Amigas, milhões de obrigadas pelas reviews cheias de carinho...me estimularam a colocar logo no ar o novo capítulo.
A Dança de Darai é longa, por isso essa introdução é breve, além do que o panorama de nossas recomendações não mudou (o que está acontecendo com nossas autoras?)
Sadie Sil – VIDAS & ESPÍRITOS (depois de tanta emoção e sofrimento, a gente descobre o seguinte: era só preparação, o clímax da história ainda está por acontecer. Estou aguardando eletrizada depois do último capítulo) ; MACHAS VERMELHAS; AFETO ROUBADO, VERDADE REVELADA (as short fics acabaram relegadas, tão tantalizante está V&E)
Nimrodel Lorellim – CRÔNICAS ARAGORNIANAS (saiu da lista de atrasados com o bravo e belo capítulo "Valle 2"... e está me sugerindo que a temperatura romântica deve aumentar daqui pra frente)
Kwannom - HALDIR E HALETH – VERSÃO REVISADA (Ler para crer!!!)
Elfa Ju Bloom – MÚSICA FÚNEBRE; ROSAS ARMAS AMOR E SANGUE (Torturando-nos com uma semana sem atualizar...no pior momento possível!!!)
Kiannah – ESTRELA SILENCIOSA- VERSÃO REVISADA (Uma dica: acho que os fãs do Legolas...)
Vick Weasley – BITTERSWEET (o que está acontecendo com Vick?)
Lady Éowyn – OS JARDINS DE ITHILIEN
Lady Liebe
Kika-Sama – O ADEUS A ELESSAR; APRENDENDO (viajou para o Nepal)
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A PAIXÃO DOS EDAIN – 3ª PARTE
Capítulo XXI - A Dança de Darai
O TESOURO DE RAOR
A saia vermelha revelava as pernas torneadas de Darai à medida em que rodopiava de um ponto a outro do palco, conforme os chefes das Casas de Harad batiam insistente e ritmadamente na madeira, chamando-a para dançar em frente a eles.
As peças presas ao cinturão fremiam como o chocalho de uma cascavel. Mesmo deitada sobre os joelhos, reclinando as costas até o chão, os quadris de Darai não paravam de vibrar, enquanto os músculos do abdome ondulavam e os braços, em que pulseiras e braceletes de ouro chocavam-se, acariciavam o próprio corpo.
Novamente de pé, os braços de Darai sobraçaram seus cachos negros, revelando as costas nuas, e pouco a pouco ela voltou-se na direção de Sua Casa. Os movimentos dos quadris agora eram mais lentos e longos, ondulantes, o rosto escondido entre os cabelos, os pés também adornados com anéis de ouro aproximando-se vagarosamente ... Darai fechara os olhos para ver o pai novamente – Sua menina virou mulher, Pai adorado, e há de trazer à Vossa Casa a honra que lhe é de direito.
Seus quadris acompanharam o frenesi crescente da música, os cabelos foram soltos revelando um rosto em êxtase selvagem quando os braços voltaram a serpentear novamente, emoldurando o movimento das ancas e o tremor do ventre.
Ao som dos últimos acordes vibrantes, o corpo de Darai dobrou-se no chão do tablado com um movimento rápido, e ela jogou os cabelos para frente, encostando a testa na madeira, em saudação ao Pai de Sua Casa.
Raor não estaria lá, mas entre ela e o irmão havia um sentimento forte; Daror era um herdeiro digno de sua honra, e a princesa de Harad jogou a cabeça para trás com um sorriso, orgulhosa de reencontrar-se com a tradição de seu povo na glória de Sua Casa.
A presença de Haldir e a expressão de fúria em seu rosto deixaram-na totalmente paralisada.
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A MENTIRA
Ao som de novos acordes, Daror tomou impulso e deslizou de joelhos pela madeira até a irmã para erguê-la nos braços, conduzindo-a nos passos do costume de seu povo.
- Vejo que conhece o amigo do Rei de Gondor – falou Daror sorrindo, embora sua voz não sorrisse com ele.
Haldir viera, cruéis deuses dos elfos, porque demorara tanto? Agora havia faltado com a verdade para o Pai de Sua Casa, e Daror não a perdoaria.
