Você é perfeito para mim

Draco estava sentado em uma poltrona no canto mais afastado da sala de visitas dos Black. Ele tinha o Profeta Diário aberto nas mãos, mas estava mais preocupado em estudar o perfil de Harry, que se mostrava muito concentrado no jogo de xadrez com Rony.

Já fazia quase um mês que Harry viera para o lotado QG da Ordem. Às vezes Draco e Harry se refugiavam no sótão, ou junto ao hipogrifo, que Sirius e Harry haviam cismado de reconciliar com Draco. Nessas horas, eles conseguiam conversar um pouco sozinhos. Mas a privacidade invariavelmente durava pouco. Draco sentia uma falta imensa das conversas com Harry. Estranho como ele podia sentir tanta falta de simplesmente conversar.

Enquanto via Harry ser mais uma vez derrotado por Rony, a mente de Draco divagava. Ele já decorara os traços do rosto do outro garoto. O gesto inconsciente de tentar amansar os cabelos indomáveis, o leve franzir de cenho ao tentar escapar da derrota, o suspiro e o ato de apoiar o queixo na mão quando a estratégia falhava eram tão conhecidos quanto a expressão determinada nos treinos do ED, o ar levemente arrogante ao aterrissar após capturar o pomo de ouro e o sorriso raro. "O gosto da boca deveria ser mais conhecido também. Mas eu não sei se é o que o Harry quer."

-Alguma coisa interessante, Draco?

Malfoy ergueu os olhos e deu de cara com Hermione

-No jornal, Draco. Alguma coisa interessante?

-O de sempre. – "Merda, ela me pegou babando pelo Harry" – Acho que me deu até sono. Estou dormindo de olhos abertos!

-Dormindo de olhos abertos? É. Imaginei que fosse isso mesmo. Posso ver o jornal?

"Ela não caiu. Também nessa nem o Longbottom caia. Onde estão suas respostas espertas, Draco?"

-Claro. Todo seu.

-Droga! De novo, Rony! – A voz de Harry soou do outro lado da sala.

A partida terminara com o resultado habitual. Rony ganhava sete em dez partidas disputadas com Harry.

-Eu sou bom, o que posso fazer? Alguém mais quer jogar? Draco?

-Não mesmo. Estou entediado demais para pensar. O desempate vai ser outro dia.

-Draco estava até dormindo de olhos abertos agora há pouco.

"Granger, vai beijar o Weasley e me esquece!"

Harry se aproximou da janela e ficou olhando a rua.

-Snape está chegando – anunciou sem se virar.

Logo se ouvia a campainha, seguida da gritaria da sra. Black. Minutos depois, Sirius entrava na sala chamando:

-Draco, Harry, Snape e Dumbledore querem falar com vocês na cozinha.

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Snape tinha uma lista de alunos da Sonserina que poderiam entrar no ED. Mas tinha também uma recomendação:

-Esses alunos não podem de forma alguma saber que eu trabalho para a Ordem. O diretor já recebeu alguns dos pais deles sondando a meu respeito. Estão preocupados com um ex-Comensal dirigindo a Sonserina. Mesmo assim, eles devem permanecer tendo essa visão das coisas.

-Entendo, professor. – Harry e Snape tinham chegado a uma trégua fria há algum tempo. – Assim como o resto do ED, eles não saberão do senhor. Mas como nós vamos chamá-los sem dar muito na vista? E como vamos convencê-los a vir?

-Você quer nos ajudar, Draco? – o diretor interveio pela primeira vez.

O jovem Malfoy respirou fundo. Ele gastara o último mês pensando também nessa possibilidade. Ajudar efetivamente a Ordem. Sabia dos riscos, e conhecia seus motivos. Não dava mais para ficar sem tomar um partido definitivo.

-Quero, professor Dumbledore. – Draco sentiu um certo alívio por tomar, enfim, uma posição.

Harry abaixou a cabeça. Uma parte dele estava eufórica por Draco estar definitivamente com eles, outra parte queria tirar o outro garoto dali e mantê-lo a salvo até o fim da guerra. E as duas partes queriam abraçá-lo.

-Ótimo, meu rapaz. Sei que você conhece os riscos, mas é sempre bom lembrar. Tome muito cuidado. Dentro de sua Casa, o seu principal aliado é o professor Snape.

-Sim, senhor.

