Uma garrafa de Whisky

Harry não ficou nem um pouco surpreso com o fato de Draco e Sirius se darem bem. Se havia alguém que podia entender a raiva que Draco sentia de Lucius era justamente Sirius.

O sonho com o sonserino não se repetiu, e acabou relegado ao subconsciente de Harry, que se dedicava mais e mais aos treinos do ED e aos treinos com Draco. Os dois garotos agora treinavam juntos toda quarta-feira, além de aos sábados à tarde.

Um dia depois de um treino que se estendera até mais tarde, Harry encontrou o livro de herbologia de Draco junto com suas coisas. Ele sabia que o outro garoto pretendia estudar um pouco ainda naquela noite e resolveu correr atrás dele, acreditando que ainda o alcançasse nos corredores das masmorras - afinal, desde o segundo ano Harry sabia muito bem onde era o salão comunal da Sonserina. Quando estava quase alcançando Draco, este, que havia se escondido atrás de uma estátua, saltou sobre ele já de varinha em punho e o derrubou.

-Calma, Draco, sou eu.

-Perdeu o amor à vida, Harry? Nunca se aproxime de mim assim!

-Fica frio, nervosinho! Eu só vim trazer o livro que você esqueceu. – Harry se levantou e encarou Draco. – Qual o motivo de tanta tensão?

-Coisa minha, Potter.

-Toda vez que você diz "coisa minha, Potter" é algum tipo de problema. Desembucha.

-Vai dormir, oh Grande Salvador, que seu problema é sono.

-Um dia você ainda vai realmente me irritar com isso.... Não enrola.

-Não é realmente nada. É só prevenção minha mesmo.

-Saco!!! Fala logo, Draco.

-Escuta, Harry, e presta atenção. Tem alguns caras nessa escola que não pensariam duas vezes antes de aprontar uma feia para mim, ou para qualquer um que o Lord das Trevas escolhesse. Eu prefiro me precaver, principalmente a essa hora da noite.

Depois de algum tempo olhando para o rosto de Draco, Harry se convenceu de que ele era sincero e se ofereceu:

-Quer que eu passe a vir com você?

-Não preciso de babá! – Malfoy ficou realmente indignado com a idéia. – Se manda para sua torre, Harry, antes que um bicho-papão venha atrás de você.

Harry se afastou, meio rindo. A rabugice de Draco não o incomodava mais.

-Oh, Harry.... Obrigado pelo livro.

-De nada, Draco. –Harry respondeu sem se voltar.

-Mas é uma vaca desqualificada mesmo!

-Gina! – Hermione se chocou com a fúria da garota mais nova, que entrou no salão comunal literalmente soltando fumaça pelas orelhas e se jogou no sofá ao lado da amiga e do irmão.

-A Pansy Parkinson é uma vaca e uma cretina. Malfoy deveria ter dado um soco na cara de sonsa dela.

-Essa raiva toda é por causa do Malfoy? O que a Parkinson fez? – Rony conhecia o lado "defensora de todos" que Gina tinha.

-Ela ficou tirando sarro dele porque o aniversário dele está chegando e ele sempre dava altas festas e tinha pilhas de presentes. Aí ela ficou falando que ele ia ter um aniversário mixuruca que nem no Natal, quando ele ganhou um presente só. – Gina imitou a voz da outra garota - "Quem iria dizer que algum dia Draco Malfoy só iria receber de Natal um suéter brega, e ainda por cima ia gostar."

-Ei! Quem fez o suéter foi minha mãe. De onde aquela vaca tirou a idéia de que o suéter é brega! – Quem visse Rony tão indignado não poderia imaginar que era o mesmo garoto que todo Natal reclamava do próprio suéter. – O Remus pediu e ela fez, acho que ele não queria que o Malfoy não recebesse nada – explicou para Hermione.

-O que o Draco fez? – Harry se aproximara sem ninguém ver.

-Ah? Oi, Harry. Ele fez um par de comentários sarcásticos sobre ela ser uma mala e que era um alívio não ter de aturá-la em outra festa, e que ninguém agüentava a estupidez dela. Você conhece o Malfoy, não perde a pose; no final ela saiu de lá segurando o choro. Só que ela não mentiu, não é? Malfoy está sozinho.

-Não está mais. – Ao ouvir Harry, Hermione não pôde evitar rir: ele estava com aquele mesmo ar determinado de quando foi atrás da Pedra Filosofal. – Ou vocês acham que a Parkinson não merece um cala-boca?

