Mae Govannem viajantes,
A jornada continua – e de certa forma talvez venha a se tornar ainda mais profunda...Em parte minha bússola tem sido as impressões de vocês, por isso peço que continuem mandando seus comentários, lamentando se aqueles que reclamaram que o ritmo estava meio acelerado ainda se sentirem insatisfeitos com esse capítulo: prometo que depois muda.
Não que venha a ficar lento: acredito que essa terceira e última fase da Paixão é bastante dinâmica – mas não custa reforçar que estou sempre querendo saber se vocês concordam comigo, ou que opiniões têm a respeito.
Quanto à falta de abordagem dos sentimentos dos personagens ... hum ... como direi...acredito mais em ação do que em intenção: mas se nem uma nem outra derem o ar de sua graça neste capítulo, mais uma vez os conclamo a aguardar o próximo.
Metade da culpa pelas cobranças serem tantas é de Sadie, que nivela muito por cima nossa página, oferecendo carradas de sentimento, ternura, heroísmo, coerência e abnegação em cada capítulo inimitável de VIDAS E ESPÍRITOS.
A outra metade é de Nimrodel Lorelim, Vick Weasley, Kika-Sama e Elfa Ju Bloom, que parecem ter encontrado uma fonte de poesia, imaginação e envolvimento não só inesgotável como capaz de crescer em progressão geométrica a cada capítulo mais maravilhoso que o outro de CRÔNICAS ARAGORNIANAS; BITTERSWEET; APRENDENDO; ROSAS, ARMAS AMOR E SANGUE.
Estão isentas de culpa Lady Liebe, Lady Éowyn e Kiannah...as duas primeiras porque há algum tempo não entram em campo, e a última em razão de sua história ainda estar em fase de recauchutagem: mas o primeiro capítulo revisado já entrou no ar e vale uma olhada.
E espero que todos apoiem minha campanha por mais um capítulo em português da nova versão de HALDIR E HALETH, da Kwannom. EXTRA! EXTRA! Já está no ar e é soberbo: vale REALMENTE à pena acompanhar essa história cuja versão original em português a autora havia abandonado pelo "mercado" de língua inglesa; a história tem um nível de sofisticação, pesquisa, coerência, maturidade e interesse raros. VISITEM!
Após agradecer a cada um destes talentos o espaço que tem dado a honra de conceder à PAIXÃO DOS EDAIN, cabe explicar que, passada a Guerra do Anel, fiz uma interpretação um tanto o quanto mais livre da cronologia do Mestre...e essa terceira fase começa uns três meses após a queda de Sauron, ínterim durante o qual o Rei Elessar e a Rainha Arwen casaram-se e foram coroados, defrontando-se agora com a dura realidade de um mundo em que a terra e os corações estão praticamente arrasados, de uma paz por construir...
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A PAIXÃO DOS EDAIN – 3ª PARTE – UMA PAZ POR CONSTRUIR
Capítulo XVIII - Uma Paz por Construir
A NOVA EMBAIXADA DE HARAD
Não nos chamou para a batalha contra o inimigo! Negou-nos nossa vingança! – bradava Daror.
- Não lhe oferecemos aliança, poucos de nós estavam aqui para prestá-la, e a desconfiança de anos não nos quereria ao lado em meio à batalha – suspirava Darai, repetindo-se.
- Se soubesse que Gondor teria a ousadia de marchar até Mordor, forjaria os laços necessários com ouro, e até ficaria contente de comandar ao lado de seu rei – continuou Daror.
- O ouro de nada serve para aqueles que vão ao encontro da morte, e Gondor marcha apenas sob a própria bandeira. Não teria comprado nosso lugar na batalha, e não vai comprar o que você está querendo agora – insistiu Darai.
- O desejo de Daror não é disposição de Darai, cabe-lhe apenas cumpri-lo, filha de Minha Casa.
- Pois pela honra de Minha Casa eu exorto Daror a desistir. Vamos nos humilhar e não vamos conseguir nada! – retorquiu Darai em desafio.
- Você, que se dá ao gosto de mesuras e palavras estrangeiras, é que vai se humilhar se não cumprir o que ordeno. Ser irmã de Daror não lhe faz menos obrigada à disposição dele.