-Bem, quando as aulas começarem, procure um a um e bem discretamente os alunos dessa lista. Decore-a, Draco, e depois a destrua. Conte a eles sobre o ED, e que eu acredito que eles poderiam se integrar ao grupo, tendo um papel importante a cumprir lá. Dê um mês para se decidirem. No início de outubro, promova uma reunião dos que se decidirem com Harry. Apenas com Harry. – O diretor fitou a ponta do próprio nariz durante algum tempo. – Harry, vai caber a você mais uma vez o trabalho diplomático de introduzir os novos membros no ED.

-Não acho que vá ser um problema muito grave. – Harry fitou Draco pelo canto dos olhos antes de provocar. – Nenhum deles é tão irritante quanto Malfoy.

-É mesmo, Potter? – O sonserino estreitou os olhos diante do comentário.

-Mas tem um problema, diretor. Draco sabia muito bem o que estava em jogo; por mais que esse grupo saiba dos perigos, eles não têm uma noção tão clara quanto Draco do que realmente está em jogo. Têm a mesma visão do resto do ED. Isso será suficiente para garantir colaboração?

-Severus?

-Eles vão colaborar, diretor. O que Potter não entende é que eles reconhecem muito mais claramente do que ele a necessidade de uma aliança defensiva nesse momento.

-Professor - era a vez de Draco levantar uma questão –, se as pessoas da lista não podem saber que o senhor está do lado da gente, eles não vão ficar com medo de se unirem ao ED?

-Não, se você os convencer de que eu não vou ficar sabendo.

-Nesse caso, o ED terá de se tornar clandestino novamente.

-Certo, e é melhor eu providenciar isso logo no início das aulas. – Harry sentia sua mente trabalhando na mesma direção da de Draco.

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Alimentar Bicuço não era o mais divertido dos passatempos, mas servia. Draco não viria ali sem ser convidado, e Harry estava fugindo do outro garoto. Quando olhara o rosto de Draco na primeira festa de aniversário de que podia se lembrar em toda a sua vida, Harry ficara eufórico. Seus amigos estavam ali e, mais importante, Draco estava ali.

Naquela noite, Harry não conseguia dormir. Uma alegria enorme invadia sua alma, dificultando os exercícios de esvaziar a mente. Recorrendo ao uso de auto-análise para descobrir seus próprios sentimentos, Harry se viu diante de uma verdade indiscutível. Ele estava apaixonado por Draco. A falta que sentira do sonserino por todo aquele mês, a euforia que sentia na presença de Draco e aqueles beijos que o excitavam tanto, não eram algo bobo, uma brincadeira, como ele pensara a princípio. Era sério. Muito sério.

O que ele estava sentido por Draco o assustava. Com uma atração pelo loiro ele podia lidar facilmente, mas sentimentos mais profundos tornavam tudo mais complicado.

Harry se sentia vulnerável como nunca antes. O mais ácido dos comentários de Draco fazia seu coração disparar estranhamente feliz. A necessidade de tocar o outro garoto só aumentava e, no entanto, Harry se sentia tímido perto dele.

À noite, antes de dormir, sua mente se voltava para Draco, e era exatamente esse um dos maiores medos de Harry. Se Voldemort tornasse a encontrar uma forma de entrar na sua mente, veria o quanto Draco era importante para ele, e o outro garoto correria automaticamente um risco ainda maior.

Nessas horas, Harry se decidia a esquecer Draco. Mas olhando o outro com seu ar de tédio, Harry era obrigado a sorrir. Ele via a fragilidade de Draco escondida por trás daquela armadura de arrogância e deboche. Admirava a forma como Draco era capaz de se conter tão bem, ele era o único que realmente conseguia fazer o sonserino se descontrolar.

Agora que Draco se tornara um recrutador para o ED, Harry enxergava perigo para o sonserino, um perigo do qual ele não poderia defendê-lo. "É preciso coragem para assumir esse papel, e ele vai fazer isso com aquele irritante sorriso irônico no rosto, como se dissesse que nada no mundo pode atingir Draco Malfoy. Mas pode; eu sei que ele pode sofrer tão ou mais intensamente quanto qualquer outra pessoa." Fragilidade, coragem e paixão misturadas na personalidade de Draco o tornavam perfeito aos olhos de Harry.

O jovem bruxo já havia perdido a conta de quantas vezes desenhara Draco naqueles dias. Especialmente o rosto, agora emoldurado por uma cortina de cabelos que chegava aos ombros. Harry podia dizer cada traço do rosto de Draco, cada expressão de sua boca. Mas era do toque dos lábios dele que Harry mais sentia falta. "Eu preciso conversar com Draco. E logo."