-É claro, Harry. – Gina foi a primeira a se entusiasmar.

-Sinceramente, Harry. O Malfoy anda comportado e tudo, mas...

-Qual é, Ron! Vai ser ótimo ver a cara da Parkinson e dos amiguinhos dela.

-Tá bom! Se você quer, eu acompanho. Mesmo que seja para ajudar o Malfoy.

-Mione?

-Por mim tudo bem. – A expressão da bruxa era enigmática. – Tem algum plano, Harry?

-Claro. Mandamos presentes para ele na mesa da Sonserina no dia do aniversário. Um de cada vez, sabe, dando espaço de uns cinco minutos entre as corujas. Gina, você sabe o dia do aniversário dele?

-Vocês não vão acreditar. – A bruxinha já estava rindo ao imaginar a cena. – É dia 14 de fevereiro.

-O quê? Nem morto eu mando um presente para o Malfoy no dia dos namorados. Pode esquecer, Harry!

-Talvez seja interessante, Rony.

-Mione!

-É sério. Seria uma forma de mostrar que a gente cuida de nossos aliados. Talvez devêssemos avisar outras pessoas.

-Ainda acho esquisito.

-Rony, a Parkinson chamou o suéter da sua mãe de brega. – Harry tocou o ponto sensível do ruivo. – Você vai deixar barato?

-Certo. O quê, em detalhes, você quer fazer, Harry?

O dia dos namorados amanheceu cheio de luz, apesar da neve que ainda cobria a escola. Os alunos teriam o dia livre e autorização para ir ao povoado.

Na mesa da Sonserina, um loiro de olhos azuis exibia sua mais fria expressão de desprezo ante os olhares de falsa piedade de alguns colegas. Depois que ele arrasara a Parkinson, ninguém se atrevia a falar nada, mas era visível a diversão da garota e de sua turminha mais chegada.

Com o humor azedo daquele dia, Draco tentava ignorar os sinais mentais que Harry enviava da mesa da Grifinória, até que a visão mental de um enorme bolo de aniversário furou seu bloqueio. Olhou zangado para Harry, que lhe sorriu de volta no justo momento em que uma coruja branca, muito conhecida na escola, ia direto para Draco.

Um cartão com a mesma imagem de bolo e 17 velhinhas em cima trazia os dizeres: "Feliz Aniversário. Segura a onda do que vai começar agora."

Três minutos depois, uma coruja parda entrou e deixou uma caixinha com Draco, que olhou intrigado para a mesa da Grifinória. Dentro da caixinha, um par de luvas de vôo e um cartão curto e grosso: "Feliz Aniversário, RW."

"RW?? Ronald Weasley?! Oh, Merlin, é o fim do mundo!"

Apesar do choque, Malfoy conseguiu manter uma expressão normal no rosto e esconder a surpresa. Mas começou a ficar difícil conter a gargalhada que se formava no seu peito diante da expressão dos colegas quando as corujas continuaram a chegar. Um cachecol cinza-chumbo de G. Weasley. "Legal, combina com meu suéter." Uma agenda de H. Granger, um livro sobre vampiros que andam de dia da L. Lovegood, um estojo de ervas do N. Longbottom!!!!! "Grande Merlin! Até o Longbottom!" E cartões, muitos cartões, alguns acompanhados de pequenos presentes, vinham de quase todos os membros do ED. Não eram cartões muito íntimos, mas a frase "Feliz Aniversário" estava em todos eles. Os presentes também não eram caros, mas eram em sua maioria divertidos.

Entre uma coruja e outra, Draco olhava para Harry, que estava sufocando o riso com muito esforço. O Weasley tinha as orelhas vermelhas, enquanto a irmã parecia nunca ter visto o teto do salão antes; só a Granger estava absolutamente calma.

Quando uma coruja enorme entrou trazendo um pacote de F&J Weasley com a marca das genialidades Weasley, Draco engasgou. Ele não sabia, mas os gêmeos também não tinham gostado do comentário sobre o suéter.

Draco arriscou um olhar rápido para a mesa dos professores e notou o ar divertido do diretor, e que o professor Snape estava tampando a boca - ou ele estava com dor de dente ou estava escondendo o riso mesmo. As duas últimas corujas trouxeram um cartão de Remus com alguns chocolates e outra caixa. Quando desembrulhou essa última, Draco encontrou um bilhete. "Não abra na mesa senão vai dar o maior rolo. Feliz maioridade." No lugar da assinatura, o desenho de uma pata de cachorro. "Sirius! Com certeza é melhor abrir quando eu estiver sozinho."

