Capítulo 2
Simon
Ao final de 3 horas de concerto – somente o Cure para tocar por tanto tempo! – os três bruxos seguiram para o backstage. Usando novamente um feitiço, conseguiram se infiltrar na sala de imprensa e – Oh! Que sonho! – na festa oferecida após o concerto. Mark e Leah cercaram os outros músicos e já estavam envoltos nas conversas mais absurdas. Simon, no entanto, não estava lá. Já quase chorando, Angel se preparava para ir embora, quando avistou seu novo amor entrando na sala, os cabelos molhados e uma roupa diferente daquela que usara no palco. Ele tomara banho e agora vestia uma camisa branca e calças jeans rasgadas. Um deus de perfeição. Ela estava parada, sozinha, no meio da sala, vestindo veludo negro da cabeça aos pés, e um decote ousado. Impossível não notá-la, e Simon não a ignorou. Pelo contrário, ele atravessou a sala e se aproximou, enquanto ela mantinha os olhos grudados nele.
"Olá... Você está bem?" sorrindo... " Eu a vi na primeira fila do concerto... Você cantou todas as canções... parece conhecer bem a nossa música."
"Você me viu?" disse ela espantada. "Bem, claro, eu conheço todas as canções do Cure. Sou grande fã."
"Então porque está parada no meio da sala, com cara de quem vai embora?", disse ele em meio a uma gostosa gargalhada. A voz dele era grave e ele tinha um sotaque do sul, lindo. Seus cabelos eram negros e longos... lindos. Ele ainda tinha restos do eyeliner – não havia lavado direito, ou se maquiara de novo? – o que fazia com que seu rosto ainda parecesse mais perfeito.
"Eu ia embora, porque não conseguia achar voc" disse Angel, sem pensar, e logo corou de vergonha. Simon olhou fixo em seus olhos "Bem, agora você me achou... e espero que não perca mais..." e, segurando sua mão, a levou de volta para a festa, onde conversaram até de manhã.
Ele pediu seu telefone, e ela teve que dar o numero de Mark, porque não havia telefone em sua casa. Como dizer a Simon que era só mandar uma coruja? Será que ele sabia do mundo dos magos?
Quando Simon telefonava, Mark tinha que aparatar na casa de Angel para chamá-la, e o dois aparatavam de volta na casa de Mark. Uma mão de obra. Alguns telefonemas depois, e o segundo milagre aconteceu na vida de Angel, esse também certamente devido às semanas de orações e pedidos a todos os druidas e agora também santos: eles estavam namorando. Angel estava desesperadamente apaixonada. Ele era tudo o que uma mulher poderia sonhar... engraçado, lindo, inteligente... maravilhoso na cama... suas carícias eram mais intensas que haviam sido as de Lucius... ou talvez ela havia sido muito jovem naquela época. Simon lia muito e conversava sobre todos os assuntos possíveis, porém, ainda não sabia de toda a verdade. Angel decidiu sair de Knockturn Alley e comprou um apartamento em Camden Town, o bairro alternativo de London, berço dos movimentos punk, pós-punk e indie. Finalmente, ela tinha um telefone.
O dia que Simon ficou sabendo da verdade sobre os magos foi marcado muito mais por sua indignação de que Robert (Smith o cantor do Cure) estava certo sobre algo que Simon não acreditara. Robert sempre falara na existência do universo dos magos, mas seu descrente amigo ria. E agora ele sabia que Robert tinha razão. The bugger. Ele parecia ter aceitado muito mais facilmente do que Angel imaginara. Talvez porque, em sua profissão, já havia visto de tudo na vida, e nada mais o espantava.
Já ha meio ano junto com Simon e sempre mais e mais apaixonada, um dia Angel desconfiou de algo. E suas suspeitas se confirmavam. Aos dezoito anos e meio, estava grávida. Por Merlin! Ela era tão jovem! E seus instintos diziam: eram dois bebês, duas meninas. Bruxas. Desesperada, procurou Simon e ele a confortou e prometeu estar sempre ao seu lado. E esteve. Durante toda a gravidez ele não saiu de seu lado... nem na hora do parto, tendo sido o primeiro a segurar as meninas, Morgana e Igraine, no colo.
Foram morar todos juntos na enorme casa de Simon em Thunbridge Wells, ao sul de Londres. Os quatro primeiros anos da vida das meninas foram lindos, vividos em paz no countryside. O Cure não tomava tanto o tempo de Simon nesses dias, sendo que havia rumores, de novo, da dissolução da banda. As meninas, aos poucos, mostravam seus poderes mágicos, o que assustava o pai terrivelmente. O avô Sean fazia constante pressão para leva-las embora para o castelo da família nas Highlands da Escócia, alegando que era perigoso manter bruxos entre muggles, já que os Death Eaters estavam vencendo a batalha, e as trevas dominavam o wizarding world. Angel, no entanto, ignorava as ameaças e, com as meninas já um pouco crescidas, voltou ao seu trabalho na lojas dos tios em Knockturn Alley.