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Estavam atrasados para pegar o trem para a escola. Draco quase não ficara pronto a tempo. "A insanidade dessa gente está me contagiando" fora seu único comentário quando Harry fora buscar o sonserino no quarto.

Eles passaram a barreira de dois em dois, com os seguranças da Ordem espalhados dos dois lados para garantir alguma proteção em caso de ataque.

Harry se contorceu de rir ao ver a cara de Draco quando a senhora Weasley lhe deu um abraço apertado, recomendando que tivesse cuidado e desejando um bom ano letivo. Mas o mais engraçado foi ver o fleumático sonserino perder a capacidade de responder quando ela gritou para ele, que já estava embarcando: "Draco querido, nós o esperamos no Natal!" Melhor do que a cara de Draco, só o rosto chocado de Rony.

Por sorte, Neville tivera a presença de espírito de guardar uma cabine para eles. Assim, enquanto Draco, Hermione, Gina e Rony seguiam Anna para a reunião dos monitores, Harry e Neville punham as novidades das férias em dia.

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Já quase ao final da viagem, Draco voltou de uma ronda pelo Expresso Hogwarts antes dos outros monitores e encontrou apenas Harry na cabine, desenhando.

-Cadê o Longbottom?

-Foi com a Anna ver uns amigos dela.

-O que você está desenhando, Harry?

O grifinório riu e mostrou o desenho para o loiro, que se sentara ao seu lado. Um Draco sendo esmagado pela senhora Weasley em um abraço apertado sacudia os braços com uma expressão de pânico no rosto.

-Muito engraçado, Potter. Vai espalhar por aí?

-Qual é, Draco! Foi muito engraçado, mas a idéia não é espalhar por aí. Eu ia mostrar para você quando acabasse.

-Ah é? Então não tem problema se eu ficar olhando esse desenho?

-Não, Draco.

-Então me dá!

E o sonserino arrancou o caderno de desenho das mãos de Harry.

-Draco, devolve!

Quando Harry tentou recuperar o caderno, acabou derrubando-o no chão aberto em outra página.

Draco o recolheu olhando fixamente para o desenho antes de perguntar baixinho:

-Seus pais?

-Sim. Eu desenhei baseado nas fotos que tenho deles.

-Sente muita falta deles, Harry?

-Sinto. – O olhar de Harry ficou distante. – Sinto falta de ter pais, mas eu não os conheci. Tudo que sei sobre eles é através de outras pessoas.

Harry encarou Draco e acrescentou:

-Saudades do que nunca tive. Não faz sentido, não é?

-Para mim, faz.

Harry teve certeza de que Draco se referia aos próprios pais. O sonserino tivera pais, mas não tivera o tipo de amor que um garoto espera dos pais. Exceto talvez de Narcissa, que nunca o demonstrara claramente, mas que o amara tanto que morrera tentando salvá-lo. Aquilo ainda era confuso para Draco, e o magoava.

Harry sentiu o coração apertado. Não gostava de ver Draco sofrendo. Antes de raciocinar, ele já estava acariciando o rosto do outro garoto com as costas da mão. Draco imediatamente relaxou e fechou os olhos. Harry contornou os lábios de Draco com o polegar, e já estava aproximando o rosto do pescoço de Draco quando um barulho no corredor os chamou de volta à realidade.

Os garotos se afastaram um pouco, e Draco retomou o assunto:

-Posso ver os desenhos?

-Pode. – Harry se aproximou novamente do sonserino e abriu na primeira página. – Você é a primeira pessoa para quem eu mostro isso.

Na primeira página, um desenho do rosto de Dumbledore que não se movia.

-Por que ele está tão quieto?

-Eu não o enfeiticei para se mover. Alguns desenhos eu deixo assim, imóveis, sem consciência própria.

Draco percorria o caderno querendo achar um desenho seu, ao mesmo tempo em que temia ver uma caricatura, ou algo depreciativo. Havia desenhos de paisagens de Hogwarts, da vista da janela do quarto de Harry na casa dos tios, de alguns amigos. Um desenho de Rony e Hermione não se movia, mas os dois estavam abraçados, olhos nos olhos, esquecidos de tudo. Nenhum desenho comovia Draco tanto quanto o que ele tinha escondido no seu malão.