Depois do café, Draco saiu do salão carregando sua pilha de presentes.

-Ei, Malfoy! – Era Hermione que o chamava. – Nós vamos para Hogsmeade, você vem conosco?

-Claro, só vou guardar isso e já volto. – O rapaz começou a se afastar em direção às masmorras, mas se voltou, ainda meio hesitante. – Granger... obrigado.

Quando Draco voltou ao saguão principal encontrou Harry, Rony, Hermione, Gina e Luna o esperando. Depois da véspera de Natal, era a primeira vez que Draco se via em uma situação social com seus ex-inimigos. Ao guardar os presentes, não pôde deixar de perceber que Harry só mandara o cartão, e mesmo assim um cartão mais de aviso do que propriamente de felicitações. Não que isso importasse àquela altura, mas Draco se sentiu um pouco desapontado por isso.

Quando Draco alcançou o grupo, Harry, que parecia indócil, foi o primeiro a se mover.

-Vamos, estou louco para sair um pouco do castelo.

Draco, que estava pronto para a agradecer pelo que eles haviam feito, ficou com cara de bobo, só comparável à cara surpresa de Rony. Como Harry saiu andando rápido na frente, Draco acabou se vendo andando entre Luna e Gina e, para quebrar o gelo, resolveu puxar assunto:

-Foi muito legal o que vocês fizeram.

-Idéia do Harry. A Pansy Pateta quase teve um treco. – Gina deu uma risada. – Mas a sua cara também estava muito engraçada.

-Bem, eu não esperava uma coisa dessas. Sabia que seus irmãos me mandaram um tal de Aditivo de Xampu Causador de Queda de Cabelo com instruções para "pôr no xampu da vaca sem que ninguém veja você e esperar três dias para ver a cabeça dela parecendo bola de cristal"?

-Você não pretende usar isso, Draco! – Hermione nunca concordava com as invenções dos gêmeos. – Harry, quer esperar? – O amigo já estava bem na frente. – Ninguém está a fim de ir correndo até Hogsmeade.

Enquanto alcançavam Harry, Draco perguntou baixinho para Gina:

-O que deu nele? – Diante do gesto da ruiva dizendo não fazer a menor idéia, Luna caiu na gargalhada, como se só ela pudesse ver algo muito óbvio. Antes que Draco ou Gina pudessem dizer mais alguma coisa, já estavam ao lado de Harry, que agora andava junto deles em um ritmo mais normal.

Apesar de uma certa tensão no início, a conversa entre o grupinho acabou por se desenvolver bem, e eles chegaram ao povoado sem maiores problemas. Na entrada da vila, um Rony muito vermelho anunciou:

-Eu e a Mione vamos ver umas coisas. A gente se vê na hora do almoço. – E saiu quase arrastando pela mão a namorada, que parecia ter aprendido com ele a arte de ficar vermelha.

-Eu acho que isso faz a Mione oficialmente minha cunhada. Fred e George vão amar receber essa notícia. – Quando Gina sorria daquele jeito, ela lembrava muito os gêmeos. - Não sei quanto a vocês, meninos, mas eu e a Luna temos um encontro com dois caras muito legais, mas que realmente não vão querer vocês por perto.

-Juízo, Gina!

-Está vendo só, Luna? Além dos outros, eu tenho mais um irmão para pegar no meu pé! A gente se encontra para almoçar.

Gina se afastou com Luna, que deu um adeusinho e um olhar divertido aos dois rapazes.

De repente, a realidade de que passariam o dia dos namorados juntos em Hogsmeade os atingiu.

-Embaraçoso.

-O quê, Draco?

-Andar com você no dia dos namorados por Hogsmeade vai ser embaraçoso.

A lembrança do sonho atingiu Harry de repente, fazendo o garoto corar um pouco. Mesmo assim, ele provocou:

-Agora é você que está sendo preconceituoso, Draco!

-Ah?! Cala a boca.

No final, foi uma manhã divertida na Zonkos e na Dervixes e Bangues. Foi só quando entraram na Dedosdemel que Draco se deu conta de que Harry estava há horas segurando um pequeno embrulho nas mãos.

-Você já amassou o pacote todo, Harry. Sua namorada não vai gostar.

-Ah? Isso? Isso não é presente de dia dos namorados. É o seu presente, eu esqueci de pôr junto com o cartão.

