Feliz Natal!
Novembro veio e se foi. Sirius se refugiou na Floresta Proibida. Desde o início do mês, Harry e Draco passavam quase todas as tardes de sábado estudando os feitiços, azarações e truques que Draco havia aprendido com Lucius Malfoy. A grande maioria o garoto só sabia por teoria - afinal o decreto de restrição ao uso da magia por menores impedia que ele os praticasse. Mesmo assim, era muito útil na hora de buscar defesas contra esses feitiços.
A Grifinória venceu a Sonserina no jogo de quadribol no final de novembro; Harry apanhou o pomo bem na cara de Draco, o que causou um tremendo bate-boca entre os dois na tarde de sábado seguinte. Mas, de forma geral, essas horas de estudo conjunto estavam indo muito bem.
Draco ainda captava em Harry uma tristeza e uma preocupação muito acima do normal para um garoto de 16 anos, mas percebia que elas haviam se tornado menores do que no início das aulas. A generosidade com que Harry compartilhava com ele tudo o que descobria fazia com que Draco se sentisse obrigado, para não se mostrar inferior, a não omitir nada também, o que tornava o trabalho em conjunto deles muito produtivo, para eles e para o ED.
Dezembro chegou cheio de neve e de expectativa pelo Natal. Os Weasleys, Hermione e Harry haviam decidido ficar; Draco não tinha para onde ir e ficaria também.
No sábado anterior ao Natal, Draco e Harry fizeram seu último treino conjunto antes das férias. O sonserino estava especialmente chateado naquele dia. Apesar de tudo, ele sempre fora o filhinho mimado da família Malfoy. Naquele Natal ele estaria sozinho pela primeira vez, coisa que Pansy Parkinson fizera questão de lembrar antes de viajar. Na realidade, ele estaria sozinho também na Sonserina; era o único de sua casa que passaria o Natal na escola. Por essas e por outras, ele decidiu não ir ao baile de Natal. Draco estava diante da perspectiva de um feriado prolongado muito chato. Talvez o ponto alto fosse pôr alguns trabalhos de escola em dia.
Harry estava feliz porque passaria parte do Natal com Sirius. Eles haviam combinado de se encontrar em uma caverna próxima a Hogsmeade na tarde do dia 25. Pouco habituado a ser paparicado, Harry achava que o Natal na escola estava mais do que ótimo. Ele também decidiu não ir ao baile, mais por não ter ninguém especial para convidar, e também por uma boa dose de timidez.
Somando tudo isso, Harry estava mais feliz naquele sábado do que em qualquer outro dia desde de que soubera da profecia. Isso parecia ter um efeito muito irritante no outro rapaz.
-Protego! – Harry gritou, bloqueando um feitiço malicioso do colega. – Que droga, Malfoy! Não era para você me atacar enquanto a gente não descobrisse o contra-feitiço.
-Calminha, Potter. Eu não estava mirando bem.
-Calminha? Tá louco? Se me acerta, eu ia ter uma crise de dor quase tão "gostosa" quanto um cruciatus.
-Já disse, eu não estava mirando. – Draco estava feliz por ter conseguido irritar o outro. – Era só para acordar você.
Harry estreitou os olhos e ficou olhando por um momento o rosto provocativo de Draco.
-Você quer me irritar, Malfoy? Quer acabar com meu bom-humor? Rodopius!
Antes que Draco pudesse pensar, estava suspenso a uns vinte centímetros no ar, girando como um bisbilhoscópio.
-Me tira daqui, Potter!
Harry riu um pouco e trouxe Draco de volta ao chão, segurando-o pelos braços pois o outro garoto estava tonto demais para se firmar nas próprias pernas.
-Porra, Harry!
-Foi você quem começou, Malfoy. Só porque está de mau humor não vai azedar meu dia. – Harry ainda mantinha Draco seguro nos braços, e ria da zanga do outro. – Já consegue ficar em pé sem cair?
-Cadê minha varinha? – Ao tentar pegar a varinha no chão, Draco quase caiu.
-É melhor sentar um pouco. Você estava muito engraçado girando feito louco.
-Não tem graça.
-Qual o problema, Malfoy? É Natal, feriado. Por que esse mau humor todo?
