Percebi que, involuntariamente, o título deste capítulo homenageia Sadie ... bem, como os elogios a mestria desse talento estão se tornando repetitivos, cabe explicar que tal homenagem se referiria aquele seu lado super-angst, com que ela tortura aos personagens de VIDAS E ESPÍRITOS – que para nossa aflição parece estar se aproximando do final - e a nós, sempre entrevendo e deixando entrever algum tipo de sofrimento aonde vai: um capítulo que fala de tormenta não pode mesmo ser prenúncio de outra coisa que não tribulação...
Por outro lado, bolas, a homenagem seria mais do que justa: Sadie foi a única a deixar uma review no último capítulo - aliás, ela tem tido a fineza de fazer reviews em TODOS os capítulos; e mais importante que isso, para o escritor, só mesmo seguir escrevendo e publicando...
Todavia, este talvez não seja o caso de Nimrodel Lorelim, que na ocasião em que estou colocando no ar este capítulo não atualiza CRÔNICAS ARAGORNIANAS há quase 20 dias. O lado bom, entretanto, é a oportunidade de quem ainda não começou a ler correr para esse fic fantástico e se atualizar.
Tudo que eu disse sobre Nim e suas Crônicas vale também para Kika-Sama e seu APRENDENDO...se você não leu, corra a fazê-lo, e depois não esqueça de deixar uma review cobrando atualizações desta danada, que nos deixou a ver navios desde o dia 26 de junho.
Lady Éowyn – OS JARDINS DE ITHILIÉN – e Lady Liebe continuam sumidas (Oh Liebe, parece que só agora também o Lothlórien publicou A OUTRA FACE DA MOEDA, ainda bem que a gente não teve que esperar tanto...)
Vick Weasley, nossa escritora sensorial, ao que me consta, está devotando seu talento a engrandecer um outro universo ... humpf! ... Contudo, BITTERSWEET tem respeitado o cronograma, em termos de freqüência e em termos de desenrolar da história, que finalmente apresentou o tão pedido BEIJO – mas que foi um desenrolar enrolado, lá isso foi: oh casalzinho complicado, sô!
Já a trepidante Elfa Ju Bloom segue firme com ROSAS, ARMAS AMOR & SANGUE. A trama começa a ficar mais clara, e cada vez mais interessante, tendo-nos brindado essa semana com uma tocante, poderosa, humana e realista cena entre pai e filho: verifique logo, pois a história parece estar se aproximando do clímax.
Quem está produzindo como um furacão e postando com a devida responsabilidade para com o leitor de sua fic M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A é Kwannom. HALDIR & HALETH – VERSÃO REVISADA é simplesmente tudo de bom: romance, aventura, drama, paixão, sensualidade, heroísmo, abnegação – além de Haldir, é claro; tudo isso muito bem escrito por essa autora que merece a atenção de vocês.
Kiannah não decepciona e já postou a versão revisada do primeiro capítulo de ESTRELA SILENCIOSA, em que seu personagem principal voltou a ser feminino – não canso nunca de perguntar, por que diversas escritoras de talento se colocam tantas restrições para colocar personagens de seu sexo nas próprias histórias: é sempre "ah, elas são fracas", "são coadjuvantes", "acabam não tendo muita importância na ação".
Veremos agora se, mesmo belas, sensíveis, delicadas, e até mesmo quando coadjuvantes, as mulheres não podem ter um papel importante na ação
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A PAIXÃO DOS EDAIN – PARTE 3
Capítulo XIX - Nos Caminhos da Tormenta
O TORMENTO DE HALDIR
Haldir arrependia-se de ter prometido cavalgar com a Rainha. Arrependia-se de ter vindo, e, mais que tudo, arrependia-se de ter ficado em Minas Tirith!
Por insistência da Senhora Galadriel, acompanhara a comitiva da Floresta Dourada ao casamento do Rei Elessar - não sendo menos saudado que Seus Senhores pelos companheiros de batalha. – Mas agora compreendia que só o fizera para alimentar uma esperança doentia.
Recebera o que desejara, de uma certa forma. A mulher o conclamara a retomá- la. "Valar, que fëa é este que me conduz? Para onde que não a indignidade?" Precisava ir embora, fugir da loucura que procurara!
- Oh Haldir! Estou feliz que tenha ficado conosco – aproximou-se Arwen já montada; conheciam-se desde a infância, de suas longas estadias no Reino de seus avós.
Haldir fez-lhe uma mesura enquanto montava, e ela sorriu – até perceber a expressão contrariada do elfo:
– Espero que você também não esteja triste comigo.
- Triste com a Senhora, Rainha dos Elfos e dos Homens?
- Triste pela minha escolha, como meu pai.