- É Haldir do Reino de Lothlórien, irmão, casei-me com ele sob as bênçãos do lugar. – Se Daror não a estivesse conduzindo, não se manteria de pé.
- Ele diz que minha irmã tem dois filhos. Pensamos que não pudesse ter filhos, Darai: alguém está mentindo.
- Eu não disse que não podia ter filhos, disse que não emprenhei no tempo que era esperado pelo feiticeiro.
- Não tente me enredar com palavras, filha de Minha Casa, pois o meu favor não está com você agora. A recompensa da mentira é a vingança. Fale toda a verdade já!
- Oh Daror! O mais novo dos meus filhos é de Haldir, mas já cheguei no Reino da Floresta carregando o mais velho no ventre. – Darai seguia mecanicamente os passos de Daror.
- O elfo diz que os dois filhos são dele.
- Disse isso? Oh claro, disse isso porque também ama o mais velho. Porque o quer proteger. Porque não quer que carregue a miséria de uma concepção amaldiçoada, assim como eu! Por isso calei, me perdoe irmão. Não podia falar do segundo sem mencionar o primeiro, assim como não queria privar o mais novo do pai, nem o mais velho das bênçãos da Rainha dos Elfos; nas boas graças dela o coração de meu filho cresce puro e bom, não precisa ser condenado por esse segredo horrível.
- Darai, que bela serpente você me saiu, trazendo aos olhos dos que envolve a realidade que lhe convém, fazendo a presa deixar-se devorar de boa vontade. Não só bela e forte e bravia, mas também engenhosa, e agora fértil. Vale dez vezes o seu peso em ouro, princesa de Harad, para o homem que ousar desposá-la. – O irmão tinha controle absoluto da situação, onde o rapaz que a caçula sempre acabava dobrando à própria vontade? Só agora via o quanto Daror amadurecera naqueles anos em que estivera longe. Era um homem adulto, que reinava sobre os terríveis e orgulhosos haradrim desde que tinha 18 anos, e ela tentara enganá-lo.
- Pela memória de nosso Pai, Daror, não exponha meu filho! Você o amaria se conhecesse seu sobrinho, todos que o conhecem o amam, não é diferente de qualquer outra criança. Pare a festa e me entregue ao meu marido.
- Seu marido é aquele que eu disser que é, filha de Minha Casa, e certamente essa festa não parará agora. O segredo que escondeu de mim desvalorizou seu dote, minha irmã; se não quiser tê-lo revelado, faça os homens convencerem-se de que você vale o maior dos tesouros mesmo sem a promessa de filhos.
- Não posso desposar outro, Daror, já pertenço a Haldir!
- Pertence à Minha Casa e desposa minha escolha! O elfo também mentiu, não tem o meu favor. Você já tem muitos pretendentes, apenas em consideração ao Rei de Gondor avaliarei a oferta dele.
- Os elfos não têm os nossos tesouros, Daror. Haldir não tem o que oferecer à Nossa Casa. E eu não tenho nada a entregar a qualquer outro que não seja ele.
- Você entregará sua devoção àquele que Daror escolher, ou eu entregarei seu segredo a toda a terra. E essa noite você vai dançar todas as promessas dessa devoção, até que nenhum dos presentes esteja indiferente – Darai sabia do que o irmão estava falando, algo que seria motivo de orgulho para um pai ou noivo entre os haradrim, mas não para um marido de Lórien, não para Haldir.
- Oh Daror, não faça isso com sua irmã. O elfo não vai me querer mais se eu continuar a dançar assim.
- Não assim, minha irmã, não assim. Vai ter de dançar muito melhor se deseja a minha boa vontade. E aquele que não a quiser, não a merece, não é digno de aliar-se à Casa de Daror: se você não fosse minha irmã, eu a tomaria como esposa.
- Não é o costume entre os elfos, ele não vai compreender, não vai aceitar. Pelo sangue que nos une, Daror, me perdoe. Seja magnânimo, meu irmão, aos olhos do pai dos meus filhos eu o estou envergonhando agora. Você quer me ver repudiada?
