algumas dezenas de séculos – chegava a pensar que não poderia haver felicidade maior que a proporcionada por aquele amor entre eldar e mortal, pois mesmo nas lendas de seu povo, este era o das canções supremas. E, permitindo-se vivê-lo sem angústias, decidiu que era tempo também de praticá-lo sem urgências, e introduzir Mornfinniel em seu refinamento.
- Não seja tão afoita, criaturinha selvagem e apressada. – reclamava ele, entre risos, àquela boca sempre sedenta que só sabia bebê-lo em largos tragos. Por fim Haldir acabava imobilizando-a, e ainda que Mornfinniel lutasse toda vez que percebia nele essa intenção, havia mais prazer em sua derrota do que ela jamais encontrara antes em suas vitórias.
Submetendo-a totalmente, Haldir explorava cada palmo do território conquistado, clamando soberania sobre o seu corpo, marcando cada nervo com o signo de sua casa. E o corpo dela jamais pode esquecer disso.
Mornfinniel dos cabelos negros, Mornfinniel que era só dele - dizia Haldir ao mergulhar na rosa vermelha de sua esposa.
E, de qualquer forma, Vick Weasley esteve ocupada com uma nova fic – O VINGADOR - cujo prólogo já me conquistou inteiramente ... entretanto que fique avisada: isso não vai servir de desculpa para não atualizar BITERSWEET.
Já Kika-sama brindou-nos semana passada com uma fic só – O ADEUS A ELESSAR - mas como sua narrativa está amadurecendo! Em todos os sentidos.
CRÔNICAS ARAGORNIANAS ganhou um novo personagem, na verdade uma nova personagem, deliciosa, e Nimrodell Lorelim parece-me cada vez mais um pássaro que vai ganhando altitude e confiança, superando-se a cada novo capítulo (e você disse que achava que não ia dar certo, que ela ia ser apagada...).
Elfa Ju Bloom, por fim, trouxe-nos mais dois capítulos de ROSAS, ARMAS, AMOR & SANGUE... bom, não tenho procuração de ninguém para avaliar criticamente o trabalho dos outros autores do ffnet – que aliás deveriam ter poucas e boas para falar do meu, se dispusessem de tempo a perder – e, se há uma professora entre nós, certamente não sou eu...mas não consigo deixar de reparar o quanto o texto de determinadas pessoas está evoluindo, desde que comecei a acompanhá-lo. E é o caso dos dois últimos capítulos de ROSAS...houve momentos, nos capítulos anteriores – desculpe Ju – em que tive dificuldade para entender quem era o sujeito de uma dada ação (sou meio devagar), mas agora o texto ganhou em clareza, sem perder em nada a emoção e o ritmo frenético que vêm sendo suas marcas. Os personagens também, ganharam profundidade (sem perder o mistério); e o romance terno, que às vezes assusta um autor –acreditem, eu também tremo nas bases quando escrevo alguns trechos mais ... íntimos - pelo menos para mim tornou sua fic ainda mais envolvente.
OS JARDINS DE ITHILIEN, de L. Eowyn, é uma recomendação permanente.
A assinatura de Lady Liebe é sempre uma garantia de boas risadas.
VIDAS E ESPÍRITOS, de Sadie Sil, dispensa comentários...mas se alguém ainda não leu MANCHAS VERMELHAS, faça-o agora! Antes que ela ache que não pode escrever sobre mais nada, porque todo autor já utilizou um farrapo de toda e qualquer idéia de alguma forma...Ah! Sadie...
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A PAIXÃO DOS EDAIN
Capítulo IX - Os Filhos de Haldir
A PERMISSÃO DOS SENHORES
- Muito inesperada é esta solicitação, Haldir – disse o Senhor Celeborn. – Raras foram as uniões entre edain e eldar, e há razão para isso, pois como ficaria você, depois que ela tivesse partido, como acontecerá num tempo que é muito breve para o nosso povo? Mesmo nas ocasiões em que tal foi permitido, não o foi sem pesar, pois a impermanência de tais uniões é sua única garantia. E estes são tempos de incerteza, Haldir, tempos em que esse desejo que se acendeu em seu coração se faz ainda menos razoável.
- Certas são as suas palavras, Meu Senhor, mas o destino dos filhos do Único, como as águas, não corre por caminhos retos, embora siga sempre para o mar.
- Mar que tem sido cada vez mais o destino do nosso povo, Haldir. Além de tudo você estaria se prendendo à Terra Média por esses laços que não seria sem grande consternação que eu permitiria que atasse.
- Entretanto, parece que tais laços já se enovelaram – a Senhora Galadriel falou ao chegar à sala onde o Senhor Celeborn se reunia com seu capitão, indo postar-se ao lado do esposo enquanto Haldir fazia uma profunda reverência.