- Não tenho medo do seu castigo, como também não ignoro a minha obrigação – o rosto de Darai estava vermelho. – Mas Daror não foi nem considerado para comparecer à coroação do novo rei!
- Daror não é um vassalo para comparecer à festa de um rei proclamado de todos os homens! – rugiu Daror – O convite não teria sido aceito! Mas a nossa proposta tem de sê-lo.
- Esses homens não se vendem com ouro! – gritou Darai ao irmão.
- Não se vendem? Seus mercadores vêm aos haradrim diariamente vender ao nosso ouro, espoliando Harad pelos víveres mais miseráveis, enquanto nossa força foi comprometida, por VOCÊ, para com a boa vontade de Gondor! Se Terair não houvesse trazido o ouro das cúpulas derretidas de nossos palácios estaríamos passando fome agora.
- Abasteça-se com os mercadores então. Compre DELES o que você quer! – Se Daror mandasse açoitá-la agora, ela ficaria livre daquela missão malfadada, mas o Chefe de Harad já tinha percebido a intenção de Darai, e afastou-se dizendo:
- Gondor me deve reparação pela vingança usurpada, e precisa do meu ouro para reconstruir sua cidade. Você irá explicar isso ao rei deles, filha de Minha Casa, Daror falou.
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Darai conduziu a nova embaixada contrariada, mas pelo menos desta vez Daror tinha dado ordens expressas para que não a interrompessem, se isso servia de consolo.
Alguns vinham carregados com a acintosa riqueza da doação de Harad ao Reino de Gondor. Deuses dos Elfos, que desperdício! – mas Daror nunca poderia ser acusado de mesquinharia, nem em sua ira, nem em sua boa-vontade – E que maçada! Adentrar de novo os salões que tinham ouvido suas palavras, agora cheios do orgulho da esperança na glória restaurada: ilusão! A única glória fora a da destruição d'O Inimigo, o resto seriam só escombros, viúvas e órfãos.
E a paz contra os bandos de renegados e fugitivos teria de ser conquistada a cada dia por uma força hoje talvez menor do que a que Harad tinha acampada agora nos limites do seu Pelennor.
Mas a soberba de Gondor crescera ante os haradrim espoliados de sua vingança. Seus comerciantes chegavam com mercadorias e sorrisos, mas quando se afastavam, ouvia-se o riso de chacota entre o tilintar dos bolsos cheios.
Daror devia era levar seu povo embora de uma vez. Procurar nos oásis, garimpar o deserto, abastecer-se. E então reconstruir suas cidades, muito mais ricas que essa cidade branca feita de pedra, enquanto as cidades dos haradrim eram feitas de ouro e gemas.
O Extremo Harad poderia lhes dar o que queriam, as forças da traição de Sauron não poderiam haver chegado tão longe. Mas e se houvessem?
Darai entendia a urgência de Harad, mas aquilo não iria dar certo!
Oh não! Haldir estava lá, próximo ao Rei coroado. Porque ainda não voltara para Lórien? O que estava fazendo ali, próximo à rainha élfica? Darai sentiu uma fisgada no coração, querendo lhe perguntar sobre os filhos. Haveriam de estar bem. Sim, haveriam de estar bem em Lórien, sob a benção da Senhora da Luz, onde Mîleithel precisava permanecer.
Ah, mas ele estava tão lindo! Darai sentiu uma fisgada em outra parte do corpo, que se transformou em frio e em calor, e temeu que o arrepio que percorreu todo o seu corpo tivesse sido percebido pelo salão.
- Mae Govannem, Rei Elessar de Gondor. Harad o felicita pela vitória, embora preferisse compartilhar de seu sacrifício por ela.
- Mae Govannem, senhora de Harad. A vitória não foi minha, mas de todos os povos livres, sem exceção.
- O Rei de Gondor sabe dizer belas palavras, mas belas palavras não são a especialidade do meu povo. Em reconhecimento à boa vontade de Gondor, Harad lhe envia o agradecimento que conhece – a um gesto de Darai, quatro homens depositaram um grande baú em frente ao trono de Gondor. Darai o abriu e a luz brilhou nas muitas peças de ouro bonito dos sulistas.
- Senhora irmã do Rei de Harad, agradeço, mas como já lhe disse, a boa vontade de Gondor não lhes foi vendida.