-Coisa minha, Potter. Que foi? Esta de bom humor porque? Cansou de suspirar por aí, Grande Herói? Ou a corvinal que faz você babar resolveu se sacrificar e ir ao baile com você?
-Já disse que não sou herói! Que saco, Draco! – Harry ficou um pouco mais sério ao lembrar por que seu humor não andava dos melhores naquele ano. – De qualquer forma, eu nem vou ao baile. – Continuou tentando mudar de assunto. – E você? Quem é a santa criatura que vai aturar você a noite toda?
-Eu também não vou. – Draco agora se sentia mal, porque voltara a captar a tristeza de sempre por baixo do rosto falsamente alegre de Harry. – Por que você não vai?
-Porque eu não estou a fim. E você?
-Porque acho um saco essa babação toda. – Nenhum dos dois queria admitir que estava se sentido deslocado. – Droga. Eu não devia mesmo ter acabado com sua alegria natalina. Vai ficar muito tempo angustiado de novo, é?
"Angustiado? Grande Merlin! É exatamente angústia o que eu tenho sentido por causa dessa bosta dessa profecia."
-O que você está dizendo, Malfoy?
-Que eu sei desde o final do ano passado que você está todo abalado por alguma coisa. Achei que era a morte do Black. Mas não é. Eu posso sentir que não é. Pelo menos não é mais. – Draco ainda não sabia da volta de Sirius. – Vê se resolve isso. Tanta autopunição me dá dor de estômago.
-Certo. Agora repete em língua de gente. Como assim, "eu posso sentir que não ", e porque meu estado emocional afeta você?
-É um lance meu, Potter.
-Fala, Malfoy.
Draco Malfoy conhecia demais a expressão determinada naqueles olhos verdes.
-Eu sempre sei como uma pessoa se sente. É isso.
-Qualquer pessoa?
-Se eu me concentrar, sim. Com algumas pessoas eu não preciso me concentrar, mas posso bloquear, se eu quiser. – Draco nunca falara aquilo para ninguém. – É difícil encontrar alguém que eu não possa bloquear. Sabe, é muito útil na hora de escolher o momento certo para tratar de algum assunto espinhoso.
-Deve ser. Você sabe como uma pessoa se sente em relação a você ou como se sente no geral?
-No geral. Você vive angustiado, mas nesse momento está curioso, intrigado, e a angústia diminui. Quando chega notícia de que o Lord das Trevas fez alguma coisa, sua angústia aumenta, mas não é medo. É mais como tristeza..... sei lá. Mas o que você sente a meu respeito eu não consigo dizer. Posso dizer se você está de boa vontade com o mundo, ou se está a fim de ficar sozinho, mas se é algo específico comigo, não dá para saber.
-Isso é muito estranho. – Harry não sabia o que pensar da análise precisa que Draco fizera do seu estado emocional.
-Sabe o mais engraçado? – Os dois garotos estavam sentados no chão lado a lado, com as costas apoiadas na parede, tendo sua primeira conversa na vida. – Quando eu era menor, eu achava que todo mundo era assim. Então nunca comentei com ninguém. Depois que percebi que era diferente, eu não quis falar.
-Por quê?
-Qual é, Potter? Olhe para você. Está tenso, preocupado com o que eu posso "ler" em você. Depois é muito útil ser assim e ninguém saber. Quer um exemplo bobo? Eu sei que o Weasley é louco pela Granger, porque toda vez que acontece alguma coisa que indique mesmo remotamente que ela possa estar interessada em outro cara ele fica com vontade de explodir o mundo.
Harry não pôde conter uma risada.
-E ela?
-Se a Granger vir uma garota perto do Weasley, ela fica furiosa. A irritação dela é quase palpável. Eu consigo bloquear o sentimento deles, então não me afeta; aí é muito engraçado.
–E quem você não consegue bloquear?
Draco ficou tenso. Harry estava outra vez fixando seus olhos nele, com uma expressão que lembrava muito Dumbledore.
-Esquece isso, Potter.
-Voldemort. Você não consegue bloquear Voldemort. Você captou o que ele realmente é. Por isso você quer tanto vê-lo destruído.
