N/A: mais um cap pra não ficar confuso. Hehehe

Beijos

Viv

CAPÍTULO 2 - O PRESENTE

Snape estava saturado. Cansado. Desanimado. E tinha muito o que fazer. Normalmente não viajavam no Expresso, mas Dumbledore pediu que fizesse isso desta vez. Devido aos riscos que os alunos corriam, e pra fazer companhia à nova professora. Ele só não disse um desaforo para o diretor, exatamente por ser Dumbledore.

"Uma mãe de aluno como professora! Hunf! Era só o que faltava!"

Iria ter problemas. A tal aluna era Loy Mort. Mas não olhara mais que uma vez para a menina. Era birrenta e mal educada. Mas também era muito estudiosa. A melhor aluna em Poções. O que para sonserina não era mais que obrigação.

Quando percebeu que a dita cuja professora havia chegado, decidiu adiar o máximo o confronto. Não estava com paciência. Tinha coisas para fazer. Não ia ficar de papo furado com ninguém. Mas ao ouvir a outra se apresentando. Seu coração gelou.

"Theo."

Não ouvia esse nome há muito tempo. Também não se permitira mais pensar no assunto. Não tinha mais nada pra sentir. Mas ouvi-lo o fez automaticamente olhar pra sua dona. E nada o teria preparado para o choque que levou. Olhava horrorizado para o fantasma da única mulher que amara um dia. Enquanto ela conversava animadamente com o antigo guarda-caças.

A mesma pele, os mesmos cabelos, que agora caiam curtos sobre os ombros, a mesma boca. Só os olhos pareciam ter mudado realmente. Havia o mesmo azul de antes, mas um azul vazio.

Snape percebeu que tinha parado de respirar por tempo demais a observando. Inspirou fracamente. Deixou cair os pergaminhos que analisava. Ela parou o que dizia e olhou-o. Viu a bagunça com os papeis e começou a ajudar.

Dava pra sentir todo o atordoamento vindo dele. Mas decidiu que não queria saber. E bloqueou essas sensações. Pegou os pergaminhos do chão e devolveu. Quase riu da expressão dele. Mas se virou de lado outra vez para o meio-gigante.

-Theo Mort? Esse é o seu nome? - Snape achou a voz.

-Sim, Theodora Mort. Sou mãe da sua aluna Loy Anne Mort. - acrescentou.

Ele não queria acreditar. Só poderia ser uma loucura. Mas a Theo que ele conhecia tinha o sobrenome Vant.

"Será que estou ficando doido?"

-E seu... marido? - tentou esconder o desagrado, sem sucesso.

Theo perdeu o sorriso. E olhou duramente pra ele.

-Meu marido morreu. - não disse mais nada.

-Meus sentimentos, Madame Mort. - Hagrid prestativo.

-Está tudo bem Hagrid. - tentou sorrir - Foi há muito tempo. Loy tinha cinco anos. E por favor, me chame apenas de Theo, sim?

O homenzarrão assentiu. Snape queria continuar a falar com ela. Mas não com o outro ali. Tinha que se livrar dele.

-Hagrid, não seria prudente verificar se os alunos estão bem? – falsa calmaria

-Oh! Tem razão Prof. Snape. Vou dar uma volta. Gostaria de vir Theo? - corou.

Ela ai dizer que adoraria. Quando Snape respondeu antes dela.

-Hagrid, Sra Mort não está aqui para fazer o seu serviço. Acho que seria, no mínimo, deselegante de sua parte! - olhos frios.

-Oh! Claro! Me perdoe, Theo. - o meio-gigante estava roxo de vergonha - Bom, já vou. Até. - e saiu sem graça.

-Quem você pensa que é, Prof. Snape? Posso muito bem cuidar de mim mesma. E decidir o que quero fazer! - secamente.

-Não era seu serviço. - deu de ombros. - Agora me conte! Quem era seu marido? - direto.

-Mas que desaforo! Acha que vou ficar aqui, falando de minha vida, depois do que fez? - ela estava zangada.

-Sinto muito. - ele pareceu sincero. - Mas gostaria de saber mais sobre a nova professora. - tentou menos duro.

Ela estava confusa. Primeiro o homem a ignorava, depois exigia que conversassem e que falasse sobre ela. Muito estranho.

-Meu marido era um homem bom. Não acredito que o tivesse conhecido. Morávamos em uma aldeia muito pequena, distante de Londres. Nunca saíamos. Só vivíamos para nossa filha. - sentiu os olhos arderem. - Seu nome era Calius.