-Meu?

-É. Toma.

-Obrigado.

Harry acertara o perfume favorito do Draco, o que fez o sonserino inexplicavelmente corar um pouco.

Depois disso se juntaram a Rony, Hermione, Luna, Ernesto, Gina, Dino, Neville e Anna Abbott para um almoço tardio no Três Vassouras, de onde só sairiam no final da tarde, depois de uma quantidade mais do que razoável de cervejas amanteigadas e de terem convencido Harry a cancelar a reunião do ED naquele dia. "Afinal é dia dos namorados!"

-OK, vocês venceram! Eu cancelo. – Até mesmo Hermione insistira nisso. – Mas eu e você temos trabalho amanhã, Draco.

-Eu sei, carrasco. Vou estar lá.

Para Draco, era uma sensação boa ver suas respostas provocarem uma onda de risada. Na realidade, aquele tinha sido o aniversário mais divertido da sua vida. Era bom estar ali, vivo, livre, quase feliz. Era bom ver Harry sorrir de volta daquele jeito. Era bom sentir o coração acelerar ao ver o sorriso dele. "Grande Merlin!!! Agora eu enlouqueci mesmo!"

No dia seguinte, o Profeta Diário tinha a pior manchete dos últimos meses. Em um ataque a uma vila onde viviam algumas famílias bruxas misturadas a uma comunidade trouxa, vinte e três pessoas haviam morrido - nove bruxos e quatorze trouxas. O Ministério procurava alguns desaparecidos e estava em grandes apuros para esconder a verdadeira causa da chacina do público trouxa.

Quando Draco leu a notícia, olhou para a mesa de Grifinória. Apesar do tumulto no salão, ele conseguia captar a dor de Harry. Dor e culpa pareciam afogar o garoto, que saiu rápido do salão, sendo logo seguido por Rony e Hermione. Um minuto depois, Draco foi atrás. Ele conseguia se guiar pela sensação de dor de Harry. Draco foi encontrar Rony e Hermione batendo à porta de uma sala distante nas masmorras e pedindo que Harry abrisse.

-Sai da frente. – Draco não estava nem um pouco inclinado a ser gentil. – Harry Potter, abre essa merda agora. – Não era um pedido, era uma ordem. – Eu não sei por que diabos você se acha culpado por essas mortes, seu idiota infeliz, mas você está me dando dor de cabeça. Ou você abre essa porra de porta neste segundo ou vou buscar o diretor, a Mcgonagall e o Professor Snape. Agora, Harry!

A porta se escancarou, e a primeira coisa que Draco notou foi que o humor do outro havia mudado radicalmente. Ele era um poço de fúria mal contida naquele momento. Mesmo assim, o loiro entrou, seguido de Hermione e Rony.

-Some, Malfoy. Eu não estou a fim de aturar você agora.

-Escuta aqui, estou me lixando para o que você quer ou não fazer. Chega. É sua vez de falar. Qual o problema, Santo Potter?

-EU JÁ FALEI PARA VOCÊ NÃO ME CHAMAR ASSIM! – Harry tinha a varinha apontada para o rosto de Draco.

-O que foi? Vai me azarar agora? Manda ver. – Agora era Draco que estava furioso. – Onde está sua coragem? Está com medo de dizer até para esses dois qual o problema? O que foi, Harry?

À medida que a dor sobrepujava a fúria em Harry, Draco também se acalmava. Ele não gostava de ver o outro garoto sofrendo, e foi com uma voz quase doce que ele pediu:

-Fala, Harry.

-Droga. – Harry desabou em um sofá, com os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto escondido entre as mãos. Cansado de tudo aquilo.

Draco se sentou ao lado dele, e Rony e Hermione, trancando a porta, puxaram duas cadeiras e se sentaram em frente. Draco pediu de novo:

-Fala.

E Harry falou. Falou do que acontecera no saguão do Ministério no ano anterior. Falou da profecia, de tudo o que o professor Dumbledore lhe mostrara na penseira, e de como aquela era a primeira profecia real da professora de adivinhação. Falou da culpa que sentia pela quase morte do Sirius e por ter colocado os amigos em risco. Falou do fato de se sentir preso em uma armadilha pela profecia que o tornaria um assassino ou uma vitima de Voldemort. Falou durante um longo tempo, primeiro com o rosto escondido entre as mãos, depois, recostado no sofá, fitando a lareira apagada com um ar vazio. Quando acabou, um silêncio triste se espalhou pela sala.

