A FÚRIA DE ÁRTEMIS E O DESESPERO DE MARIN
Athena afastou-se do Santuário para cuidar pessoalmente da saúde de Seiya, que ficara debilitado depois da batalha contra Hades. Então, a deusa da Sabedoria pediu à sua meio-irmã que assumisse seu lugar frente ao Santuário. Prontamente, Ártemis aceitou a incumbência de Athena.
A principal preocupação da deusa da Caça era com as Amazonas. Não gostava da idéia de os Cavaleiros e as Amazonas treinarem tão perto. Não seria difícil que aqueles seres desprezíveis, como Ártemis costumava se referir aos homens, seduzissem as Amazonas.
A deusa andava pelo Santuário, com olhos de perdiz, reparando no comportamento dos Cavaleiros e também das Amazonas e não gostou de um relacionamento em particular.
A Amazona de Águia e o Cavaleiro de Ouro de Leão pareciam ter muita afinidade. Estavam sempre juntos, conversando, passeando pelo Santuário. A deusa estava indignada: como Athena permitia aquele tipo de comportamento?!
Ártemis estreitou os olhos e decidiu-se: aquela "liberdade" ia acabar. Como aquela Amazona prestava-se a uma atitude daquelas?
Voltou para seu Templo, sentou em seu trono de ouro maciço e ficou a pensar no que poderia fazer para acabar com aquele relacionamento indigno. Depois de pensar durante alguns minutos, decidiu que deveria conversar com aquela Amazona.
A deusa fechou os olhos e expandiu seu cosmo em direção à Amazona de Águia, chamando-a e também até o Cavaleiro de Ouro de Leão, buscando afastá-lo.
Marin treinava arduamente, quando sentiu um cosmo irradiando fortemente pelo Santuário. Ela cessou seus movimentos, parou com o treino e se concentrou, tentando descobrir o que estava acontecendo e porque aquele cosmo parecia chamá-la. Reconheceu-o.
– Por que ela estaria me chamando? O que pode querer comigo? - pensava Marin, intrigada.
Aioria também sentia aquele cosmo poderoso, mas ao contrário de Marin, o mesmo parecia repeli-lo. Conhecia aquele cosmo. Sentia-o desde que Athena se afastara do Santuário. Sabia que Ártemis não suportava a presença de homens, mas parecia que apenas ele sentia aquela sensação. Os outros Cavaleiros não comentaram, nem demonstravam sentir nada diferente.
– Será que só comigo? Mas... Qual é o motivo desse desprezo...? É isso... Desprezo... É o que esse cosmo irradia contra mim... - aquela sensação perturbava Aioria.
Marin precisava confirmar se mais alguém estava sentindo aquele chamado, e ninguém melhor que Aioria para lhe responder a essa pergunta. Seu melhor amigo. Poderia falar sobre qualquer coisa com ele. Encontrou-o voltando da arena de treinamento:
– Olá, Marin. – disse Aioria, sentindo o coração disparar só em vê-la. O Cavaleiro de Ouro ficava surpreso ao sentir a força do sentimento que tinha pela Amazona de Prata de Águia. Sempre que a via seu coração disparava e ele não parecia em nada o seguro Cavaleiro de Leão. Esforçava-se ao máximo para ocultar o que sentia por sua melhor amiga, mas até quando conseguiria manter um sentimento tão forte em segredo?
– Oi, Aioria. – Marin conhecia perfeitamente a lei das Amazonas, mas isso não pôde impedi-la de se apaixonar pelo destemido Cavaleiro de Ouro. Agradecia à máscara, pois sentia seu rosto arder cada vez que tinha aqueles magníficos olhos azuis-escuros pousados nela, a voz de dele a encantava. Recompondo-se, ela começou: – Eu... Queria te perguntar algo... – disse ela e Aioria a encarou, intrigado ao notar o tom sério com que a Amazona falara.
– Pode perguntar Marin... O que é?
– É... Que... Eu tenho sentido uma presença... Um cosmo que parece estar me chamando... Mas não é um cosmo amigável... Acho que é Ártemis... – disse a Amazona.