- De alguma maneira, o destino de Haldir se uniu mais ao destino da Terra Média, aonde uma parte dele talvez venha a ficar de um jeito ou de outro, pois o que aconteceu já não pode mais ser desfeito.
- Isso é então motivo de pesar – declarou o Senhor Celeborn – pois vejo um jovem valoroso abrir mão de sua liberdade por algo que só poderá lhe trazer tristeza.
- Minha liberdade está em servir aos Meus Senhores – respondeu Haldir, pois aqueles que amavam a Senhora Galadriel não falavam então em votar às Terras Imortais – e nisto, acima de tudo, reside minha alegria.
- Não só nisso, Haldir, pois a notícia que você nos traz é uma notícia de alegria – falou Galadriel.
- Suas palavras são um consolo, Senhora – respondeu Haldir.
- Haldir vai ter um filho – disse Galadriel a Celeborn.
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SOZINHA COM O MENINO
Havia um ar de melancolia em Niéle, quando levou Mîleithel ao Talan de Mornfinniel, e a edain sentiu uma certa vontade de dizer-lhe para ficar com a criança, afinal era mais mãe do pequeno do que ela.
- Haldir também o considera íon dele, minha querida. Você lhe traz grande fortuna com seus frutos. Cuide bem de todos eles.
Fortuna? Será que esses filhos representariam alguma benção para ele? Não sabia se representavam para ela, pois Haldir agora a deixara em Caras Galadhom e voltara para a fronteira. Vinha amiúde vê-la, mas sua expressão estava sempre toldada de preocupações. Ela não exigira nada, não o forçara a nada, ele é que fizera questão de unir-se a ela aos olhos de Lórien. Para quê? Para abandoná-la na cidade das árvores? Aquele filho parecia a ela precipitar um final, e não um começo entre eles.
Embora não se entendessem bem quando Haldir vinha, Mornfinniel derramava lágrimas de raiva e tristeza cada vez que ele a deixava, proibindo-a de voltar com ele às fronteiras da Floresta Dourada.
- Você está chorando, nana? – Mîleithel chamava todas de mãe, mas a canção sindarin de sua voz tocou algo no coração da estrangeira.
- Não tithen, Mornfinniel não chora. Mornfinniel sente saudades do seu papai, seu ada.
- Meu ada me deu uma espada nova, porque já estou muito crescido, você quer ver?
- Claro. – Muito, muito crescido, pois o menino não tinha nem três anos e já aparentava o dobro. Todos lhe diziam que era seu filho, embora ela só soubesse das circunstâncias em que nascera pelo que Niéle lhe contara. Para Mornfinniel esta gravidez era como se fosse a primeira, e ela não reconhecia seu corpo. O corpo que durante tanto tempo ansiara por ver no espelho era agora motivo de desgosto, com o ventre protuberante, as ancas largas e os seios cheios. Como Haldir poderia desejá-la assim?
Como era horrível estar grávida, e entretanto, como podia ser fonte de consolo a criaturinha que disso resultasse! Pois naqueles dias Mîleithel era seu único consolo, e ela brincava de espada com ele, e treinavam com o arco, e Mornfinniel também o levou para a clareira das estrelas, e lhe ensinou sobre o céu de Elbereth, como Haldir havia ensinado a ela.
Naquelas noites, após um dia de brincadeiras, ele adormecia em seu colo escutando suas preocupações, e ela o carregava nos braços de volta ao talan, uma criaturinha absolutamente confiante no amor infinito que respirara desde o primeiro momento de vida.
- Ah, tithen, aleitado no amor da Senhora Galadriel, onde vou encontrar em mim o mesmo carinho para dedicar ao seu irmãozinho? Ajude-me pequeno amigo – dizia ela para a criança adormecida em seus braços, onde brevemente estaria outro filho.
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Haldir temia a espada sob a qual pusera a própria cabeça. Não apenas se entregara a um amor sem futuro, como ainda se condenara a perder um filho também. Dois, na verdade. E se revoltava contra a sina dos edain, na qual agora fora enredado: conhecer tanta vida sabendo que ela acabaria!
Haldir preocupava-se também pelo parto de Mornfinniel, a quem, a despeito das condições bem mais favoráveis de que certamente desfrutava agora do que por ocasião da vinda de Mîleithel, a gravidez trouxera antes amargura do que alegria:
- Vá logo para a sua fronteira, não preciso de mais um me pajeando aqui – disse ela, azeda, naquela manhã.
- Vim para ficar, a hora do nascimento não tarda.
- Mais um motivo para você ir embora.
