Demorou mais do que eu gostaria, mas espero que esse capítulo agrade a vocês tanto quanto me agradaram:
ROSAS, ARMAS AMOR E SANGUE (terminada) e MÚSICA FÚNEBRE (songfic), da super Elfa Ju Bloom
CRÔNICAS ARAGORNIANAS, de Nimrodel Lorelim, que esta semana ganhou um capítulo absolutamente arrebatador e apaixonado, centrado em dois personagens que sem dúvida alguma freqüentam minha lista de favoritos, indicando que minha Esperança não será em vão..
A HORA DOS MAGOS; HOBBITS NO MACDONALDS; A OUTRA FACE DA MOEDA, de Lady Liebe – escritora talentosa e leitora maluquete que de vez em quando me alegra fazendo-me saber que ainda está acompanhando.
OS JARDINS DE ITHILIEN, de Lady Éowyn – em quem eu deveria me inspirar mais no entendimento de que existem sim relações descomplicadas.
ESTRELA SILENCIOSA, de Kianah – que tanto como escritora quanto como reviewer tem me propiciado novos motivos de reflexão.
HALDIR & HALETH, não, Kwannom não nos abandonou, é que a pandemia generalizada que tem atacado os PCs de nossas autoras também a atingiu, mas um novo capítulo está por vir.
VIDAS E ESPÍRITOS: CAPÍTULOS FINAIS! Sadie Sil se redimirá das maldades que perpetrou contra Legolas? E seus leitores, sobreviverão ao final da saga angustiante? Mas, será este realmente o final? Não percam por nada!
APRENDENDO: Kika-Sama provou esta semana que não só é uma grande autora, como também uma advogada brilhante. Entretanto, se pôde montar a defesa de Haldir em 24 horas, também pode retomar uma fic da qual eu estou sentindo muita falta ... e espero que venha a se certificar de que agiu certo – e de conformidade com o direito – ao não deixar o elfo sem defesa.
Muito me agradaram também as reviews da leitoras Regina e Nanda, as quais mais uma vez agradeço, aproveitando para perguntar se a Raquel ainda está nos acompanhando.
Sem mais delongas:
A PAIXÃO DOS EDAIN – Parte 3
Capítulo XXVI - Reflexos
À PRÓPRIA IMAGEM
- Não meu senhor! Não! Por misericórdia! – Horrorizava-se agora Darai de haver despertado a ira de Haldir - Se tem amor ao meu filho, eu lhe imploro que não o exponha! – suplicava ela.
Ainda segurando-a pelos cabelos, o elfo a arrastou novamente para o interior do talan, jogando-a no chão de onde ela não se levantou, o rosto escondido entre os cabelos, o rubor visível nas costas e nos braços nus.
Mas o que estava fazendo afinal? Mais que desafiara o pai de seus filhos: ofendera Haldir com palavras que sabia que atingiriam de forma certeira seu orgulho e sua honra. Ferira-o sem medir as consequências, mas agora se desesperava; despertara a fúria do elfo, e a vingança dele atingiria seu filho! E subitamente começou a rezar silenciosamente aos Valar – deuses dos elfos, mais afeitos à compaixão que as forças de Harad – chorando pela última vez na vida, e a primeira em muitos anos, num pranto em que frustração, raiva, medo e sofrimento amontoados desaguaram à princípio de forma contida, até transformarem-se numa torrente surpreendente e incontrolável. Que os Valar não punissem um inocente pelos descaminhos da vida dela! Que ao menos seus filhos fossem poupados!
Haldir andava lentamente pelo aposento, rodeando a figura no chão, assombrado com a enormidade do desatino que quase cometera. ... elfos decaídos ... orcs ... no que se estava transformando perdendo o controle daquela forma, agindo assim?
Mandá-la embora? Sim, sabia que era o que devia fazer! – Haldir respirou profundamente. – Mas não tivera forças para fazê-lo anos antes, e não as tinha agora. Seu orgulho, seus princípios, sua confiança, tudo fora enxovalhado por aquela criatura que se fazia odiar com a mesma intensidade que se fazia amar.
Não estava suportando vê-la chorar. Nunca a vira fazê-lo.
