CAPÍTULO 5 – Revelações

A rotina tornou a se abater sobre a escola. Eles não se falavam e Harry Potter continuava se esforçando cada vez mais nas aulas. Parecia ter assumido o fardo que lhe fora depositado antes mesmo de nascer.

Não fora jantar aquela noite. Tinha provas pra corrigir. Preparou um lanche nas masmorras. Estava indo para lá quando cruzou com ela pelos corredores. Não desviou o olhar, pela primeira vez. Desde o episódio do quarto. Ela também não desviou. O calor estava vivo outra vez. E queimava suas entranhas e seu coração. Estavam um diante do outro. Ninguém falava nada. Ninguém se mexia.

Quando em fim resolveu que ia falar, sentiu a marca arder. Dessa vez intensamente. Não pôde dissimular a dor. Levou a mão à marca. Ela percebeu o que estava acontecendo. O coração enterneceu.

"A dor piorou. Ele está chamando. Não dá pra ignorar." – pensou.

-Com licença, Profa. Theo. Tenho que ir. – disse com dificuldades.

-Posso ajudar? – ofereceu antes que pudesse evitar.

-Não. – rude. – É problema meu! – grosso.

E foi em direção à saída.

-Pretensioso! Orgulhoso! – sem rancor. – Ele pensa que eu não sei? Que se dane! – falou baixinho, mesmo sabendo que se preocupava com ele.

Snape saiu do castelo entrou na floresta proibida e de lá desaparatou e aparatou numa casa velha, abandonada.

-Severus, meu caro! Assim que eu gosto! Resposta imediata.

Ali estava a criatura semi-humana que se dizia Voldemort. Rabicho estava sentado a seu lado, com o olhar assustado. Procurou e não viu mais ninguém.

-Pois não Milord. O que deseja deste seu servo? – reverenciou.

-O de sempre, meu caro. Informação. Afinal, você está naquela escola para isso! Manter-me informado! Estou sabendo sobre uma novas professora que tem ajudado "muito" os alunos. Principalmente com proteção contra as Maldições Imperdoáveis! – desgostoso. – Quem é essa mulher, Severus?

-Uma nova professora apenas, mestre. Não creio que seja perigosa. – soou firme.

-Não foi o que perguntei, Severus! Quero saber quem ela é! E não tente me enganar! Pois posso perguntar a qualquer um que tenha filhos estudando lá. Com Lúcius. Você sabe! Mas prefiro lhe dar esse crédito. Como professor da espelunca, deve saber mais que os alunos!

-É uma jovem e inexperiente professora, tentando agradar o diretor. Não se preocupe Milord.

-Bem se é o que diz! Mas fique de olho nela. Não a quero perto de Harry Potter! – dispensou-o com um gesto. - Tenho outras coisas pra fazer! Agora vá!

Snape voltou. Percebeu que não poderia protegê-la pra sempre. Acelerou em direção aos aposentos de Dumbledore.

-Goma de caramelo. – disse a senha.

As gárgulas se mexeram e ele pôde subir.

-Alvo! Preciso falar com você! Alvo... – mas ao entrar viu que ele não estava só. Ela estava lá.

"Sempre ela!!"

-Acalme-se, Severus. E diga-me o que o aflige?

-Gostaria de falar em particular. – olhando Theo com olhar duro.

-Acho que o assunto que o trouxe é de interesse da Sra. Mort, não é Severus?

Ele olhou incrédulo.

"O diretor estaria louco? Estaria mesmo dizendo para falar dos assuntos da Ordem diante de uma estranha?"

-Alvo... – pediu mais uma vez.

Mas Dumbledore apenas o fitou com seu olhar calmo.

-Estávamos falando exatamente sobre você, Prof. Snape! – espanto. – Sobre o fato de que talvez você tenha algo a contar sobre meu acidente e sobre Voldemort. – saboreou o nome.

Ela teve vontade de fotografar a expressão indignada dele. Dumbledore riu. Mas logo ficou sério.

-Severus. Sente-se. Peço que se acalme. Theo esteve me contando sobre certos lampejos de memória. E que inclusive acabou de presenciar uma atitude um tanto "suspeita". Foi essa a palavra que usou querida? – ela assentiu. – E como não se passou muito tempo. Creio que veio de lá.

Agora que a porteira estava escancarada, deixaria todos os bois passarem.

-Bem, - a contra gosto. – se é pra falar! Ele me chamou. Queria saber sobre você, Professora. – e olhou pra Theo. – Está muito interessado nos métodos didáticos que tem usado. – soou como acusação. – Mas acho que consegui desviar sua atenção. Mas não por muito tempo.