-É. – Draco abaixou a cabeça, tentando não se lembrar da única vez que vira o bruxo das trevas e sentira a cabeça doer e a alma gemer de repulsa ao que o Lord de seu pai era. – Eu acho que ele, assim como Dumbledore, pode evitar que eu o capte. Mas ele se divertiu vendo que senti-lo como ele realmente era me machucava, e não me deixou bloquear.
A simpatia que ele podia sentir vinda de Harry era um bálsamo na alma.
-Mais alguém, Draco?
-Sim.
-Quem?
-Você.
Harry agora irradiava surpresa.
-Eu?
-É. Sempre pude sentir você muito facilmente, mas podia bloquear. Desde que a gente começou a treinar junto eu não consigo bloquear você, eu posso sentir você mesmo do outro lado do salão principal. É um saco, porque você não anda nada bem ultimamente. Acho que, se você se concentrar, pode evitar que eu sinta seu estado de ânimo. Você é forte, Potter. Mais forte que muito bruxo adulto.
-Malfoy, por que você está me dizendo tudo isso?
-Não faço a menor idéia. Burrice, acho.
Harry fixou novamente os olhos nos do Sonserino.
-Não. Você está é cansado, e sabe que eu posso entender.
Draco resolveu perguntar algo que ele tinha como quase certeza há tempos.
-Você é legimancista, Harry?
-Sou.
-Agora eu pergunto: quem sabe disso?
-Não deu para ocultar de Dumbledore, e acho que do professor Snape também não; se ele não sabe, desconfia. Voldemort sabe.
O silêncio baixou entre os dois, até que Harry perguntou:
-Draco, você esta me captando?
-Não, você bloqueou.
-Concentre-se.
-Ah tá! No dia que eu fico livre de suas emoções caóticas você quer que eu vá atrás delas? Desista.
-Deixa de frescura e tenta, senão eu desbloqueio e não bloqueio mais.
-Saco! Se eu me concentrar, posso sentir que você está aqui, mas não posso distinguir o que você sente.
Harry foi para o outro lado da sala.
-E agora?
-Você ainda está aí. – Draco se concentrou– Guerra de bolas de neve?
-Legal! Eu pensei forte em guerra de bolas de neve e desbloqueei, e você pôde ver. É quase telepatia!
-Será que... Harry, será que se a gente treinar eu consigo fazer você me captar?
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Um Ronald Weasley muito agitado penteava pela sexta vez o cabelo sob o olhar divertido do seu melhor amigo. Dessa vez ele convidara Hermione com a devida antecedência e da forma correta. Na realidade, ele a convidara três minutos depois do anúncio do baile e falara de supetão e muito vermelho. Aparentemente isso era o certo para Hermione.
-E agora, Harry?
-Está bom, Ron. A Mione já conhece seu cabelo.
-Acho que passei perfume demais!
-Não, Ron, você tinha passado perfume demais, mas já tirou o excesso com aquele feitiço.
-Então agora eu devo estar fedendo!!
-Não, Ron. Você não está fedendo. – Se não fosse tão engraçado ver Rony daquele jeito, Harry já teria perdido a paciência. – Mas você não vai me convencer a ir aí cheirar seu pescoço.
-Merda, Harry! Eu quero ir direito.
Harry acabou ficando com pena.
-Você está direito. Só não pragueje que a Mione não gosta.
-Certo. Eu sei. Eu não quero brigar com ela hoje.
-Então não brigue. E vá logo, porque se você a deixar esperando, ela é quem vai brigar com você.
-Certo. Não praguejar, ir logo e não brigar.
-Ron, faz um favor para mim, para você, para própria Mione e, no final das contas, para a escola toda?
-Hein? Agora?
-Não, no baile. Diz para Mione que você gosta dela. Até a lula gigante já sabe disso e ninguém agüenta mais esse chove não molha.
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"Eu não devia ter dito nada. Ele saiu daqui com cara de tonto e mais vermelho que o cabelo dele! Espero não ter estragado nada." Harry se enfiou em baixo das cobertas para tentar dormir. "Devo ser o único em Hogwarts com mais de treze anos que não está nesse baile. Único não. Draco também não vai."
