E ao dobrar a última curva atingimos a reta da qual já se avista a linha de chegada, símbolo de vitória e conquista, mas também mais um símbolo de que tudo tem um fim ... como esta jornada.

Ao menos para mim, ela foi intensa e profunda, e sinto sim que estarei saindo modificada dela, enriquecida pelo contato e a amizade que desenvolvi com o talento generoso não só de autores soberbos, como Nimrodel Lorellin, Elfa Ju Bloom, Kika-Sama (que retomou APRENDENDO, brindando-nos com mais um capítulo), Vick Weasley, Kwannom, Kiannah, Lady Éowyn e, é claro, Sadie Sil, mas também de leitores – e cada vez mais, neste mundo de imagens e informação pré-processada, é preciso talento para ler e pintar um quadro mental com as meras palavras que formam um texto – sensíveis e carinhosos como Regina, Raquel e Nanda.

Uns e outros, espero que venham aproveitando desta paixão tanto quanto eu aproveito de seus textos e reviews instigantes, inteligentes, ousados, cheios de sentimento – que infelizmente parecem ter entrado numa entressafra (com a exceção de Sadie, é claro mais uma vez, que está produzindo como nunca e, ao mesmo tempo que ainda consegue nos surpreender com os agitados capítulos finais de VIDAS E ESPÍRITOS, promete DUAS NOVAS FICS para quando esta acabar – Adivinha protagonizadas por quem?)).

Entretanto, saibam que alimentaram minha paixão pessoal de tal forma que o final parece se aproximar apenas para dar vez a um novo começo, um novo desafio, que conto com o apoio de vocês para enfrentar.

Mas antes, preciso me preparar para fechar este ciclo, o que ocorrerá ainda este mês, e para isso conto então com mais um pouco da paciência e perseverança que vocês tanto demonstraram até aqui ...

A PAIXÃO DOS EDAIN – PARTE FINAL

Capítulo XXVIII - Do Tempo das Flores

O VESTIDO ESCURO

Haldir queria correr pela Floresta Dourada, dia e noite à toda velocidade, como já correra com sua edain nos braços uma vez, e retornar o mais breve possível Caras Galadhom. Apesar de agora carinhoso e gentil, demandava Darai de modo ainda mais inclemente, até a mulher admitir que o marido a punha tonta e sem forças.

Tendo encontrado os meninos ao passar pelo Cerim Amroth, Haldir recebeu suas boas-vindas ali mesmo, e comandou seus pequeninos soldados a retornarem, mas para o talan de Niéle àquela noite, e seguiu na direção de casa da forma mais rápida que sua dignidade permitia.

Subindo ao talan, entretanto, Haldir fez uma careta, que os Valar lhe permitiram disfarçar no instante em que Mornfinniel voltou-se para sua chegada.

- Feliz em te ver, esposa.

- Maegovannem, esposo longamente esperado.

O sorriso radiante dela mitigou o problema; mas que idéia infeliz tivera Haldir de implicar com a exuberância de suas vestes. Cabelos Negros estava trajada com um vestido escuro que lhe caía pessimamente. Onde estava seu lindo vestido vermelho?

Aye! Haldir lembrou, destruíra-o com as próprias mãos.

Mandar-lhe-ia fazer outro. Mandar-lhe-ia fazer muitos. Todos vermelhos, decidiu Haldir. Nunca mais desejaria vê-la vestida de outra cor.

Haldir tomou-lhe a rosa vermelha nos lábios, sentindo-se arder.

- Não deve seguir aquilo que dito em meu destempero, senhora minha. Agora vejo que suas roupas devem continuar amoldando-se às suas formas, "filha de minha casa" – riu ele, pronunciando as palavras da língua de Darai.

- Minhas formas não estão em tempo de serem amoldadas aos vestidos, Pai de Minha Casa, seu favor novamente floresceu em mim – disse ela conduzindo a mão do elfo ao seu ventre.

Haldir não foi rápido o suficiente em disfarçar a surpresa, e viu que Darai flagrara a preocupação em seu olhar.

Fizera aquela escolha, porém, não uma, mas duas vezes, e honraria os votos de seu coração por inteiro:

- Rico me faz a esposa que escolhi, duplamente – disse ele com a mão sobre a barriga pejada, beijando os cachos negros.

E evitou ao máximo afastar-se dela durante aquela gestação, mostrando-se um amante delicado, extremamente cuidadoso.

Ao final, a recompensa de seu devotamento foi-lhe presenteada pela Senhora Galadriel, de quem ouviu que uma vez mais a semente dos eldar frutificara no ventre edain.

Desta feita ela o brindara com uma filha. Uma flor dourada cuja cabeleira basta viria a refulgir em todos os tons do ouro, como a do irmão de sangue. E assim Haldir a chamou, Goldeirien, a flor de ouro.

E Goldeirien foi o consolo que restou a todos que ficaram em Caras Galadhom quando a Rainha decidiu que seus dias na Terra Média haviam chegado ao fim.

A SEMENTE DO ADEUS

O Capitão de Lórien acompanhou Seus Senhores até os Portos Cinzentos, e finalmente conheceu o mar que jamais vira, e no coração do elfo que até então só ansiara pela Terra dos Mallorn, foi deixada uma semente do anseio pelo mar.

Mas seus filhos eram pequenos, a Terra Média liberta um campo vasto de possibilidades, seu amor pela esposa que não poderia seguir para as Terras Imortais imenso, e aquela semente permaneceu adormecida em seu peito por alguns anos, até o nascimento de sua outra filha.

Pois este abriu uma chaga em seu coração, justamente quando ele já nada temia. E seus olhos se encheram d'água quando a segurou no colo.

E Haldir sentiu o gosto amargo da sina dos homens em sua boca, e chorou por dentro o destino de sua filha edain.

Contudo, a essa veio a amar ainda com mais intensidade que aos demais, pois neles amara sobretudo a si mesmo, mas através dela amou sua Cabelos Negros, de quem era como que uma miniatura.

Morneirien, a flor morena, ele a batizou, embora a esta a mãe tenha destinado também um nome de seu povo, Narai, pois nela sua tradição continuaria.

As crianças dos elfos geralmente necessitam de pouca supervisão e ensinamento, mas isso não ocorria com sua filha mortal, que era travessa, irrequieta e desobediente, freqüentemente agindo de forma temerária e freqüentemente se machucando, ocasião em que corria para os braços do pai, que a consolava.

Já a mãe repreendia as lágrimas vertidas pela filha, pois Darai compreendera que um dia seus filhos mortais não estariam mais protegidos entre os elfos, e não queria que o mundo dos homens os visse chorar.

E na próxima vez que Haldir levou a esposa ao encontro dos haradrim em Minas Tirith, Darai fez-se acompanhar dos filhos, para que conhecessem do povo de Harad.

- Este é Naldir, filho de meu marido estrangeiro – disse então.

E Haldir pousou firmemente a mão no ombro do rapaz em que se transformara Mîleithel ao compreender as palavras da esposa.

- Mas nele foi o sangue de Harad que prevaleceu – declarou Daror – parece-se com você, como a pequenininha.