Haldir refletiu um momento:
– Sim, me entristeço pela sua escolha. Sei em meu coração a dor que infligirá ao seu pai. Jamais permitirei que meu filho tome uma tal decisão, pois o outro já estou fadado a perder.
- Seu filho, Haldir? Não sabia que você tinha filhos.
- Sim, Arwen, tenho dois filhos, um de nosso povo, o outro mortal.
- Oh! Como pode ser isso?
- São filhos de uma mulher mortal...
- A mulher de Harad?
Haldir olhou para Arwen perturbado, será que um dos membros da comitiva de Lórien havia comentado o assunto?
- Vi seus olhos voltados para ela, foi como se me visse num espelho – respondeu Arwen antes que a pergunta fosse feita.
- Tomei-a para mim quando chegou em Lórien sem saber quem era.
- Oh, Haldir, você deve tê-la amado muito!
- Um amor feito de desapontamento, que agora procuro esquecer – disse Haldir guiando seu cavalo à frente. Arwen devia ter herdado algo da presciência de sua linhagem. Precisava ir embora, só encontrara sofrimento em sua busca.
Mas ao longo daquele dia a dor voltou a crescer em sua cabeça, e à noite ele já mal conseguia manter-se em pé.
- Não pode ir embora assim, meu amigo, e nem há necessidade de fazê-lo agora – disse-lhe Aragorn, ameaçando-o com uma nova estadia nas Casas de Cura, caso teimasse em partir.
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A manhã trouxe a Haldir o medo de abrir os olhos para a luz e reencontrar a tortura do despertar após a batalha do Abismo, e ele permaneceu deitado até ser pego de surpresa pelo barulho de cortinas sendo abertas. Sua audição voltara a desampará-lo? Abriu os olhos e viu que fora surpreendido pelos modos silenciosos dos elfos, pois a Rainha Arwen debruçava-se sobre ele preocupada:
- Você está bem, Haldir? – sua voz era um canto suave – já é dia alto e ainda não se levantou.
Surpreendendo-se a si mesmo, Haldir estava bem, a dor fora embora.
- Agradeço sua gentileza, Majestade, a graciosidade da preocupação da Rainha me trouxe a cura.
- Haldir, meu amigo, não me faça repetir as palavras de meu esposo. Não brincamos juntos nos gramados de Lórien? Não me entristeça estabelecendo entre nós uma distância que não existe. Não somos como parentes, ainda que longínquos?
- Bela estrelinha, minhas palavras são de respeito a ti e ao Rei teu esposo, que também aprendi a amar – sorriu Haldir ante a meiguice de Arwen – Mas agora que mirei teu brilho medicinal, sinto–me pronto para partir a galope.
Haldir saltou da cama, mas mal seus pés tocaram o chão, caiu sentado sobre ela novamente, punhais subindo pela espinha até a nuca.
- O que foi Haldir? – Arwen viu a palidez se espalhar pelo rosto do Capitão dos Galadhrim.
- As dores nunca me abandonaram completamente desde que fui atingido – conseguiu dizer o elfo, recostando-se lenta e cuidadosamente, respirando devagar.
- Procurou o conselho de minha avó? – perguntou Arwen ajudando-o com os travesseiros.
- Consegui chegar a Lórien graças a medicação que Gandalf me deixara; e em meio às batalhas contra Dol Guldur o calor de meu coração guerreiro derreteu o gelo da dor – narrou Haldir, a agonia cedendo aos poucos - mas após a vitória ela retornou e a Senhora Galadriel disse que não possuía a cura para o meu mal.
- Mas todos esses dias você pareceu tão bem?
- A dor havia se esquecido de mim desde que reencontrei a ti, estrelinha da tarde.
- Ou desde que reencontrou a ela?
Haldir fitou Arwen contrariado. Não queria falar sobre este assunto.
A filha de Elrond ofereceu-lhe água e fez que fosse providenciado um desjejum leve.
- Acho que você tem assuntos pendentes aqui, Haldir – disse Arwen por fim - Talvez não seja sua cabeça, mas seu coração que está ferido.
- Meu coração foi ferido sim, e não pretendo que o seja novamente – respondeu Haldir.
- Nunca ficará curado enquanto se tratar assim, envolvendo em gelo o coração já atingido pela lâmina fria.
- Tal lâmina é exatamente a mulher de quem estamos falando por circunlóquios, Arwen. Abandonou a mim e aos filhos para voltar ao seu povo, depois de termo-nos esposado perante Lórien. Enganou-se meu julgamento desse assunto, apesar das advertências de seu avô contra esse tipo de união, e da minha própria angústia com suas perspectivas, e isso não é comum entre os elfos, nem agradável de admitir – rompeu suas evasivas Haldir, sem perceber que não mais sentia dor alguma.