Snape poderia ter tido uma síncope e caído morto ali, se não tivesse considerando ao menos de leve a possibilidade.

"Era ela! Ela está viva! E a menina, a menina poderia ser minha filha! Diabos! Que loucura!"

Theo podia ver as emoções conflitantes dele. Não podia saber o que pensava. Na verdade não queria saber.

-Quando vocês se casaram?

-Como? - estranhou.

-Quando vocês se casaram? - repetiu.

-Por que você quer saber essas coisas? - estava desconfiada.

Ele tentou pensar em outra maneira de dizer, mas não conseguiu.

-Porque é importante. Responda. - estava angustiado. Ela podia ver.

-Nos casamos há quase 12 anos. Está bem?? – exasperada.

-Não! Não está! Seu nome de solteira é Vant? Seus pais morreram há 15 anos? Você tinha o apelido Theo, a menina brilhante? - ele derramava as perguntas sobre ela sem cuidado algum.

Ela estava assustada com aquela explosão. Ele sabia tudo sobre ela.

"Então como? Nem Dumbledore sabia. Não poderia ter contado."

-Quem é você? Como sabe todas essas coisas? - estava indignada.

Ele olhava pra ela com toda dor que um dia teve. E todo amor que ainda tinha.

-Eu conheci você, Theo - disse devagar.

A irritação passara ao perceber o que ele dizia e sentia. Snape encostou as costas na parede do banco onde estava sentado. Jogou a cabeça pra trás. Fechou os olhos, respirou fundo. Passou as mãos pelos cabelos deixando-os em desalinho.

-O nome Severus Snape, não te lembra nada? Eu, não te lembro nada? - desespero.

Theo sentiu um aperto no peito e um estremecimento. A dor, o vazio.

-Não, sinto muito. - virou o rosto para a janela. - Sofri um acidente há muitos anos atrás. Há treze anos. Fiquei em coma algumas semanas. E quando acordei, não me lembrava de nada. Calius estava comigo. Ele cuidou de mim o tempo todo. Quando em fim me recuperei completamente, nossa filha estava pra nascer. Então nos casamos. - olhou de volta pra Severus. - Tudo o que sei de antes do acidente, me foi contado por ele. Sobre meus pais, meus... poderes, meu bebê.

-O que ele falou sobre o bebê?

-Ora! O que importa? - sentiu a irritação voltando. - Acabou! Ele morreu! Foi um pai maravilhoso, e um marido sem precedentes. Mas o que eu quero saber é por que sabe tanto de mim? E o que sabe afinal?

Snape se imaginava num livro que lera uma vez "Além de sua imaginação, o que você jamais esperaria."

-Eu conheci você antes do acidente. Pensei que tivesse morrido. E fui embora. - se sentiu um desertor, um covarde.

Mas tinha certeza agora. Loy era mesmo sua filha.

"Inferno! O que vou fazer agora?"

A porta da cabine se abre novamente interrompendo a conversa. Hagrid voltara para avisar que já estava chegando. Seguiram em silêncio até o destino.

No castelo, foi levada ao Salão Principal. Assistiu sem ver, à famosa apresentação do chapel seletor. Foi apresentada aos alunos pelo diretor. E conseguiu dar um sorriso. Tudo foi feito num autômato. Snape continuava a olhar estranhamente em sua direção. Ela estava ficando sufocada.

Assim que pôde se retirou para seu quarto. Só queria um banho e descansar. Não fizera nada bem lembrar do passado. Lá, Theo pôde pensar com calma sobre o que tinha acontecido. O professor de poções dizia tê-la conhecido antes do acidente.

"Mas então, por que Calius não falara sobre ele? O que era aquela dor que vinha do homem?"

Há muito tempo tinha se conformado com o vazio das memórias. Em não se lembrar dos fatos. Como quem vive, mas apenas sabendo porque alguém contou.

"Teria Calius omitido propositadamente a história sobre o professor? Não!"

Não tinha direito de julgar o marido. Ele sempre fora o melhor homem de que se lembrava. Uma certa vez encontrou um diário velho, dos tempos de menina e nele estavam escritas todas as histórias contadas por Calius. Não mentira. Não seu Calius.

