O MAIS DIFÍCIL DOS CAPÍTULOS – 2ª Edição
Essa é uma daquelas horas em que as palavras fogem, os dedos emudecem e a tela branca fere a vista por horas a fio, às vezes dias ou meses.
Foi assim para escrever este capítulo, está sendo assim para expor tanta e necessária explicação.
É que agora digo adeus à história que noves fora era minha, e adentro, terrificada, a história que é de todos. E de cada um. E acima de tudo, a história que é de Tolkien – embora eu acabe me servindo muito mais da versão de Peter Jackson.
Pois nessa 2º fase, a paixão encontra a guerra. A guerra do Um Anel. Haldir encontra a Sociedade do Anel – ou sua irmandade. Ou talvez ele é que seja encontrado por ela.
O fato é que os caminhos se cruzam, e os livros que todos já leram se cruzam com o meu texto, e as imagens que todos já viram se cruzam com a memória da minha retina...e as cenas e personagens que todos amam são descritos novamente, muitas vezes fazendo o que já fizeram, e cada um de vocês há de chegar num trecho e dizer "mas não foi assim que eu vi."
Só posso pedir e esperar que vocês compreendam, e concordem, que a verdade pode ter mais de uma versão, e que não se zanguem se tomei alguma liberdade com o cânone... Sinceramente, procurei fazê-lo o mínimo, encaixando-me discretamente nas lacunas, na esperança de passar despercebida...mas seria impossível, vez que o livro e o filme, em si, já apresentam diferenças, e exatamente em pontos que são relevantes na história dessa paixão.
Tentei, então, casar essas duas versões no que era possível, mas no que não era, optei por seguir o filme – nesse capítulo, especialmente, a versão estendida. Poderia apresentar uma série de razões para isso, mas a preponderante é a conveniência da minha história.
Sorrry Sadie.
No mais, é, como sempre agradecer e pedir desculpas, beijando às mãos de:
Sadie Sil – VIDAS & ESPÍRITOS; MACHAS VERMELHAS; AFETO ROUBADO, VERDADE DECIFRADA
Vick Weasley – BITTERSWEET; O VINGADOR
Nimrodel Lorellim – CRÔNICAS ARAGORNIANAS
Lady Éowyn – OS JARDINS DE ITHILIEN
Elfa Ju Bloom – ROSAS ARMAS AMOR E SANGUE; MÚSICA FÚNEBRE
Kika-Sama – O ADEUS A ELESSAR; APRENDENDO; ...
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A PAIXÃO DOS EDAIN – 2ª PARTE – A GUERRA DO ANEL
Capítulo XII - De Sombra e de Luz (ou Haldir e a Sociedade do Anel)
INTRODUÇÃO ESPECIAL À SEGUNDA EDIÇÃO: Devido a impressões indevidas causadas pelo capítulo, as partes diretamente retiradas do texto de JRRTolkien agora aparecem em destaque. Peço desculpas a todos que possam ter tido a bondade de supor tratar-se de criação da minha lavra, não agi de má-fé.
DOS TEMPOS RUINSEste capítulo apresenta trechos que os leitores reconhecerão adaptados diretamente do texto de Tolkien; uma forma de reconhecimento e de inserção no universo criado pelo professor, dentro do qual os acontecimentos desta 2ª fase se passam.
Aqueles, de qualquer forma, não eram tempos de voltar-se para si mesmo, embora, caso encontrasse algum espaço vago em sua mente, Haldir o preenchesse culpando-se por uma negligência imaginária para com seus deveres. Simplesmente antes não era capaz de sentir o quanto a Sombra que os cercava cada vez mais era densa – e talvez fosse isso que a tornava tão negra agora para ele.
O adensamento da Sombra, contudo, revelara-lhe definitivamente o segredo – ou então já não havia mais razão para ocultá-lo. A fortaleza de Dol Guldur, onde por muito tempo o Inimigo oculto tivera sua moradia, estava agora habitada outra vez, com um poder sete vezes maior, e uma nuvem negra pairava sempre sobre ela. E a Senhora já sabia da traição de Isengard, que sempre suspeitara.
Sim, a Sombra já não mais escondia seu nome, e os servos de Sauron começavam a desafiar a luz. Manter bem protegidas as fronteiras de Lórien tornava-se um serviço cada vez mais árduo, e Haldir freqüentemente confrontava suas velhas idéias sobre uma aliança entre elfos e homens.
Seu interesse o fizera um dos poucos entre sua gente hoje em dia que conhecia bem a língua comum e já visitara parte dos reinos dos homens. Mas isso parecia ter acontecido em outra vida, com outra pessoa, mais confiante na natureza dos segundos filhos. Tinha agora pouquíssima confiança na sinceridade do mundo além de Lothlórien, e não ousaria arriscar a segurança de sua terra, vivendo numa ilha rodeada de perigos.
