Capítulo 4
O Retorno
David retornou da América do Norte na véspera de Natal, trazendo uma mala cheia de presentes. Sempre era tão maravilhoso revê-lo. O dia de Natal foi lindo, apenas Angel, David e as meninas. Perfeito. No boxing day (dia 26) Simon levou as meninas para sua casa, e o casal teve um dia inteiro sozinhos. Angel amava quando isso acontecia, pois era muito raro. Ele estava atencioso e incrivelmente sedutor. Ver o corpo do marido sempre provocava arrepios nela, mesmo depois de dois anos. Quando David voltava de viagem, sempre aproveitavam o tempo juntos para explorar novos limites, muitas vezes com o uso da magia. Adoravam levitar juntos pelo ar, e fazer amor grudados ao teto... Isso tudo parecia muito perfeito...
No dia seguinte, David saiu cedo, alegando um caso a ser resolvido na Escócia. Voltaria em três ou quatro dias. Agente Hawkins também iria.
Dúvidas... o que Lucius havia insinuado? Hoje era o dia em que a portkey funcionaria... David viajara... Clara e Carlos tomariam conta da loja e as meninas ficariam com Simon até o final de semana... não tinha nada a perder...
Às onze horas da manhã começou a se preparar... um banho de extratos vegetais deixaria sua pele macia e perfumada... Seus cabelos poderia tratar com essências de frutas, para que tivessem um brilho especial... Escolheu com cuidado as roupas, um vestido justo, mostrando as curvas do corpo e um decote ousado, com uma capa de veludo púrpura. Não muito diferente do que vestia todos os dias na loja, que era considerada Gótica. Amava Londres por isso, podia se vestir como as bruxas mais tradicionais o fazem, e todos achariam normal.
Meio-dia. Colocou o anel, e pode sentir o familiar puxão no estômago e os pés saindo do chão. Poucos segundos depois, chegara em um lugar aberto, cercado de montanhas. Não, não era Malfoy Manor... aquelas montanhas... daquela cor única, só poderiam ser os Cullings... sim! Skye! Estava na Isle of Skye, uma pequena ilha no Noroeste da Escócia... uma das paisagens mais lindas do mundo... típico de Lucius... escolhia sempre lugares luxuriantes, bem como todo o resto... Estava na beira de um enorme loch, e podia ver a destilaria Talisker na distância. Subindo um pouco a beira da montanha, deparou-se com a enorme mansão, que só podia ser vista por magos, e se posicionava sobre a rocha em ângulos impossíveis. Construído com ajuda de magia antiga e artes das trevas.
Encontrando a porta principal bateu fracamente. Ouviu passos e a porta se abriu. Lá estava ele, ainda mais maravilhoso... Angel ainda não se acostumara com o homem de aparência esplêndida em que seu namorado de adolescência havia se transformado.
"Bem vinda de volta, minha cara". Beijando sua mão, Lucius a guiou para dentro da casa. "Sabia que voce viria..."
"Com as dúvidas que você, habilmente, plantou em minha mente, claro que eu viria..."
O frio das Highlands Escocesas era intenso; sentaram-se em confortávies poltronas em frente a uma das lareiras, que deixava o ambiente confortavel. Um copo de brandy, queijos finos e conversas amigáveis, e já se sentiam à vontade um com um outro, como se não houvessem se passado quase sete anos...
"Lucius, preciso saber porque me chamou aqui. O que quis dizer quando falou sobre David?"
"Chérry... entenda, não quero que sofra... mas acho que precisa ver uma coisa. Venha". A guiou pela mão até um outro cômodo. Havia uma pensive sobre a mesa.
"Há três semanas, alguns policiais muggles (fazia cara de nojo ao dizer essa palavra) estiveram no Ministério da Magia..." Colocava sua varinha na testa e transferia memórias para a pensive. "Gostaria que visse isso".
Angel se debruçou sobre a pensive e entrou nas memórias de Lucius. Se viu em uma rua lateral, pouco movimentada, em Londres. Duas pessoas saíam de um prédio abandonado – onde ficava o Ministério. Um casal. Falavam nos ouvidos um do outro e depois entraram em um carro. Lá dentro, Angel pode ver claramente seu marido David, beijando ternamente sua companheira de trabalho, Agente Hawkins.
Saiu da pensieve e teve que se apoiar em Lucius para não cair. Pediu algun tempo sozinha, e foi até a beira do lago para refletir. Ficou andando por algumas horas, até que sua raiva passou e começou a compreender a situação. Amava Dave e acreditava no amor dele por ela. Jamais um homem que não ama faria o que ele fez, ajudaria alguém tanto quanto ele a ajudara. Principalmente com as gêmeas. Encontraria uma maneira de resolver a situação sem maiores sofrimentos. Tudo tinha um jeito. Sim, ela confiava na Deusa e tudo haveria de ter um jeito.
De volta à mansão, encontrou Lucius estendido sobre o sofá, com o rosto enterrado em um livro. Vestia agora apenas uma longa túnica de seda verde. Angel parou no meio da sala, admirando-o longamente. Quando notou sua presença, Lucius se aproximou, abraçando-a.
