Tecnicamente falando, por duas palavras este é um texto NC-17; àqueles que manifestarem seu descontentamento, prometo a imediata correção das impropriedades que forem apontadas.
Agradeço mais uma vez o estímulo das leitoras Regina e Nanda, e das fantásticas autoras que tiveram a solidariedade de acompanhar essa jornada longa:
Elfa Ju Bloom – brava autora de ROSAS, ARMAS AMOR E SANGUE.
Nimrodel Lorelim – artesã das almas que permeiam as CRÔNICAS ARAGORNIANAS
Lady Liebe – irônica criadora de A HORA DOS MAGOS; HOBBITS NO MACDONALDS; A OUTRA FACE DA MOEDA
Lady Éowyn – amiga sensível que encontrei nos JARDINS DE ITHILIEN
Kianah – Elentari da ESTRELA SILENCIOSA
Kwannom – apaixonada narradora de HALDIR & HALETH
Sadie Sil – Mestre Panthael - repleta de sabedoria - de VIDAS E ESPÍRITOS.
A PAIXÃO DOS EDAIN – Parte 3
Capítulo XXVII - Imagens Invertidas
AMOR INVERTIDO
Àquelas palavras, Haldir levantou-se com Darai nos braços: tinham-lhe insuflado uma paixão tão grande quanto seu desejo de acreditar nelas, de deixar seu amor escancarar-lhe as comportas da compaixão e do desejo que tão absurdamente tentara suprimir em si mesmo por tanto e tão insano tempo, e deitando-a na cama do quarto ele a beijou, carinhosa mas sofregamente.
Contudo os lábios de Darai – quem diria? – haviam-se desabituado de beijos, e não corresponderam de pronto.
Pois em seus cálculos, trejeitos, estratégias e maquinações, Darai era uma pessoa verdadeira, que simplesmente não se negava aos rumos de seu coração, tortuosos que fossem. Se por paixão buscara a todo custo retornar a Haldir, e com ele a Lórien, por raiva e frustração, ao supor-se desprezada, acabara por tomar-se-lhe de uma espécie de repulsa, de rejeição.
A esse respeito ele a compreendia, pois não era preciso que para tanto trocassem palavras, junções de sons que exprimiam conceitos que poderiam não ser compreendidos pelos interlocutores da mesma forma – tanto mais quanto díspares suas formações, seus valores, suas expectativas ...
A esse respeito ele a compreendia, pois não era preciso que para tanto trocassem palavras, bastava tocá-la e sentir o enrijecer de seu corpo, o quê de angústia com que os braços dela mais o continham ao espalmar a mão em seus ombros do que o abraçavam ...
Não me quer mais, minha bela? – Quisera Haldir perguntar – Tornei-me um orc para você? Você a quem adoro tanto? Você que declarou há pouco que me reconhecera em meio a seu torpor? Que chamou-me de seu senhor?
Mas palavras ... palavras eram por vezes a pior forma de comunicação entre eles: conduzindo a recriminações, reverberando dúvidas que não deveriam existir ...
Não podia duvidar que ela o queria. Não podia duvidar que fosse capaz de se fazer querer.
Haldir beijou-a ainda mais sofregamente e, vendo que ele insistia ainda que ambos se apercebessem da resistência dela , Darai sentiu-se lisonjeada.
Oras, ela era Darai de Harad, e finalmente ele se apercebera disso.
Ela se arriscara, e muito, para que acontecesse.
E agora, o coração disparado, o medo e a exultação em turbilhão, se comprazia das mãos dele agarrando-lhe o corpo, de ouvir-lhe a respiração ofegar, de ter suas roupas novamente rasgadas por ele com fúria, só que desta vez fúria de paixão.
Rá! Era Darai da Casa de Or, filha de Ravai, e nenhum poderia resistir-lhe, e ao final seria a sua a vontade que prevaleceria.
E Darai começou a deixar-se beijar.
Haldir nem sabia direito se a beijava ou se a sufocava.
A boca de flor carnuda. A boca de flor lasciva, a boca de flor carnívora ...
- Cabelos Negros ...
Seu corpo fora treinado para atender àquele chamado, e ela sentiu com delícia o arrepio percorrer o próprio corpo ... Abraçava-o já, e beijava-o também, rolando da cama para o chão do talan, arrancando-se um do outro o que restava de suas roupas.
Pele com pele, corpos deslizando um no outro, bocas percorrendo o que encontrassem pelo caminho, mãos que se entrelaçavam, que espremiam e apertavam, independentes de qualquer vontade consciente, agarrando-se a pernas, braços, troncos e cabelos, buscando puxar mais do que o corpo, a própria alma do amado para si.
Profusão de pernas em todas as direções. Risos e gritos. Arranhões.
Pareceu a Haldir que ela lhe fizera uma ferida com as unhas, e agora lhe lambia o sangue. Em outro momento teria se horrorizado, mas naquela não: selvagem, animal e instintivo eram o que ele era e vivia naquele instante.
- Cabelos Negros ... – buscou chama-la novamente, mas já a voz lhe falhou, e bem não seria preciso: desta maneira ela estava pronta a segui-lo, fosse onde fosse.
E no dia seguinte, finalmente, depois de muito tempo, Haldir acordou sem qualquer lembrança de dor em sua cabeça.
Naquela manhã Haldir correu à casa de Niéle, e após trocar com ela breves palavras foi ter com seu filho, ajoelhando-se frente a um menino triste.
- Mîleithel, meu filho, bem amado de toda Lórien, estou aqui para dizer-lhe que ontem à noite você estava certo, e eu estava tão errado, jamais deixe a tradição bárbara de sua mãe convencê-lo do contrário. Estive errado por tempo demais, no que ele corre para você e para sua mãe, e peço seu perdão, meu filho justo e valente.
O rapazinho, entretanto, nada lhe respondeu, ferido, e Haldir pousou a mão em seu ombro, à maneira dos elfos
- Tenho muito orgulho de ser o seu pai, e o que quer que aconteça, nunca se esqueça disso. Vejo com júbilo o quanto cresce em justiça e generosidade, seja generoso comigo também, meu filho, e me perdoe.
Mîleithel pousou a mão no ombro do pai, ainda cabisbaixo.
- Perdoa o seu pai, meu filho?
- Claro – respondeu a voz baixa do menino que ainda não compreendia, envergonhado por duvidar do pai que adorava.
As mãos de Haldir pousadas nos ombros de Mîleithel de repente o envolveram, no profundo afeto do gesto que o elfo aprendera com os edain. Seu filho era um deles, um da raça dos homens. Nele o que prevalecera fora o sangue daquele povo. O sangue determinado de uma adan indomável, de espírito nobre e valoroso. E Haldir se orgulhou do filho mortal, de sua espécie e da temeridade valente que a movia. Era uma luz que florescera na sombra. Apertou-o contra o seu peito, e seu coração se encheu de calor ao sentir o filho retribuir-lhe com a intensidade da devoção, o laço que os ligava mais forte do que nunca, fundindo os afetos dos homens e dos elfos.
E mais um abraço veio se somar àquele, vindo de bracinhos pequenos e rechonchudos. Então Haldir tomou seus dois filhos nos braços e conduziu-os para um novo tempo de alegria em seu lar, onde a felicidade haveria de ser reconstruída.