Mas aí aconteceu: acabou encontrando um desenho dele. No desenho, o rosto de Draco estava sereno; ele dormia recostado em um travesseiro. O grifinório não desenhara o ambiente, apenas a cabeceira da cama da enfermaria.

Harry olhava o rosto de Draco esperando uma reação. Draco queria dizer que aquele desenho estava impregnado da essência de Harry, que aquele desenho o comovia tanto que até doía, mas as palavras fugiram, e ele se limitou a olhar Harry nos olhos e sorrir. O grifinório entendeu e sorriu de volta.

O desenho seguinte também era de Draco. Ele olhava determinado para alguma coisa fora da imagem, os lábios contraídos em uma linha fina. No terceiro desenho, Draco estava rodeado de corujas e presentes; no quarto, ele estava sorrindo torto e, no quinto, estava treinando na Sala de Requisição, um pouco despenteado, mas com um ar vitorioso no rosto.

-Isso já está ficando embaraçoso. – Harry tomou o caderno das mãos de Draco.

Draco tentou disfarçar o misto de embaraço e emoção com uma brincadeira, que no fundo tinha muito de verdade:

-Harry, eu sou seu modelo favorito?

A chegada intempestiva de Rony e Hermione salvou Harry de ter de dar uma resposta.

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O resto da viagem, a seleção, o banquete, o discurso de Dumbledore, a ida até as masmorras, tudo não passava de um borrão na mente de Draco. Deitado na sua cama, olhando mais uma vez o desenho da forma canina de Sirius, ele esperava o sono chegar. Quando Harry tirara o caderno de desenho de suas mãos, Draco se sentira tão frustrado que poderia ter gritado. Ver os desenhos que Harry havia feito dele alimentava seu ego, ao mesmo tempo em que lhe dava uma visão da alma do outro garoto, e ele queria ir mais fundo nisso.

Ele sempre imaginara que o cão do desenho não se movia porque Harry não havia concluído o desenho. Olhando agora, percebia que não. O grifinório deixara o cão imóvel naquela pose orgulhosa como um tributo de amor ao padrinho.

Era a paixão da alma de Harry que transparecia em alguns dos desenhos que tanto fascinava Draco. Harry era intenso, muito mais do que qualquer outra pessoa que conhecesse; ele era intenso quando dava sua amizade incondicional, era intenso quando sofria ou quando lutava por algo. Harry colocava a alma totalmente em tudo o que fazia. E era uma intensidade que assustava um pouco a Draco. O contido Malfoy não sabia se conseguiria algum dia corresponder a tanta intensidade. "Uma alma com tanto fogo interior pode queimar quem se aproximar demais dela."

Depois de ver os desenhos, Draco se sentia pequeno diante da força do outro. Era bom mesmo que Harry não andasse mostrando seus desenhos por aí. Eles tocavam a alma das pessoas tão forte que chegava a doer, mas ele queria mais. "Grande Merlin! Como eu quero mais disso!"

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Harry folheava o caderno de desenho sem conseguir encontrar o sono. Lá estava Draco dormindo, sorrindo, despenteado após os treinos, e então os desenhos que ele não deixara Draco ver. Imagens que ele tinha visto em sonhos - Draco nu em uma cama, um desenho trouxa, em que o sorriso sedutor do sonserino estava perpetuado para sempre. E depois o único desenho que Harry tinha dele próprio: ele e Draco, frente a frente. Eles só estavam sorrindo um para o outro, mas havia tanta paz naquela imagem que Harry acordara chorando no dia em que sonhara com os dois assim.

Meditar toda noite antes de dormir havia dado a Harry um notável autoconhecimento. Ele sabia que o que sentia por Draco era grande demais para conter por muito tempo, mas que, se não fosse correspondido, ele seria ferido profundamente.

Guardando o caderno, Harry se preparou para dormir, desejando e temendo mais um sonho com Draco.

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Muita coisa mudara no último ano. Os treinos do ED agora eram novamente secretos. As notícias que vinham pelos jornais, ou pelos canais mais confiáveis da Ordem da Fênix, davam conta de um mundo cada vez mais difícil.

Não saíra no Profeta Diário, mas Voldemort tentara matar um grupo de crianças filhas de bruxos que estudavam em uma pré-escola trouxa. Aparentemente ele quisera intimidar os pais dessas crianças. No entanto Remus, em um golpe de sorte, conseguira evitar o massacre. O mais inesperado é que fora ajudado por uma trouxa, que agora estava abrigada com ele na antiga casa dos Black, para desespero do quadro da matriarca.