Mas as lágrimas de Darai eram sinceras. Suas comportas haviam finalmente irrompido com toda força, toda a sua miséria lhe assomava: o assassínio de seu pai, a tortura de sua mãe, seu próprio inferno, e sua solidão imensa ao lado daquele estrangeiro a quem se prendera abandonando seu povo e sua terra.
Ela estava fingindo! Era um truque, um truque escandaloso que iria despertar seus filhos e roubar os últimos resquícios de dignidade que ainda havia em seu lar.
Haldir puxou seus cabelos, forçando a visagem do rosto:
- Enxugue suas falsas lágrimas, minha senhora, elas não me convencem da modéstia das dançarinas de Harad.
- Deixe-a em paz! – disse Mîleithel assomando do quarto.
Haldir sentiu como uma adaga a rasgar-lhe o coração ao ver o o filho que postar-se entre os pais.
Como parecia corajoso encarando o elfo de duas vezes sua altura, com a justiça em seu semblante, enfrentando o pai para proteger a mãe.
Haldir não pode deixar de sentir-se orgulhoso... e desesperado: que pensaria o filho de si agora? Como ... como explicar-lhe o que ele mesmo não entendia? – Agora era o elfo a sentir-se desarvorado, enquanto Darai rapidamente recompunha-se, os instintos absolutamente voltados para a proteção das crias. Agora não tinha de ser por causa dela, mas deles ...
- Meu filho, o que é isso? Respeite ao seu pai – disse Darai pousando-lhe a mão no ombro angustiada, o mais terrível dos temores assomando-lhe.
- Ele a fez chorar – redarguiu o menino.
- Darai não chora, meu pequeno – Darai já continha seus soluços, mas alternava os olhos assustados entre o pai e o filho ... E se Haldir repudiasse o filho juntamente com ela?
- Chora sim, a toda hora! Meu pai a machuca – insistiu o garoto.
As palavras do menino soavam dolorosamente para Haldir. Algo estava fora do lugar ali, em uma mulher adulta sendo protegida pelo filho pequeno... Sua mulher... sendo protegida do próprio marido.
- Não, meu filho! Seu pai é o Pai de sua Casa, e as ações do Pai da Casa são para ser acatadas! – admoestou-o Darai, secando as últimas lágrimas.
- Ele a está maltratando – insistiu Mîleithel mais uma vez.
- O castigo de seus filhos é disposição do Pai da Casa, já não lhe expliquei? – perguntou Darai em tom doce, mas firme. – Agora sua mãe quer que você pegue seu irmãozinho e leve-o até a casa de Niéle. – Precisava tirá-lo dali, evitar qualquer conflito entre o pai e o filho.
O menino olhava da mãe para o pai, com o olhar sério.
- Por favor, meu filho, faça como eu disse. – Precisava tirá-lo dali, precisava evitar um desastre, e só lhe ocorria uma maneira ...
Mîleithel pegou pela mão o irmão, também totalmente desperto a observar os pais, e saiu do talan sobraçando as capas e calçados que a mãe lhe entregara, uma rara expressão contrariada em seu rosto.
O olhar de Haldir permaneceu na imagem do menino mesmo depois de sua partida – tudo, tudo, tudo estava fora do lugar em seu mundo - até que Darai, ainda envolta em sua roupa rasgada, pôs em sua mão o cinto.
A princesa de Harad só vislumbrava uma opção.
- Fiz muito mal, Meu Senhor, desacatei-o com palavras que meu coração renega. Por favor, castigue-me – falou ela.
- O quê? – perguntou Haldir, sem compreender o significado das palavras.
Darai ajoelhou-se à sua frente, voltando para ele as costas nuas das quais afastara o cabelo.
- Está com justa raiva, já a carrega há muito tempo. Está consumindo a todos nós. Castigue a mim, meu senhor, não se volte contra o filho que o ama – disse a mulher ajoelhada a seus pés.
- ...
O INTERIOR DO ESPELHO
Haldir olhou do cinto para as costas expostas de sua esposa, para sua pele macia e morena, e uma vez mais para o chicote que ela pusera em suas mãos, antes de atirá-lo longe, sentando-se no chão e puxando Darai para junto de si.
- Eu a machuquei tanto assim, minha bela? – perguntou à esposa, tomando-lhe o rosto entre as mãos.
- É direito do Pai da Casa marcar a pele dos maus filhos – respondeu Darai, baixando os olhos.
