Capítulo I – Mistério e traição em Aquarius

Era uma noite fria em Aquarius. Nuvens pairavam e uma chuva fina caía sobre o reino seguida de ventos fortes. A cidade estava calma, porém, aquela não seria uma noite tranqüila. O castelo estava silencioso, o vento corria pelos seus largos corredores e grandes salões. Soldados faziam a guarda dentro e pelas redondezas do castelo, e um bravo cavaleiro da guarda real montava guarda na sala do trono onde o rei Shion estava descansando. Seu nome é Camus. O rei Shion não tratava Camus como um simples cavaleiro e sim como um amigo, os dois sempre conversavam enquanto estavam juntos, o que acontecia diariamente.

Noite fria e triste lá fora. Tristeza e frio esse têm sido o clima desse castelo nos últimos dias. – disse o rei com frieza.

Sei que tem atravessado uma crise em seu relacionamento com a rainha Shina, meu senhor. É triste vê-los desse jeito, sem se falarem e quase nem se olham.

Sua rainha não é mais a mesma, caro Camus. Ela sempre foi uma mulher fria, mas mudou de um modo que eu não estou mais suportando.

Eu não convivo muito com a rainha, mas não pude deixar de notar essa mudança.

E o pior é que eu não sei o motivo dessa mudança tão radical. Há algo de errado comigo, Camus?

Não, meu senhor. O senhor sempre foi um homem muito bondoso e caridoso com todos nós, nunca desrespeitou ninguém nem mesmo um simples camponês.

Sim, Camus. Minhas dúvidas estão relacionadas ao tratamento que dou a minha esposa, ultimamente ando muito ocupado, as notícias que chegam de fora não me agradam. Estou preocupado com nosso reino.

Está se referindo à separação dos irmãos de Sagittarius, não está?

Sim. Aqueles dois são novos demais, Aioros já fez uma grande besteira logo no início de seu reinado. Agora quase a metade do centro do reino de Sagittarius foi embora junto de Aioria e há rumores de que pessoas dos vilarejos de Sagittarius também estão abandonando o reino para seguir Aioria. – disse Shion com preocupação. – Aioria sempre foi muito querido por seu povo e sempre foi um grande aliado de Aquarius, mas agora eu não espero alianças com esse novo reino.

Já tive a oportunidade de conversar com o senhor Aioria, apesar de jovem ele é muito sábio, não seria capaz de romper a aliança com Aquarius mesmo estando em outro reino.

Não sei, Camus, ainda é muito cedo para tentar prever os acontecimentos. Só digo que esses dois irmãos ainda terão muitos encontros, sejam eles amigáveis ou hostis.

Minha vontade é que esses dois voltem a ser os aliados.

Essa também é a minha vontade, senhor Camus. – Shion, que havia se levantado do trono e estava olhando para fora de uma das janelas, dirige seu olhar para Camus e dá um leve sorriso.

Nesse momento um soldado entra na sala do trono.

Senhor Camus, a rainha está lhe chamando em seus aposentos.

Estou cuidando da segurança do rei, não posso abandona-lo.

Não se preocupe, Camus. Vá ver o que minha esposa quer. Depois você pode ir dar uma volta, sei que gosta de tempos frios assim.

Sim, meu senhor. Estarei de volta em alguns instantes. Deixarei dois guardas na porta da sala. – Camus se retira da sala junto do soldado, deixando o rei sozinho.

Camus caminhava pelos longos corredores do castelo, estava indo para os aposentos da rainha. Ele não encontrava motivos para que fosse chamado pela rainha, mas deveria atender ao chamado. Não demorou muito para chegar aos aposentos da rainha.

Estarei de volta em alguns instantes, fique de guarda aqui. – disse ao guarda.

Tudo bem, senhor Camus. Esperarei pelo senhor aqui.

Camus bateu a porta do quarto, mas não obteve resposta. Bateu mais uma vez, e nada. Estava ficando preocupado e perguntou ao guarda.