As negociações dentro da Sonserina tinham demorado mais do que o previsto e, só agora, no final de outubro, Draco pudera marcar a reunião dos sonserinos com Harry. Durante esse tempo, o loiro ficara mais afastado dos grifinórios, empenhado em estabelecer ligações dentro de sua própria casa. Ele e Harry haviam chegado a cancelar os treinos privados, fazendo com que pouco se encontrassem fora dos treinos e das aulas de poções.

Irritado e com saudades, Harry resolvera se bloquear "para evitar dor de cabeça para o Draco." E o sonserino, sentindo-se excluído, estava emburrado.

A sexta-feira do dia das bruxas amanheceu ventando frio, apesar do sol. Com um humor tempestuoso, apesar do dia bonito, Harry apressava os colegas no café da manhã do dia da primeira visita a Hogsmeade depois do início das aulas.

-Rony, termina logo. Eu preciso sair do castelo.

-Calma, Harry. Nunca vi você tão impaciente para sair daqui. – Hermione ainda estava no meio do café da manhã. – Draco vai com a gente?

-Não sei. Acredito que ele vá "continuar criando contatos" com os coleguinhas dele. É tudo o que ele responde agora.

-Mas Harry, ele está fazendo o que o professor Dumbledore pediu – Hermione argumentou, cutucando Gina sem que Harry visse.

-Eu sei, Hermione – respondeu o garoto com maus modos.

-O que o Harry tem, Rony? – Gina perguntou, com uma inocência fingida que só enganava o próprio irmão.

-Está doido para ir para a vila, e de mau humor.

-Harry, é melhor se acalmar. O Draco só começou a comer agora e ainda deve demorar um pouco.

-Ele vai com a gente? Pensei que fosse com alguém da Sonserina. – Harry tentou aparentar indiferença. – Vou esperar lá fora.

-Ciumento – Gina falou para Hermione, simulando uma tosse.

-O que foi, Gina?

-Nada, Ron. Engasguei.

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A ida a Hogsmeade foi o único momento em que Harry e Draco puderam se descontrair juntos.

No início de novembro, enquanto os sonserinos iam lentamente se enturmando no ED, Hermione voltou a controlar os estudos de Draco.

-Não adianta, Malfoy. Você já cumpriu sua missão, os NIENS estão logo aí, temos de recuperar o tempo perdido – determinou a monitora-chefe, sem dar chance de ser contrariada.

Apesar de agora eles se verem mais, nem Harry nem Draco estavam conseguindo retomar o quase relacionamento deles do ponto em que estava no início das aulas. Entre ED, quadribol, e Hermione preocupada com os NIENS, Draco e Harry só conseguiram marcar o reinício dos treinos nas terças e sábados para a última terça-feira de novembro, dois dias depois do jogo de quadribol Sonserina versus Grifinória.

Durante o jogo, Draco, por duas vezes, quase pegou o pomo. Na primeira, foi impedido por um balaço. Finalmente a Grifinória tinha encontrado substitutos razoáveis para os gêmeos Weasley. Na segunda, Harry o impediu em um bloqueio ousado. Pouco depois foi a vez de Draco praticamente colidir com Harry para evitar a derrota da Sonserina.

O instinto competitivo tomou conta dos dois garotos. Draco queria uma vitória sobre Harry, e o grifinório não queria perder no último ano. Quando a Sonserina ganhava por oitenta a setenta, Harry avistou o pomo quase no chão. A euforia o invadiu: "Vai ser no mergulho!", e o jovem bruxo disparou quase verticalmente em sua manobra favorita. Por um segundo, Draco hesitou, pensando que fosse uma finta; só então ele entreviu o pomo e mergulhou atrás.

Harry pegou o pomo e conseguiu evitar a batida no chão no último segundo. Draco pousou logo depois e não ficou para ouvir a comemoração da Casa rival. Retirou-se furioso para as masmorras e ficou o resto do domingo trancado lá.

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Harry não viu Draco durante toda a segunda-feira. Na terça, esperou por quase meia hora o sonserino aparecer para o treino. Quando a paciência de Harry se esgotou, ele pegou o Mapa do Maroto e localizou Draco sozinho, no alto da Torre de Astronomia.