Naquele momento, preferiria poder contar somente com as forças dos elfos, mesmo só com as forças de Lórien, não fora a opressiva percepção que crescia em sua mente sobre o poderio da Escuridão. Os primogênitos sozinhos já não conseguiam fazer frente à sombra que a tudo cercava, e talvez nem mesmo a reunião de todos os filhos pudesse fazê-lo agora. Haviam esperado demais, cada um combatendo apenas a face do mal que via diante de si, sem perceber os fios da trama maior a enredá-los a todos; era agora um garrote sufocando todos os povos livres da Terra Média.
A bravura dos galadhrim e a magia da Senhora ainda preservavam Lórien, mas por quanto tempo?
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O GRUPO INCOMUM
Haldir estava tentando esvaziar a mente para recolher-se a um descanso sem sonhos quando foi informado da aproximação dos fugitivos.
Fora avisado sobre um grupo que viria, formado por grandes e pequenos, seria esse? Haldir os observou do alto das árvores, nem um pouco silenciosos, e todos, sem dúvida, carentes de um bom banho.
Ainda por cima havia um anão com eles, criaturas ainda mais traiçoeiras que os homens. Haldir cogitava impedir aqueles estrangeiros de ingressar na Floresta Dourada. Que se defrontassem com o que quer que estivesse vindo de Moria em seu encalço; já tinha problemas suficientes, não precisava acolher novos.
Rúmil e outros guardiões faziam menção de atirar dali mesmo, contidos somente pelo silêncio de seu Capitão. Entretanto o filho do Rei Thranduil também fazia parte do grupo, e a aliança com a Floresta das Trevas era vital nesse momento. Haldir suspirou mentalmente, e por fim sinalizou para que o grupo fosse apenas cercado.
- O anão respira tão alto que nós poderíamos tê-lo acertado no escuro – revelou-se o chefe dos guardiões para aquele grupo lastimável: nem mesmo o príncipe Legolas estava em condições de perceber a aproximação de seus galadhrim.
- Haldir O Lórien. – Cantou em sindarin um homem de aparência desfavorável.
Mas este era Estel, o príncipe edain criado pelo Senhor Elrond!
Não fazia nem quarenta anos que o vira com Arwen no Cerim Amroth, e o tempo havia esculpido seu rosto como se eras houvessem passado, mesmo sendo ele um filho da linhagem de Númenor.
- Henio, aníron, boe ammen i dulu lîn – disse o príncipe edain, com uma certa urgência na voz.
Ah! Mas é claro que precisavam de sua ajuda, Haldir sabia que estavam sendo perseguidos.
- Boe ammen veriad lîn.- insistiu o filho de criação do Senhor de Imladris.
Aquela era uma comitiva de filhos de Reis, e o agora chamado Aragorn não era o menos nobre dentre eles, entretanto era com humildade que pedia sua proteção:
- A Aragorn in Dúnedain istannem leammen – reconheceu-o Haldir com um cumprimento formal.
Mais uma vez acolheria estrangeiros em Lórien. Mais uma vez lhes daria a sua proteção. Mais uma vez teria motivos para se arrepender, tinha certeza. Contudo, sabia que Aragorn contava com a Graça da Senhora, e inexplicavelmente também de Arwen, a Estrela Vespertina de seu povo. Além do que havia o príncipe da Floresta das Trevas. Dessa vez, Haldir não tinha mesmo outra escolha, e o Galadhrim fê-los aguardar num talan mais interior.
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O grupo de orcs que atravessou o Nimrodel era monstruoso, o maior que já ousara se aproximar de Lórien. Haldir sentia o sangue ferver, entre o ódio e a impotência, e o Capitão de Lórien amaldiçoou seus pés imundos poluindo aquelas águas limpas! – Mas os guardiões eram muito poucos para desafiar aquela quantidade.
- Orophim, você que é o mais veloz dentre o nosso povo, avise aos demais guardiães: já que não temos como deter esses yrch, então vamos atraí-los para dentro da Floresta disfarçando nossas vozes. Nenhum orc deve sair de Lórien!
Nunca! Nunca antes um grupo de orcs pisara as terras da Senhora! Mas Haldir teve de se valer de um tal artifício para derrotá-los daquela vez. Os galadhrim ali reunidos não teriam podido defrontar aquele exército abertamente. Nem Lórien estaria mais a salvo se O Inimigo continuasse a crescer em força daquela maneira.
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A AMIZADE RELUTANTE
Aquele anão insolente em Lothlórien! Haldir não apreciava nem um pouco aquela presença em sua fronteira, mas aqueles homens teimosos insistiam! Aragorn tentou convencê-lo durante horas, apoiado por Legolas, de que o grupo só prosseguiria completo.