Tem certeza que a rainha me chamou aqui?

Sim, senhor Camus. A própria rainha ordenou que fosse lhe chamar. Ela estava aqui mesmo.

Muito estranho. Acho melhor entrar e ver o que está acontecendo.

Camus abriu a porta do quarto lentamente. Ele chamava o nome da rainha e não obtinha resposta. Foi adentrando no quarto, que estava escuro, caminhou até a janela e a abriu. Olhou ao redor do quarto e não encontrou a rainha. Ele estava olhando para fora da janela quando ouviu um baque como se algo tivesse caído. Ele virou na direção da porta e quando foi correr para sair do quarto viu que uma sombra estava parada diante da porta que foi fechada, deixando Camus preso dentro do quarto. Ele correu até a porta, tentou abri-la, mas não conseguiu. Insistiu, se jogava de encontro à porta na esperança de derruba-la. Tanto insistiu que conseguiu derrubar a porta. Ao sair do quarto viu o soldado que estava de guarda na porta estava caído com quatro flechas cravadas em seu corpo.

O que está acontecendo aqui? Tenho que correr para a sala do trono, o rei corre perigo. – saiu numa corrida contra o tempo para a sala do trono.

Camus corria pelos corredores ao encontro de seu rei. Ele sabia que tinha de ser rápido, era um ataque surpresa e seu rei corria grande perigo. Chegou no corredor da sala do trono e teve um grande choque. Viu dois corpos caídos diante da porta, ambos com ferimentos causados por espadas. Ele se aproximou e constatou que aqueles eram os dois guardas que ele havia deixado de guarda para o rei. A porta da sala do trono estava fechada. Camus tirou sua espada da bainha e abriu a porta. Entrou e teve mais um choque, viu que havia chegado tarde demais, o corpo do rei estava estirado com uma poça de sangue a sua volta. Camus correu para o lado do corpo e o segurou.

Meu senhor! Meu senhor! – Camus segurava o corpo e lágrimas caiam de seus olhos – Shion, meu senhor, reaja! – ele sacudia o corpo do rei, mas era inútil, o rei havia sido assassinado.

Camus estava abraçado ao rei, chorava de tanta tristeza, o rei que tanto amava estava morto diante de seus olhos.

Foi tudo culpa minha, eu não devia ter abandonado esta sala. – ele não conseguia parar de chorar, estava muito abalado. Ele ficou ali, abraçado ao corpo de seu senhor, sem saber o que fazer.

Logo alguns guardas chegaram até a sala, ao verem aquela cena fiaram parados, apenas observando todo aquele sangue derramado ao chão. Não demorou e um outro cavaleiro real de elite chegou seguido de sua rainha Shina, seu nome era Máscar. Máscar era outro cavaleiro real de elite, cuidava da segurança pessoal do rei enquanto Camus tratava de outros assuntos. Máscar era um homem forte e habilidoso nas artes da guerra, porém ele era o que mais cobiçava a confiança que o rei depositava em Camus. Se Camus era o favorito do rei, Máscar era o favorito da rainha Shina, ele era seu principal cavaleiro ficando junto dela a maior parte de seu tempo.

Shion! – a rainha Shina entrou correndo pela sala e abraçou o corpo do marido. – Shion, meu amor, responda! Shion, você não pode morrer. – a rainha derramava lágrimas sobre o corpo de seu marido.

Camus, o que aconteceu aqui? – perguntou Máscar.

Eu não sei. – respondeu cabisbaixo.

Você era o encarregado da segurança do rei, eu não esperava essa resposta. Conte-me tudo! – disse Máscar num tom autoritário.

Já respondi tudo o que sei, Máscar. Eu não vi nada acontecer.

Não viu? Pois deveria ter visto, você estava aqui com o rei, não estava?