O jovem bruxo virava e revirava na cama sem conseguir dormir. Acabou resolvendo se levantar e ir treinar um novo feitiço de combate na sala de requisição. "Um pouco de exercício para achar o sono."
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-Ora essa, Draco, perdeu o sono também?
O sonserino resolvera treinar, e já deveria estar lá há algum tempo. Estava suado e despenteado, mas mais tranquilo do que o habitual.
-Arrependido de não ter ido ao baile, Harry?
-Não. Só sem sono. Posso treinar com você?
-Claro.
Quase duas horas depois os dois, exaustos, resolveram encerrar o treino. No momento em que desejaram, suco de abóbora e sanduíches apareceram, bem como toalhas e pentes e suas capas mais quentes.
Foram dois rapazes cansados, mas bem alimentados e de excelente humor, que saíram dali e resolveram dar uma volta nos jardins.
-Deixe-me mostrar para você um lance legal, Harry. – Draco arrastou o outro rapaz para um caramanchão no jardim. Nele havia uma escadinha que levava a um segundo andar rebaixado. – É um lugar muito maneiro, das janelas dá para ver quase todo o jardim.
A lua crescente deixava o lugar com ares de romance, e nos bancos escondidos nos arbustos já se podia ver vários casais. Draco foi o primeiro a se dependurar nas janelas, bisbilhotando.
-Ei! Não é o Weasley se pegando com a Granger?
-Onde?
-Ali.
-Legal! Deu certo. Draco, pára de espiar. – E o grifinório puxou, rindo, o sonserino para outra janela.
-Vai ser a notícia da semana. A monitora certinha da Grifinória aos amassos com o monitor cabeça de fogo.
-Nem se atreva, Draco. Deixa os dois.
Mas Draco se limitou a rir e se debruçar em outra janela.
-Eu sabia! É o McGregor com aquele quintoanista da Lufa-Lufa. Eu sabia que tinha coisa ali.
Harry olhou distraído, pensando que Draco era um fofoqueiro de mão cheia. Mas assim que seus olhos bateram no casal que se beijava, ele recuou assustado e puxou o outro para dentro com uma expressão assustada.
-Que foi, Harry? Que bicho mordeu você?
-Mas Draco.... são.... eles são.... são dois caras!
-Eu sei. E daí?
-Isso... nada, é só estranho.
-Estranho? Estranho por quê? – Draco começou a rir debochado. – Qual é, Harry. Vai dizer que nunca viu dois caras se beijando. – Diante do rubor digno de um Weasley que tingiu o rosto do outro bruxo, Draco não se conteve e caiu na gargalhada. – Acho que você nunca tinha visto. Harry Potter é cheio de pudores.
-Pára, Malfoy. – Harry corou ainda mais diante da crise de riso do outro, e se dirigiu para uma terceira janela para esconder o embaraço. – Porra, Snape!
-Hein?
-O Snape! Eu tenho de avisar o Rony.
Harry enfeitiçou uma bola de neve e acertou a nuca de Rony com ela. Quando os dois monitores procuraram indignados quem tinha feito aquilo, deram de cara com o amigo acenando freneticamente e apontando a direção de onde Snape vinha. Hermione entendeu e puxou Rony correndo. Quase trombaram com os dois rapazes que saíam da outra moita assustados.
-Algum professor, corre! - avisou Hermione em voz baixa, esquecida por alguns momentos de ser monitora.
Enquanto McGregor corria com o namorado para o castelo, Hermione e Rony seguiram os sinais de Harry e conseguiram se abrigar no segundo andar do quiosque com Harry e Draco, que tentava a tudo custo sufocar a crise de riso.
-Que foi, Harry? – Rony não sabia se ficava aliviado ou embaraçado com a situação.
-Snape. Fica quieto, Draco. – Harry puxou o outro garoto e tampou a boca dele com as mãos, bem a tempo de ouvir Snape entrando no caramanchão e se afastando, algum tempo depois, sem subir ao segundo andar.
Os quatro garotos retiveram a respiração por algum tempo até que:
-Draco, que nojo! Você me lambeu!
-Eca!