- Entretanto você a ama ainda – afirmou Arwen.
Haldir fechou os olhos e inspirou profundamente
- Sempre foi um amor sem esperanças, e agora o é mais ainda.
- Por que, se ela também o ama?
Haldir reabriu os olhos:
- Arwen, aquilo foi uma provocação, um teste. Há malícia em cada palavra daquela mulher corrupta, não percebes como ela se utilizou de ti?
- Percebi que ela soube reconhecer a melhor oportunidade para transmitir o que lhe mandaram transmitir, e que defendeu veementemente aquilo que a mandaram defender, como um soldado é capaz de defender valentemente um Forte já perdido. Não percebi entretanto maldade, ou que seu fëa tenha-se deixado corromper; você sentiu corrupção em seu espírito quando a desposou?
- Não percebia nada claramente quando a desposei. Meu fëa era subjugado por meu corpo naqueles dias, e meu corpo era dominado pelo corpo dela – desabafou Haldir, contando toda sua história a Arwen.
- ... E nessas lembranças não encontro conforto, mas rancor, ciúme, raiva, sentimentos indignos de nossa raça, Arwen, e esta ânsia que supunha destinada apenas aos edain. Até mesmo a companhia de meus filhos, só faz amplificar a falta da mulher maldita que os gerou.
- Não fale assim, Haldir – Arwen buscou acalmá-lo – Muitos dentre nosso povo vivem dentro da própria lembrança; mas há os que repudiam essa meia vida – e os olhos dela brilhavam ao falar – essa sina pior que a morte de condenar um corpo eternamente jovem a arrastar um espírito velho e conformado – o elfo olhava espantado para aquela Arwen inflamada, que jamais havia imaginado – Alguns de nós nascemos com o espírito mais voraz, Haldir, e temerário o suficiente para provar da paixão dos edain, que vivem intensamente a vida curta que não podem se dar ao luxo de desperdiçar!
- Não deveríamos nos permitir essa paixão, Arwen, pois uma vez acesa em nossos corações tal chama queimará mais forte e por mais tempo, e ao final estaremos sós, prisioneiros da memória de um grande erro! – desesperou-se ele.
- Sós para sempre estão aqueles que nunca amaram, Haldir! Não há paixão com garantias totais. A morte pode ocorrer mesmo entre os eldar. Será que meu pai teria recusado minha mãe se soubesse do destino que os esperava?
- O fado da partida necessária eu poderia aceitar, Arwen, mas não o fado da traição!
- Que traição, Haldir? Como a mulher de Harad poderia ser fiel a você e infiel ao próprio povo, a si mesma e tudo que havia passado?
- Ela deveria ter me consultado, e não disparado pelo mundo sem o meu conhecimento.
- Você a teria deixado partir?
- Nay – admitiu Haldir – Não, mas teria ido no lugar dela.
- Ela sabia disso – concluiu Arwen - e portanto teve boas razões para se apressar.
- Fez a escolha dela.
- E qual é a sua escolha, Haldir meu amigo?
- Minha escolha? – o capitão desejava responder que sua escolha era retornar a Lórien e esquecê-la, mas havia compreendido a agonia que adviria dessa decisão. Sentiu-se encolerizar, a mulher jogara algum feitiço sobre ele! – Que escolha, Arwen? Que opções eu tenho?
- Tem a opção de atender ao pedido dela. Não vai reclamar sua esposa?
- Nay! Não é para me rebaixar a esse papel que estou aqui!
- Por que você está aqui, Haldir? O que veio fazer na Cidade Branca então? Por que ficou? – insistia Arwen.
Haldir soergueu as sobrancelhas, ora, ficara por insistência de Arwen e Aragorn. Ou será que não?
Aquela conversa estava aumentando suas dúvidas. Não devia ter-se aberto com Arwen, ela não compreendera a situação, supunha que ele queria a edain de volta.
- De qualquer forma, chega de me pajear – disse Haldir, tentando imprimir um tom de zombaria amistosa à voz. – Já abusei de tua companhia, teu marido deve estar sentindo a tua falta, estrelinha.
- Meu marido está ocupado no labor de governar, bom amigo – respondeu Arwen, assumindo um tom mais conciliador – Legolas e Gimli estão estudando com ele a reconstrução de Osgiliat. Eu é que estou me utilizando da sua companhia; isso o incomoda?
- Tua companhia é sempre bem vinda, Undómiel – Haldir não pode deixar de sorrir-lhe – Deve ser duro para Aragorn afastar-se de ti, e para ti da mesma forma.
- Não se pode fazer aqueles que amamos escolherem entre seu amor e sua missão de vida, uma coisa acaba não sobrevivendo sem a outra. Você abandonaria sua missão para com Lórien pela edain? Alguma vez ela lhe pediu isso?