O amara de verdade. Mas não havia paixão. Sempre fora mais um companheiro, um amigo, um porto seguro. E era isso que Loy precisava. Segurança. Nunca vira um pai ou uma filha mais dedicados. Quando o pai se foi, Loy mudou. Ficou mais rabugenta. A surpreendera inúmeras vezes com os olhos vermelhos. Mas ela era orgulhosa demais para pedir ajuda. Parecia até que era ela a adulta. Theo suspirou profundamente. E resolveu fazer algo que não fazia há muito tempo. Tentou lembrar. Se sentou na cama com as pernas cruzadas um sobre a outra. Apoiou as mãos nos joelhos, com as palmas voltadas para cima. Fechou os olhos. Respirou lenta e profundamente. Concentrou-se no rosto do homem que a intrigara.

-Severus! – murmurou.

Nada aconteceu. Respirou de novo.

-Severus! – murmurou outra vez.

Uma luz muito forte piscou rápido demais.

-Severus! – falou mais alto.

E imagens como flash se iniciaram desordenadamente.

"Uma mulher num manto negro com três homens encapuzados."

"Calius em chamas, caído de joelhos no chão."

"Severus na beira do lago mandando ela ir embora."

"Ela brilhando fazendo amor com um homem sem rosto."

"Severus agonizando, à morte no chão."

"O fogo ardendo e crepitando vindo em sua direção."

E tudo se foi. Ela estava suando, ofegante. Sentia dor em todo corpo. Mas nada se comparava com a dor que vinha de seu coração.

-Meu Deus! O que foi que eu esqueci?? Nunca tinha tido essas visões antes. Será que ele está certo? Agora que estou me lembrando, não sei se quero saber! Parece tão... terrível!

E chorou silenciosamente. Como não chorava há muito tempo. Só adormeceu quando o sol já estava para nascer. Despertou tão cansada quanto jamais se sentira antes. Mas se levantou. Deveria iniciar as aulas naquele dia. Não decepcionaria Dumbledore.

Ela se atrasou para o café. Tinha o rosto cansado. Como se não tivesse dormido a noite toda.

"Bem vinda ao clube!" – pensou observando-a.

Snape passara a noite em claro pensando nas brincadeiras do destino. Antes dela, ele era um Comensal da Morte comum. Apenas desgostoso. Um professor exigente, mas justo. Depois dela, passou a ser um Comensal espião. Um membro da Ordem da Fênix. Um professor muito exigente e cruel. Sabia que não parecia justo com os grifinórios. Mas olhar para Harry Potter era o mesmo que se lembrar dela. Se ele tivesse morrido no ataque de Voldemort, ela não estaria naquela noite diante do fogo, para morrer em seus braços. E isso era algo que não poderia perdoar nunca.

Mas agora, vendo-a ali. Viva. Não sabia mais o que pensar ou o que sentir. Todo aquele tempo e a mesma loucura carregava seu coração longe de seu alcance. Não tinha controle sobre ele. Não lhe pertencia mais. Aliás, nunca lhe pertencera.

Precisava ter calma para lidar com ela. O Lord das Trevas estava de volta. Já tinha seu próprio corpo. Mas sabia que quando descobrisse que Theo estava viva, iria querer "acertar as contas." Ele mesmo, já fora muito castigado por tudo o que houvera. Mas depois de tanta punição, parecia ter sido perdoado. Isso era vantajoso para Ordem.

Precisava conversar com Dumbledore. Não o fez no dia anterior. Tinha que organizar as idéias, os sentimentos. Porque onde só havia rancor e secura, brotara novamente a dor e o amor há muito esquecidos.

Percebeu quando ela o olhou. Um olhar diferente. Sem a mesma reserva de antes. Mas ainda distante. Não sabia se valeria a pena fazê-la lembrar. Não com o Lord das Trevas de volta. Talvez fosse melhor afastá-la. Falaria com Dumbledore.

Não se cumprimentaram. Ela o percebeu distante, também. Não tentou se aproximar. Tinha que se concentrar na primeira aula. Seria como sexto ano. Depois com o primeiro e por fim com o segundo, a turma de Loy. Todas as aulas haviam sido preparadas cuidadosamente. Não teria erros. A menos que um certo moreno a deixasse atordoada. Resolveu que não se envolveria nesse mistério naquele dia.

Quando estivesse mais preparada, talvez. Conversou um pouco com Profa. Minerva. Uma senhora severa, mas atenciosa. Ela parecia cansada. Lembrou-se do que Loy contara. Tinha sido atacada por três feitiços estuporantes, no final do último ano escolar. Estava surpresa por ter sobrevivido. Não devia ser uma bruxa qualquer.

Viu Loy na mesa da sonserina. Sorriu pra ela e recebeu um aceno jovial. Seu coração se acalmou um pouco. Daria tudo certo. Por Loy. Tudo ficaria