-E o que sugere que eu faça? Pare com as aulas? Ou que passe a dar aulas de "Como ser obediente, quando o mauzão do tio Voldie resolve comer as criancinhas em paz!" – exasperou.

A despeito da indignação dela e até mesmo por isso. Snape não conseguiu segurar uma gargalhada sonora. Aos poucos ela e Dumbledore também riam. Quando estavam mais calmos o diretor retomou a palavra.

-Theo, querida, acho que precisávamos disso. Agora Severus, acho que você tem o direito de contar pra ela, o que aconteceu. Antes que outro o faça.

Ele entendeu. Lucius.

-E por isso, vou ceder esta sala. – e se retirou tão rápido que se não soubesse que não era possível, pensaria que ele tivesse desaparatado.

Snape de repente sentia-se um destroço, vindo de uma batalha violenta. Largou-se em uma cadeira. Não a olhou. Lutava para não transparecer o medo. Sem sucesso. Ela estava fascinada. Aguardou.

-Há 15 anos atrás. O lord das Trevas, foi destruído por um feitiço que lançou em um garotinho de 1 ano idade idade. Mas não morreu. Ele está a cima dessas coisas. Mas perdeu seu corpo. Quase toda sua força. Apenas conseguiria habitar um lugar. O fogo. E temporariamente poderia tomar o corpo de outra pessoa que se oferecesse voluntariamente. Mas seu ódio não perdera em nada. Ao contrário. Tinha sede de dor e destruição. E tinha seus fiéis servos.

Parou. Suspirou. Continuou sem olhar pra ela.

-Ele soube que havia uma chance de retornar. Queria ser mais poderoso que aquele que o destruiu. E através de uma profecia, descobriu que existiria uma mulher. – endureceu a expressão. – que geraria uma criança que teria o poder. Ele queria habitar essa criança. Se o fizesse no momento da concepção, teria mais chance de o ser permitir. E então seria o Senhor das Trevas a crescer na criança.

Theo ouvia como se fosse uma história muito fantasiosa, para ser verdade.

-Mas essa... mulher, não era qualquer uma. Tinha uma descrição dela. Olhos, cabelos, boca, idade, tudo! – olhou pra ela nesse momento assustando-a. – Mas apesar disso. Não tinha um nome. E muitas mulheres foram sacrificadas na intenção de encontrar a certa. Todas morreram. Pois apenas a escolhida suportaria o fogo. E albergaria esse mesmo fogo em seu próprio ventre sem sofrer com isso.

-Você é essa mulher! Theo Mort! – parecia acusá-la. - Era você que ele procurava. E ele a encontrou!

-Mas... como? – sem compreender.

-Como o quê? Como eu sei? Como ele a encontrou? – riu sem qualquer traço de alegria. – Sei porque estava lá. Eu era um de seus servos. Um de seus fieis seguidores! Um Comensal da Morte!

Ela estava horrorizada.

-Como ele descobriu você? Mais uma vez deve agradecer a mim!!!

-Você?

-Mas aconteceu uma coisa que eu não previa. – ignorou-a.

Ia falar tudo agora. Levantou-se. Ficou que costas pra ela. Vendo pela janela as folhas da floresta balançando.

-Eu... me apaixonei pela Escolhida. E tentei impedir que ele a achasse. Mas outro comensal, Lúcius Malfoy a achou e contou ao nosso mestre. E acabou armando uma armadilha na qual ela caiu. – riu com tristeza.

-Ele tentou realizar o ritual. Mas, - resolveu que não iria entregar Calius. – um outro comensal tentou impedir e quase morreu. Ela se enfureceu e lutou com ele. Fogo contra fogo. E ela venceu. Mas alguns minutos depois, parecia estar morta. E no meu desespero, acreditei. – desistiu de olhar pra fora. E virou-se para ela. – Você sobreviveu! Só Deus sabe como! E agora, temo que ele descubra quem você é. E que ... sua filha também está aqui.

-Loy? Mas o que tem a ver com isso tudo? – ele apenas a olhou. – Não! Não pode ser! – se desesperou.

-Theo. – ele se aproximou dela. A abraçou tentando tranqüilizá-la. – Theo, se acalme. – ela se deixou abraçar. – Não vou deixar que nada aconteça a vocês! Ou a ela! Nada! Eu lha garanto. – firme.

Ela estremeceu com a força e a determinação dele. Até parecia que ele era...

-Snape!