- Estou perdido – riu Haldir – parece que você vai continuar insistindo.
- A tarde inteira se for preciso – sorriu-lhe Arwen de volta.
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A ÚLTIMA PRINCESA
Lagrimas de ódio rolavam pelas faces de Darai enquanto ela cerzia a roupa com que se apresentaria aquela noite. Porque dissera aquilo? Porque se humilhara? Ele a desprezara! Não viera, como ela praticamente implorara que fizesse! Não a desejava mais.
- Pois que assim seja! – a agulha pregava peças de ouro ao cinturão largo que cingiria a saia em seus quadris. – A terra e a água falariam da febre de paixão que ela despertaria aquela noite com sua dança. Até as pedras a desejariam. Não só os homens, de Harad e também de Gondor, que agora vinham a Daror para falar de comércio, o brilho do ouro de Harad em seus olhos, mas o próprio ar em que ela se agitaria.
Naquela noite ela faria jus ao feitiço selvagem de Ravai, sua mãe. Naquela noite ela dançaria como nunca nem mesmo as mulheres de Harad haviam dançado antes, com tal frenesi que o tremor de seus quadris viraria canção e lenda
Uma lenda forte o suficiente para aquecer toda aquela fria Terra Média, e levar o calor do deserto para dentro da Floresta Dourada, para dentro dos ouvidos dos elfos, para que ele soubesse que não lhe fazia falta, e que muitos morreriam para tê-la.
Cada um dos chefes de Harad queria Darai em sua Casa, para si ou para os filhos, e Daror precisava dar uma solução àquele clamor antes que os clãs começassem a brigar entre si.
Darai chegara a perguntar ao irmão se a possibilidade de ser estéril não afastaria tais pretendentes, na esperança de adiar o assunto. Ele respondera que a maioria dos chefes estavam viúvos e já tinham filhos.
- Você é a última princesa de Harad, minha irmã – e pegara seu rosto nas mãos – e é bela, mais bela que nossa mãe. – Daror perscrutou o rosto da irmã – Há algo que eu não saiba?
- Não sei se é hora de me casar, irmão – balbuciou Darai angustiada. Deveria contar a Daror sobre seus filhos, mas temia pela origem de Mîleithel. Sobre Haldir tornara-se impossível falar, Daror a mataria de pancada, com razão, por haver exposto Sua Casa à humilhação de suplicar; jamais o mencionaria.
- Não é mais criança, e passou por muita dor, irmãzinha – sorriu-lhe Daror – Precisa se casar sim. Precisa do amor de um homem de Harad, tesouro de meu pai – declarou Daror beijando-lhe a testa. – Todos passamos por muito sofrimento, agora basta. Dançará o orgulho e a alegria de Harad esta noite, Darai, e depois eu lhe escolherei um bom marido. Somos todos filhos do deserto, sobrevivemos a tudo. Dance em honra da Casa de nossos pais, filha minha, faça os filhos de Harad esquecerem a dor, e você também se elevará acima dela.
Darai esforçara-se para sorrir de volta ao irmão.
Sim, esqueceria a expressão de horror do elfo quando soubera de sua história! Seria amada por um filho do deserto como ela, que a apreciasse por sua força e coragem de sobreviver. Não podia desperdiçar sua vida lamentando o que não fora. Seus filhos ficariam bem, sempre estiveram melhor sem ela, não seria justo expô-los à incompreensão dos homens, não agora.
E Darai costurou a fluida saia vermelha rodada com que dançaria aquela noite
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A PERGUNTA DE HALDIR
- Aragorn! – Chamou Haldir antes que o rei retornasse ao palácio, queria falar-lhe longe da corte.
- Haldir! – Saudou-o Aragorn – fico feliz em ver que está melhor.
- Mae Govannem, Haldir – saudaram-no Legolas e Gimli, também retornando da inspeção à Osgiliath.
- O que o está preocupando, parente? – perguntou-lhe Legolas, ao ler um inusual nervosismo no elfo.
- Se precisa de nossa ajuda, fale! – acrescentou Gimli à pergunta do amigo.
- Sim Haldir, você traz algum problema consigo, pude perceber – lamentou Aragorn – e as atribulações de governar não serão mais desculpa para não me colocar ao seu dispor no que puder para ajudá-lo. O que podemos fazer por você?
- Na verdade só queria uma informação – Haldir preferia ter falado a sós com Aragorn, mas Legolas e Gimli haviam-se tornado amigos também, e o tempo do rei não podia ser desperdiçado. – Como se reclama uma esposa entre o povo de Harad?
Os membros da sociedade do anel se entreolharam, mais um enigma começava a se fazer desvendado.
- Sinto muito, amigo – respondeu Aragorn voltando-se para Haldir – não faço idéia.