– Você também está sentindo?! – perguntou ele, incrédulo – Eu sinto esse cosmo que me perturba e preocupa, mas pensei que eu fosse o único. Mas ele não parece me chamar, e sim... Repelir... Eu não entendo... Parece ser só comigo. Nenhum outro Cavaleiro comentou sobre isso... – Marin olhou-o, pensativa.
– Acho que vou até o Templo de Ártemis... Se ela está me chamando, é melhor não ignorá-la, afinal, na ausência de Athena devemos respeito a Ártemis...
– Mas Marin... Você acha isso prudente? Esse cosmo a chama, mas como você disse não é um chamado amigável... E... Mesmo que eu não tivesse essa sensação de... Estar sendo repelido... Eu... Não... – Marin se surpreendeu com a hesitação de Aioria. O Cavaleiro sempre fora muito direto e objetivo.
– Aioria...? O que você está querendo dizer?
– Eu não posso entrar lá... – Marin o encarava sem entender onde Aioria queria chegar com aquele comentário. Os olhos do Cavaleiro de Ouro se arregalaram ao se dar conta de que ela não pretendia pedir ajuda. – Você não está pensando em ir até lá sozinha, está?! – perguntou ele, incrédulo.
– E por que não? Não se esqueça de que eu sou uma Amazona. – disse Marin com determinação, erguendo o queixo levemente.
– Bem que eu gostaria de esquecer, Marin... Você não sabe como eu gostaria de esquecer... – pensava Aioria, extasiado com a atitude orgulhosa e quase sem ouvir o que Marin estava dizendo.
– Eu sei me defender muito bem. – concluiu ofendida.
– Eu sei. Mas... É que... Eu... Eu me preocupo com você... – disse Aioria e, num gesto impulsivo, tomou as mãos da Amazona entre as suas. Marin o encarou, espantada. Conhecia Aioria há tanto tempo, mas nunca, em todos esses anos, ele ousara tocá-la. Ela devia se sentir indignada, desrespeitada, mas o toque era tão gentil e delicado... A única coisa que sentiu foi um calor subir pelas suas mãos, seus braços e se espelhar pelo seu corpo, fazendo-a estremecer, seu coração disparar, e seu rosto esquentar. Marin encarou aqueles olhos azuis, perdendo-se neles. Engolindo em seco, encontrou a própria voz:
– Vo... Você não precisa se preocupar, Aioria. – disse ela, retirando as mãos de entre as dele, deixando-o decepcionado. O coração de Aioria ainda batia descompassado devido ao suave toque. Ele nunca ousou tocá-la antes, mas não conseguiu evitar. Sua vontade era tomá-la nos braços e nunca mais soltá-la. – ... Não irá me acontecer nada... – dizendo isso, Marin afastou-se dele correndo, tomando a direção do Templo de Ártemis. Aioria ficara tão perdido com a sensação de tocá-la que quando se deu conta de que ela tinha se afastado, já era tarde.
– MARIN... ESPERE! NÃO VÁ! PODE SER PERIGOSO! MARIN! – chamava-a desesperadamente, mas Marin não lhe deu ouvidos.
Marin corria rapidamente em direção ao Templo de Ártemis, mas seus pensamentos estavam com Aioria e na sensação deliciosa que sentiu quando ele a tocou. Ele nunca a tocara antes... Aquele foi o momento mais feliz de sua vida, momento que, infelizmente, ela deveria esquecer.
Estava tão absorta em seus pensamentos que nem percebeu que já estava na frente do Templo.
Marin se deteve e olhou para o enorme Templo a sua frente. Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha, hesitou, mas aquele cosmo parecia puxá-la para dentro e precisava saber o que estava acontecendo.
Entrou no Templo de Ártemis e, apesar da pouca luminosidade, pôde ver as inúmeras estátuas da deusa da caça, um belo altar de onde se encontravam as oferendas feitas à deusa; um trono ouro maciço que eram iluminados pelos raios de sol que entravam no Templo. As colunas que sustentavam o teto do Templo eram de mármore, detalhadamente esculpidas. Aliás, todo o Templo era de Mármore.