"Será que esse maluco não percebe o quanto é perigoso ficar lá sozinho, no escuro?" Harry bagunçou, ansioso, os já revoltos cabelos. "Quer me enlouquecer, Draco?"

Num rompante, Harry foi atrás de Draco. Enquanto atravessava o castelo, o coração do jovem bruxo disparava de medo. Medo de Draco ter desistido dele, de nunca ter querido realmente nada. Medo de que o loiro o mandasse embora. Mas havia também o medo de que o loiro o amasse. "Nada mais vai ser como antes na minha vida. Hoje tudo muda, de alguma forma hoje muda tudo." Harry passou por Luna sem sequer enxergá-la, sua mente totalmente ocupada em escolher o que dizer a Draco.

Subiu as escadas da Torre de Astronomia correndo tanto que teve de parar para recuperar o fôlego. "Eu vou chegar calmo, vou falar com calma. Explicar o que eu sinto. Eu não vou desistir do Draco."

Quando Harry escancarou a porta impetuosamente, Draco se virou assustado, já com a varinha na mão.

Sem se conter, Harry explodiu de forma totalmente diferente do que tinha planejado:

-Que merda, Draco. Vai ser preciso acontecer uma tragédia para você perceber que ficar aqui sozinho coloca você em perigo? Fala logo. Anda, Draco, despeja. Dá logo seu espetáculo reclamando que a Sonserina perdeu o jogo, que eu é que já perdi demais meu tempo hoje.

A intensidade do olhar de Harry fazia Draco tremer de excitação. Ao contrário do que ele supusera, o fogo dos olhos verdes não o queimava, mas o aquecia. Aquecia seu sangue; ele entendeu que podia amar ou brigar com tanta paixão quanto Harry. Entendeu que não era menor que o outro garoto Essa descoberta encantou Draco, que sorriu e se espreguiçou como um gato diante da presa.

-Mas que absurdo! – A voz de Draco soava mais arrastada do que nunca. – É um absurdo fazer o Santo Potter, o maior herói do Mundo Bruxo, PERDER SEU TEMPO COMIGO.

A raiva de Harry atingiu o máximo, e ele berrou de volta:

-CRETINO INFELIZ, ENFIA NA SUA CABEÇA DE UMA VEZ POR TODAS QUE EU NÃO SOU SANTO NEM HERÓI! QUE MERDA, DRACO! PÁRA DE SE COMPORTAR COMO UM IMBECIL.

-IMBECIL É VOCÊ!

-EU? QUEM TEM SE ESCONDIDO DO MUNDO SEM FALAR COM NINGUEM É VOCÊ. É VOCÊ QUE TEM ME EVITADO. EVITADO TODO MUNDO.

-Eu não evito você, Harry. Eu só... eu só.... Droga. Eu não sei mais nada.

-Draco, você tá legal? – a preocupação substituiu a raiva momentânea.

O loiro fez um gesto de não com a cabeça enquanto fitava o chão.

-Draco? – Harry chamou baixinho enquanto erguia o rosto do outro suavemente.

-Eu não sei mais quem eu sou, Harry. – Os olhos de Draco estavam tristes, e calaram fundo no coração de Harry.

-E alguém sabe realmente? – Harry deu um pequeno sorriso de volta e puxou Draco para seus braços.

Por alguns instantes, eles só ficaram assim, abraçados. Era como se só agora estivessem se vendo depois da viagem de trem.

-Eu senti sua falta, Harry.

-E eu quase morri de saudades.

O grifinório afastou o rosto para fitar os olhos de Draco, que lhe sorriu de volta. Então seus lábios se encontraram. Draco soltou um leve suspiro ao sentir a proximidade da boca de Harry, e entreabriu seus lábios. O outro bruxo aceitou o convite e invadiu a boca de Draco com a língua. Draco gemeu e se colou a ele, enfiando as mãos nos cabelos revoltos de Harry.

A língua do grifinório explorava a boca de Draco, que a sugava provocante. Harry mordeu o lábio inferior do sonserino, provocando mais gemidos.

-Draco, eu estou apaixonado por você.

A declaração escapou dos lábios de Harry, ainda encostados aos de Draco, e surpreendeu os dois. Mas, uma vez que tinha começado, Harry não queria mais parar:

-Eu desejo você, eu gosto de você. Eu quero dividir o que me acontece com você, eu quero saber da sua vida. Eu morro de preocupação com você.