Mas Haldir continuou em Caras Galadhom, embora a mulher se afastasse à sua aproximação. Na mesma noite as dores começaram, o que não era usual entre as eldar, e Haldir temeu como nunca antes temera em batalha ou combate, agarrado a Mîleithel enquanto os gemidos de Mornfinniel iam serenando, até ser chamado pela Senhora Galadriel.
- Mornfinniel?
- Mornfinniel está bem, Haldir venturoso, e lhe trouxe mais um filho.
- Elbereth seja louvada, Minha Senhora.
- Um filho eldar, Haldir.
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O FILHO ELDAR
Os olhos de Mornfinniel eram como a noite estrelada ante o contentamento de Haldir com o nascimento de um filho de sua raça, reafirmando sua linhagem, perpetuando seu amor pela eternidade.
O próprio Senhor Celeborn cumprimentou Haldir: – De muito júbilo são os dias em que também a semente dos bons frutifica. – Trazia pela mão Mîleithel, e Haldir levantou o filho adotivo até o berço.
- Veja que belo o irmão que você ganhou, tithen.
- Ele é meu? – perguntou o pequeno.
- Aye. Sim, ele é seu, e vocês dois são meus – o amor pelo filho recém- nascido reforçava o amor de Haldir pelo filho mais velho, e àquele tempo já ninguém em Lórien deixava de vê-los desta forma.
- Todos os corações se alegram ao ver o seu tão abençoado pela fortuna – falou Niéle, embora houvesse uma nota de emoção dissonante em sua voz.
Na satisfação orgulhosa de Haldir, Mornfinniel encontrou facilmente em si mesma o amor pelos filhos que sacramentavam sua união; e a beligerância de seu espírito adormeceu no colo da maternidade.
Aqueles foram os melhores anos de sua vida em comum, pois o nascimento do filho que permaneceria retirou de Haldir todas as restrições com que encarara aquela relação. Suas ausências de Caras Galadhom eram curtas: encontrara as Terras Imortais nos braços de Mornfinniel e nas vozes alegres de seu ionath, e não ansiava por outro tempo ou lugar. A felicidade de seu coração eram os dias passados ao lado dos meninos e as noites passadas ao lado da esposa.
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DOS TEMPOS DE ENCANTAMENTO
Mornfinniel às vezes manifestava o desejo de voltarem todos à fronteira, mas Haldir replicava:
- Para vê-la dançar com a morte no campo de batalha novamente? Não, Cabelos Negros, você é minha esposa agora, e seu lugar e de meus filhos é onde eu saiba que estão protegidos. Nem que seja preciso mantê-la acorrentada ao pé da cama você não sairá de Caras Galadhom.
E ao escutar a posse na voz de Haldir a alma da guerreira era subjugada pelo coração da mulher, que ansiava acima de tudo pertencer ao seu senhor.
- Ademais, prefiro você de vestido que de calças, Cabelos Negros. Seus atributos não precisam ser mais evidenciados do que já se evidenciam a si mesmos. E os cabelos livres do elmo daquela trança apertada, minha esposa.
Mornfinniel se comprazia em atender-lhe os desejos, ainda que escolhesse vestidos de cores escuras, azuis ou preferencialmente vermelhos, às claras vestes das damas de Lothlórien, que sentia destacarem em demasia o tom avermelhado e escuro de sua pele, em contraste com a pele nívea dessas. E ao menos uma parte do cabelo trazia trançado, para evitar que sua aparência selvagem sobressaísse demais em meio à seda delicada das melenas das filhas dos primogênitos.
Afastado de qualquer preocupação por um vento de quase euforia que soprava de seu coração, Haldir - que era jovem entre os elfos, com apenas algumas dezenas de séculos – chegava a pensar que não poderia haver felicidade maior que a proporcionada por aquele amor entre eldar e mortal, pois mesmo nas lendas de seu povo, este era o das canções supremas. E, permitindo-se vivê-lo sem angústias, decidiu que era tempo também de praticá-lo sem urgências, e introduzir Mornfinniel em seu refinamento.
- Não seja tão afoita, criaturinha selvagem e apressada. – reclamava ele, entre risos, àquela boca sempre sedenta que só sabia bebê-lo em largos tragos. Por fim Haldir acabava imobilizando-a, e ainda que Mornfinniel lutasse toda vez que percebia nele essa intenção, havia mais prazer em sua derrota do que ela jamais encontrara antes em suas vitórias.
Submetendo-a totalmente, Haldir explorava cada palmo do território conquistado, clamando soberania sobre o seu corpo, marcando cada nervo com o signo de sua casa. E o corpo dela jamais pode esquecer disso.
Mornfinniel dos cabelos negros, Mornfinniel que era só dele - dizia Haldir ao mergulhar na rosa vermelha de sua esposa.