- Não sou eu um bárbaro, apesar de como venha lhe tratando, e nunca mais permitirei que seus filhos a vejam chorar. O que quer que a ofenda ou entristeça, minha senhora, de agora em diante deve me dizer. Mesmo que a fonte de seu tormento seja um elfo grande, mau e ciumento; enfrentaria o que fosse por você, vou enfrentá-lo também, se tentar mais uma vez quebrar as asas do meu lindo pássaro cruel.
- É para isso que meu coração bate, para protegê-la – disse Haldir embalando-a em seu colo. – E quando você partiu, fiquei tão preocupado. E tão triste e furioso! Não importava o que dissessem, não conseguia deixar de pensar que tivesse fugido de mim para a proteção de outros braços!
O rosto de Haldir era um caleidoscópio de emoções: tristeza, raiva, paixão... mas o tema subjacente era terno. Darai agradecia mentalmente aos Valar à medida que a face tensa encontrava alívio ante seus olhos atentos. O Pai de sua Casa se acalmaria: seu filho seria poupado.
– E de repente eu a reencontrei no Palácio, tão nobre e selvagem, e imaginei qual daqueles homens seria o seu, disposto a matá-lo em frente ao trono de Gondor e arrastar você pela trança de volta para mim! – Haldir acariciava a face dos olhos negros que se voltavam para ele – E fiquei devastado de dor pelas suas palavras, queria tomar seu corpo nos meus braços e consolá-lo de tanta desdita – Haldir beijava os cabelos de Mornfinniel - E como admirei sua altivez, minha princesa bárbara orgulhosa, quando desprezou a piedade daquela gente.
- Então você se foi para procurar por suas parentas, e eu me fui para matar orcs e vingar você. E tive prazer em ceifar cabeças como o lavrador ceifa o trigo, cantando em meu coração uma canção selvagem de violência, pois cada orc morto era um orc a menos para assombrar você, minha adorada.
- Mas eu achava que não me queria mais, que havia alguém para você entre o seu povo, pois não se voltou para mim quando nos vimos – a voz do elfo era doce e baixa e sentida. – Mas ainda assim não pude ficar longe, e voltei para perto de onde sabia que você estava, como a planta se volta para o Sol.
- E aí você veio ao palácio de novo. E sim, neste dia sim, eu lhe teria dado uma surra memorável se lhe tivesse posto as mãos, por desafiar o Rei Abençoado daquela maneira, enredando e seduzindo a Estrela Vespertina com o propósito de fazer aquela proposta infame.
- Então você disse aquelas palavras ao sair, e eu senti como se tomasse meu coração nas mãos e fizesse dele um brinquedo do seu capricho. Fez-me ir até aquele festival obsceno, onde o que era só meu estava se oferecendo a todos! Onde o tesouro dos meus olhos estava sendo exibido para a multidão! E como me enfureci e desesperei quando vi toda aquela riqueza que eu não poderia igualar sendo ofertada por você! – e a fúria com que Haldir disse as últimas palavras fez o sentido de perigo de Darai assomar novamente - Como eu poderia admitir ao Rei o quanto a proposta das mulheres de Gondor encheu-me de inconfessável esperança?
- E quando por milagre seu irmão, aquela criatura detestável, fingiu que recebia de mim o que sabia não me pertencer e disse que ma daria, meu coração disparou como o de um menino.
- Então você surgiu, deslumbrante e nua novamente em meio àquela multidão, e eu quase enlouqueci de ciúmes enquanto seu irmão falava sem parar, fora de mim de tanto desejo. Entretanto, você não sabia com quem estava casando, estava estampado na vagueza de seu olhar, e não podia acalmar meu coração revelando-me se aquela era realmente a disposição de sua vontade.
- E aí, minha criança ímpia – havia riso, mas também havia ofensa na voz de Haldir ao chamá-la assim. – minha princesa pagã, você gemeu quando a possuí, mesmo sem saber quem eu era. E eu a odiei, pois o meu desejo deseja apenas e tão somente a você, e não poderia ser satisfeito por mais ninguém.
- Mas eu sabia que era Haldir de Lórien que me tomava – redarguiu Darai, defendendo-se – pois mesmo na névoa em que minha mente se encontrava chegou-lhe a presença do meu senhor!