-Relaxa, Weasley! Deixo para a Granger lamber você. E você, Harry pode ficar calminho, era só para você me largar. Harrizinho tímido!
Draco caiu novamente na gargalhada, enquanto Harry ficava mais vermelho que a bandeira da Grifinória.
-O que deu nele?
-Sei lá. Acho que o Draco tem uns pinos soltos. – Harry não sabia realmente dizer o motivo de tanta risada.
-Calma aí. Foi você que viu o McGregor dando uns malhos no namorado dele e ficou chocado. "Mas Draco são dois caras!!!" Parecia que tinha visto algo de outro mundo.
-Ah! Então foi isso! - Hermione entendeu na hora o problema de Harry, enquanto Rony olhava para sua nova namorada totalmente perdido. – Sabe, Harry, os bruxos enxergam de forma muito diferente dos trouxas esse lance de namoro entre pessoas do mesmo sexo. – Draco parou de rir e começou a prestar atenção. – Na realidade, eu concordo com a mentalidade dos bruxos. Não há nada de errado em se gostar de alguém do mesmo sexo.
-Por quê? Os trouxas pensam diferente, Granger? – Draco estava incrivelmente sério, e Rony parecia tão surpreso quanto ele.
-Sim. Em alguns países as pessoas podem ser até presas por isso. Em outros mais liberais eles sofrem ainda um monte de preconceitos, tem gente que não daria emprego a um cara que tem um namorado em vez de uma namorada. A grande maioria dos trouxas acha errado esse tipo de amor. É uma coisa muito idiota.
-Todos os trouxas pensam assim?
-Não. Claro que não. Nem todos os trouxas discriminam alguém só por se sentir atraído por alguém do mesmo sexo, assim como nem todos os bruxos discriminam mestiços, nascidos trouxas e afins.
-Sobre o que a gente viu, Harry... Você acha algo demais, acha ... sei lá... nojento?
-Não, Draco. Eu só me surpreendi. Eu nunca sequer tinha pensado em algo assim. Eu não esperava.
Draco se concentrou e captou a confusão de Harry. E um sorriso irônico apareceu no rosto do sonserino.
-E agora? Consegue se imaginar dando uns beijos em outro cara?
-Dá um tempo, Malfoy.
-Por quê? Tem medo de encarar a realidade, Potter? Se você não consegue se imaginar na situação, é porque acha alguma coisa de errado.
-Dá um tempo, Draco. Isso é novo para mim.
Os dois se encaravam com os olhos brilhantes. Nem depois do jogo entre Sonserina e Grifinória daquele ano eles tinham discutido assim. Não era raiva, como em todas as suas outras brigas. Era outra coisa, e nenhum dos dois entendia o que era. Draco estava magoado porque Harry se chocara com o beijo dos outros dois garotos, e Harry se sentia perdido em um assunto em que ele nunca pensara, e estava ficando irritado com a insistência de Draco.
-Se fosse eu falando alguma coisa sobre algum mestiço ou nascido trouxa, eu seria arrasado como o maior preconceituoso da escola. Mas como é o santo Potter que dá o maior chilique por uma bobagem, ele está só surpreso.
Hermione percebeu que só agora Malfoy usara o sobrenome de Harry, e que os dois haviam se tratado quase o tempo todo pelos nomes de batismo.Draco também não dissera sangue-ruim, como seria de se esperar.
-Porra, Draco! Não me chama de santo. –. A irritação de Harry era quase física.– Vê se cresce, babaca.
Draco recuou um passo. Mas ele sentia que boa parte da irritação do outro garoto era voltada para o próprio Harry. Sentia também que, mesmo no auge da raiva, o grifinório não iria atacá-lo.
-Vê se cresce você, idiota. Quer saber? Vou dormir que ganho mais.
-"timo. Quem vai dormir sou eu. Já passou da conta hoje.
E os dois desceram e foram em direção ao castelo, furiosos, deixando Rony e Hermione estáticos para trás.
-Mione, o que foi isso?
-Eu não sei, Ron. Para começar, o que os dois estavam fazendo aqui?
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"Droga! Droga! Merda! Calma, Harry você precisa esvaziar a mente. Merda! Eu não sou um cretino preconceituoso... Calma. Atenção na respiração, esvaziar a mente, nada de ficar pensando no idiota do Draco."