"Não pretendia magoá-la, apenas achei que deveria saber..."
"Será que devo lhe agradecer ou devo odiá-lo?"
"...sua decisão..."
Angel pode sentir os fortes braços dele envolvendo seu corpo, as mãos segurando-lhe a cintura com firmeza, os lábios acariciando-lho o pescoço... Não podendo resistir, se entregou às carícias de seu antigo amor, não deixando sua companhia até a manha seguinte...
De volta a Londres, a vida seguia normalmente. Ainda sem coragem de conversar com Dave sobre o assunto, Angel agia como se nada tivesse acontecido. Não esperava que Lucius voltasse a procurá-la, pois pensou que ele havia usado o que viu apenas para tê-la com ele por uma noite.
No entanto, algumas semanas depois do feriado de Boxing Day, quando Dave viajara mais uma vez, uma coruja trouxe um convite para outro encontro com Lucius. De novo na Escócia. Ele sabia o quanto ela amava Skye...
Lucius era a sedução em pessoa, e não havia maneira de resistir aos seus encantos e carinhos. Seu corpo era o de um deus, e suas habilidades como amante podiam enlouquecer uma mulher completamente... Angel, mais uma vez se entregou a ele, sem restrições. Sem limites...
No meio da madrugada, estavam abraçados, entrelaçados um no outro, deitados na enorme cama, exaustos e suados... Angel lamentou quebrar a magia, mas não aguentava mais e precisava falar:
"Há anos atrás, quando você me deixou sem avisar, passei muito tempo tentando entender porque... Acreditei, claro, que tivesse deixado de me amar, mas isso não explicaria seu sumiço sem uma explicação. Também não acreditei que sua família houvesse pressionado para que casasse com uma LeStrange, pois fortuna, tradição e pureza de sangue são atributos tanto de minha linhagem quanto da linhagem de Narcissa. Deveria haver algo mais... quando vi pelo Daily Prophet uma foto de seu filho Draco com um ano de idade, minhas suspeitas se confirmaram. Jurei jamais perguntar isso a você, mas agora realmente quero saber... Narcissa é loura, olhos azuis, exatamente como você. Seu filho nasceu assim também, uma cópia fiel de Mr. Malfoy Sênior... Você não aguentaria, Lucius, ter um filho que não fosse idêntico a você..."
Ele a fitava intensamente mas, ao ouvir as últimas palavras, baixou os olhos, ficando em silêncio por um bom tempo, até que falou: "Você parece ter desvendado minha personalidade melhor que eu mesmo. Tem razão... não fui forçado a me casar, tampouco havia esquecido você... E agora a quero de volta... vou recuperar o que perdi... você será minha novamente, não somente hoje, mas sempre..."
Essas palavras soaram como um presságio, e Angel sabia que, daquela madrugada em diante, Lucius Malfoy seria uma parte importante de sua vida novamente. Para sempre.
Na manhã seguinte, antes de irem embora, Mr. Malfoy entregou a Angel uma pequena caixa de veludo. "Aceite isso por favor... pelo seu aniversário, pelo Natal.... e por nosso reencontro..."
Chegando em casa, Angel abriu a caixa para encontrar um lindo colar... uma jóia cara, ao estilo de Lucius... Ele tinha uma estranha satisfação em dar presentes caros... imaginava o quanto deveria gastar em presentes para seu filho Draco, quando, na verdade, um pouco de carinho faria a criança muito mais feliz. Esse colar, entretanto, parecia mais uma marca de propriedade... queria que todos soubessem que ela era sua novamente... o colar continha o brasão da família Malfoy, reconhecível a qualquer um que tivesse contato com o mundo dos magos.
No dia que Dave retornou da aviagem, Angel havia tomado uma decisão. Sabia que Lucius a procuraria em breve e que iria ao seu encontro; sabia que David continuava a ver Emma Hawkins. Precisavam conversar e chegar a um acordo. Deixou o colar que ganhara de Lucius sobre a mesa de cabeceira.
Na hora de dormir, Dave, como previsto, comentou: "Lindo colar... foi um presente?" Examinando mais de perto: "Ah, reconheço esse símbolo... família Malfoy...Me lembra Lucius..." Cara de desconfiado. "Um homem importante no ministério da magia... também seu primeiro namorado, certo?"
Sem mais demoras, com o coração apertado e chorando, Angel sentou-se ao lado de seu marido na cama, e contou tudo sobre seus dois encontros com Lucius e sobre o que viu na pensieve.
Não restava nada a Dave a não ser admitir seu longo romance com Agente Hawkins, mas ao mesmo tempo jurava seu amor eterno por sua esposa e enteadas...
Isso tudo talvez fosse demais para aguentarem... mas foi exatamente no amor que sentiam um pelo outro que se consolaram, encontraram forças e aceitaram a situação. Uma situação pouco comum, mesmo no mundo dos magos... No entanto, os que seguiam os ensinamentos da Deusa e nela confiavam, percebiam que as Leis da Natureza eram mais fortes que a Leis dos Homens, e segui-las era apenas o curso natural dos eventos...