Não, um soldado trouxe um recado dizendo que a rainha Shina estava me chamando em seus aposentos. Eu fui até lá e quando cheguei não havia ninguém. Perguntei ao soldado se a rainha estava mesmo me chamando. Ele respondeu que a própria rainha havia falado com ele, ali naquele mesmo local. Foi quando eu me preocupei e entrei no quarto, mas alguém me trancou lá dentro. Quando saí eu encontrei o soldado que me deu o recado morto diante da porta. Então eu corri até aqui e encontrei os dois soldados e o rei mortos.

Essa história não me convence, Camus. A rainha estava esse tempo todo comigo, ela não mandou ninguém lhe chamar.

Eu te disse, um soldado veio aqui e me deu esse recado.

E quem teria matado esse soldado?

Como eu posso saber se me trancaram dentro do quarto da rainha! – Camus já estava perdendo a paciência quando outro soldado entrou na sala.

Senhor Máscar! Eu encontrei isto nos aposentos da rainha. – ele estende a mão e mostra um arco.

É uma surpresa. Parece que você andou se divertindo, Camus. – disse ironicamente – Bem, acho que temos o assassino desses soldados e do rei. – olhou seriamente para Camus.

Você não está me acusando, está? – Camus estava com muita raiva e começou a caminhar na direção de Máscar.

Deveria elaborar melhor seu crime, Camus. Soldados, prendam este homem! – quatro soldados seguraram Camus, ele se debatia, mas não conseguia se soltar.

O que pensa que está fazendo, Máscar? Você não tem provas contra mim!

Você matou aquele soldado usando este arco que foi encontrado justamente onde você disse estar. Então, isso nos leva a conclusão de que você matou os outros dois e o rei.

Olhe para minha espada, ela está limpa! Não há gotas de sangue nela, como eu poderia ter matado o rei?

Sem mais argumentos, você ficará preso até que se prove o contrário. Mandarei guardas procurarem outros possíveis assassinos, mas você é o único suspeito até agora. Guardas levem-no para uma das masmorras! Quero cinco guardas na guarda na vigilância dele, pode haver outros traidores por aqui. – os guardas arrastam Camus para fora da sala e o levam direto para a masmorra.

Minha rainha é melhor que a senhora vá para seus aposentos. Deixe que eu cuidarei do tudo daqui pra frente. – Máscar levantava a rainha e a levava para fora da sala. – E não precisa ficar preocupada, mandarei meus melhores guardas vigiarem seu quarto durante toda a noite.

Obrigada, Máscar. – a rainha tentava parar de chorar – Assim ficarei menos preocupada. – vários guardas olhavam abismados, eles custavam a acreditar que seu rei estava morto.

Mais tarde eu lhe farei uma visita. – disse Máscar ao abraçar a rainha.

Obrigada por tudo, Máscar!

A rainha Shina saiu da sala seguida de Máscar que fora resolver outros assuntos. Camus foi levado para uma masmorra onde ficaria até que sua inocência fosse provada. Outros guardas ficaram na sala vigiando o corpo do rei.

Não muito distante do castelo dois jovens caminhavam lentamente pelas ruas da cidade. Um garoto, aparenta 15 ou 16 anos, seu nome era Hyoga, filho de Camus. Ao seu lado caminhava uma bela jovem de cabelos loiros e longos, seu nome era Fler. Os dois estavam tranqüilos, não se incomodavam com a leve chuva e com os ventos frios, estavam de mãos dadas com um leve sorriso estampado no rosto.

Meu amor, hoje a noite está maravilhosa! – disse a jovem encarando Hyoga com olhar carinhoso.

Para mim está ótima, mas não sabia que você gostava de noites frias como esta.

Não estou falando da temperatura! – abriu um sorriso – Estou me referindo a sua presença. Você sabe que eu poderia passar todo o meu tempo ao seu lado, mas não podemos. – logo o sorriso que havia em sua face desapareceu.

Espere mais um pouco, meu amor. – disse Hyoga acariciando o rosto de sua amada – Para vivermos juntos nós teremos que sair de Aquarius.