Harry falava segurando o rosto de Draco entre suas mãos e olhando no fundo dos olhos azuis arregalados de surpresa. O grifinório ergueu os olhos para os céus sorrindo como se tivesse tirado um peso das costas, e voltou a encarar o outro rapaz:

-Eu sou louco por você, Draco Malfoy. – Harry se sentia pronto para tudo a partir daquele instante.

-Nós dois somos loucos, Harry. Eu sou louco por você. – Draco sentia o corpo tremer de excitação e emoção. – Eu nasci para você, Harry Potter.

Harry estremeceu ao ouvir a declaração do outro. Era perfeito. Ele abaixou a cabeça na direção de Draco, e beijou novamente os lábios dele, primeiro de leve, quase reverente, depois mais intensamente, até estarem outra vez os dois entregues ao beijo. Mãos ainda inexperientes percorriam as costas do parceiro buscando contato; bocas buscavam descobrir o gosto de cada pedacinho do rosto do companheiro, e quando, arfantes, eles se separavam um pouco em busca de ar, era para sorrirem um para o outro e voltarem a se beijar.

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Bastante tempo depois, eles estavam sentados juntos no corredor interno da Torre. Harry tinha as costas apoiadas na parede, Draco se acomodara entre suas pernas e estava encostado ao peito do namorado. Sua ocupação no momento era acariciar a mão de Harry, que fitava as mãos entrelaçadas, sorrindo.

-Draco, você sabe que é perigoso ficar comigo, não sabe?

-Sei. E você? Sabe que ficar comigo aumenta ainda mais os riscos que você já corre?

-Sei, e não me importo. É o que eu quero.

-É o que eu quero também, Harry. – Draco ergueu o rosto para encarar Harry e ganhou mais um beijo. – Estamos.... Harry, nós estamos.... Grande Merlin! Harry, nós estamos namorando?

-Eu ficaria muito ofendido se depois de tudo que a gente se falou hoje você viesse me dizer que não estamos.

-Eu estou falando sério!

-Eu também. – Harry respirou fundo e encarou mais uma vez os olhos azuis de Draco. – Por mim nós estamos namorando, Draco.

-Por mim também.

-Então estamos?

-Estamos. Vai contar para seus amigos?

-Minha vontade é beijar você no meio do salão principal, para a escola toda ficar logo sabendo que você tem dono, e não é para ninguém se engraçar para o seu lado.

Draco riu da declaração exagerada do outro, e retrucou:

-Vou arrumar uma plaquinha com meu nome, e pendurar no seu pescoço para ninguém mexer com o que é meu.

Harry acariciou o rosto de Draco.

-Amanhã cedo, quando Hermione perguntar por que estou com olheiras e abatido, eu digo para ela que foi porque fiquei namorando você.

-Acha que eles vão.... sei lá.... achar que eu não sirvo para você?

-Mas você serve para mim. Você é perfeito para mim. – Harry puxou Draco mais para perto, e tocando-lhe provocativamente os lábios com a ponta da língua, mostrou que eles se encaixavam direitinho nos braços um do outro.

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Lilibeth: Você me deixou sem palavras. Obrigado moça. :)

Ana Carolina Zatta: Obrigado, eu continuei, olha só ai em cima!:) Ainda tem mais uns dois capítulos, espero que você, e todo mundo, continue curtindo

MEL MorganWeasley: agora foram muitos beijos, e eles estão amando....

Ana Granger Potter: Desculpe a demora Ana, mas eu tive uma semana puxada no trabalho, e sabe como é... fica difícil escrever. Mas os próximos devem vir mais rapidamente

viviane valar: Adoro ver o Draco implicando com qualquer um. rs. Mas com certeza com o Rony é mais engraçado. Agora eles vão ter de achar um jeito de se entender.

Morticia Sheldon: Obrigado, Lindinha. (Marck abre o maior sorrisão na frente do micro) Aqui também eu já estou acabando. Por favor não mate o "seu" Draco em MdC!

Rodrigo: Disse tudo. Eles são adolescentes descobrindo um monte de coisas, inclusive eles mesmos. E obrigado pelos elogios.

Ana Granger Potter: Obrigado

rbara: Volte sempre. :) Tá flufly mesmo. rs

Momoni: Agora sou eu quem está flutuando.... rs. Espero que você goste de "O Mais Improvável"

Gente, muito obrigado pelos reviews de vocês, é o que faz a gente continuar a escrever. Um abraço enorme:

Marck Evans