Não havia ninguém ali dentro, mas assim mesmo, Marin podia sentir aquele cosmo assustador ainda mais forte do que antes.
Depois de alguns minutos andando pelo local, a Amazona já estava convencida de que fora apenas impressão... Uma forte impressão... Já estava saindo do Templo, quando ouviu uma voz baixa, apenas um sussurro. Voltou-se para o altar e, de repente, um estrondo ensurdecedor e uma luz dourada ofuscante a assustou.
Sentiu um doce perfume que não consegue definir. A luz era tão forte que Marin precisou cobrir os olhos até que eles se acostumassem à claridade do lugar. Quando finalmente seus olhos estavam preparados para fitar aquela luz tão intensa, ela a olhou e viu uma imagem diáfana. Não conseguia definir o que era. Então ouviu novamente aquela voz, agora alta e clara:
– Eu sou Ártemis, a deusa da Caça, protetora das Amazonas e você não é digna de me representar! – ao terminar, a imagem da deusa apareceu claramente. Marin estava assustada enquanto ouvia as palavras proferidas pala deusa – Como ousou permitir que um homem a dominasse?! – perguntava a deusa, enfurecida. Marin ouviu a tudo assustada e surpresa. Nunca deveria ter-se permitido apaixonar por Aioria, mas não pôde evitar. Agora teria que arcar com as conseqüências por esse sentimento.
– Perdoe-me Ártemis! – Marin se ajoelhou perante o altar – Eu não pude evitar, eu não queria que isso acont...
– Cale-se!!! Enquanto eu estiver aqui... Não permitirei esse tipo de comportamento! Você deve se afastar desse homem, ou... - Ártemis fez uma pausa, para em seguida prosseguir com sua ameaça, cortando o coração da Amazona – Eu terei que resolver esse problema! – disse a deusa, encarando-a com desprezo. – Agora... SAIA DAQUI!!! – depois de proferir essas palavras, a imagem de Ártemis desapareceu.
Marin ainda permaneceu ajoelhada em frente ao altar, de cabeça baixa, as mãos apoiadas no chão do templo. Seu coração batia desesperadamente. Estava com medo... Estava com medo por Aioria. Ártemis não hesitaria em cumprir tal ameaça.
Depois de alguns minutos, saiu daquele Templo, sentindo arrepios lhe percorrerem o corpo todo. Sentia-se perdida, mas compreendeu perfeitamente o que Ártemis quis dizer com aquelas palavras:
"Deve se afastar desse homem, ou... Eu terei que resolver esse problema!"
Ela seria capaz de matar Aioria e Marin não podia permitir que isso acontecesse. Afastaria-se dele, mesmo que essa atitude a ferisse.
Aioria andava calmamente pelo Santuário. Seus pensamentos voltaram para os poucos, mas deliciosos, segundos em que teve as mãos dela entre as suas.
– Como pude ousar tocá-la?! No que eu estava pensando?! Eu jamais deveria ter feito aquilo! – recriminava-se. – Ah... A quem eu estou querendo enganar?! Foi o momento mais feliz da minha vida! – Seus pensamentos estavam desordenados. Estava preocupado com Marin. Ela já havia saído há quase duas horas e o Templo não era tão longe assim. Sentiu, por um momento, que aquele cosmo desconhecido havia ficado mais forte e depois enfraquecera novamente, como se distanciasse.
Não conseguindo mais se conter, Aioria decidiu ir atrás dela.
Correu em direção ao Templo. Sabia que o que estava fazendo era uma loucura, mas não agüentava mais ficar esperando por ela. Encontrou-a no meio do caminho. Sentiu-se aliviado e precisou de todo seu autocontrole para se conter e não a tomar em seus braços.
A Amazona estava tão perdida e perturbada que não se deu conta da presença de Aioria. Só notou o Cavaleiro de Leão quando o ouviu chamá-la:
– Marin... – disse Aioria, tomando fôlego. Marin se assustou ao vê-lo. Ele a olhava com uma expressão de alívio. O que ele estava fazendo? Não podia ser... Ele não seria tão imprudente.
– Onde você estava indo?! – Marin perguntou com rispidez, fazendo com que Aioria se retraísse imperceptivelmente ante ao tom agressivo. Marin nunca falara com ele daquele jeito.