- Não se repudia aquela que se vem reclamar, Darai. Quem não estiver preparado para desposar uma filha de Harad, não deve pretendê-la. Dance pela minha boa vontade para com a sua pessoa traiçoeira, Darai, dance pela fertilidade de seu ventre que você escondeu. Traga honra para Minha Casa esta noite, se não quiser defrontar-se com a minha ira por gerações - disse Daror erguendo Darai no ar e exibindo-a a toda platéia, até pousá-la em frente ao elfo.
Os braços do irmão envolveram por detrás o corpo que Darai começou a ondular – Dance até receber minha permissão para parar, filha de Minha Casa, ou vou fazê-la arrepender-se para além do fim de seus dias – sussurrou Daror em seu ouvido, beijando-o.
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DARAI ENCURRALADA
Sentado sobre os tapetes que cobriam o chão junto ao estrado baixo, Haldir acompanhava as evoluções do corpo seminu de Darai. Se conseguisse, refletiria com sarcasmo sobre aquela situação odiosa, mas tal capacidade o havia abandonado naquele momento. O elfo apenas percebia o desejo daquela multidão sendo açulado pela dançarina, por seus quadris incansáveis e sua disposição impudente.
Percebia também que o rei de Harad divertia-se com sua humilhação, comprazendo-se em traduzir-lhes o que já compreendera, que os haradrim estavam propondo lances num leilão animalesco.
- Três vezes o peso de Darai em ouro, mais um veio de pedras, é pouco não acham?
E então sua voz transmitira a galhofa à irmã, no idioma áspero do Sul:
- Não está avançando no meu favor, irmã. Vai se arrepender.
Às palavras do rei de Harad ela respondera com um olhar dúbio, e seu corpo se arqueara ainda mais, e, além dos quadris, seus seios agora fremiam também.
- A colheita de um ano! – bradou subitamente uma voz em westron. Para riso geral, um dos mercadores de Gondor não conseguira se conter ante os encantos da filha do sol.
- O lance já está em quatro vezes o peso de Darai em ouro, fazendeiro, o que você planta e quanto colhe? – perguntaram com alegre insolência os haradrim que sabiam a língua comum.
- Trigo que dê para alimentar duas vezes os que aqui estão por um ano – respondeu o homem de Gondor, de olhos fixos no tesouro de Raor.
- Eu gostei dele! – riu Daror – Darai, faça-o subir essa oferta!
Os olhos de Darai faiscaram, mas entre a fúria de Haldir e a vingança de Daror ela estava encurralada, e o sorriso cruel do irmão lembrou-a disso. Haldir estava a ponto de matá-la, e ser morto - e a vingança de seus amigos acabaria levando finalmente à guerra entre Gondor e Harad.
Daror estava pronto para condenar seu filho à morte, revelando sua origem. As chances de um menino suspeito de ser uruk-hai na Terra Média libertada não a iludiam.
Darai escolheu Mîleithel.
Ajoelhando-se em frente ao plantador, prendeu-o em seu umbigo, na alucinação de seus quadris, nos volteios de seu ventre, onde gotas de suor brilhavam como jóias, e colhendo uma dessas gotas no dedo médio, levou-o inteiro à boca olhando para o homem do Norte.
- Dois anos de colheita! Três anos de colheita!
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A algaravia dos homens era ensurdecedora, sua saia volteava de um lado a outro para atender a todos. Legolas não conseguia parar de pensar se as mulheres de Harad usavam algo por baixo da saia, pois a cada rodopio mais da coxa de Darai era revelado. Aragorn estava verdadeiramente constrangido pelo amigo, e temeroso de que a inimizade plantada por Sauron, depois de tudo, desabrochasse em virtude da cada vez mais próxima explosão de Haldir. Já Gimli estava tão entusiasmado que quase fez um lance também, contido no último minuto pela lembrança do que estava fazendo ali.
- Está relegando os convidados de Sua Casa, filha ingrata, dance para nós! – bradava Daror, a ressonância de seu tamborilar na madeira tornando impossível para Darai continuar evitando aquela área do palco. Ela voltou-se para Daror com meneios suaves e braços graciosos.