Haldir também via com restrições aquela amizade pouco natural entre anão e elfo. Contudo, se a presença do anão o desagradava, o que o alarmava era o mal que podia sentir num dos perianath. Que relação havia entre aquela estranha irmandade e a Sombra?
Por fim, a própria Senhora Galadriel fez saber que o grupo tinha permissão para prosseguir. Mais um motivo de contrariedade para Haldir, que agora guiava em direção ao Naith de Lórien aquele grupo portador de algo maligno, levando-o cada vez mais fundo para dentro de sua floresta e de sua vida.
Sim, Haldir sentia cada vez com mais certeza o mal que acompanhava o hobbit. Entretanto, por sob o cansaço e a fragilidade do pequeno, do fundo da aura negativa que o cercava, era como se Frodo irradiasse luz. Onde já tivera uma impressão semelhante, de um bem que consegue florescer em meio ao mal? Era o que o elfo se perguntava.
Entretanto, era fácil perceber mas difícil explicar, homens, anão, elfo e pequenos, a razão de ser do grupo era Frodo. Sabiam que trazia um grande mal consigo, e ainda assim confiavam inteiramente em sua pessoa frágil. Mais que isso, o amavam.
E mais difícil de explicar ainda, o perianath de alguma forma estava ganhando espaço em seu coração também. No coração duro, calejado e altivo de Haldir. Talvez fosse a ferida permanente em seu olhar, a tristeza profunda da inocência perdida...o capitão de Lórien sabia o que era a dor de perder algo que simplesmente se dera como certo, e deixou a inclinação de proteger Frodo - de proteger todas aquelas crianças esquisitas na verdade – crescer dentro de si. Não sabia porque, mas lhe traziam um alívio triste.
Os hobbits o encantavam, mortais também, como os outros, mas ainda mais tomados pelo amor da vida. Aventuravam-se por um mundo vasto com suas almas novas, ainda que sem esconder seu temor. Como era possível que criaturas tão pequenas, e fadadas a morrer tivessem em seus espíritos tanta coragem e alegria de viver?
- Isto aqui é mais élfico do que qualquer coisa que já ouvi contar. Sinto- me como se estivesse dentro de uma canção – dizia Sam com uma expressão admirada, esfregando os olhos como se não tivesse certeza de estar acordado.
Em Valfenda havia lembranças de coisas antigas; em Lórien as coisas antigas ainda existiam no mundo real. A maldade havia sido vista ou ouvida ali, conhecia-se a tristeza; os elfos temiam e desconfiavam do mundo lá fora; os lobos uivavam nas fronteiras da floresta; mas sobre a terra de Lórien não pairava sombra alguma.
Haldir olhou para eles, e sorriu pela primeira vez em o que lhe parecia um tempo enorme: - Vocês estão sentindo o poder da Senhora dos Galadhrim. Realmente o mundo está cheio de perigos, mas ainda há muita coisa bonita, e embora atualmente o amor e a tristeza estejam misturados em todas as terras, talvez o primeiro ainda cresça com mais força.
Porque dissera isso? Porque o encantava tanto a disposição com que amavam a vida os que cedo deveriam deixá-la? Talvez porque fora tocado por aquela ânsia de beber em goles intensos da taça que os elfos sorviam com vagar? Por que conhecera da paixão dos mortais?
Tentando entender toda a situação, Haldir conversava também com o príncipe da Floresta das Trevas. Legolas era de sua espécie e parente, mas revelava ao guardião apenas aquilo que não trairia o segredo da comitiva; até mesmo seu coração fora insuflado pelo ardor daquela estranha irmandade, e por fim Haldir se encheu de admiração por tal disposição de espírito, e começou a ser contagiado pelo poder que a inflamara. A princípio relutante, uma amizade por aquele estranho grupo instalava-se no Capitão de Lórien.
E sim, bastava olhar para os homens edain para saber que guerreiros temíveis e respeitáveis seriam. Até o anão trazia a aura de bravos feitos Todos estrangeiros entre si, mas capazes daquela união altruísta, ainda que Haldir divisasse seu conflito interior; talvez fruto da ânsia que fazia parte de todas as raças mortais.
Apesar da maldade que viajava com eles, a amizade florescia no grupo, mesmo entre anão e elfo. Fora forjada apesar da sombra ou justamente em função dela?
Começou a parecer a Haldir que, se havia esperança para a Terra Média, passaria por esse tipo de união entre forças díspares, por tanto tempo isoladas umas das outras.
Se esperança ainda havia.
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NOTA: Sim, Haldir realmente pronuncia no livro a frase "...embora atualmente o amor e a tristeza estejam misturados em todas as terras, talvez o primeiro ainda cresça com mais força" ... e foi aí que começou a Paixão.