- De fato, majestade, mas, pela lei da honra de Harad, deve ser retribuída. Oferecer um presente não é ofensa, e sim recusá-lo.
Os olhos do rei sorriram; ainda que novamente arrogantes, as palavras da dama de Harad não deixavam de ser belas: ela deveria ter tido um mestre a contento em Lórien.
Os haradrim eram mais temíveis como inimigos que desejáveis como aliados: Aragorn não podia ofendê-los; e Gondor estava devastada.
- Se é assim, minha senhora, que o Rei Daror saiba que aceito seu presente.
Darai se permitiu um sorriso, que depois expandiu o máximo possível, na medida do razoável:
– Que este gesto de boa vontade possa ser a primeira pedra de uma estrada que conduza à amizade entre nossos povos: são as palavras que Daror me mandou apresentar ao Rei de Gondor.
A um novo gesto de Darai, uma pequena caixa de madeira chegou às suas mãos:
- Harad preza todas as noivas, assim como a irmã de Daror preza a linhagem da Senhora Galadriel e do Senhor Celeborn. Que os olhos verdes daquela linhagem encontrem companhia neste presente – disse Darai entregando a caixa à Rainha Arwen, que nela descobriu sete esmeraldas tão perfeitas como sete estrelas.
- Oh! Muito obrigada, senhora. Ouvi falar de sua bravura e de suas tribulações. Qual foi o resultado de sua jornada?
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O REPORTE DE DARAI
As palavras da Estrela Vespertina eram só gentileza, mas o sorriso de Darai congelou-se em sua face. A pureza de espírito da neta da Senhora Galadriel acabaria tendo de fazê-la expor a desdita de seu povo ali, naquele salão cheio?
Mas caso não respondesse, a rainha ficaria na constrangedora situação de ter de se desculpar pela pergunta. Não, Darai era forte. Harad era forte, e seu orgulho não seria abalado nem por mais aquela desgraça. E talvez fosse melhor assim, expondo logo a verdade, que não se duvidava que mais cedo ou mais tarde viria a se tornar conhecida.
A filha de Elrond percebeu que havia tocado num assunto delicado e fazia menção de reparar sua indiscrição, quando Darai respondeu:
- O interesse de Vossa Majestade é generoso, Rainha Undomiel, e conforta Harad. Pois nossa jornada foi pior do que esperávamos, e dela resultou prova de traição ainda maior do que O Abominável já nos havia dirigido.
- Encontramos nos subterrâneos escondidos tantos corpos de mulher quantos corpos de homens caíram na batalha do Pelennor, e em nossa dor não conseguíamos compreender o que acontecera até voltarmos aos limites de Gondor e encontrar os emissários que retornavam de nossas terras.
- Veja bem, Senhora, grandes tropas marchando sobre seus pés demoram muito em suas viagens, e a ira de Harad para com Gondor, inspirada pelas mentiras de Sauron, apressou os haradrim na estrada da vingança. Enquanto nossos soldados partiram por um caminho, deixando atrás de si os meninos pequenos, os anciãos e as mulheres, os orcs vieram por outro, matando os dois primeiros e raptando as últimas. Os emissários encontraram apenas cadáveres de homens velhos e de crianças pequenas em nossas cidades saqueadas e incendiadas.
- Na verdade eu já tinha visto isso quando voltei a Harad para alertar à Minha Casa, mas na ocasião não quis acreditar nos olhos do meu desespero, e imaginei que uma parte de meu povo tivesse conseguido se refugiar. Infelizmente ficou comprovado que O Inimigo de todos os povos pretendia se descartar de Harad após usá-lo contra Gondor. Sua intenção e seu ódio voltavam-se realmente contra todos os homens – Darai contou tudo de um fôlego só, mais uma vez temerosa de se arrepender no meio da narrativa; agora estava feito.
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A PROPOSTA DE DAROR
Os olhos quase verdes de tanto azul de Arwen Undomiel brilhavam em meio às lágrimas, uma expressão de horror na face, o Rei Elessar segurando sua mão. – Ai, ai, ai! Pensou Darai, ofendi a sensibilidade élfica da Rainha, vou ser posta fora deste salão a pontapés pelo Rei, na frente de Haldir, e aí vou me defrontar com a ira de Daror!