Eu não agüento esperar mais! Eu preciso ter você ao meu lado, você é minha vida, eu te amo! – dos olhos de Fler escorreram lágrimas que deslizavam por seu rosto até chegar ao queixo. Hyoga deslizou as mãos pela face de Fler, secando as lágrimas.

Não chore, meu amor. Nós ficaremos juntos, não importa o que aconteça. Os fatos do mundo de fora não estão ajudando. Sagittarius está dividida com a briga dos irmãos Aioros e Aioria, e lá é nossa única opção para viver.

Podemos morar em outros reinos, mas esses reinos ficam muito longe daqui e são reinos pequenos e fracos que estão a ponto de serem dominados por Sagittarius e Aquarius. – a fisionomia de Fler continuava triste.

Nós daremos um jeito, nosso amor irá vencer todas as barreiras que estiverem no caminho. – Hyoga encarou Fler, os dois se aproximaram, seus lábios estavam a ponto de tocarem um ao outro quando um guarda veio correndo na direção dos dois. O guarda parecia desesperado, estava ofegante. Hyoga percebeu algo estava acontecendo e perguntou ao guarda. – Por que está com tanta pressa assim, senhor guarda? Aconteceu algo no castelo?

Sim, o rei foi assassinado e um dos guardas reais é suspeito. Estou indo avisar aos guardas dos portões da cidade para que não deixem ninguém sair da cidade. – o guarda terminou de falar e continuou correndo para os portões.

Que horror! Nosso rei foi assassinado e um dos guardas reais é suspeito! – exclamou Fler.

É melhor nós irmos lá rápido, esse guarda pode ser o meu pai ou o seu.

Mas não podemos ir juntos, se meu pai nos encontrar você não sairá ileso.

Acho que seu pai estará ocupado demais para me matar hoje, talvez ele nem tire a espada da bainha. Vamos logo! – Hyoga pega na mão de Fler e os dois correm para o castelo.

Quanto mais eles se aproximavam do castelo, maior era a agitação. Guardas corriam para todos os lados, estavam com suas espadas em mãos prontos para qualquer batalha. Os dois chegaram até os portões do castelo. Os portões estavam fechados com vários guardas vigiando o local, entre eles estava uma figura conhecida. Máscar avistara os jovens e foi ao encontro deles.

O que vocês dois estão fazendo aqui? – perguntou Máscar demonstrando nervosismo

Soubemos do ocorrido, papai. – respondeu Fler – Vim ver se você está bem.

Eu estou bem. – Máscar olhou para Hyoga – Já disse que não quero você perto da minha filha, Hyoga. – encarou Hyoga com um olhar maligno – Hoje eu não tenho tempo para te matar, estou muito ocupado, mas se eu encontrar você e minha filha juntos de novo, eu juro que levarei uma parte do seu corpo comigo. – e apontou para a espada que estava em sua cintura.

E o meu pai? Como ele está? – perguntou Hyoga após alguns instantes.

Seu pai não está nada bem, se quiser vê-lo eu posso mandar um soldado te levar até ele. – respondeu Máscar.

Sim, eu quero vê-lo! Onde ele está? – perguntou Hyoga.

Em uma das masmorras do castelo. – Máscar continuou sério e frio enquanto Hyoga sentiu uma sensação estranha.

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Olá pessoal! Este é finalmente o primeiro capítulo (o anterior foi apenas uma introdução). Gostaria de deixar claro algumas coisas: O personagem Máscar é na verdade Máscara da Morte, mudei seu nome para que ele pudesse ter um nome verdadeiro mas sem fugir do nome mais conhecido. Vocês puderam notar que as idades estão alteradas, fiz isso para poder utilizar todos os personagens nos devidos papéis.

Estou gostando muito de escrever essa fic e espero que ela não atrapalhe outros projetos meus ("A Guerra Divina" e "A Volta dos Dourados – Abalando o Santuário") e uma futura parceria que farei com uma pessoa muito especial para mim.

Até logo!

Rafael (Mú)