-Sinto muito, Harry. – Draco estava sério ao dizer isso, e Harry nem precisou de legimancia para saber que era sincero.

-Incendio. – Hermione acendeu a lareira usando magia. – Não vejo razão para congelarmos aqui – justificou ela, diante da surpresa dos garotos. - Harry, a professora McGonagall diz que adivinhação é algo muito inexato, mesmo uma profecia verdadeira não é cem por cento garantida. Sabe, em todas as lendas que já li sempre que uma pessoa tentava fugir de uma profecia acabava provocando a realização dessa profecia; e sempre que alguém tentava fazer uma profecia se cumprir, gerava uma série de problemas para ele e para os outros, e a profecia só se cumpria no tempo certo dela, e muitas vezes de uma forma muito diferente do que as pessoas esperavam. Você sabe que pode contar com a gente. Não fica sofrendo por antecipação, isso só vai lhe fazer mal.

-A Granger está certa. O Lord das Trevas virá atrás de você de qualquer forma, Harry. Você só tem que fazer o que sempre faz.

-Do que você está falando? O que eu sempre faço, Draco?

-Sobrevive e deixa ele louco de raiva. Uma hora Dumbledore dá um jeito nele.

-Desde quando você acredita tanto assim no professor Dumbledore?

-Coisa minha, Potter.

Harry fez ar de riso diante da expressão habitual do outro.

-É sim. É coisa minha, e dessa vez eu não vou explicar para você.

-Sabe Harry, por mais esquisito que seja, o Malfoy tem razão. Mas tem outra coisa. Era melhor você contar essa história ao Neville também. Se fosse eu no lugar dele, ia querer saber. Se você quiser a gente vai junto com você falar com ele.

Depois de um início de sábado tão agitado, Harry estava realmente sem vontade de treinar. Mesmo assim, compareceu à Sala de Requisição no horário marcado com Draco. O sonserino já estava lá sentado no chão, com as costas encostadas na parede em frente à porta. Estranhamente, a sala estava toda vazia, a não ser por Draco e a mochila dele.

-Oi, Draco.

-Oi. Eu não estou a fim de treinar. – A voz arrastada e o jeito de garoto mimado nunca deixariam de ser a marca registrada dele.

-Nem eu. – Harry deixou-se tombar ao lado do outro.

-Hummm.... gostei de ver.

-Você é esquisito assim ou só está tentando me irritar? Gostou do quê, idiota?

-Seu estado de ânimo, babaca. Falar lhe fez bem. Como Longbottom reagiu?

-Está ainda meio abobalhado. A Mione está com ele.

-Legal. – Depois de um breve silêncio, Draco abriu um sorriso travesso. – Quer ver o que seu amigo canino favorito me mandou de aniversário?

-Quero, claro.

Draco tirou do bolso uma garrafa de uísque de fogo, com mais ou menos metade do tamanho de uma normal.

-Três dessas. – E, pegando dois copos com gelo que apareceram, serviu uma boa dose para cada um deles. – Hoje, Harry, nós estamos merecendo acabar com uma delas. Saúde.

Vendo Harry hesitar, Draco perguntou:

-Algum problema?

-Eu nunca bebi isso antes.

-É fácil. Põe na boca e engole. Saúde.

-Certo, saúde. – Achando graça no comentário do outro rapaz, Harry deu um gole grande na bebida e perdeu o fôlego.

-Calma, Harry. – Draco quase chorou de rir ao ver o outro arfando por causa da bebida forte. – É devagarzinho que se faz isso.

-Queima! É forte. Muito forte. – Com os olhos marejados de lágrimas, Harry tomou outro gole, dessa vez bem menor. – Mas é gostoso.

Draco riu ainda um pouco do grifinório, mas se concentrou na bebida, com a qual, apesar da pose, ele também não estava acostumado.

No primeiro copo discutiram a copa inglesa de quadribol, no segundo passaram a falar dos professores da escola - Draco e Harry tinham uma visão muito diferente a respeito de quase todos, principalmente de Snape. Do professor Snape, o assunto caiu em Lupin, por quem Draco tinha uma enorme e relutante admiração. E quando o sonserino serviu a terceira rodada, resmungando um "acabou" bastante chateado, Harry entrou no assunto que o intrigava:

-Draco, o que realmente aconteceu com você no verão?

-Coisa minha, Potter.

-Nem vem, Draco.