Quando Rony entrou no quarto uma hora depois, Harry fingiu estar dormindo, mas na realidade ainda não conseguira se acalmar e esvaziar a própria mente. Quando dormiu, ele mergulhou em um sono profundo que aos poucos foi se transformando em um sonho muito sensual.
Ele estava na janela do caramanchão. Era lua crescente e, apesar da neve lá fora, estava sem camisa e sem sapatos; não sentia frio, contudo. Harry ouviu um barulho atrás de si e sorriu, satisfeito, sem se voltar. Sabia quem era. A pessoa o abraçou por trás, e Harry pôde sentir lábios no seu pescoço enquanto as mãos de quem o abraçava percorriam-lhe de leve a barriga e o peito, beliscavam-lhe o mamilo e o deixavam excitado. Os beijos em suas costas o faziam gemer, enquanto um par de mãos habilidosas tocavam por sobre a calça seu membro já totalmente ereto.
-Volte para a cama, Harry.
A pessoa no sonho o chamou, e era tudo que o Harry queria. Ele se virou devagar e teve seus lábios capturados no mais ousado beijo que ele já sonhara. A boca de Harry foi invadida por uma língua provocante, enquanto o jovem grifinório se encarregava de arranhar as costas de quem o beijava tão bem. Quando teve o lábio inferior mordido, Harry gemeu e afastou um pouco o rosto. Seus olhos encontraram os olhos azuis de Draco, tão cheios de desejo quanto ele próprio se sentia. E, de repente, estava tudo certo no mundo. Estar nos braços de Draco fazia com que o mundo fizesse sentido. Enquanto o Harry do sonho aproximava os lábios dos de Draco para mais um beijo, o Harry de verdade acordou gemendo.
"Oh, Grande Merlin!"
Ele estava suado e muito, muito excitado. Sua mão já se encontrava dentro da calça do pijama antes mesmo dele acordar. Por um breve instante, ele tentou se conter, mas já era tarde, estava duro demais para conseguir parar. Harry se masturbou imaginando o Draco do sonho, aquela expressão de adoração e desejo. O toque enlouquecedor, a boca deliciosa. Mas as imagens do Draco discutindo com ele algumas horas antes, e do Draco despenteado que encontrara na sala do treino, também lhe vinham à mente e o excitavam tanto que parecia difícil de suportar. Quando gozou, Harry teve de morder o travesseiro para não gritar o nome do outro rapaz. Nunca sentira tanto prazer se masturbando. Na realidade, nunca sentira tanto prazer. "Draco, você me faz voar!" foi o pensamento algo incoerente que ele teve antes de mergulhar, sorrindo, num sono sem sonhos.
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Quando acordou, Harry teve vontade de gargalhar. Estava melado do próprio sêmen, se masturbara pensando em um garoto, e adorara. Coincidência ou não, era o mesmo garoto com que discutira, se divertira e treinara algumas horas antes. O mesmo que podia captar como ele estava se sentido, e para quem podia enviar imagens mentais a alguma distância. Claro, era o mesmo sujeito que o irritara por cinco anos. Mesmo assim, era deliciosa a sensação que Harry tinha. Era como se o peso do mundo tivesse saído de cima dos seus ombros. Ele se sentia leve.
Não pretendia contar para Draco o que acontecera. Mas seria muito difícil conter a risada quando visse o loiro.
Ouviu o habitual grito natalino de Rony:
-Presentes!
E tratou de se limpar com um feitiço muito útil antes de sair da cama com um sorriso enorme.
-Feliz Natal, Rony!
Foi só olhando para a pilha de presentes aos pés de sua cama que ele entendeu a razão da tristeza de Draco alguns dias antes. Ele estava totalmente só no Natal.
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Na hora do almoço, Harry reparou quando Draco entrou. Naquele dia, Dumbledore unira duas mesas anunciando que Natal era dia de confraternização, e que todos se sentariam misturados. Harry puxou Draco para perto dele e dos amigos antes que o outro jovem pudesse decidir onde sentar.