A Amazona respirava pesadamente. Ainda estava perturbada com o que ouvira no Templo de Ártemis e a desconfiança de que Aioria estava...
– Eu estava indo atrás de você. – disse, confirmando sua desconfiança enquanto a encarava confuso. Marin baixou a cabeça, suspirando e fechou os olhos, se negando a acreditar no que ouvira. Onde estava o prudente e racional Cavaleiro de Ouro que conhecia tão bem? – Você demorou tanto... Eu... Eu estava ficando preocupado. – disse um pouco constrangido.
– Eu já disse que sei me cuidar perfeitamente bem! – disse ela erguendo a cabeça e encarando-o. Lembrou-se da ameaça de Ártemis e do que poderia acontecer a Aioria se ele tivesse posto os pés dentro daquele Templo. – Você ficou maluco?! – disse, não conseguindo se controlar. - Sabe muito bem que não é permitida a entrada de homens no Templo de Ártemis!!! Queria morrer?!!! – as palavras, os gestos, o tom agressivo da voz dela magoaram Aioria. Mas ele sentia que tinha alguma coisa errada. Ela nunca falara assim com ele antes. O descontrole da Amazona era visível. Acontecera algo muito grave naquele Templo e ele tinha que saber o que era.
– Marin... – murmurou ele – O que houve com você? – perguntou preocupado – Você nunca agiu assim antes... – Aioria tinha certeza de que algo estava errado. A Amazona de Águia nunca levantara a voz antes, nem mesmo quando treinava Seiya e o garoto se mostrava impertinente.
– Aioria... – ela o olhou e viu a confusão e mágoa expressas no rosto do Cavaleiro e se arrependeu da forma estúpida como falara com ele. Estava a ponto de lhe pedir desculpas quando as palavras de Ártemis lhe voltaram à mente e o descontrole voltou ainda mais acentuado – Deixe-me em paz! – disse ela avançando contra o Cavaleiro de Leão que recuou assustado com a atitude da Amazona de Águia. - Eu não preciso... Não... Eu não quero que você chegue perto de mim novamente! Eu não preciso de você, entendeu?! – disse rispidamente, mas cometeu o erro de olhar nos olhos dele. Pôde ver que o tinha ferido com suas palavras.
– ... – Aioria a olhava, incrédulo, sem conseguir dizer nada. Estava perdido. O que havia feito? Por que ela o estava tratando daquela maneira? Será que a tinha ofendido? Ele não entendia o que poderia ter feito para que ela, de uma hora para outra, o tratasse daquela forma.
A confusão e dor que viu no rosto dele fizeram com que Marin se sentisse mal. Não podia mais ficar perto dele. Não podia explicar-lhe o que estava acontecendo e a machucava tratá-lo daquela forma. Mas fora preciso. Decidira se afastar dele. Não conseguiria viver sem ele, por isso teria que se contentar em vê-lo de longe.
Aioria viu Marin lhe virar as costas e caminhar em direção oposta ao Santuário, deixando-o aturdido. Ele não conseguia acreditar que a Amazona o tinha tratado daquela forma e dito aquelas coisas. Aquela não era a Marin que conhecia. Acontecera algo muito grave naquele Templo para deixá-la tão transtornada.
Ele a viu desaparecer no horizonte e decidiu que não descansaria até descobrir o que tinha acontecido. Tinha que falar com ela. Caminhou na direção que a Amazona tomara disposto a descobrir o que havia acontecido no Templo de Ártemis.
Continua...
Oi gente! Esta fic já estava pronta há um bom tempo e eu fiquei muito indecisa em postá-la. Gostaria de dedicar esta fic ao Leandro, que me incentivou a postá-la e agradecer a Madam Spooky por me convencer a postá-la, pois a achava meio... fraca, afinal, foi a primeira fic que eu escrevi. Obrigada!
Gostaria de agradecer também a Andréa pela betagem da fic. Valeu amiga!!!!!
Espero que gostem e, por favor, não esqueçam os comentários e as críticas. Tchau e até o próximo capítulo.