- Senhora de Harad – falou a Rainha de Gondor – todos os povos se fizeram irmãos na maldade do Abominável; se houver algo que possamos fazer para mitigar a dor do seu, imploro-lhe que fale!
- Grande Rainha, nunca me permitirei vê-la na posição de implorar qualquer coisa a quem quer que seja. Daror, meu irmão, é chefe dentre os chefes de Harad, Pai de sua Casa mais poderosa e mais importante, mas eu sou apenas sua irmã, e por nenhuma maneira Senhora dos haradrim, e estou muito abaixo da realeza da neta de Galadriel – Darai curvava-se quase até o chão ao pronunciar estas palavras, humílima. – Se Vossa Majestade tem o desejo de uma informação, é meu prazer satisfazê-lo. Se quer voltar a sua graça para o povo de Harad, aponto uma maneira fácil, e até conveniente, de fazê-lo, se se for considerar a situação da Cidade Branca neste momento.
- Na verdade, além destes presentes - que Harad espera preconizem um futuro de boa vontade entre nós de uma maneira ou de outra - trago também uma proposta de Daror em nome de todas as Casas de Harad.
Não passou despercebido ao Rei Elessar o senso de oportunidade sutilmente revelado na voz da mulher de Harad, mas ele fez um gesto para que prosseguisse.
- Senhores de Gondor, uma geração de homens foi perdida por vós nesta guerra. Assim como foram perdidas as noivas de Harad. Vossas mulheres estão viúvas, nossos homens estão sozinhos. Os haradrim desejam render homenagem a Gondor desposando suas filhas.
Um murmúrio percorreu o salão, aqueles que entendiam o idioma dos elfos traduzindo a proposta ultrajante para os que lhes estavam próximos.
- Os órfãos de Gondor serão considerados filhos de Harad, e suas mães, terão seu peso em ouro entregue ao Tesouro de Gondor – Darai respirava aceleradamente ao pronunciar as palavras.
- Supõe Harad que o Rei que não vendeu sua boa vontade venderia as filhas de seu povo? – A ira dos Dunedain pairava sobre o rosto de Aragorn.
- De maneira alguma, o dote em ouro é costume de Harad – mas não nesse valor ultrajante, pensou Darai – e quando não é pago ao chefe do povo da noiva, o é à sua família, ou permanece em poder da própria, se esta assim o preferir, mas nunca deixa de ser pago.
- Harad pede o que não pode ser – replicou o rei.
- Harad oferece o que talvez não seja o costume do Norte, mas não pretende ofendê-lo. O único pedido que lhe faço, em respeito à traição sofrida por Harad, que nunca poderá ser mitigada uma vez que Sauron caiu por obra de outros; o único pedido que Harad faz, Rei Elessar, é o de que não seja negado às mulheres de Gondor o direito de decidirem por si próprias se os fortes braços de Harad não lhes servirão melhor do que os braços frios dos namorados sepultados.
O murmúrio fazia-se cada vez mais alto, o que fora que a mulher de Harad dissera? Que cada mulher valeria seu peso em ouro? Que ultraje! Que ultraje! Seu peso em ouro? Ultraje!
- O Rei que lutou pela liberdade da Terra Média pode garantir essa liberdade às mulheres de seu povo, Rei Elessar. Os haradrim honram suas esposas, e honrarão mais ainda as filhas de Gondor. Harad não deseja mulheres que vão contra vontade. Aquelas que nos acompanharem para o Sul agora, voltarão para visitá-los a cada cinco anos, e aqui ficarão, se assim o decidirem, recebendo seu peso em ouro pela segunda vez. O quê Harad propõe ao Rei Elessar é que deixe as mulheres de seu povo decidirem por si mesmas.
Aragorn despediu-a com um gesto de cabeça, em mal contida fúria, sem responder.
Antes de deixar o salão, contudo, num impulso, Darai acrescentou em alto élfico, entendido por poucos:
- Entretanto, eu sou a última princesa de minha Casa, nobre entre as mais nobres de meu povo, e não disponho desta escolha. Aquele que porventura se julgar munido de bons argumentos para me reclamar por esposa, deve fazê-lo o quanto antes.