-Belo suéter. – Harry notou o suéter azul claro, quase cinza, que Draco usava. Não por acaso era muito parecido com os suéteres verde e marrom que ele e Rony tinham ganhado mais cedo.
-Obrigado. – O sonserino corou um pouco. – Remus me mandou.
-Legal. – Harry achou melhor não comentar que provavelmente aquele suéter tinha sido feito por Molly Weasley.
-Está muito bem-humorado hoje, Harry.
-Tive ótimos sonhos, Draco. – E a muito custo conteve uma risada safada que, com certeza, não soaria muito própria em um almoço de Natal. – O que você vai fazer depois do almoço?
-Nada especial. Por quê?
-Eu, Rony, Mione e Gina vamos ver uma pessoa, quer ir com a gente?
Draco ficou olhando um instante para ele.
-Por quê?
-Por que o quê, Draco?
-Por que você está me convidando?
-Você complica tudo, não é? Eu quero mostrar um lance legal para você. Vem, vai ser interessante.
-Ok.
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Quando, depois do enorme banquete, Gina, Rony e Hermione se dirigiram à saída, Harry os avisou simplesmente:
-Draco vai com a gente. Vão na frente que ele foi buscar uma capa mais quente.
No caminho até o salgueiro lutador, Harry avisou Draco:
-A pessoa que nós vamos encontrar está escondida. Ninguém pode saber dela. E ninguém pode saber também do caminho que nós vamos tomar. Coisas da Ordem. Tudo certo para você?
-Claro. Sigilo absoluto. – Draco sentiu os olhos de Harry fixos nele e sabia que, mais uma vez, o outro bruxo estava verificando se ele dizia a verdade.
Os dois rapazes alcançaram os outros, que os aguardavam no limite do alcance do salgueiro.
-O que vocês vão fazer agora? Brincar de lutinha com essa árvore doida?
Hermione pegou um ramo caído e o enfeitiçou para ir direto tocar em determinado ponto da árvore, que imediatamente se imobilizou.
-Vamos por aqui, Malfoy. – A garota riu da expressão surpresa do jovem bruxo, e seguiu Harry para a passagem da árvore.
Gina e Draco passavam por ali pela primeira vez. O sonserino estava bastante curioso.
-Onde isso vai dar? – Ele sacou da varinha, imitando os grifinórios.
-Na casa dos gritos.
-O quê? Tá maluco, Harry? Aquele lugar é assombrado.
-Não é, não. Era lá que prendiam Remus nas noites de lua cheia quando ele estudava em Hogwarts. Eram os gritos dele que davam fama de mal-assombrado ao lugar.
Saindo da casa, eles entraram em um grupo de árvores, onde encontraram um enorme cão negro muito parecido com o do desenho que Draco guardava.
-Black! Ele está vivo?!
-Psiu, Draco! Fica quieto. Vemos.
Os garotos seguiram a forma canina de Sirius até uma caverna, onde ele reassumiu a forma habitual.
-Feliz Natal, meninos!
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Ainda não é um lemon, mas um terço de lemon.... calma que tem tempoMEL MorganWeasley: Eu fiquei sofrendo para imaginar o que Sirius e Severus poderiam fazer junto sem se matarem a essa altura da história, kkkkkk. Deposi fiquei dando risada sozinho imaginando a cara do Snape se ele perde o jogo.
Morticia Sheldon: A idéia dessa fic nasceu enquanto eu escrevi O Mais Improvável, quem já leu viu que eu descaradamente copiei um pedaço dela.... Li a tradução que vc começou, very cool, na hora que eu ia dar um review caiu! Depois eu volto l
Anna: A história do Severus e do Sirius já tá escrita, não rola um triangulo com o Remus, só um ciuminho básico, mas de repente, em outra fic.....
Anna-Malfoy: como sou um cara bom, só com um pouco de espírito de Snape em mim, espero realmente ter aumentado sua impaciência depois desse capítulo! J Mas não se preocupe, eles vão perceber.
viviane valar: corpo a corpo?rs Se preocupa não que vai rolar, mas não tão já, pq é fácil, mas é difícil!
Gente eu ando rindo a toa com os reviews de vcs. Muito obrigado mesmo. Um abração.