- Não ganhará meu favor assim, Darai, vai se defrontar com a minha vingança – sussurrou Daror.
Os olhos de Darai suplicaram, mas Daror gritou pelos tambores, e o ritmo tornou-se mais frenético que nunca.
– Dance para meus convidados! – ordenou – Dance para o elfo.
Seu corpo todo foi tomado por um só tremor, conquanto os quadris não parassem de gingar, e os braços a percorrer o tronco, emoldurando seus encantos tremeluzentes. As pernas dobraram-se lentamente, até que seu corpo estava ajoelhado a coisa de um metro, atravessado em frente aos olhos de Haldir. As costas jogadas para trás até os ombros quase tocarem a madeira, os cabelos negros esparramados no chão, os braços ao longo do corpo.
Seu ventre ondulava, e aquela ondulação foi se propagando pelo tronco inteiro, as costas erguendo-se e arqueando-se devagar, e depois mais rápido, e mais rápido, e mais rápido, os quadris frementes mesmo naquela posição impossível, as mãos percorrendo as coxas, o baixo ventre, os seios, a música crescendo, estremecendo, o corpo dela vibrando!
Quando a música parou com um estrondo, Darai voltou seu rosto exausto para Daror, mas este lhe sorriu cruelmente.
- Continue a dançar, filha de Minha Casa. – E assim Darai fez, levantando o corpo com um movimento gracioso ao comando de mais uma seqüência de notas e do entusiasmo da multidão, embora suas pernas tremessem com o esforço.
Seu olhar evitava o de Haldir a todo custo, mas à medida em que as horas se passavam ele não despregava os olhos dela.
Rameira. Devassa. Cadela. Criatura indigna. Bando de animais. Escória da escória, gente baixa mesmo entre os edain.
Bárbaros, e ela a mais inominável de todos, enxovalhando-o quando fora um dia sua esposa, sob as bênçãos dos Senhores, aos olhos de toda Lórien, de todos os elfos, de todos, cobrindo-o de ignomínia com aquela exibição vexatória.
Como pudera ela? A flor que desabrochara em Lórien fora uma ilusão? Sim, quisera se iludir e moldá-la a um ideal, quando ela não passava de uma cria daquela barbárie ímpia.
Sentiu a mão de Aragorn em seu ombro, como num gesto de solidariedade. A pena do Rei dos edain, nesse momento, só serviu para aumentar sua indignação, e Haldir não pode conter uma expressão de desdém quando voltou-se na direção do acompanhante. A mão entretanto aumentou a pressão, pois antes de chegar ao rosto de Aragorn os olhos do elfo encontraram os do Chefe de Harad, divertidos e arrogantes, e Aragorn percebeu a pulsação homicida da têmpora de Haldir.
- Não acredito que você seja destemido o suficiente para pretendê-la a sério. É preciso muito mérito para fazer jus a uma mulher como essa.
O Capitão de Lórien não respondeu, seus olhos fixos nos do gigante moreno.
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Hora após hora o tormento continuou, até que o corpo de Darai não agüentou mais a perda de água, o cansaço, a tensão, e caiu inerte ao raiar do sol.
Mais uma vez Daror tomou impulso e deslizou de joelhos pela madeira, até onde sua irmã jazia desmaiada. Pondo-se de pé, suas mãos enormes ergueram o corpo acima da cabeça e Daror percorreu o tablado:
- O Tesouro de Raor. A herdeira de Ravai. A jóia mais cintilante e mais preciosa da Casa maior e mais antiga. Bela! Brava! Forte! Feiticeira! A última princesa de Harad, que será entregue após o sol se pôr três vezes – e os braços de Daror abaixaram-se, ajeitando a irmã desacordada, enquanto ele se dirigia para os convidados que se punham de pé, descendo o palco.
- Ninguém deve ambicionar mais do que aquilo com que pode lidar, amigos do Rei de Gondor – Disse o Chefe de Harad, sobraçando Darai, sua cabeça de cachos negros pendente. – Entretanto, estou preso à minha promessa e à minha intenção de boa-vontade para convosco; têm três dias para me trazer algo de grande valor para Harad – despediu-se Daror com um cumprimento de cabeça.