Os flashs dos dois juntos fazendo amor voltaram. Ele percebeu a mudança. E que ela devia estar tendo alguma recordação. Theo olhou tensa. Saiu dos braços dele. Via Calius sendo torturado a seus pés. Quase morto. Snape tomando-a nos braços enquanto lhe falava sobre um filho. Estremeceu outra vez.

-Severus! Qual o nome do comensal que tentou me ajudar, e quase morreu? – perguntou febril.

Ela sabia a resposta. Desviou o olhar.

-Qual o nome do comensal? – repetiu mais alto.

Nada.

-Qual o nome dele? – insistiu.

Snape desistiu. Ela já sabia a resposta. Tinha certeza. Mas se queria ouvir assim mesmo. Faria seu jogo.

-Calius Mort! – falou mais forte que gostaria.

Ela se dignou a parecer surpresa. Ficou olhando-o com aqueles olhos tão azuis. Ambos ofegavam.

-Você é o pai dela? – perguntou devagar.

-Sou. – ele estava exausto.

Não saiu do lugar. Não a olhou. Uma lágrima rolou. Antes que ela percebesse. Theo se virou e saiu de lá. Não agüentava mais.

"Tudo mentira! Toda a minha vida era uma mentira! Calius, por que fez isso?"

Nunca soube como, mas chegou a seu quarto. Pensando furiosamente sobre as revelações e as novas lembranças. Tentava dar ordem e seqüência. E acabou adormecendo na exaustão.

Acordou assustada. No meio da noite. E se lembrou. De tudo. Todas as lacunas. Seus pais, Calius, Severus. Tudo. Decidiu seguir o impulso que a comandava naquele momento. E logo estava novamente diante daquela porta. Bateu. Sem respostas. Bateu outra vez.

Snape abriu. Usava a mesma roupa de antes. Parecia que não dormira até então. Estranhou que ela estivesse ali. Parecia tão serena! Tão linda! Como da primeira vez que a viu. Quase uma menina. Ela sorriu doce. O coração doeu. Afastou-se da porta a ela entrou. Fechou. Olhava-a esperando uma explicação.

"Por quê?"

Ela riu.

-Porque eu te conheço. – pegou na mão dele. – Vem comigo! – chamou como da primeira vez.

E a dor soltou seu coração e ele disparou desgovernado. Ela chegou mais perto e finalmente a beijou. Com loucura, com paixão. Com desespero. Ela correspondia. Não havia mudado. Estavam de volta ao povoado distante. Na casa dela. Na cama dela. Com todos os sentidos estimulados. E quando ela brilhou, pensou que se fosse morrer de tanta paixão. Mas sobreviveu, para vê-la brilhar mais vezes naquela mesma noite.

No dia seguinte.

-Theo. – sussurrou. – Já perdemos o café. Não acha que devemos fazer alguma refeição? – brincou.

-Outra? – marota.

E o envolveu com as pernas.

-O que aconteceu com você? – de repente sério.

Ela chegou mais perto.

-Ontem, após nossa conversa, eu estava atordoada. Sabia que tudo era verdade. Mas não entendia e nem queria acreditar. Mas após quase bater com a cabeça na parede, adormeci. E quando acordei, havia me lembrado da tudo. Tudo mesmo! Desde minha primeira infância. – sorria. – Entendo o que foi que Calius fez. Ele realmente me amava. E eu o amava de certa forma. Mas como amigo e companheiro. Entendi que ele se arrependeu de ter feito o que fez. Se não fosse por ele, talvez nós não estivéssemos aqui.

-Como assim? – estranhou. – Ele escondeu você esse tempo todo! – indignação crescendo.

-Severus. – estendeu um dedo calando-o. - Ele realmente se arrependeu. As feridas que Voldemort lhe causou nunca cicatrizaram totalmente. E quando morreu, me fez jurar que traria Loy pra Hogwarts. Ele certamente sabia que você estava aqui. Ele quis que nos encontrássemos.

Snape resistia.

-Severus! Ele foi um marido carinhoso. Mas sabia que havia em mim algo que nunca poderia atingir. Tinha um vazio que ultrapassava a falta de memória. Era a falta de uma pessoa que ele não poderia ser. Então tentava ser melhor pai e marido possíveis. Quando ele pediu que Loy viesse, estava no mínimo lhe dando a oportunidade de ter sua filha! Já que ele não estaria mais lá. Tratou de levá-la a seu pai biológico.

-Não existe justificativa, para isso Theo. Não tente! – menos ríspido que intencionava.

Ela sorriu. Beijou-o na boca antes que falasse mais.

OF: continua.