Os dois estavam sentados no chão de frente um para o outro. Harry, com as pernas meio afastadas e os joelhos flexionados, abraçava o joelho esquerdo olhando Draco com cara de cachorrinho sem dono. Draco imitou a pose do outro, com uma de suas pernas entre as de Harry e o rosto dos dois muito próximos, mas o rosto do sonserino tinha uma expressão travessa.

-Não ir aonde, Potter?

-Fala logo, cara. Vai fazer bem para você.

Os olhos de Draco perderam o brilho brincalhão e se desfocaram um pouco.

-É uma historinha suja, mas previsível. O Lord das Trevas soltou Lucius da prisão. O preço que ele pediu foi minha vida. Minha mãe tentou fugir comigo, mas Lucius e a irmã dela nos pegaram e mataram minha mãe. Eu tentei socar o Lucius e fui espancado, sedado e acorrentado. Se não fosse o professor Snape eu teria sido violentado também. Ele e Remus me salvaram, Remus tratou de mim e o professor Dumbledore me ofereceu a proteção da Ordem da Fênix. Depois eles nomearam você meu babá oficial.

-Eu sinto muito, Draco. – Não havia nada que alguém pudesse fazer para apagar a dor que Harry via no outro garoto.

-Eu sei que sente. – A expressão de Draco agora era amarga. - O sujeito que se diz meu pai, que eu tentei a vida inteira agradar, não viu nada de mais em me fazer de oferenda em um ritual de magia negra. Remus me ajudou muito mais em um mês do que o cretino em dezesseis anos.

Harry não teve resposta para isso, e se limitou a apertar de leve a mão de Draco. O sonserino ficou olhando para a mão de Harry sobre a sua por alguns segundos antes de virar o resto do uísque e tentar tornar o clima mais leve:

-Por causa disso, quase que eu fico desfigurado por uma cicatriz no meio do rosto. Ia ser horrível.

Harry levou a mão à testa.

-Engraçadinho. Mas não ficou marca nenhuma.

-Ficou, sim! – Draco apontava marquinha minúscula próxima ao olho direito. – Olha que horror.

-Nem dá para ver, Draco. – E Harry aproximou o rosto do outro garoto. – Nem se nota.

Com o rosto de Harry a milímetros do seu, Draco fez o que lhe foi mais natural. Beijou os lábios do outro garoto.

Harry entreabriu os lábios, fechou os olhos, se deixou beijar, e beijou o outro de volta. Não foi um beijo apaixonado, na verdade foi um beijo quase tímido. Quando os lábios deles se separaram, Harry abriu os olhos devagar, e encontrou uma expressão confusa nos olhos de Draco. O loiro levou a mão aos lábios e murmurou:

-Desculpe.

Draco se levantou depressa e saiu quase correndo. Harry ficou sentado, a principio sem ação, depois pegou o Mapa do Maroto para verificar se Draco chegava em segurança no salão comunal da Sonserina. Já era um hábito; desde que descobrira a possibilidade de uma emboscada para Draco, ele sempre observava o outro voltar para sua Casa. No momento em que Draco entrou no salão da Casa da Serpente, Harry percebeu que estava tocando os próprios lábios com um sorriso tolo.

Primeiro beijinho e contando..... rs

Lilibeth : Obrigado pelo incentivo, e olha só. Continuei

Simas Potter: Olha só o que eu e a Morticia fizemos!! Kkkkkk Brincadeira a parte, são poucos os caras que admitem que lêem slash, é sempre bom conhecer universos diferentes. Mas agora quem vai pirar são os dois.

Viviane Valar: Sirius, Severus e Remus fazem sucesso de qq jeito, rs, juntos então é a perfeição.

Ia-Chan: Nesse meu par de fics sim Severus e Sirius tem uma historia pra lá de romantica.

Morticia Sheldon: Se vc esta acupada em escrever Mascars do Coração para mim está ótimo, :) (eu vi seu momento propaganda lá, brigadinho)

Ana Carolina: Concordo totalmente com vc. Um deles pode ate ter uma paixão pelo outro, mas o relacionamento vai devagar. Por isso lemom mesmo, só mais para frente. Vou deixar os dois suarem um pouco antes.

Ptyx: vc mandou um review para mim!!!!!!! Gente minha beta! Eu sou fã dela! Quem gosta de Harry e Severus muito, mas muito bem escrito, tem o site dela: E esse grupo que ela falou é muito legal tb, é bom para a gente trocar opiniões e dicas..

Muito obrigado pelos reviwes e emails, e espero que continuem gostando.