Logo depois do quarto aniversário das gêmeas, Simon saiu em tour com o Cure pela América do Norte, Europa e Japão. Mais de meio ano longe. Já não telefonava e ela sentia-se terrivelmente infeliz. Ao menos uma boa notícia havia: a ameaça das trevas havia passado. Um garotinho, apenas um bebê - filho de James Potter, seu colega em Hogwarts! - havia derrotado Lord Voldemort, e já não se ouvia falar nele. A caçada aos Death Eaters remanescentes era intensa e contava com a cooperação de muggles, pois muitos destes haviam sido assassinados pelos seguidores das trevas.
Um dia, ainda durante a ausência de Simon, enquanto cuidava da loja para os tios que viajavam, dois policiais, um homem e uma mulher, entraram na loja. Os dois muggles. Apavorada, Angel se perguntava como eles haviam encontrado Knockturn Alley.
O homem falou, enquanto ambos mostravam credenciais da Scotland Yard: "Boa tarde. Não se assuste, somos agentes do governo Britânico, trabalhando em cooperação com o Ministério da Magia. Sou o Detetive David Friedman. Esta é a agente Emma Hawkins." O homem tinha sotaque norte americano.
Estendeu a mão para Angel. Ele era maravilhoso! Ela perdeu o fôlego ao ouvir aquela voz grave e aveludada. Muito alto, ele tinha olhos cor de mel e cabelos quase louros. Bem vestido e elegante, usava um terno claro e sapatos caros. Mostrava no entanto um certo descuido, já que não havia feito a barba. Mas para Angel aquilo apenas o fez parecer mais sexy.
Apertando a mão do policial e de sua parceira, que era muito antipática, diga-se de passagem, Angel não conseguiu conter sua curiosidade. "Boa tarde detetives. Em que posso ajudar? Desculpem perguntar, mas como vocês conseguiram entrar aqui?"
Detetive Friedman falou novamente: "Estamos em uma investigação sobre assassinatos ocorridos durante o reino do terror no mundo dos magos. Agente Hawkins e eu somos de um destacamento especial da Scotland Yard, e temos livre trânsito no seu mundo. Precisamos de sua ajuda. Estamos visitando todos os estabelecimentos em Knockturn Alley e Diagon Alley em busca de informações. Um importante empresário muggle foi assassinado, por meios sobrenaturais. A causa mortis nunca pode ser determinada por médicos, e as câmeras de segurança da casa dele mostraram isso."
Tirou algumas fotos do bolso e mostrou a Angel. A primeira foto de uma sala vazia. O horário aparecia no canto superior da foto. Dois segundos após, quatro figuras de capa e capuz sobre a cabeça andavam lado a lado. Ninguém era tão rápido. Eles haviam, certamente, aparatado. Nas fotos seguintes, as figuras apontavam varinhas em direção à porta aberta do escritório da vítima, um homem influente e poderoso no mundo político e empresarial. Os capuzes de dois deles caíram para trás, e via-se as máscaras brancas. Angel, no entanto, reconheceu um rosto muito bem, mesmo por trás da máscara. Lucius. Os longos cabelos louros eram inconfundíveis.
"Então", perguntou o detetive, "reconhece alguém?"
Angel pensou em como Lucius a deixara e em como nunca mais havia entrado em contato nos últimos cinco anos. Havia acompanhado pelo jornal o seu casamento com Narcissa e o nascimento do bebê, Draco. Será que o odiava? Definitivamente não. Lucius era vítima de sua família, da linhagem antiquíssima dos Malfoy, onde todos pensavam da mesma maneira. "Não faço a menor idéia, detetive. Nunca vi essas pessoas. Desculpe."
David Friedman olhou para a mulher com suspeita. Ela parecia nervosa. Se sentiu muito atraído por ela, e resolveu achar um jeito de voltar ali.
"Obrigado senhorita... erm (vendo a aliança) senhora...?"
"Gallup", falou rapidamente.
O detetive entregou um cartão de visitas. "Se lembrar de algo que possa nos ajudar, por favor, mande uma coruja a esse endereço, ou telefone... Voltarei aqui em uma semana, no caso de que tenha novas informações." A agente Hawkins o olhou de lado com cara de indignação e o seguiu para fora da loja.
Preocupada com Lucius, no final do dia foi atrás de Mark e Leah para pedir a opinião deles. Eles acharam errado ela não denunciar Lucius mas, por outro lado, as fotos foram vistas por todos os bruxos de Londres e alguém haveria de denuncia-lo. Ou não. Os Malfoy eram incrivelmente influentes e sua fortuna não parecia ter fim. Tudo bem, melhor esquecer o assunto. Mas ela não conseguia... não era em Lucius que pensava, mas nos olhos cor de avelã e na voz aveludada do detetive Friedman. Ele não usava aliança... sua intuição feminina dizia que ele havia se interessado por ela. Pensar nele fazia os pelos de sua nuca se arrepiarem...
